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O Dourado, a aroeira e a burra política brasileira

Por Alexandre Raffi, Engenheiro Agrônomo, produtor rural em MS e Presidente da Novilho Precoce MS, Campo Grande, MS.

Imagina você, que um produtor rural tem 300 vacas, e todo ano ele descarta as maiores, as que mais desenvolveram, as mais bonitas. Não precisa ser pecuarista para saber que no final de 10 anos, seu rebanho estará definhado, pois todas as que eram acima da média foram abatidas. Loucura? Não sei, só sei que a burra política brasileira fez e faz isso constantemente.

Em algum dia dos anos passados, algum burocrata, temendo a extinção dos peixes dos nossos rios achou por bem proibir a pesca de exemplares abaixo de uma medida específica de tamanho. Sendo assim, o pescador quando recolhe seu peixe, pega a régua e mede o tamanho. Caso o mesmo não tenha as medidas fartamente divulgadas, devolve-o ao rio e volta a pescar.

Mas uma vez que o mesmo pescador pega um peixe que superou todas as dificuldades naturais e conseguiu se desenvolver e agora está apto a procriar, Vaptt !!! É retirado do rio e vai direto para a panela… Sendo assim, ao longo dos anos, os “mirradinhos”, “os mal desenvolvidos “, os “refugos”, acabam por ser tornam os pais das novas gerações !

E a Aroeira? Para quem não sabe, a Aroeira é considerada a melhor madeira para confecção de postes de cerca. Nossos queridos e saudosos avós e bisavós já usavam para cercar suas fazendas. E em muitas delas até hoje, após dezenas de anos elas estão lá, firmes, demarcando território.

Aí lá veio o burocrata novamente. Temendo a extinção da espécie, proibiram sua derrubada. Pois bem, os produtores, que continuam a trabalhar e melhorar suas fazendas precisam de madeira. A lei os permite uma retirada anual para uso próprio, porém a Aroeira NÂO !! E o que fizeram? Começaram a usar o que chamamos de “madeira branca”, outras espécies não tão duráveis, mas que aparentemente servem para resolver o demanda.

O problema é que a durabilidade delas é bem menor, então após poucos anos muitas delas não duram e precisam ser trocadas. O que o produtor é obrigado a fazer? Voltar para sua mata restante e abrir mais um pequeno clarão, e assim a mata vai se esvaindo.

Pior, chega outro burocrata e obriga os produtores a cercar suas reservas legais, suas “APPs” e mais alguma coisa que eles acham por bem. E o que fazem? Vão lá em suas florestas remanescentes e voltam a retirar as “madeiras brancas “. Menos Aroeira !!!!

Em tempo… se aqui a retirada da aroeira é proibida por que deixam trazer da Bolívia e Paraguai? O intuito é preservar ou simplesmente dificultar? Acabar com ela lá no vizinho pode, aqui não!

E assim o Brasil caminha.

Em vez de montar programas de repovoamento de peixes, com financiamento dos pescadores, ou montar programas de reflorestamento, acham mais fácil proibir, multar, condenar !

Nas minhas viagens de SP ao MS, logo que chegava na Hidroelétrica de Jupiá (Três Lagoas – MS) eu passava no viveiro da CESP e ganhava diversas sementes, inclusive AROEIRA! Rsrsrs

Tudo bem, levam dezenas de anos para ela ser uma boa árvore, mas não interessa, o ciclo nunca se fecharia. Nossos sucessores poderiam aproveitá-las. Deve existir alguma ONG séria que adoraria fazer o plantio dentro de nossos reservas.

Mas é assim. Infelizmente temos dezenas de casos onde vemos os burocratas (se quiser pode escrever com “rr”) inventarem suas leis sem saber se ela é logica, se é factível. Não custava nada eles ouvirem aqueles que vivem disso. E no final, vocês sabem quem “paga o pato “.

Antes que algum burocrata ache que estou promovendo o desmatamento, afirmo: Amo árvores! Plantei diversas espécies que ganhei do viveiro. Estamos implantando o sistema Silvipastoril na fazenda e pretendo fazê-lo na propriedade toda (se conseguir !)

Por Alexandre Raffi, Engenheiro Agrônomo, produtor rural em MS e Presidente da Novilho Precoce MS, Campo Grande, MS.

9 Comments

  1. everaldo flávio soares pereira filho disse:

    Excelente artigo!

    Os antigos trouxeram muito mais do que patrimônio, deixaram também uma enorme herança de tradição e de conhecimento. Devemos continuar lutando por nossas tradições, em especial aquelas relacionadas ao uso sustentável dos recursos da terra. Coisa que burocrata ou urbanóide não vê pela lente da TV.

  2. Pedro E. de Felicio disse:

    Parabéns Alexandre pelo artigo. Acabo de aprender alguma coisa sobre aroeira, não sabia que estava proibido o corte da árvore e a utilização da madeira nas cercas das fazendas. Gosto do tipo de liderança que você exerce, por não se colocar na posição de dono da verdade e estar sempre aberto a uma boa conversa sobre temas do mais simples ao mais polêmico.

  3. Fernando Sampaio disse:

    Pois é. Quase acabaram com o pinheiro do paraná assim. Proibiram o corte e o uso dessa madeira. Qualquer paranaense que vê um pinheirinho nascendo arranca logo antes que alguém veja…se não não tira nunca mais. Burrice pura.
    A melhor maneira de preservar uma espécie é estimular seu uso econômico. Não é por acaso que temos mais galinhas que ararinhas azuis no país.

  4. eriklis nogueira disse:

    Parabéns Alexandre, muito bem ponderado seu artigo sobre nossa situação atual, so pra provocar, quanto aos peixes, se pensarmos em melhoramento genético, o que fazemos é um “pioramento”, ou seja, tiramos os melhores, maiores, mais bem adaptados, que produzem mais filhotes do ambiente!

  5. DANIEL MR disse:

    Alexandre
    Muito sensato suas observações.
    Cabe acrescentar que via de regra as pessoas que elaboram estas leis moram em apartamento que as construções ocupam cem por cento do terreno! Sem observar nenhum cuidado com a preservação.
    Entendo que a preservação dos recursos naturais são de extrema importância e que devem ser suportados por toda a sociedade com recursos de toda a nação que será a beneficiada, e não do sitiante que vê seus recursos diminuírem com as limitações de usos de suas terras.

  6. Sergio Costa disse:

    PARABÉNS PELO ARTIGO AMIGO ALEXANDRE
    COLOCOU EM PALAVRAS,ACHO QUE POSSO DIZER UM SENTIMENTO MÚTUO DE TODOS QUE VIVEM O DIA A DIA NO CAMPO.
    SABEMOS QUE NOSSA LUTA COM ESTES”ALMOFADINHAS” QUE SE DIZEM PROTETORES DA NATUREZA É ÁRDUA MAS,NÃO PERDIDA.
    GRANDE ABRAÇO

  7. Jodé Oton Prata de Castro disse:

    Parabens Alexandre. Concordo em gênero, número e grau e outras maneiras possíveis e imagináveis. Estes BURROCRATAS, são …, José Oton Prata de Castro.

  8. Maurício Palma Nogueira disse:

    Ótimo texto, Alexandre.
    Colocações sensatas e objetivas. Parabéns!

  9. Marco Aurelio CANDIA BRAGA disse:

    Alexandre, parabéns pelo artigo, se olharmos pelo lado da competitividade, o que percebemos é que esses “burocratas” querem diminuir a participação do PIB Rural.
    Se olharmos pelo lado da sustentabilidade, seu texto fala tudo: eles dizimam as boas plantas e animais.
    Com isso o governo atual esta conseguindo tornar nosso pais não sustentável e muito menos competitivo.
    Agora estão tirando os desbravadores das terras para colocar pessoas que não produzem, fazendo igual aos peixes: aniquilando os fortes e dando sobrevivência àqueles que vivem de bolsas o assistencialismo governamental.
    Estão criando “fazendeiros de cativeiro”, que vivem só da ração ofertada.

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