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O novo perfil da Indústria de Couro

A cadeia produtiva do couro vem sendo denominada e reconhecida, há algum tempo, como complexo industrial coureiro-calçadista pelo mercado, pela área acadêmica e pelo governo (ao discutir políticas para indústrias e fomentos). Era uma forte relação, quase única, de fornecedor cliente, couro e calçados. Mas isso mudou, está mudando e vai mudar ainda mais nos próximos anos.

A cadeia produtiva do couro vem sendo denominada e reconhecida, há algum tempo, como complexo industrial coureiro-calçadista pelo mercado, pela área acadêmica e pelo governo (ao discutir políticas para indústrias e fomentos). Era uma forte relação, quase única, de fornecedor cliente, couro e calçados. Mas isso mudou, está mudando e vai mudar ainda mais nos próximos anos.

O perfil da cadeia produtiva hoje é outro; os setores de governo e área acadêmica devem entender e aceitar esta nova realidade. A indústria de calçados, por questões de custo e mercado, deixou de utilizar o couro nos volumes que outrora usava. Um clássico exemplo: 70% dos calçados hoje comercializados nos Estados Unidos são feitos com produtos sintéticos. É visível também no varejo brasileiro esta mudança; os costumes mudam e as indústrias têm que acompanhar as tendências da demanda.

Este obrigatório reposicionamento mudou o perfil da cadeia produtiva do couro, não mais coureiro-calçadista, mas coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos. O uso de couro na indústria automobilística, moveleira e de artefatos é crescente e oportuno. Se hoje a indústria nacional e mundial de couro é competitiva foi porque superou a ameaça da diminuição do uso do couro pela indústria de calçados e passou a atender estes novos segmentos. É importante que todos os atores da cadeia assimilem este novo paradigma.

Nestes últimos anos, o empresário do couro demonstrou agilidade, investiu em novas tecnologias, parcerias e, como resultado, está aumentando suas exportações 22% ao ano e, o que é mais importante, sem deixar de atender o mercado doméstico. O setor curtidor brasileiro pode e vai exportar mais, porque o rebanho brasileiro, o maior do mundo, em termos comerciais, está crescendo e a tecnologia utilizada permite maior produtividade.

Por outro lado, é crescente o uso de material sintético no calçado por questões de mercado e parte desta indústria necessita de classes de couro que não existem no Brasil, precisando, assim, importar couro de outros países.

O novo perfil da indústria do couro pode ser aferido pelo próprio desempenho do setor. Hoje, a maior parte do couro exportado (mais de 60%) pelo Brasil para aos três principais mercados – China, Itália e USA (absorvem 63% das exportações de couro do Brasil) -, destina-se aos setores de estofamento e automotivo. É bom registrar que, se criarmos barreiras para a exportação, outros países, que estão ávidos para atender estes mercados, substituirão imediatamente o couro brasileiro e, aí, o “feitiço vira contra o feiticeiro”, pois não há demanda interna para este couro.

Outro fator importante é a mudança na posição do setor couro na pauta de exportação. Dados deste primeiro semestre de 2007 confirmam que o couro, que antes estava em terceiro lugar na exportação da cadeia, depois da carne e do calçados, hoje exporta 12% mais do que o setor calçadista. Isso porque as empresas curtidoras brasileiras se prepararam arduamente para expandir sua atuação no mercado internacional.

O governo, que tem sido importante parceiro neste esforço para conquistar novos mercados, deve aprofundar seu conhecimento sobre os desejos e as necessidades desta nova cadeia produtiva coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos.

Por todos estes motivos que confirmam a dinamicidade dos mercados consumidores, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil – CICB está sempre revendo suas estratégias. Um exemplo disso é que no ano 2000 o setor curtidor entendia que era necessário taxar a saída do couro wet blue, para permitir uma reciprocidade no mercado internacional do couro.

Hoje, o cenário se alterou e não é mais necessário fazê-lo. Enquanto, porém, a medida estiver vigente, é fundamental e justo que esses recursos do imposto de exportação retornem ao setor para modernização do parque fabril, adequação ambiental e capacitação do capital humano. Afinal, quem paga o imposto é o setor curtidor brasileiro.

A cadeia produtiva coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos é uma outra cadeia, dinâmica e moderna, com indescritível potencialidade e, certamente, veio para ficar. Está próximo o dia em que todos os automóveis estarão equipados com estofamentos de couro.

0 Comments

  1. Francisco Fido Fontana disse:

    Gostaria que continuassem publicando de maneira sistemática matérias e artigos relativos ao couro, já que apesar de componente de grande peso na valoração da arroba, nós pecuaristas desconhecemos a aplicação, usos e principalmente como produzirmos um couro melhor para que todo o setor ligado a pecuária se beneficie.

    Inclusive talvez, vocês como mídia de grande aceitação junto ao setor da pecuária tecnificada pudessem ajudar a fazer uma campanha de divulgação: de como e onde fazer a marcação do gado, que produtos que não danificam esta mercadoria; não ao arame farpado; cuidados contra carrapatos e bernes (mostrando fotos dos danos) e outras práticas relativas a esta área. No auxílio de combater aquela idéia de que “o frigorífico não me paga pelo couro” então não preciso cuidar dele.

    Atenciosamente,

    Francisco F.Fontana

  2. Jose Eduardo da Silva disse:

    O terceiro maior negócio de exportação, que os frigoríficos recebem de graça e não pagam nada para os pecuaristas. Aqui para se ganhar um prêmio de couro é de tirar o couro, imagino nas outras regiões onde tem berne, etc.

  3. João Alberto Haag Luiz disse:

    Está na hora dos frigoríficos remunerarem o couro e o governo lançar uma campanha estimulando ao pecuarista cuidar da qualidade desta matéria prima mudando o manejo na propriedade promovendo o treinamento dos funcionários da fazenda.

    Sabemos que além dos prejuízos causados por carrapato, berne e mosca do chifre, práticas de manejo trazem perdas econômicas grandiosas nos abates de bovinos. Não somente do couro como também da carne por lesões causadas por batidas, por pauladas, etc.

    Atenciosamente,

    João Alberto Haag Luiz
    CRMV/Z 0260

  4. Murilo Mertins Ferreira Bettarello disse:

    Enquanto os brasileiros não acordarem e começarem a pensar em produzir empregos e produtos de alto valor agregado, vão continuar sendo o maior exportador de couro “wet blue” (menor valor agregado entre os couros) do mundo e achando lindo sua indústria calçadista, que era forte, competitiva e gerava muito mais riqueza para o país sucumbir frente a indústria chinesa gerando empregos em outro pais.

    Sem falar que os frigoríficos não remuneram o bom couro, e isso também faz com que o Brasil receba pelo seu couro metade do que pagam para couros dos EUA ou Itália, enquanto perdurar essa política do ganha-perde na cadeia do boi, vamos sempre estar preocupados em exportar o máximo sem se preocupar com o custo social e ambiental que a produção de commodities nunca contabiliza.

  5. Marcelo Reina Peraltas disse:

    O reposicionamento da indústria do couro foi uma necessidade eminente dos curtumes, na busca em agregar mais valor ao seu produto, para sobreviver num cenário de alta carga tributária e retenção de créditos fiscais, fazendo com que a indústria do couro brasileira perdesse competitividade frente a seus concorrentes, e mesmo assim, encontra criatividade e empreendedorismo investindo para crescer num cenário tão desfavorável.

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