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22 de abril de 2014
Atacado – 17-04-14
22 de abril de 2014

O desenvolvimento de boas práticas de gestão na pecuária não traz apenas maior eficiência ou lucratividade: alimenta a motivação das novas gerações – José Cavalcanti [Prêmio BeefPoint Bem-estar Animal]

BeefPoint realizará um grande evento – BeefSummit Bem-estar Animal -,  no dia 8 de maio de 2014, no Centro de Convenções do Ribeirão Shopping, na cidade de Ribeirão Preto/SP.

O evento terá a participação especial de Temple Grandin – pesquisadora que é referência mundial em bem-estar animal. Além de palestras inovadoras, com o Prof. Mateus Paranhos da Costa e pecuaristas que são referência nas práticas de bem-estar animal no Brasil.

Estes profissionais irão compartilhar casos de sucesso e aprendizados nesta área que cresce, a cada dia, dentro da cadeia produtiva da carne. E para fechar o dia com chave de ouro realizaremos a entrega do Prêmio BeefPoint 2014 – Edição Bem-estar Animal, que irá homenagear pecuaristas, profissionais, vaqueiros e pesquisadores que são referência em bem-estar no Brasil.

O público escolherá por meio de votação online, o vencedor de cada categoria. Assim, para você – leitor BeefPoint -, conhecer melhor os indicados, nós preparamos uma entrevista com cada um deles!

Conheça José da Rocha Cavalcanti, finalista na categoria Produtor Referência em Bem-estar Animal.

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José da Rocha Cavalcanti, engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa, é criador do Nelore IRCA, em Goiás. Faz parte da quarta geração de uma família que há quase 100 anos iniciou no Nordeste a seleção de gado Nelore, dando origem à linhagem IRCA. Sua especialidade é melhoramento genético com foco na produção de carne e manejo sustentável a pasto.

BeefPoint: O que você implementou de diferente em sua propriedade, que levou você a ser um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Edição Bem-estar Animal?

José Cavalcanti: De uma forma ou de outra, o bem-estar animal sempre esteve presente na cultura da lida do gado da nossa família.

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Os meus antepassados consideravam a criação de gado de uma forma “romântica”, vinculada às histórias dos animais que foram sendo adquiridos, as viagens até a chegada à fazenda, as pessoas envolvidas, os inúmeros relacionamentos que foram agregando mais histórias, os animais que se distinguiam, etc – tudo isso criava uma “lenda” em torno deles.

Assim, desde o início procuramos implementar o conceito de que todo animal é “credor” do respeito nosso por eles, principalmente por ser um produtor de alimentos – leite e carne.

BeefPoint: Por favor, conte sobre o trabalho que vem desenvolvendo na área de bovinocultura de corte e bem-estar animal na sua propriedade.

José Cavalcanti: O bem-estar animal é um tema amplo e precisamos distinguir as diversas etapas, como por exemplo, no manejo do pré-abate no frigorífico, com suas regras definidas e na forma como os animais são tratados na fazenda de cria, recria e engorda.

Entendo que o conceito de bem-estar animal deve agregar o bem-estar do vaqueiro, que lida com o gado. Melhorar as condições de vida da sua família e atender as suas expectativas de realização pessoal é, a meu ver, o principal “ingrediente” no estabelecimento do bem-estar animal.

Precisamos transformar os capatazes em supervisores do bem-estar animal, o que implica uma visão mais ampla, que passa pela saúde e por melhores condições de vida dos animais nos pastos. No Brasil, país de grandes extensões territoriais e de culturas variadas, esse é o principal fator que definirá o estabelecimento de uma relação homem-animal amigável, compreensiva, saudável, tolerante e que significará maior produtividade.

Infelizmente, a cultura majoritária é ainda aquela que valoriza a “força bruta”: bater, correr para cercar, arrastar no laço, chegar o ferrão no lombo, dominar no grito, etc. Isso se deve ao fato de existir uma resistência muito grande para se estabelecer uma relação de “compreender o animal para, a partir daí, comandar”: usar a inteligência ao invés da força, ter uma atitude de “pressão e alívio”, procurar posicionar-se na área de fuga ao invés da área de perigo; enfim, respeitar o animal para lidar com paciência e tolerância, ensinando, ao invés de querer “obrigar” o animal a aceitar os manejos que lhes são impostos: vir ao curral, passar na balança para ser pesado, passar no tronco para ser vacinado, etc.

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BeefPoint: Quais técnicas/práticas você desempenha em sua fazenda que resultou em bons resultados e que você julga importante, quando o tema é bem-estar animal?

José Cavalcanti: O bem-estar animal depende do tamanho dos pastos, do número de divisões, da localização dos bebedouros e cochos de sal e das instalações de manejo. Para cada item citado, existe um “ideal” que precisa ser alcançado no decorrer do tempo através de um projeto de adequação. Os investimentos são muitos e dispendiosos, assim é necessária uma programação dentro do fluxo de receitas de cada propriedade.

Em paralelo à adequação da infraestrutura, deve-se promover uma mudança de cultura. Desenvolver uma postura crítica sobre o uso da força: antes de usá-la, pensar se de fato é necessária, se são o melhor caminho, etc. Para isso, será preciso redesenhar a sequência de atividades, tendo em conta o tempo necessário para a sua execução (vacinar, marcar a fogo, pesar, estabelecer novos lotes, desmamar, etc).

Tenho observado que não prever bem os tempos (e respeitá-los) é a grande causa para um manejo corrido, que estressa os animais.

Assim, na nossa fazenda não temos metas de bater recorde de animais vacinados por dia, mas temos sim, o compromisso de executar todas as tarefas de manejo da forma mais confortável para os animais e os vaqueiros.

Portanto, consideramos de muita importância o uso de uma vara (que de forma alguma é usada para cutucar) medindo 1,80 m, que o cavaleiro porta direcionada para cima. Esta vara tem o benefício de tornar, na visão dos animais, o vaqueiro com um porte maior facilitando, a visão e obediência dos animais.

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BeefPoint: Conte pra nós qual a aceitabilidade de sua equipe quanto às técnicas de bem-estar animal? Como é feito o treinamento de seus funcionários?

José Cavalcanti: Depende. A aceitabilidade dos funcionários “estáveis” é muito boa, mas os novos manifestam resistência. Há uma tendência a desconsiderar os motivos e os benefícios desse manejo mais humanizado, vendo-os apenas como algo “imposto”.  No entanto, vale destacar que mudança de cultura nunca é algo fácil!

A nossa experiência é que é possível, mas leva tempo, exigindo explicar bem os motivos e fazer com que cada funcionário experimente por conta própria os benefícios desse novo manejo, mais humano.

Assim, o ponto de inflexão é quando o funcionário percebe que esse modo mais calmo de fazer as coisas não lhe exige mais tempo; muito pelo contrário. É ver que correr nem sempre é o modo mais rápido de se chegar a um lugar…

BeefPoint: Por que decidiu adotar medidas de bem-estar animal em sua propriedade? Teve o apoio de alguma empresa e/ou profissional da área?

José Cavalcanti: As práticas de manejo relacionadas ao bem-estar animal são oriundas da cultura de criação IRCA e também do modo de ser do nosso capataz, Donizete dos Reis, que a cada dia aprimora esta relação amigável com o gado.

Donizete

As reuniões do grupo GAMA, supervisionadas pelo professor Mateus Paranhos da Costa, para troca de experiências entre os criadores, também ajudaram muito no conhecimento dos conceitos; relacionados à prática do bem-estar animal.

BeefPoint: Todos sabem que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

José Cavalcanti: Trabalhando com 80 ou mais cabeças agrupadas em um só lote, percebemos que a produtividade individual ficava prejudicada. Em relação às condições de fertilidade do solo e da produção de matéria seca das pastagens, aprendemos que quanto mais severas forem essas condições, menores devem ser os agrupamentos dos animais. Por exemplo, para machos inteiros, temos o melhor desempenho individual em lotes até 25 animais, o que significa também maior produtividade lucrativa por hectare.

BeefPoint: Qual inovação e/ou novidade no setor você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando inovar?

José Cavalcanti: Os encontros promovidos pelo BeefPoint durante esses últimos três anos, onde técnicos e pecuaristas trocam informações são, a meu ver, uma das mais importantes inovações para a divulgação de conhecimentos para produtores e demais integrantes da cadeia da carne.

O gestor de pecuária precisa repensar a cada dia a sua atividade de forma a adequar a produtividade do rebanho com os preços pagos pelo mercado. E para isso, existem muitas formas de aumentar a produção sem necessariamente gastar mais, como por exemplo, estabelecer o bem-estar animal é uma delas.

BeefPoint: Quais seus planos para 2014?

José Cavalcanti: O ano de 2014 inicia-se com correções dos valores pagos pela arroba que estavam muito defasados. Um novo planejamento para investimentos é saudável, já que nesses últimos anos eles foram postergados.

Dando continuidade aos investimentos de introdução de nova variedade de capim na fazenda, em 2014 estamos aumentando a rede hidráulica para melhorar a distribuição de bebedouros nos pastos, dessa forma, os animais não colocam o “pé na água que bebe”, isso além de facilitar a melhor dimensão dos pastos e preservar os leitos naturais das águas do assoreamento.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária brasileira hoje?

José Cavalcanti: São dois os principais desafios da pecuária brasileira. O primeiro é o de sempre: produzir com qualidade de forma lucrativa. O segundo é algo de mais longo prazo, mas que a cada vez afetará mais o setor: saber transmitir/divulgar as qualidades desse produto nobre, que é a carne. No panorama atual, não basta produzir, é preciso comunicar bem sobre o nosso produto.

BeefPoint: Qual o exemplo de profissional dessa área você mais admira?

José Cavalcanti: Admiro muito o entusiasmo e trabalho desenvolvido pelo professor Mateus Paranhos da Costa e sua Equipe.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?

José Cavalcanti: O desenvolvimento de boas práticas de gestão na pecuária não traz apenas maior eficiência ou lucratividade: alimenta a motivação das novas gerações para prosseguir nessa atividade tão necessária e tão entusiasmante.

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Confira outros artigos de José da Rocha Cavalcanti no BeefPoint:  

Gestão da pecuária com foco no manejo das pastagens

Melhoramento animal: números e harmonia – uma reflexão

O que é um bom touro?

Confira outras fotos que ilustram o trabalho desenvolvido por José da Rocha Cavalcanti:

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1 Comment

  1. Eduardo José Gontijo Tostes disse:

    Eu queria marcar 5 estrelas mas só consegui uma. Parabéns pelo trabalho de décadas.

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