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O novo desafio do JBS

Por Miguel Cavalcanti, BeefPoint (beefpoint.com.br)

Relacionamento com o produtor é o futuro dos frigoríficos. É preciso fazer o marketing reverso, não só falando com o consumidor mas falando com o fornecedor. É preciso melhorar essa relação, que há tempos é bastante ruim.

O relacionamento ruim pode ter tido origem na época do boi barato, ou na percepção de que havia uma oferta “infinita” de gado para abate. O boi “infinito” acabou. O boi barato acabou. Agora é preciso pensar no longo prazo.

Até porque pecuária é uma atividade econômica de longuíssimo prazo. Todo investimento feito hoje, toda decisão tomada hoje, só vai dar retorno (positivo ou negativo) daqui bastante tempo. Não temos como pensar em uma relação tão de curto prazo, tão adversarial, quando vamos ter negócios repetidos entre o mesmo comprador-vendedor por muitos e muitos anos. Como já ouvi: a relação produtor-frigorífico hoje é fratricida – irmão matando irmão. Não faz sentido, pois um precisa do outro.

Outro ponto é que a demanda por carne bovina está ficando cada vez mais específica e com mais detalhes. O frigorífico precisa de boi europa, precisa de bois bem acabados. Precisa de boi orgânico. Precisa de boi com boas práticas de produção, com bem-estar animal. Precisa de bois que estão dentro do período de carência no uso de vermífugos, precisa de bois que tiveram uma nutrição balanceada e não vão ter carne com gosto de fígado. Ou seja, precisam mais do que de um boi, precisam de um produto com muitas especificações. E precisam, para isso, ter um relacionamento melhor com seus fornecedores.

O relacionamento pecuarista-frigorífico é reconhecidamente ruim há muitos e muitos anos. Não é um problema específico de uma região ou de uma empresa.

No entanto, o JBS tem se destacado nos últimos anos nesse quesito. Tem chamado a atenção de forma negativa. Talvez seja mais uma percepção, até porque não tenho dados específicos sobre isso, mas ouço reclamações diversas. Muitos produtores relatam dificuldades de se ter um relacionamento de longo prazo. Dificuldades em vender um gado melhor com uma condição melhor.

Já ouvi inclusive, relatos de quem vendia para o JBS, mas nunca a cabeceira. Com o crescimento do JBS, expansão, compras, etc, esse problema parece ter aumentado. De alguma forma, o JBS virou a personificação dos problemas dos pecuaristas. Não faço juízo de valor sobre essa afirmação, apenas uma leitura das impressões sobre o mercado.

Essa relação ruim com o JBS se iniciou há tempos. E agora se intensificou. Estamos num ano de oferta maior, de aumento do abate de fêmeas, de mudança de ciclo. Com isso temos preços mais baixos do que ano passado, o que não acontecia desde 2009. Nesse mesmo momento de virada de ciclo, o JBS fez algumas aquisições e arrendamentos em estados como MT e MS. Aumentou a percepção de que há pouca opção para quem vender. Não sei se foi um aumento significativo, real do número, ou apenas um aumento no sentimento do produtor.

O fato é que os produtores estão muito mais engajados nesse assunto e isso tem mudado de proporção. A recente manifestação em Campo Grande, MS, realizada por uma série de entidades importantes da pecuária, e também durante a Expozebu em Uberaba, MG, mudaram o cenário. E mais, alguns políticos entraram em cena. O que muda de figura, em especial uma empresa em que o BNDES tem uma significativa participação acionária. E a participação do BNDES também leva a uma sensação de injustiça por muitos, que acreditam que a empresa está onde está pelo apoio incondicional do banco estatal e que outras empresas frigoríficas não receberam o mesmo suporte, injustamente. Novamente, o importante não é julgar, mas ler a percepção dos pecuaristas.

Outro ponto interessante é que para uma empresa crescer como cresceu, é a necessidade básica de se ter uma elevada auto-confiança. Quem iria comprar empresas fora do Brasil, arriscar tanto, sem acreditar muito no próprio taco? E isso é uma qualidade que deve ser admirada. Mas auto-confiança e arrogância são separadas por uma linha muito tênue. E essa sensação também prevalece junto a muitos pecuaristas, o que piora a situação. Resumindo tudo isso, a imagem e a relação do JBS com seu principal fornecedor, o pecuarista, precisa melhorar.

Frente a tudo isso, o JBS tomou uma atitude muito inteligente e bem executada. Recém contratou dois profissionais de alto gabarito para tocar a recém criada “diretoria de relacionamento com o pecuarista”. Conheço pessoalmente os dois e os admiro muito profissionalmente. Eduardo Pedroso foi executivo da ACNB e do programa Nelore Natural e também trabalhou no Independência, em contato direto com produtores. Fabio Maia também trabalhou no frigorífico Independência e atuava como executivo da Assocon antes de ir para o JBS. São dois profissionais “seniores”, com muita vivência e muita capacidade. Destaco no Eduardo, o novo diretor de relacionamento, a grande habilidade oratória e também capacidade de execução e negociação. Competências que serão de grande valia.

O ponto negativo é que a primeira aparição pública da nova diretoria não foi bem sucedida. Na semana passada, a BM&F realizou o já tradicional encontro para se discutir a perspectivas do agro brasileiro, com diversos painéis e palestras. O painel de pecuária tinha como palestrante o CEO do JBS, Wesley Batista, que era aguardado por centenas de pessoas. O programa com o nome dele tinha sido divulgado há várias semanas e a ausência sem um bom motivo causou insatisfação geral. Poderia não ter aceito o convite, ou explicado melhor porque não foi. Coube ao Eduardo Pedroso substituir o palestrante original. Uma substituição não programada de um palestrante altamente esperado por um executivo com menos de um mês de casa, uma palestra institucional e a incapacidade de responder a perguntas “quentes” deixou todos muito insatisfeitos.

Foi um mal começo, mas sou otimista. A situação atual precisa e vai mudar. Acredito muito que os próximos meses serão de mudanças positivas. Escrevendo esse artigo me lembrei da história de que o primeiro dia, de abertura do primeiro parque de diversões de Walt Disney foi um grande fracasso: filas, desorganização, reclamações. Mas depois se tornou um tremendo sucesso, criando uma indústria de diversão e entretenimento nunca antes imaginada.

Sou otimista em relação a isso tudo. A situação atual é ruim, mas vejo vontade de melhorar por todos os lados que analiso. Frigoríficos, não só JBS, estão preocupados em melhorar sua relação com pecuaristas. E produtores estão despertando para o fato de que precisam atuar mais organizados e melhorar na comercialização e negociação com frigoríficos. O movimento contra o monópolio, que vai ser abordado em outro artigo, também mostra um novo despertar da classe produtora por se fazer ouvir, por agir em grupo e negociar melhor. Isso tudo é muito bom. O fato é que um relacionamento melhor entre produtor e indústria é essencial para que o setor se mantenha competitivo e também é essencial para empresas individualmente.

E para finalizar, nós do BeefPoint vamos ajudar nessa empreita. Estamos lançando uma pesquisa sobre relacionamento produtor-frigorífico. Quais são as empresas que têm a melhor e pior relação? Quais são os pontos mais negativos e quais os mais positivos? E principalmente, o que pode e deve ser feito para melhorar essa relação? Um setor forte se faz com elos fortes, que conversam, que negociam, que nem sempre concordam, mas há sempre um norte comum. Contamos com você.

Participe da pesquisa do BeefPoint sobre relacionamento produtor-frigorífico e concorra a um iPad

33 Comments

  1. Otavio cancado disse:

    Boa sorte e muito sucesso ao Eduardo Pedroso e ao Fabio. Que voces alcancem seus objetivos. Qualidades e competencia nao serao o problema.
    Um abraco do,
    Otavio Cancado

  2. Eduardo Krisztán Pedroso disse:

    Prezado Miguel.

    Bom dia.

    Parabéns pela didática de seu artigo. Demonstra claramente que o mercado evoluiu e os desafios de qualificação da oferta também. Nunca podemos esquecer que quando a indústria faz um bom trabalho, ela simplesmente preserva a qualidade que vem do campo. A carne bovina mais valorizada é aquela servida “in natura”, saborosa, suculenta e macia, de preferência, com pouco sal.

    Sabemos que é necessário direcionar os processos produtivos para buscar o melhor custo x benefício de acordo com a realidade tecnológica e gerencial de cada pecuarista e cada região. Do simples ao sofisticado. Na medida certa. E cabe à indústria traduzir a demanda de “carne” em “boi” e comunicar isso ao pecuarista de forma eficiente.

    Valor agregado para o mercado é sinônimo de homogeneidade de especificações, volume e cadência produtiva. O sistema é vivo e precisa ser abastecido todos os dias do ano. Eventuais excedentes ou déficit de oferta pontuais contribuem para volatilidade de preços. A relação oferta x demanda é o que regula a sustentação dos preços.

    Certamente, várias são as arestas no relacionamento entre os diferentes elos da cadeia produtiva da pecuária de corte, a começar pelas falhas e ruídos de comunicação. Como você bem disse em seu artigo, o boi “infinito” acabou e as novas fronteiras agrícolas também. Recordo-me de uma frase que o Sr Viacava sempre falava na época que eu estava na ACNB. Ele sempre dizia: “Primeiro vem o faroeste, depois vem o xerife”. Pois é, a cadeia da carne brasileira necessita, urgentemente, de uma reciclagem de sua regulamentação setorial em benefício do produtor e da cadeia como um todo. Temos de militar conjuntamente para definir novas regras para a nova realidade, em detrimento de vantagens pontuais de curto prazo, ora para um lado, ora para outro.

    Não basta vocação para sedimentar uma posição. Embora tenhamos todas as condições para ocupar com louvor a lacuna crescente do mercado mundial, é necessário estratégia e planejamento em toda a cadeia produtiva. Há bastante lição de casa a ser feita. Contudo, se estivermos juntos, profissionalmente organizados, remando para o mesmo lado, ninguém segura o Brasil.

    Qualidade sanitária do rebanho associada à qualidade sanitária do parque industrial são pré-requisitos para obtenção e sustentação das habilitações de acesso aos diversos mercados mundiais. Atender estes rigorosos protocolos e constantes auditorias de conformidade são uma questão estratégica para toda a cadeia produtiva. O consequente desdobramento de inúmeras opções comerciais e canais de venda auxiliam sobremaneira a flexibilidade de composição do mix de vendas necessário para sustentação dos preços do boi gordo em todo território nacional.

    As exportações são fundamentais para equalizar o destino dos diferentes cortes de carne em sua proporção natural de produção, ou seja, da carcaça casada. Por outro lado, monitorar o Mark-up do varejo doméstico e estreitar o nível das relações dentro de casa também é necessário para equilibrar as contas.

    Se realmente queremos compartilhar resultados pela cadeia, temos de subir a régua dos direitos e deveres de cada parte. O mercado é um sistema vasocomunicante, qualquer gargalo de vazão, se desdobra imediatamente em prejuízos, com efeito, dominó.

    Para complicar o dia a dia das relações, ora falta boi e sobra capacidade instalada, ora a situação se inverte. No calor da busca pela sobrevivência, as relações concorrenciais se mostram, com frequência, predatórias e canibais.

    Temos somente uma certeza, há muito trabalho pela frente. Colocamos a área de RP-JBS, Relações com o Pecuarista, à disposição do mercado em geral para avançarmos na construção desta agenda positiva para todo o setor.

    Conte conosco para o que der e vier.

    Forte abraço,

    Eduardo Pedroso (e.pedroso@jbs.com.br) e Fábio Maia (fabio.maia@jbs.com.br).

  3. Paulo Machado disse:

    Miguel,
    Excelente artigo. O conteúdo é muito importante, mas, salta aos olhos a sua coragem de escrever abertamente sobre os pontos fracos de um formador de opinião de alcance internacional, de maneira direta e, ao mesmo tempo, extremamente educada e cordial.
    Parabéns,
    Paulo
    ESALQ/USP

  4. Roberto Barcellos disse:

    Srs.,

    Encontro-me em uma fase de muito ceticismo em relação ao assunto.

    Como a pecuária brasileira se caracteriza pela produção de commodities, a única relação que existe entre o pecuarista e indússtria é a relação comercial. Da mesma forma que existe na relação do criador com o recriador, do recriador com o engordador, do engordador com a industria, da indústria com o mercado e do mercado com o consumidor.

    Infelizmente a pecuária de commodities se caracteriza por ser um jogo de mico, onde todos os participantes da cadeia estão sentados a mesa, passando as cartas um para o outro, jogando o famoso jogo do mico, um passo mal dado e voce morre com o mico.

    Os interesses são os mesmos em todas essas relações, um quer comprar mais barato e vender mais caro. Ninguem é heroi e ninguem é o vilão. O confinador quer comprar o boi magro o mais barato possivel, da mesma forma que a industria quer comprar o boi gordo o mais barato possível. Comprou barato, voce passou o mico pra traz e se vendeu caro, passou o mico pra frente e assim vivemos a vida.

    É um sonho achar que o confinador, se tiver muito lucro ira pagar mais que o preço de mercado para o recriador. A industria é a mesma coisa.

    Coloquei no twitter outro dia: A industria come na mão do varejo, da mesma forma que o engordador come na mão do frigorifico (esse é o poder da força de compra). E não adianta o pecuarista querer montar um frigorifico e nem a industria querer ser dona do varejo. Vimos muitos exemplos negativos de quem se “atreveu” pular o muro. Em resumo, vamos ser sinceros, o que nossos amigos (amigos mesmo), farão para melhorar esse relacionamento (aumentarão o rendimento de carcaça? Pagarão a mais pela @?).

    Produtor eficiente é aquele usa tecnologia para produzir barato e não aquele que recebe R$ 1,00/@ a mais, por ter volume ou estar mais proximo da industria.

    Tudo o que eu escrevi se refere a pecuária de commodities. Agora, quando eu falo sobre produtos especiais, esqueça tudo o que esta escrito e o cenario passa a ser outro. Neste negócio, a integração e agregação de valores da cadeia é fundamental para ela existir.

    Abraços, Roberto

  5. Alexandre Moreira/Mogi das Cruzes disse:

    Eduardo e Fabio, é muito bom ler e saber que pessoas como vcs. sempre vão ter lugar reconhecido no ramo, fiquei feliz de ler e saber noticias sua Eduardo.

  6. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti

    Novamente, um oportuno editorial fomentando a inovação no agronegócio da carne, agora sobre o relacionamento, o trato, entre produtores e frigoríficos. Parabéns por abordar o importante tema. Acredito que um relacionamento inteligente ,no sentido ganha-ganha, é mais do que necessário, é fundamental nesta nova sociedade do conhecimento, global e competitiva.

    Relembro um artigo que postei em 05-04-2006, aqui no BeefPoint, A crise e a oportunidade da pecuária de corte (https://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/espaco-aberto/a-crise-e-a-oportunidade-da-pecuaria-de-corte-28377/), em que escrevi: “…, torna-se necessária uma modernização no relacionamento entre produtores e frigoríficos. Não adiantam, mais, as brigas de ocasiões. A negociação deve ser ainda mais ampla com a participação de todos os integrantes da cadeia produtiva, inclusive o varejo.” O caminho para uma nova estrada para a boiada é por aí.

    Falar em crise, seria muito louvável que essa, mais uma, inclemente seca, que estamos atravessando aqui no sertão baiano e nordestino, fosse a oportunidade para que Brasil vencesse , definitivamente, o Desafio do Semiárido. (https://beefpoint.com.br/mypoint/21087/o-desafio-do-semiarido/)

    Aguardando as chuvas e as águas, que para o sertanejo são sempre milagrosas.

    Cordial abraço

    Paulo Cesar Bastos

  7. Paulo Junior disse:

    Parabéns ,o assunto ou a discussão é de suma importancia e assim como foi colocado em seu artigo fica facil para todos e que realmente a cadeia da carne consiga se comunicar melhor.
    Paulo Junior
    med. vet.
    Sinop/MT

  8. Luciano Roppa disse:

    Parabéns Miguel pelo excelente artigo. De forma educada e cordial (como diz o Paulo Machado) você abrangeu o delicado tema e abriu a oportunidade para uma discussão positiva e que atingir o objetivo comum dos Frigoríficos e dos Produtores.
    Parabéns também ao Eduardo Pedroso, que rapidamente já colocou a sua posição, também de forma polida e aberta ao diálogo.
    São atitudes positivas de pessoas importantes como vocês, que dão a todos nós a esperança de que estamos trilhando o caminho certo para construir um futuro melhor na nossa Pecuária de Corte.

  9. Vanderlei Pereira disse:

    Eduardo Pedroso: Um Nome de respeito do agronegocio, principalmente da Cadeia Produtiva da Carne Bovina, competente, vivenciado, e estudioso sobre o assunto. Ninguem mais do que Eu torço por você nessa nova empreitada. Profissional como você não pode ficar fora do avanço da Carne Bovina. Boa Sorte meu companheiro

  10. Manoel Terra Verdi disse:

    O texto do novo Diretor do JBS, demonstra conhecimento ou um estar bem instruido sobre o que acontece hoje na cadeia da carne. Esperamos mais dele. Se foi contratado pela empresa para se relacionar com os produtores, deveria se concentrar nisso. Tempos atras o JBS tinha uma politica de ponta nesse aspecto, com produtores maiores se tentava estabelecer contratos, que organizava as escalas das duas partes, com os pequenos percebia-se cordialidade e correção no abate, e ainda com os micros a preocupação de deixar um canal aberto para seus abates, atravez de compradores espalhados por todas as regiões. Como bem disse o Sr. Eduardo Pedroso “No calor da busca pela sobrevivencia, as relações concorrenciais se mostram, com frequencia, predatórias e canibais”, e eu acrescentaria, premido pela constancia do vermelho nos balanços que trimestralmente é obrigado a divulgar para o mercado, tudo isto acabou. O grande JBS, passou a ser exatamente igual a qualquer pequeno frigorífico, ou voltou aos seus tempos de Barra do Garças, negocios só no balcão. A criação de uma diretoria especifica para se relacionar com os produtores, cria em nós a espectativa que a antiga preocupação de se estabelecer uma relação moderna e eficiente entre frigoríficos e produtores está de volta. Sejam benvindos senhores diretores, más sejam ousados nas mudanças, ou pelo menos lutem por elas no seio desta grande empresa. Grande abraço.

  11. Helio Monteiro disse:

    O seu artigo foi ao ponto da questão nevrálgica para a pecuária brasileira no momento: a relação frigorífico-pecuarista. Governo, frigoríficos, e jornalistas, sempre apontaram o pecuarista como o obstáculo à modernização da cadeia produtiva. Nos últimos anos ficou claro o comportamento atrasado dos frigoríficos. No sul do Pará, após a chegada do JBS, azedou a relação pecuarista-frigorífico, a falta de transparência no abate e a prática de preços predatórios empurraram os fazendeiros para a exportação de gado em pé. Se não jogar de forma clara com os pecuaristas, os próprios frigoríficos estarão colocando seu futuro em jogo.

  12. Edison Monge disse:

    Parábens Miguel e boa sorte Eduardo,

    Com certeza o JBS terá um árduo trabalho para tentar mudar a tão desgastada relação Frigorífico x Pecuarista, afinal, já começa com atraso de algumas decadas.
    Mas vejo isso com uma questão importantíssima para o JBS, pois deverá afetar diretamente a sua sobrevivência, afinal ele chamou para sí essa responsabilidade ao se tornar o maior “player” do mercado de carnes e por receber gigantescos aportes de dinheiro público por intermédio do BNDES.

    Saudações

    Edison Monge

  13. Ana Zacharias disse:

    Caro Miguel,
    ao ler seu artigo fiquei pensando em como o mercado é ondular. Importante ressaltar que o planejamento estratégico não é uma receita de bolo e existe todo um ambiente que é desvendado quando colocamos em pratica as nossas idéias, nossos projetos. Uma das coisas que me impressiona muito é quando existe uma resposta a uma demanda e é isso que vejo neste artigo.
    Cada pioneiro paga o preço de ser, simplesmente, o NOVO onde os erros são peças primordiais para o sucesso. Quem não errou é porque copiou ou não tentou, assim digo boa sorte a JBS e, Miguel, mais uma vez obrigada por nos trazer textos informativos, que nos fazem pensar e são ótimos de ler.
    Um abraço.

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Olá Ana Zacharias, muito obrigado.
      Sim, precisamos ver o que tem de bom e de ruim em cada situação.
      E focar na solução e não no problema.
      Obrigado pelo apoio e participação.
      Abs, Miguel

  14. carlos massotti disse:

    Realmente um tema super polemico – a relacao pecuarista/frigorifico sempre foi beligerante ,pelo simples fato de que os interesses sao totalmente conflitantes ,no que pese a interdependencia pois um nao sobrevive sem o outro – afinal o pecuarista quer obter o melhor preco pelo seu produto – e o frigorifico quer comprar sua materia prima pelo menor custo,pois a industria frigorifica é uma das unicas que compra materia prima sem saber a que preco vai vender o seu produto final -daí a necessidade de comprar a materia prima pelo menor custo possivel – entao me pergunto : Pode existir uma solucao para um problema destes? Há quantas decadas temos este conflito? Lembram-se do tempo que o boi era usd 15/16 na chamada safra e usd 22/23 na chamada entresafra? Foi daí que exponencialmente aumentou o numero de frigorificos, epoca do boi barato ,considerado na epoca “infinito” e que recentemente provou ser finito -como resultado o boi subiu para usd 45/50 e muitas plantas frigorificas fecharam as portas como vimos nos ultimos anos -e acreditem ou nao , ainda existe capacidade ociosa por aí – menor sem duvida que no passado, mas ainda existe -permitam-me pinçar um texto acima escrito pelos srs Eduardo Pedroso e Fabio o qual revela em sintese o eterno conflito pecuarista/frigorifico:

    abre aspas ..Para complicar o dia a dia das relações, ora falta boi e sobra capacidade instalada, ora a situação se inverte. No calor da busca pela sobrevivência, as relações concorrenciais se mostram, com frequência, predatórias e canibais…fecha aspas…

    Muito feliz o texto pois atinge o cerne da questao – sobrevivencia…….

    temos decadas e decadas de conflitos e acredito ainda vamos conviver uns bons anos nesta guerra – muito pouca coisa ou praticamente nada pode ser feito para melhorar esta relacao – utopicamente podemos dizer que a unica forma de melhorar a relacao seria o frigorifico simplesmente pagar melhor ao produtor – e por seu lado vender melhor a sua carne -mas aí temos a limitacao do mercado consumidor,seja domestico ou no exterior, que se nega a pagar precos maiores para a carne – entao como ou o que deve ser feito?

    Nao tenho esta resposta e gostaria de saber quem a tem -afagos ,belas palavras, promessas , sonhos,diretorias de relacionamento..etc .. nada vai resolver – o que resolve é dinheiro – o pecuarista quer receber mais – o frigorifico quer pagar menos – e dai??

    Talvez dentro de mais alguns anos , o mercado de alguma forma se auto regule, pelas mudanças (forçadas ou nao!) na gestao e na mentalidade que fortemente estao acontecendo em ambos os lados – mas até chegarmos lá ainda vamos ouvir muito choro de pecuarista, muita queixa de frigorifico, muitas reunioes de entidades etc etc -sem qualquer resultado positivo –

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Carlos Massotti, obrigado por comentar.
      Acredito que todas as relações comerciais são conflitantes, mas a produtor-frigorífico é de longe uma das piores. Há muito o que melhorar.
      Abs, Miguel

  15. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Bom considerando que meus comentários têm sido preteridos,talvez este artigo do Fernando Fernandes nos ajude,acho que cabe e bem aqui:
    POR QUE AS GIGANTES CAEM?
    17/04/2012

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    Lendo o livro de Jim Collins, COMO AS GIGANTES CAEM, lançado aqui no Brasil pela Editora Elservir, percebi que muitas outras empresas ainda fariam parte da triste estatística da derrocada, indo do sucesso à decadência.

    Vamos falar do exemplo da RIM (Reserch in Motion) fabricante do famoso BlackBarry. A RIM conseguiu a proeza de navegar por muito tempo em oceano Azul. Desde a sua fundação, através dos Senhores Mike Lazaridis e Jim Balsillie, a empresa teve crescimentos recordes e rapidamente conseguiu ultrapassar suas fronteiras – conquistando todo o planeta. O celular BlackBarry possuía uma plataforma própria; seus aplicativos eram bons, especialmente o aplicativo de mensagens. Para a empresa, o céu parecia o limite. Além disso, trazia retornos excepcionais aos investidores. Parece, no entanto, que todo esse sucesso, começou a afetar a capacidade de pensar e inovar da empresa. A RIM começa passar por espasmos e dores aguda. O oceano muda sua cor para vermelho sangue. A empresa começa a navegar em águas rasas e perigosas. http://t.co/6IsxFD4L

    Segundo o estudo do Prof. Collins, do sucesso à decadência, as empresas podem atravessar cinco estágios:

    ESTÁGIO 1. Excesso de confiança proveniente do sucesso
    ESTÁGIO 2. A busca indisciplinada por mais
    ESTÁGIO 3. A negação de riscos e perigos
    ESTÁGIO 4. A luta desesperada pela sobrevivência
    ESTÁGIO 5. A entrega à relevância ou a morte

    Acredito que a RIM passou do estágio 1 (Excesso de confiança proveniente do sucesso) diretamente para o estágio 3, (A negação de riscos e perigos) pulando o estágio 2. (A busca indisciplinada por mais) Talvez, o estágio 2 a teria feito pensar em maiores inovações.

    Traduzindo para o português literal, Reserch in Motion significa: pesquisa em movimento. No entanto, foi exatamente o que a empresa deixou de fazer, pesquisar. Ela se apegou ferrenhamente à sua plataforma, acreditando talvez, que houvesse encontrado a fórmula ideal de sucesso. No entanto, o mercado continuou a evoluir e os concorrentes a melhorar. A RIM teve todas as chances de inovar e lançar produtos mais evoluídos. Mas, a complacência e talvez a falta de ambição a tornaram em uma empresa obesa e lenta.

    Foi nesse período de mornidão aos seus próprios princípios, que a APPLE lança seu mais novo produto no mercado. Em pouco tempo o IPHONE se torna líder de mercado e objeto de desejo dos seres mortais. Aqui começa a decadência da RIM. A empresa então no ESTÁGIO 3(A negação de riscos e perigos) não acredita que será afetada pelos concorrentes, até que a Samsung lança o matador de IPHONE. Chega ao mercado o GALAXY S2. Nesse momento, a RIM com a água já batendo em seu traseiro, percebe tardiamente que os estragos são maiores que imaginava. O IPHONE também entra no mercado corporativo, outrora quase exclusivo do BlackBarry e pior do que isso, pela primeira vez na história da empresa, eles deixam de ser número um em seu próprio país, o Canadá. O IPPHONE toma seu lugar.

    Enquanto escrevo esse artigo, a RIM está chafurdada num lamaçal de problemas. De várias fontes surgem notícias catastróficas sobre o futuro da empresa.

    No entanto, por que estamos abordando os problemas dessa empresa? Será que podemos aprender alguma coisa com os erros da RIM? Quais as lições tiradas desse desastre corporativo? Penso que resumidamente as lições são as seguintes:

    1. Nenhuma empresa é imbatível;
    2. A segurança é relativa;
    3. A decadência bate em qualquer porta a qualquer hora.

    Como as empresas podem se proteger, a fim de não capitularem? Em seu livro, O Prof. Collins dá algumas dicas, que tomo a liberdade de resumir.

    1. FOCO;
    2. ESTAR EM CONSTANTE MOVIMENTO;
    3. CAPACIDADE DE RESPOSTA RÁPIDA;
    4. EVITAR A OBESIDADE CORPORATIVA. (minha teoria)

    Gostaria de encerrar, citando a frase de Henry D. Thureau: Nada recua mais do que o sucesso.

    Abraço a todos,

    Fernando Fernandes

    E saudações,

    Evándro d. Sàmtos.

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Obrigado pelo texto Evandro, publicamos, apesar dele fugir do tema do artigo que é o relacionamento produtor-frigorífico.
      Abs, Miguel

  16. Luiz Antonio Nabhan disse:

    Pecuarista de um modo geral é gente simples, humilde, que gosta de conversar com linguagem simples.

    Para um bom relacionamento entre produtor (pecuarista) e indústria (Frigorifico) é preciso acima de tudo, RESPEITO! O produtor não pode ser esmagado por políticas comerciais agressivas por alguns frigorificos muito ambiciosos: preço baixo, imposição de peso morto com baixíssimos rendimentos, escalas fabricadas, fornecimentos de carnes aos varejistas a baixo do preço de custo, enfim tudo isto é que esa levando a maior migração da pecuaria para outras atividades do agronegócio.

    É uma luta e um desafio de mudanças que não dependem somente de pecuaristas, porém sim de toda a cadeia da pecuaria nacional, de Governo, principalmente do Legislativo que tem o dever de criar Leis que garantam a nossa sobrevivência!

    OBS: Nesta segunda-feira (04/06) teremos uma reunião com a Diretoria do JBS afim de se dar inicío a uma Agenda Positiva entre pecuarista e indústria.

    Luiz Antonio Nabhan Garcia
    Presidente da União Democrática Ruralista – UDR
    udr.org@uol.com.br

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Olá Nabhan, obrigado pelo comentário.
      Nos mantenha informado sobre a reunião de segunda-feira.
      Abs, Miguel

  17. Lucas Martins disse:

    Parabéns pelo artigo! Trata-se de um tema muito interessante.

    Talvez se os Frigoríficos intensificassem suas ações no campo ampliando seus esforços na pecuária sustentável ou invés de “premiar” o pecuarista, esta distancia entre campo/indústria não fosse tão discrepante.

    A implementação de programas de qualidade/sustentabilidade como o da ACBN não só geram índices de controle criveis como também os amplia. Trabalhos como este elevam a produtividade no campo, bem como, a confiança do mercado.

    Lucas Martins – TÜV Rheinland do Brasil
    Gerente de Contas – Alimentos e Bebidas

  18. Martinho Lucio de Freitas Neto disse:

    Prezado Miguel da Rocha Cavalcanti,

    Parabéns pelo texto. Também gostei do comentario de Roberto Barcellos.

    Penso que o maior problema de relacionamento do JBS não é o boi barato e infinito que acabou graças a Deus. O que mais prejudica os pecuaristas e influencia no mau relacionamento é o tão pouco que rende a carcaça dos animais por eles abatidos, o padrão de limpeza não é um simples toalete são praticas vorazes e desleais tipo:

    I O couro não é retirado até embaixo com facas pneumáticas ou de laminas é simplesmente arrancado com banha pelo rolete, assim ganha-se mais pelo couro que é vendido por peso e para o pecuarista paga-se menos pala carcaça e nada pelo couro.
    II Na retirada do sangue coagulado do pescoço (sangria) não é retirado apenas o sangue coagulado e sim grandes pedaços do acém. Um abuso
    III Sai o pacuzinho, uma fita da fraldinha.Antes da balaça!
    IV O pecuarista tem de dar o rabo do boi, as vezes com pedacinho alcatra grudado, antes da balança! Já damos os miúdos e o couro agora isto já é demais!

    Estas praticas estão dificultando o relacionamento do pecuarista com o JBS. Eu mesmo faz muito tempo que perdi a amizade com eles e procuro abater meus animais em frigoríficos de pequeno porte sobre minha supervisão porque se não eles também querem imitar o padrão de abate JBS é bom só pra eles.

  19. Cyl Farney de J. Freitas Jorge disse:

    Prezados Miguel e Eduardo!

    Belíssimos comentários.

    Porém a meu ver, precisamos urgentemente desenvolver estratégias e ações para construirmos um cenário onde produtores, indústria frigorífica e varejo estabeleçam um relacionamento comercial conjunto, sincronizado, franco e aberto; de forma a priorizar e atender economicamente todos os integrantes da cadeia, com margens de lucratividade que consolidem a atividade de produção, industrialização e venda de carne.

    É preciso transparência em toda a cadeia, e esta transparência tem que “estar à mesa” das discussões. Temos que avançar na modalidade de comercialização hoje existente.
    Para melhorar o relacionamento entre produtores e frigoríficos, é preciso inserir o varejo no processo. Porque consumidor não compra carne na fazenda e nem no frigorífico. Compra carne no supermercado e casas de carne.

    O Frigorífico reclama da margem “apertada”, da ociosidade de suas plantas industriais. O produtor reclama da sua margem negativa e de seus custos de produção incompatíveis com o preço de venda. O consumidor do alto preço da carne nas gôndolas. E varejo reclama de quê? Da margem baixa também? Certamente que não. Talvez do baixo giro do produto? Talvez da baixa representatividade no percentual do faturamento total? Não sei nem se o varejo reclama.

    Pois bem senhores; fazendo uma analogia, tenho a impressão de que PRODUTORES, FRIGORÍFICOS E VAREJISTAS, navegam na mesma direção, mas cada um em seu barco, e cada barco com potencia de motor diferente. Só vamos nos distanciar e os resultados coletivos em relação à carne ficarão mais distantes. Precisamos é embarcarmos todos – PRODUTORES, FRIGORÍFICOS E VAREJISTAS em um só barco, seguro e potente; cujo nome estampado na proa – CADEIA DA CARNE – e que seja capaz de enfrentar adversidades como também colher resultados positivos, para todos os tripulantes de forma concreta (resultado econômico), através de alianças mercadológicas sincronizadas com a demanda do consumo e do mercado, seja ele interno ou externo.

    Parabéns Miguel,
    Ao Eduardo, sucesso na empreitada.

    Abraços
    Cyl Farney

  20. Fabiano Pagliarini Santos disse:

    Miguel muito oportuno o seu editorial, acredito que essa relação não mude de água para o vinho com facilidade, aliás está mais para vinagre, comentaram que o boi é uma commodities, e é mesmo, porém é a commodities que mais mudou seu formato.

    Na década de 80 até meados de 90 o boi de 14@ era boi, hoje é vaca, vale lembra que era castrado. A saca de soja de 60 quilos ainda é a saca de soja de 60 quilos.

    Hoje o boi gordo para abate é de 18@ com perfeito acabamento, sendo esse castrado tem um acréscimo de R$ 3,00/@. Pois bem fazemos boi de 18@ inteiro em confinamento, ganhando em média 6 meses de abate em relação ao castrado, mas o aumento do custo é bem maior que o diferencial pago.

    Mas isso não é mérito no produtor que inovou, mas sim o frigorífico que forçou a isso, não que o o mesmo tinha interesse em fornecer uma carne melhor ou mesmo a percepção que a pecuária teria que evoluir para índices de produção melhores, não foram criando fatores excludentes para pagar menos.

    Quando comentaram que a pecuária é o jogo do mico não está errado, realmente o recriador tenta comprar o bezerro mais barato, o confinador tenta comprar o boi magro mais barato e o frigorífico tenta o mesmo. Agora quando um somente manda no baralho ai fica difícil jogar.

    Aqui no Mato Grosso, posso citar o frigorífico Pantanal de Varzea Grande, arrendado pelo JBS para ficar parado, assim como o frigorífico Guaporé de Colider, que alguns noticiaram que foi comprado e outros que foi arrendado, não tenho certeza, mas em fim a bandeira é JBS. Em algumas regiões como noticiado já nesse veículo chega a 100%.

    Não acredito em relacionamento quando a proporção chega nesse ponto. Devemos lembrar que boi gordo não é rápido como frango e suíno que em um ano muda o foco do mercado e o trabalho, quem faz um boi precoce, leva quanto tempo para ele chegar a ponto de desmama? O mesmo tempo do bezerro nelore padrão, pois não existe gestação de 4 meses e desmama inferior a 6 meses gera perdas por animais sofridos, alguns afirmam que é só suplementar com proteico, não conheço nenhum sem milho e farelo de soja.

    Então senhores para resumir o meu sentimento, creio que deve ser avaliado o crescimento desse grupo de forma assustadora, não sendo possível seus concorrentes acompanha-lo. Sem dizer o nível de diretores como o ex-ministro da agricultura Pratini de Moraes e ex-presidente do BC Henrique Meireles CEO da empresa J&F controladora do JBS. Aos produtores grandes, médios e pequenos temos que aprender um novo jogo ou aposentar as chuteiras, pois o jogo cada dia é mais truncado.

    Abraços e boa sorte ao componentes da nova diretoria do JBS, que encontrem o denominador comum. E estamos a disposição para trocar idéias, criticar e até ser criticados.

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Obrigado Fabiano por informar plantas de sua região que foram compradas/arrendadas pelo JBS. Abs, Miguel

  21. Osvaldo Penha Ciasulli disse:

    A história se repete

    Meu amigo e parceiro Miguel, ao ler hoje pela manhã seu editorial, da mesma forma que você lembrou da história do Walt Disney você me fez voltar aos anos 60, quando o Brasil começou a importar as primeiras linhagens de ave de corte, que aliás vieram várias, onde aqueles que se destacavam neste setor começavam a ter problemas no abate e na comercialização do frango.

    Lá nesses idos, Atílio Fontana, fundador da Sadia, foi para os Estados Unidos, em uma viagem técnica, visitando o sistema de produção, abate e comercialização do frango. Ao retornar ao Brasil voltou com a palavra chave do negócio: integração.

    Com todas as ferramentas possíveis em mãos e em uma localização privilegiada, cercado de pequenos produtores de suínos e de leite convenceu-os a transforma-los em integrados da Sadia. Foi simples, já que a grande maioria já vendia suínos para ele. Esta ação fixou o homem na terra, aumentou sua renda e transformou-se em um sucesso que todos conhecemos e copiado por inúmeras empresas.

    Este é o Brasil que conhecemos. Não preciso falar do tamanho atual da avicultura nacional. Após a Peste Suína Africana, o produtor deixou de ser criador de “porco” e passou a ser “suinocultor” com uma linhagem conhecida até hoje, a Agroceres PIC. Animal como pouca gordura, melhor conversão, enfim, Ney Bitencourt trouxe para o Brasil o primeiro lote de suínos. E a história está aí para todo mundo ver.

    Vamos falar da pecuária/corte brasileira. Desde a criação de http://www.feedfood.com.br todos nossos leitores podem observar nossas reportagens, onde tratamos de velocidade, qualidade, segurança alimentar o que inclui cruzamento industrial, manejo, nutrição, sanidade e destacamos com veemência o semi e confinamento. Aqui na redação quando alguém ouvia falar em semi ou confinamento o assunto sempre teve e terá um tratamento especial na publicação.

    Quando criaram o Interconf só faltávamos soltar rojão. Finalmente passávamos a concentrar a produção de carne intensiva em um único local debatendo mercado, tendências e novas tecnologias.

    No seu artigo, você destaca o monopólio. Quando foi criado a Ambev este assunto era pauta em jornais e revistas de circulação nacional onde tratavam a notícia como uma possível dominância da empresa no mercado de bebida. Na época quem fez sombra foi a Schincariol, e hoje vemos várias marcas de cervejas para todos os gostos.

    Temos uma seção na revista dedicada para as carnes nicho de mercado. Uma delas que não podemos deixar de comentar é a Seara Angus do Marfrig, e assim serão criadas dezenas delas, mas não vou me alongar neste assunto. A pecuária de corte está mudando e vai mudar.

    A relação produtor e agroindústria vai mudar e rápido, pois um precisa do outro.

    E diante de todas as informações postadas acima… creio que a história vá se repetir!

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Obrigado Osvaldo por compartilhar da sua experiência! Grande abraço, Miguel

  22. fernanda santos disse:

    Bom dia, prezado Miguel,
    Ao ler seu artigo,coloquei-me no lugar do Eduardo, situação extremamente constrangedora, mas com certeza, mais um desafio para todos do JBS.
    Parabéns ao Eduardo, e parabéns ao seu artigo Miguel.
    Estou há 3 dias tentando ler esse artigo. Hoje parei para ler e não gostei do que li pela chateações ocorridas, porém tive a curiosidade de ler pelo tema ” Novo desafio JBS”, enfim esperava ler sobre novos envestimentos surgindo aqui para o MS.
    Um abraço

  23. Maria Stella B.L.de Melo Saab disse:

    Parabéns, Miguel, por abordar com a coragem e imparcialidade que somente um especialista de credibilidade como você poderia, um assunto que certamente incomoda a todos os interessados há anos. Lembro-me que em 2006, em um congresso do IAMA (International Agribusiness Management Association) realizado em Buenos Aires abordei o assunto em um trabalho apresentado, e alguns dos participantes de outros países comentaram que infelizmente este problema de relacionamento não era um privilégio do Brasil. Hoje continua sendo problemático, mas como o Miguel, sou otimista e acredito que em algum momento isto vai ter que mudar. E o simples fato de se começar a discutir o assunto, inclusive com essa pesquisa bárbara realizada por vocês, já demonstra que há esperança. Todo caminho começa com o primeiro passo, e esse com certeza já está sendo dado. O que se precisa nesta cadeia é de comunicação. Vamos promovê-la.

  24. ANDRÉ BARTOCCI disse:

    Miguel melhorar a relação PRODUÇÃO-INDÚSTRIA é melhorar MUITO toda a cadeia.Por isso todos devem se esforçar para isso.
    Quero desejar boa sorte ao Eduardo e lembra-lo que um dos problemas a serem observados, por óbvio que seja, é que a produção precisa de 4 ANOS(da concepção ao abate) e o frigorifico 4 DIAS(do abate ás gondolas) mas precisamos andar juntos!

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Olá André, muito obrigado pelo comentário.
      Sua palestra no nosso workshop de fevereiro até hoje ressoa comigo. Em especial aquela parte que diz que cada prática vigente é de alguma forma endossada pelo produtor. Preciso escrever um artigo detalhando isso, que é muito válido pensar sobre isso.
      Abs, Miguel

  25. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Muito bom Farney,

    É legal ter mais alguém que entende um pouco da cadeia como um todo,do ponto de vista comercial,desde o animal vivo até a sua comercialização como carne no final de cadeia,junto aos consumidores,as donas de casa.

    Enquanto os lados entenderem que carne só pode ser commoditie,não existe como ter solução para esta,e nem para varias outras questões.

    Quando a carne desossada começou ser vendida para supermercados no Brasil,isto entre 1.992 e 1.994 a proposta era boa,de produto honesto e de qualidade,com toalete adequada,produtos ético,mas também com preços justos.

    Mas infelizmente caminhamos,como é o principio das commodities,para o caminho errado,sendo este o apenas e meramente extrativista,canibalista,antropofágico.

    Porque o homem do campo,que cria,recria,engorda os animais que deles,de onde derivam as proteínas animais,ter prejuízos?

    As indústrias (aliais,apenas frigoríficos,meros desmontadores de carcaças) terem baixa rentabilidade?

    Enquanto os supermercados (e neste caso refiro-me,sobre tudo,as grandes redes,embora não se possa excluir totalmente as médias redes,e mesmo os pequenos supermercados) de praticarem margens entre 80 e 100%,sobre os valores de face da Nota Fiscal,sem esquecermos que nos valores que constam em NFs já estão os descontos financeiros,que podem alcançar 22% sobre o preço real negociado pelos frigoríficos.

    Abraços Farney,e saudações aos demais,

    Evándro d. Sàmtos.

  26. Guga Bianco disse:

    Será que vai funcionar dessa vez? Acho difícil…esses dias mesmo o presidente da JBS disse em entrevista ” acha que eu tô ganhando muito, vai matar boi!”, ou algo parecido. Com essa mentalidade, acho pouco provável a coisa andar..mas continuo na torcida!

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