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O “peso” de duas arrobas

Há relativo concenso na literatura que não existe um peso ideal de vaca, mas pesos adultos mais adequados para diferentes níveis nutricionais. Vacas de peso e tamanho moderados são mais eficientes em ambientes desafiadores como aqueles fornecidos pelos sistemas de produção predominantes no Brasil. Mas qual seria este peso moderado? Os resultados a seguir estão longe de responder esta questão de forma precisa, mas auxiliam a refletir sobre este assunto que parece ser frequentemente negligenciado.

Por Roberto Carvalheiro¹, Marcelo Almeida Oliveira², Vânia Cardoso¹, Lilian Regina da Silva², Ronaldo Alves de Toledo Lima Jr.²

Qual o peso ideal de uma vaca Nelore?

Há relativo consenso na literatura que não existe um peso ideal de vaca, mas pesos adultos mais adequados para diferentes níveis nutricionais.

Vacas de peso e tamanho moderados são mais eficientes em ambientes desafiadores como aqueles fornecidos pelos sistemas de produção predominantes no Brasil.

Mas qual seria este peso moderado?

Os resultados a seguir estão longe de responder esta questão de forma precisa, mas auxiliam a refletir sobre este assunto que parece ser frequentemente negligenciado. Ao menos, o artigo foi escrito com este intuito.

Peso adulto elevado está associado a diferentes características indesejáveis, como: maior custo de mantença; menor taxa de maturação e, consequentemente, menor precocidade sexual e de terminação/acabamento; além de redução da fertilidade e da eficiência produtiva, quando o mesmo estiver em desequilíbrio com a disponibilidade de nutrientes.

O foco no exercício a seguir será sobre outro problema. O de bezerros produzidos por vacas alojadas, em uma área fixa. Para isso, duas fazendas serão contrastadas. A primeira, em que o peso médio das vacas é de 430 kg, sendo este o peso médio das vacas do PAINT (programa de melhoramento genético de bovinos de corte da CRV Lagoa), calculado de uma amostra de mais de 90 mil pesagens. A segunda, em que as vacas pesam em média 490 kg (vaca média PAINT + 2@).

Premissas:
1)Atividade de cria em uma área de exploração estável de 1.000 ha;
2)Capacidade suporte de vacas = 1.000 UA;
3)Proporção de bezerros desmamados sobre o número de matrizes expostas = 80%;
4)Venda de vacas vazias e deca 10 (10% inferiores na avaliação genética), de todos os bezerros machos e de 20% das bezerras;
5)Valores de mercado (julho/2009):
@ vaca = R$ 70,00; bezerro = R$ 650,00; bezerra = R$ 500,00.
Quadro 1. Contraste de 2 fazendas de cria (hipotéticas), com peso médio das vacas diferindo em 2 arrobas

Observa-se no quadro 1 que a fazenda com vacas mais pesadas consegue alojar um menor número de vacas e, portanto, apresenta uma menor produção de bezerros.

A receita com o descarte de vacas praticamente não difere, uma vez que a fazenda 1 abate vacas mais leves, mas em maior quantidade do que a fazenda 2.

Como foi pressuposto o mesmo mérito genético das vacas para o desempenho dos bezerros, isto é, o mesmo valor de mercado para bezerros filhos de vacas com 430 ou 490 kg, a maior produção de bezerros da fazenda 1 fez com que esta apresentasse R$ 40,00 a mais de receita/ha, em comparação com a fazenda com vacas mais pesadas.

Em outras palavras, o “peso” de 2 @ no “tamanho do seu negócio”, pode ser uma redução na receita de R$ 40,00/ha!

Este exercício não pode ser extrapolado para uma amplitude de peso médio das vacas muito grande, pois certamente o desempenho e o valor de mercado de sua progênie diferirá.

Procurando ressaltar a importância do mérito genético das vacas para a produção de bezerros superiores, o mesmo exercício foi repetido assumindo que as matrizes mais leves (fazenda 1) apresentavam menor valor genético para as características de desmame. Neste cenário, o benefício da maior produção de bezerros se anulou, uma vez que estes tinham menor valor de mercado.

Por outro lado, ao considerar que as vacas com peso médio de 430 kg apresentavam mérito genético superior, a receita adicional por hectare duplicou (R$ 80,00/ha), em comparação ao cenário original (vacas de mesmo mérito genético).

Diante dos problemas que podem estar associados a um maior peso adulto e dos resultados deste exercício cabe a questão:

Como melhorar o desempenho dos bezerros sem ocasionar resposta correlacionada no peso das vacas?

As tendências genéticas observadas no programa PAINT, quanto ao Índice PAINT (gráfico 1) e o peso adulto das vacas (gráfico 2), evidenciam que é possível obter progresso genético no desempenho dos bezerros sem necessariamente aumentar o peso das vacas.

Gráfico 1. Tendência genética do Índice PAINT (critério de seleção adotado no PAINT)

A tendência genética para o Índice PAINT equivale a um progresso genético médio em torno de 0,5% a 1,3%/ano da média fenotípica das características consideradas no índice (ganhos de peso pré e pós desmame; conformação, precocidade, musculatura e umbigo ao desmame e ao sobreano; temperamento e perímetro escrotal ao sobreano).

A tendência genética do peso adulto das vacas, de 0,178 kg/ano, é não significativa.

Gráfico 2. Tendência genética do peso adulto das vacas do programa PAINT

A combinação destes resultados indica que os parceiros do PAINT estão sendo eficientes em identificar animais de biotipo mais precoce, com maior taxa de maturação e peso adulto moderado.

Estudos mais detalhados precisam ser desenvolvidos para compreender melhor estes resultados, mas há ao menos três explicações plausíveis para o fenômeno: 1) consideração no índice das características conformação, precocidade e musculatura, permitindo identificar animais de biotipo mais precoce; 2) uso de um índice harmônico, bonificando animais com DEPs para conformação, precocidade e musculatura mais equilibradas; e 3) forte pressão de seleção por fertilidade das fêmeas, realizada por alguns parceiros do programa.

Outra questão que merece atenção é se estas vacas de peso e tamanho moderado, que produzem bezerros com desempenho superior, não seriam mais exigentes devido, por exemplo, a uma maior produção de leite. Esta questão destaca a complexidade da avaliação da eficiência produtiva de vacas de corte e a necessidade de acompanhar atentamente a evolução das diferentes características para a tomada de decisões acertivas.

A seleção natural fez com que a vaca Nelore apresente inúmeros predicados. Tenhamos a responsabilidade de conduzir a seleção artificial de forma a não perdê-los!

Referências recomendadas

GARRICK, D.; ENNS, R. M. How best to achieve genetic change?
http://www.beefimprovement.org/proceedings/03proceedings/Garrick.pdf

JENKINS, T.; FERRELL, C. Beef Cow Efficiency – Revisited.
http://www.beefimprovement.org/proceedings/02proceedings/Jenkins_02BIF.pdf

LANNA, D.P.; PACKER, I.U. A produtividade da vaca Nelore. http://www.fshdp.com.br/pdf/Nelore%20do%20seculo%20xxi.pdf

OLIVEIRA, M. A. O tamanho do seu negócio!
http://www.expogenetica.com.br/2009/palestras/palestra13.pdf

VANDERWERT, W. The size of the factory.mature cow size.
http://www.triplekgelbvieh.com/factory_size.pdf

1GenSys
2PAINT – CRV Lagoa

0 Comments

  1. Paulo Roberto Leme disse:

    Parabéns aos autores pelo trabalho, esse é um assunto importante para a pecuária de corte no Brasil. O peso adulto elevado das vacas realmente afeta sua eficiência produtiva como exposto no texto, ainda mais se considerarmos que em ambientes desafiadores seu desempenho reprodutivo será inferior, ou seja, o número de bezerros desmamados poderá ser inferior ao das vacas com peso moderado.

  2. Plinio Coelho de Oliveira Neto disse:

    Caros senhores, creio que o peso de uma vaca interfere e muito na produtividade de uma fazenda de cria e concordo que deve-se sempre procurar vacas um pouco menores, que não cheguem a interferir no peso a desmama, ou seja é muito mais interessante ter uma vaca de 420 kg que desmama um bezerro de 220 kg a uma de 520 que desmama o mesmo bezerro de 220 kg.

    No meu caso sou invernista e engordo tanto machos, como fêmeas, quando mais novo reparava no peso de abate de meu pai, bois de 5, 6 anos com 22, 23 @, também criávamos mas naquela época era praticamente impossível se ter o controle do rebanho pelos preceitos de meu pai.

    Hoje estou abatendo machos inteiros a pasto com peso muito variável, e é justamente sobre isso que gostaria de uma opinião de vocês.

    Consegui controlar meu rabanho com numeração individual a fogo, tentei a rastreabilidade, mas todos sabem a balela que é isso, resumindo…

    Não tenho peso de abate, o pesos variam entre 480 à 600 kg, depende do ganho, faço 2 descartes da minha compra (maioria desmama). Peso na chegada na fazenda e após 90 dias (primeiro descarte), quem ganhou abaixo da média (geralmente 15 a 20%) eu vendo. A segunda pesagem é aos 15 meses onde descarto mais 10 a 15 % do lote. A terceira pesagem é antes de entrar em um sistema um pouco mais intensivo, não há descarte, um protéico de alto consumo (3g/Kg PV/dia), que é ao redor dos 24 meses, onde trato por mais 90 dias o lote, e a cada trinta dias tiro trinta por cento do lote.
    Com isso consegui idade média de abate de 26 meses de machos.

    Ou seja, faço minhas contas e dependendo do ganho eu sei se o boi está me dando lucro ou prejuízo, de acordo com o ganho é a idade ao abate.
    Fazendo isso tenho GMD anual de 600 g e taxa de abate de 75 a 78%

    Gostaria de saber se há algo a ser melhorado no meu sistema de produção, acho que estou no caminho certo, mas gostaria de ser auxiliado pela sua equipe.

    Obrigado,
    Plinio Coelho

  3. Carlos Magno Pereira disse:

    Parabéns – mais uma vez – a Equipe PAINT pela divulgação desse trabalho. Acompanhando o sistema de melhoramento genético realizado pelos Parceiros e Equipe(PAINT) à algum tempo; vejo que na busca de matrizes c/ boas características produtivas como, Musculosidade e Precocidade de terminação, a importância de buscarmos matrizes(Nel) c/ conformação moderada, principalmente no sistema de produção à pasto. Esses exercícios deixa claro como é óvia a diferença entre “os pesos”das 2 @.

    Sucessos á Todos!!!

  4. Roberto Carvalheiro disse:

    Prezado Plinio Coelho de Oliveira Neto,

    Um dos componentes para o sucesso da atividade de recria e engorda é a compra de bezerros oriundos de rebanhos com reconhecida superioridade genética para características relacionadas com a precocidade de crescimento e de terminação/acabamento.

    Vide, por exemplo, o artigo publicado neste radar técnico com o título “Desempenho em confinamento de animais frutos de um programa de seleção a pasto” (09/11/2007).

    Atenciosamente,

    Roberto Carvalheiro

  5. Thiago Mont'Alvão Veloso Rabelo disse:

    Parabéns aos autores !!! Isso nos mostra uma tendência que deve ser introduzida nas propriedades, de acordo com sua realidade. Atualmente assistimos algumas propriedades que fazem melhoramento genético para produção de Nelore PO, onde têm-se focado muito na padronização do tamanho médio das matrizes, aliado à produtividade (alta taxa de desmama com bom peso) sem a perda da feminilidade e padrão racial.

    Abraços aos companheiros!

    Thiago Mont’Alvão

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