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O Brasil e as cadeias globais – Por Marcos Sawaya Jank

Por Marcos Sawaya Jank

Um dos aspectos mais interessantes da globalização é a integração das cadeias de suprimento e valor. Roupas, carros, computadores e celulares são exemplos de bens cujas cadeias de produção atravessam dezenas de países.

Grandes multinacionais americanas, europeias e asiáticas estão espalhadas pelo mundo não só para chegar aos consumidores, mas também para se aproveitar das vantagens competitivas dos diversos países nas cadeias de valor de seus produtos.

A União Europeia e a Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) são exemplos de blocos de países que reduziram os custos de transação gerados pela internacionalização das cadeias de valor das suas empresas. Ou seja, são arranjos que harmonizaram as “regras do jogo” dentro de uma região específica, fazendo com que mais da metade do comércio já se dê hoje dentro do próprio bloco.

O século 21 trouxe de fato um “mundo plano” que uniformizou e globalizou lojas e cadeias de suprimento na produção de iPhones, roupas fashion e cafés e sanduíches.

Mas ainda convivemos todos os dias com um “mundo não plano”, marcado por realidades de produção e consumo que aparentam não ter ainda chegado ao século 19. Matérias-primas de baixa qualidade produzidas sem qualquer controle, baixa produtividade, mercados rústicos, armazenagem sofrível e comércio na calçada.

O moderno convive com o atrasado em cada país. O melhor do século 21 convive com o pior do século 19 em cada cidade.

No meu entendimento, a principal razão para essas disparidades origina-se da falta de competição e abertura comercial. Quando um país se fecha para o mundo, os produtos e mercados tendem a ter uma menor relação preço-qualidade e as cadeias produtivas rapidamente se concentram na mão de poucos.

No caso do Brasil, a integração das empresas nas cadeias globais de suprimento ainda é medíocre. Altas tarifas de importação, exigências de conteúdo nacional, forte instabilidade institucional e o custo Brasil nos isolaram do resto do mundo. Por querermos produzir de tudo no Brasil, acabamos fazendo mal e inovando pouco.

No exterior, nossa maior competitividade está nos produtos intensivos em recursos naturais, basicamente commodities clássicas do mundo agrícola e mineral. Mas, com raras e saudáveis exceções, nossas empresas ainda estão longe de vender produtos diferenciados com marca global e mesmo investir no exterior.

No caso do agronegócio, por exemplo, temos dificuldade para ir além da relação com traders e importadores. No setor de carnes, enfrentamos elevadas barreiras para avançar nas cadeias produtivas no exterior. Basta dizer que metade da população asiática vive em países que se encontram literalmente fechados para o Brasil, impossibilitando a integração na cadeia alimentar, ao contrário do que ocorre nesses mesmos países nas áreas de automóveis e eletrônicos.

Num período de crise como o que estamos vivendo, a inércia nos empurra a examinar apenas os problemas e soluções domésticas.

Mas a história nos ensina que os países que mais se desenvolveram foram aqueles que conseguiram se encaixar direito no mundo, abrindo as portas para o comércio e os investimentos, se integrando nas cadeias globais de valor e fazendo com que suas empresas crescessem enfrentando os melhores concorrentes globais.

Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 17/10/15).

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