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Série analistas de mercado: o mercado te amassa quando você acha que sabe tudo sobre ele [Rodrigo Albuquerque]

O tema mercado do boi gordo é um dos mais relevantes relacionado a rentabilidade do setor pecuário. Por isso é o assunto mais procurado, conversado e discutido. Entender as tendências de mercado dos mais diversos fatores que influenciam o mercado do boi é fundamental para se planejar e aproveitar as oportunidades.

Com o objetivo de conhecer os principais profissionais que trabalham direta e indiretamente com análise de mercado pecuário, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas para compartilhar o trabalho destes profissionais, buscamos reunir informações consistentes sobre o tema.

Queremos conhecer mais como essas pessoas pensam, o que prestam atenção, o que consideram mais importante e o que sentem falta ao fazer seu trabalho de análise de mercado.

Para conhecer melhor quem tem se destacado no mercado pecuário no Brasil, acompanhe nossa série de entrevistas.

Confira a entrevista com Rodrigo Albuquerque, médico veterinário da Fazenda Buritis & Marca, em Jussara – GO.

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Saiba mais sobre Rodrigo Albuquerque:

Rodrigo Albuquerque: Administramos uma exploração pecuária de 4.000 – 5.000 cab (em processo de intensificação, com elevação do rebanho, podendo chegar a 12.000 animais), situado na cidade de Jussara-GO, uma das portas do Vale do Araguaia. Neste projeto, temos a função técnica-comercial, onde, através de nossa experiência e relacionamento colhidos em 10 anos no mercado de nutrição, tentamos aliar excelência em produção (excelência esta em plena construção) e comercialização.

BeefPoint: Quais as principais ferramentas para conseguir analisar o mercado de forma ampla?

Rodrigo Albuquerque: Basicamente coisas simples, mas que fazem toda a diferença. Primeiro, focar em coisas que não estão no ar condicionado, ou seja, coisas, fatos e pessoas que estão no mercado físico, onde ele acontece, ou seja, no campo, ou como digo, no Front. Segundo, consumir com voracidade os materiais que os analistas produzem. Terceiro, gerar nossos próprios índices e dados. E finalmente, quarto, ter o sentimento como baliza importante.

BeefPoint: Quais são os gráficos que você acompanha diariamente para fazer uma boa análise?

Rodrigo Albuquerque: Utilizo vários: 1. O gráfico da arroba x carne no atacado; 2. Preços da arroba x ciclos pecuários, 3. Preços da arroba do bezerro no MS e em GO; 3. Relação do preço da arroba do bezerro, garrote e boi magro; 4. Relação de troca; 5. Margem líquida da reposição; 6. Arroba do boi x arroba  do bezerro; 7. Ágio da arroba do bezerro em relação a arroba  do boi gordo; 8. Ágio da arroba do bezerro em relação a arroba do garrote; 9. Diferença em R$ entre o garrote e o bezerro; 10. Diferencial de base (GO x SP); 11. Diferencial de base (vaca x boi) em GO; 12. Margem bruta da indústria; 13 Escala e Semanas de alta/baixa.

BeefPoint: Quais são os principais indicadores para analisar o mercado do boi, na sua opinião? 

Rodrigo Albuquerque: A velha e boa escala é fundamental, e o preço do atacado e do varejo da carne. Os principais são estes dois.

BeefPoint: O que você lê de notícias, análises e relatórios de mercado? Quais são as leituras indispensáveis?

Rodrigo Albuquerque: Carta Pecuária, BeefPoint, Scot.

BeefPoint: Quais os principais fatores devemos olhar pelo lado da oferta e do consumo para uma análise de curto e médio prazo?

Rodrigo Albuquerque: Pensando pela força das maiorias, do lado da oferta, temos que olhar para a dinâmica da produção de gado gordo a pasto. Como apenas 10% do gado abatido vem de cocho, passa a ser fundamental saber sobre o alicerce que produz os outros 90%, que é o pasto (chuvas, pragas, etc). Especificamente para o boi de confinamento, observar a taxa de lucratividade da engorda intensiva é o caminho para completar o cenário de curto e médio prazo no tocante a oferta. Agora, com relação ao consumo, o fator primordial é a economia interna, visto que a grosso modo consumimos 80% do que produzimos.

BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e acertar a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?

Rodrigo Albuquerque: Em 2013, antecipamos o buraco negro de oferta de julho, fato que alertamos com antecedência. Conseguimos pressentir uma tremenda dificuldade de ter pasto em plena época de produção máxima dos capins, em função de chuvas irregulares e ataque de pragas. A lição que tirei do episódio é: cuidado para lutar contra a maioria…

BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que aconteceu o contrário, onde não conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e errou a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?

Rodrigo Albuquerque: Para espanto, digo que isto ocorre com muita frequência por melhor que seja o analista. Se fosse listar, demoraria anos… Errar faz parte do jogo. Errou? Pois bem, erre melhor da próxima vez. Este é o nosso lema e a melhor lição.

BeefPoint: Em sua opinião, quais são os principais dados em falta na pecuária brasileira para que se possa fazer uma análise consistente do mercado? O que poderia ser feito para reduzir esse problema? Qual órgão poderia contribuir de forma mais efetiva?

Rodrigo Albuquerque: Rebanho por faixa etária. Com isto em mãos, poderíamos antecipar os ciclos pecuários e conseguir antever fatos com mais precisão. E para resolver isto é simples. Basta compilar os dados semestrais das campanhas de vacinação. Acreditamos que o MAPA deveria divulgar estes dados.

BeefPoint: Qual o maior desafio do analista do mercado da pecuária?

Rodrigo Albuquerque: Convencer o seu cliente que o objetivo não é acertar o olho da mosca um ano somente. Mas, sim, matar a mosca, todos os anos.

BeefPoint: Qual profissional da área é sua referência?

Rodrigo Albuquerque:Lygia Pimentel e Rogério Goulart.

BeefPoint: Qual conselho você daria para quem quer começar a trabalhar na área?

Rodrigo Albuquerque: Disciplina e humildade. Sem eles, o mercado te amassa, sempre quando você acha que sabe tudo sobre ele.

Seguem os contatos do Rodrigo Albuquerque: boicom20@gmail.com / twitter: @fazendaburitis

Comentário BeefPoint: Nosso muito obrigado ao Rodrigo Albuquerque que inicia essa série de entrevista. Muito obrigado por abrir seu arsenal de técnicas de trabalho para que mais e mais gente possa conhecer como fazer uma análise de mercado. Temos certeza que as pessoas que lerem sua entrevista e as próximas vão ficar melhor habilitadas a entender o mercado e também vão se interessar mais por entender o que acontece e o que influencia o mercado.

2 Comments

  1. Janete Zerwes disse:

    Prezado Rodrigo,

    Planejar é isso que você faz. E muito mais ainda, como sabemos. Na sua entrevista você reforça a importância de informações consistentes sobre mercados, plantel, entre outros fatores, como condições climáticas para determinados períodos e os impactos sobre a oferta de animais para abate.

    Para compilar dados sobre o rebanho, aqui em Mato Grosso, tenho conseguido através da Famato, junto do Indea, as planilhas de controle da vacinação, e, também de transito de gado de uma região para outra, ou para fora do estado.

    Em 2003 estudei a questão do transito de gado pelo país afora, e pensava no desperdício que poderia ser evitado se ao invés de levar animais na fase menos remunerada para o pecuarista, para invernistas de outros estados. Nessa época os confinamentos aqui no Mato Grosso eram ainda incipientes. Hoje tudo mudou, isso mostra a velocidade com que se organizam os mercados, a economia.

    A partir dessas constatações, elaborei o Planejamento Estratégico para nossa empresa de pecuária. Pensando em vender animais com histórico de ganho de peso do nascimento ao abate. Antevia um bom mercado para nosso excedente de gado que poderia ser vendido para confinadores, e também para projetos de ILP com maior garantia de terminação rápida e menos rescaldo pós período de confinamento ou de recria. Já investíamos em genética, fazíamos cruzamento industrial, mas faltava o aporte da TI, para confirmar e ajustar a qualidade da produção.

    Sabe o que precisamos buscar especialmente nós os criadores da região centro oeste? Integração, assim teremos força corporativa no mercado de bois. Vejo produtores progressistas dispersos por toda parte. Se juntássemos essas forças na difusão de nossas experiências de forma mais palpável teríamos uma resposta significativa na eficiência da produção e comercialização de gado de corte.

    Uma frase que você disse me deixou curiosa: “Cuidado para lutar contra a maioria”…Gostaria que você explicasse melhor esse “cuidado” para eu saber se é como eu também já constatei.

    Abraço,
    Janete Zerwes

  2. Lygia Pimentel disse:

    Grande Rodrigo!
    Obrigada pela referência. Saiba que você é uma das minhas. Leitura semanal obrigatória!
    Um abraço, parceiro!

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