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O que avaliar para comparar um feno de qualidade. Parte 1 – Características Físicas

Considera-se como feno todo alimento volumoso obtido pela desidratação parcial de uma planta forrageira, seja gramínea ou leguminosa. Em princípio, qualquer planta poderia ser fenada, entretanto, em função de qualidade e custo, algumas características devem ser consideradas e algumas condições devem ser obrigatoriamente satisfeitas, entre elas :

* Planta adequada ao processo: podução, espessura de haste, inserção da folha, etc.
* Idade ótima de corte: estádio de maturação da planta
* Momento ótimo para o corte: condições climáticas, hora do dia, etc.
* Processamento adequado: corte, manuseio da planta durante a secagem com ancinhos, enfardamento, etc.
* Armazenamento adequado: características do fardo, da disposição dentro do fenil e do próprio fenil, etc.)

O procedimento correto quanto à essas condições pode determinar a obtenção de um feno bom ou ruim, ou ainda favorecer perdas significativas em quantidade e qualidade de fenos que originalmente poderiam ser considerados bons. Entretanto, é impossível obter-se bons fenos a artir de matéria-prima de má qualidade ou se as condições e uso dos equipamentos forem inadequadas ou mesmo se a mão-de-obra ou o gerenciamento forem inexperientes. Assim, deve-se procurar caracterizar a atividade de fenação como uma atividade profissional e econômica, onde a qualidade, considerando-se tanto a matéria-prima como o processo e seu gerenciamento, é fundamental para um bom desempenho comercial do produto e para um bom desempenho orgânico do alimento.

Um feno de boa qualidade deverá apresentar características nutricionais que o diferencie dos demais, sendo avaliado por meio de uma análise química nutricional. Entretanto, nem sempre isso é possível, um a vez que as análises bromatológicas desses fenos nem sempre são disponíveis ou não são representativas de todo o feno produzido naquele corte. Assim, é importante que sejam conhecidas algumas características físicas (visuais, tácteis e olfativas) desejáveis e indesejáveis, para que se possa avaliar inicialmente um lote de fardos de feno. De uma maneira geral, os lotes de feno com uma boa qualidade nutritiva apresentam as seguintes características:

* Umidade adequada (13%) e homogênea;
* Coloração esverdeada (verde claro);
* Maciez ao tato;
* Alta produção de folhas em relação às hastes;
* Temperatura do fardo sempre fria (menor que a ambiente);
* Presença de odor característico de feno;
* Presença apenas da espécie vegetal de origem;
* Ausência de odores estranhos (fungos, bolores, etc…);
* Ausência de plantas daninhas, sementes ou pendões florais;
* Ausência de terra, gravetos ou materiais estranhos.

Poderão ainda ser avaliados:

* Uniformidade no tamanho e peso dos fardos;
* Perda excessiva de folhas ao manuseio;
* Amarração firme dos fardos.

Todas essas características devem apresentar-se SEMPRE EM CONJUNTO para que um feno possa ser considerado de boa qualidade, ou seja, não basta apresentar “quase” todas essas características para ser considerado como um feno “quase” bom. Essas características físicas são importantes e complementares às análises bromatológicas na avaliação dos fenos.

Na avaliação inicial de um lote de fardos de feno, a primeira característica a ser observada é a umidade do material. Deve-se abrir alguns fardos e avaliar seu aspecto geral quanto à presença de algum ponto de umidade excessiva, sendo desejável sua homogeneidade e um aspecto seco e firme.

Quando avaliamos as características visuais, a coloração é a que se apresenta com maior destaque e relevância. Quanto a essa característica deve-se sempre buscar um padrão homogêneo, entre e dentro dos fardos, sendo que uma cor verde ou esverdeada seria característica de um material de boa qualidade quanto ao processo de secagem e de armazenamento enquanto uma cor amarelada ou mesmo marrom, indica problemas de excesso de horas ao sol e falta de qualidade. Essa coloração esverdeada pode ser mais intensa, sendo a alfafa um exemplo típico, ou menos intensa como os apresentados pelo Coast-cross. Isso se deve às características naturais das plantas, e não de uma maior ou menor eficiência do processo de fenação.

A maciez ao tato mostra que a forrageira foi cortada ainda jovem, em seu estado vegetativo de crescimento, onde a presença maior de folhas em relação às hastes ou caules, é a responsável pela sensação de maciez ou de ausência de características mais grosseiras como aspereza ou dureza.

Essa maior proporção de folhas também pode proporcionar uma melhor qualidade nutricional, pois essa fração das plantas é a que apresenta maior digestibilidade e concentração de proteína. Favorece também uma secagem mais rápida e homogênea, o que evita perdas em qualidade e peso.

A presença do odor característico de feno, ou de capim cortado, reflete que ocorreu um processo adequado de desidratação, não havendo exposição demasiada ao sol e também um armazenamento adequado, onde não houve uma rehidratação prejudicial do material, nem crescimento de bolores ou fungos.

Também a ausência de odores desagradáveis é um outro fator importante a considerar. Alguns animais são altamente seletivos quanto à qualidade do alimento, não consumindo aqueles que tem características indesejáveis quanto ao aroma, ou que apresentem material em decomposição com presença de fungos ou bolores. Alguns defensivos como inseticidas também podem causar alteração no consumo.

Uma temperatura normal (fria) dentro dos fardos também é um bom indicativo de qualidade no processamento e conservação. Temperaturas mais elevadas são um indicativo de umidade inadequada no enfardamento ou no armazenamento. Não é incomum encontrar-se fardos de feno com temperaturas mais elevadas em função do aquecimento provocado por atividade de microrganismos.

A presença de condições de umidade para desenvolvimento desses microrganismos será problemática em três aspectos principais: perdas em quantidade (peso) por oxidação, possibilidade de formação de compostos tóxicos como micotoxinas (aflatoxina) pela ação de fungos produtores e também levar a condições onde a combustão (queima) do material poderá ocorrer espontaneamente, com riscos pessoais e materiais.

A presença de espécies vegetais estranhas em campos de feno, mesmo que adequadas ao processo, poderá significar que esse campo de produção está em declínio, sendo pouco cuidado quanto às plantas invasoras. A qualidade sempre será diminuída pela presença de material de menor valor nutritivo, embora para o comprador esse feno tenha o mesmo preço por unidade de peso.

A presença de plantas daninhas, sementes ou pendões florais, da mesma forma, tem influência negativa sobre a qualidade do feno, demonstrando que este encontra-se passado e fora de sua melhor condição nutricional, tanto por motivos de clima ou pelo fato do produtor de feno valorizar mais a quantidade produzida do que a qualidade do produto.

A ausência de materiais estranhos, terra ou gravetos também se apresenta como uma característica importante e desejável nos fenos, refletindo a preocupação do produtor de feno quanto à sanidade e à integridade física dos animais que irão consumi-lo. Há várias citações de problemas com pinos, grampos, parafusos, plásticos ou graxa encontrados em cochos e fenís, disponíveis para ingestão pelos animais, com origem nos fardos de feno.

Comentário BeefPoint: A produção de feno no Brasil ainda é muito reduzida, principalmente por problemas culturais, ou seja, não há tradição nessa atividade e grande parte dos pecuaristas são unânimes em dizer que as dificuldades na produção de feno são muito grandes. Na verdade o que há é um grande desconhecimento sobre uso correto das plantas forrageiras, previsões climáticas, técnicas de manejo e dos equipamentos, além do desconhecimento de riscos e limitações inerentes do processo. Para reverter esse quadro negativo, um primeiro ponto a ser levado em consideração é a caracterização adequada do produto durante a sua comercialização e uma consequente moralização desse mercado, passando-se a pagar por qualidade, e não simplesmente por peso ou fardo como ocorre atualmente. Pelo exposto, podemos perceber que a aquisição e avaliação de feno, como um alimento de qualidade, é uma tarefa complexa e que deveria ser considerada como parte fundamental em qualquer programa nutricional de toda propriedade. Contudo, a avaliação física não custa nada ao produtor, apenas requer do mesmo um treinamento e uma atenção maior na hora da compra do produto.

Fonte: DOMINGUES, J. L. Parte da aula ministrada na disciplina de FORRAGICULTURA do curso de Medicina Veterinária do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, SP.

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