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10 de dezembro de 2008
Mercados Futuros – 11/12/08
12 de dezembro de 2008

Novos tempos para a carne

Recentemente ouvi os frigoríficos sendo chamados de desmontadores ou desmanteladores de carcaças bovinas por um representante da indústria diante uma platéia de pecuaristas e tenho que confessar que o uso deste termo me chocou e alertou, principalmente porque indica como as indústrias estão vendo e trabalhando a matéria prima a partir do abate, processando, transformando e agregando valor aos produtos obtidos a partir da carcaça bovina.

Recentemente ouvi os frigoríficos sendo chamados de desmontadores ou desmanteladores de carcaças bovinas por um representante da indústria diante uma platéia de pecuaristas e tenho que confessar que o uso deste termo me chocou e alertou, principalmente porque indica como as indústrias estão vendo e trabalhando a matéria prima a partir do abate, processando, transformando e agregando valor aos produtos obtidos a partir da carcaça bovina.

Para mim, é também um sintoma de como as grandes indústrias de transformação e exportação de carne e seus derivados estão começando a responder à demanda, cada vez maior, por produtos industrializados, que por enquanto, ainda está sendo atendida na sua grande maioria por produtos com uma história milenar e de qualidade não muito apurada e com um valor agregado médio, como o corned beef e o subproduto, disputadíssimo no mercado, que é o extrato de carne. Estes formam ainda a base principal de industrialização de carne e estão funcionando como uma espécie de “Hebe Camargo” para as indústrias de carnes no sentido que conseguem agradar uma parte considerável dos consumidores durante muito tempo e, como acontece quase sempre com produtos antigos, ainda tem bastante ouro a ser explorado, principalmente com o extrato de carne.

Aliás, as indústrias ainda não se deram conta do valor e possibilidades de uso do “beef-extract” e parece que preferem vender este produto para outros fabricantes de alimentos, especializados na alimentação de bebes e idosos, como também caldos de carne e outros condimentos.

A rainha Victória da Inglaterra aparentemente tomava chá de carne e mandou grandes quantidades para a famosa enfermeira Florence Nightingale (1820-1910), que cuidou dos feridos da guerra da Crimeía e por muitos é considerado uma verdadeira madrinha da saúde publica, pois usou o seu conhecimento de matemática e estatística em prol dos cuidados hospitalares, este o produto tem poderes antiinflamatórios e de recuperação, o que recentemente foi reconfirmado.

Pelas suas qualidades comprovados o uso do extrato de carne devia fazer parte obrigatória dos cestas básicas e merendas escolares como também na alimentação hospitalar e militar.

Um dia vai se descobrir ainda que o corte bovino verdadeiramente nobre e valioso é o músculo pelo o seu alto valor bioenergético e pela qualidade dos subprodutos do seu processamento; hoje vender o músculo para o consumidor é uma oportunidade perdida de processar e agregar valor neste produto e a dona de casa agradece porque ela sabe como fazer da chamada carne de segunda um prato delicioso.

Num degrau acima está a produção de almôndegas e os hamburgers que estão sendo usados na categoria de fast food, mas também está em curso uma evolução violenta na tecnologia de alimentos permitindo a produção de produtos novos, mais nobres e com um valor agregado bem maior na linha de fácil preparo domestico, dispensando a fritura e o cozinhamento demorado.

Numa nova fase já se fala em empresas alimentícias produtoras e gerenciadoras de proteínas, com produtos fabricados a partir da carne bovina e seus derivados, suína e de aves e até vegetal como, por exemplo, soja.

À parte de tecnologia de processamento de alimentos é adquirida pelos grandes frigoríficos com joint ventures ou compras de empresas que já tem bastante know how do assunto com produtos derivados de aves e da suínos.

Tem até indústrias européias se instalando no Brasil em joint ventures com frigoríficos brasileiros, como por exemplo, a DawnFarms da Irlanda que se juntou a Minerva na empresa MinervaDawnFarms que está montando uma fábrica da última geração e tecnologia em Barretos e que vai produzir alimentos industrializados com o slogan:
“World class protein solutions”.

A industrialização da carne também tem como um tipo de bônus adicional que, pelo jeito, se elimine em grande parte a necessidade de identificação individual do gado abatido para a exportação de produtos industrializados para o mercado de UE, que permite a indústria trabalhar nos países com o melhor e mais barato sistema de produção de bovinos, aves e suínos, desde que sejam cumpridos os requisitos sanitários, e assim desfrutar as vantagens do mercado europeu, com produtos que tem um maior valor agregado, deixando ainda mais empregos e receitas no Brasil.

O sonho de qualquer indústria é de trabalhar com matéria prima barata e transformar essa em produtos nobres e a Nestlé é um bom exemplo disto porque pega o leite que é uma matéria prima simples e barata e transforma dentro da indústria em inúmeros produtos nobres com um valor agregado considerável. Mas este sistema não traz vantagens para os fornecedores de leite.

Os produtores do gado no Brasil podiam ter feito muito mais para estabelecer alianças e parecerias com as indústrias frigoríficas nos moldes do Sisbov e Fundepec e até em termos de pesquisas e ajuda tecnológica junto com instituições de pesquisa públicas e privadas. Assim estabelecendo uma verticalização mais efetiva entre os elos produtivos da cadeia de carne bovina porque do jeito que estão as coisas atualmente, o fornecedor do gado para o abate corre o risco real de perder a oportunidade de compartilhar uma parte maior do valor agregado que os produtos industrializados vão gerar.

No caso das indústrias de carne é obvio que este tendência, de não trazer qualquer benefício adicional para os fornecedores de matéria prima, ainda anda em um ritmo lento porém em si pode ser bastante preocupante para os pecuaristas.

Eu estou exagerando um pouco e naturalmente a qualidade de matéria prima sempre vai ser importante e pode até ser renumerada pelas indústrias, mas o propósito deste artigo é ser um alerta para que os pecuaristas não continuem a cavar as suas próprias sepulturas com atitudes radicais contra as exigências, cada dia maiores, para a comercialização de carne in natura, resfriada ou congelada tanto para exportação como também para o mercado interno; é só uma questão de tempo até o trem chegar para nós aqui também.

0 Comments

  1. Ricardo Cauduro disse:

    Prezado Sr. Louis Pascal Geer,

    Meus parabéns pelo artigo.

    Gostaria muito, com sua autorização de fazer minhas, as suas palavras.

    Obrigado.

  2. Kenhiti Ikeda disse:

    Excelente este artigo!

    Os pecuaristas à moda antiga, deveriam ler e pensar seriamente em rever seus conceitos. É uma visão bastante realista do futuro que nos espera.

    Parabéns sr. Louis! Continue a nos brindar com outros artigos.

  3. walterlan rodrigues disse:

    Excelente o artigo do Sr. Louis Pascal de Geer.

    Como consultor da CFM durante 28 anos e tendo se aposentado como vice-presidente da empresa demonstra que a CFM sabe escolher seus executivos.

    A empresa é top de linha, seus produtos são de excelente qualidade e o nível atingido pela empresa é o melhor possivel.

    Eu gostaria de ver mais artigos como este e se possivel que se pudesse promover debates a respeito do assunto.

  4. Melina Mateus disse:

    Gostei muito do artigo, realmente o sonho de qualquer industria de alimentos, no nosso caso proteínas animais, é agregar o máximo de valor a matéria prima, transformando-os em produtos nobres e de qualidade.

  5. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Ricardo Cauduro,

    Obrigado pela a sua carta, da minha parte você tem a liberdade de usar o meu artigo desde que mencione a fonte.

    Um abraço, Louis.

  6. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Kenhiti Ikeda,

    Muito obrigado pela a sua carta, o artigo foi escrito para ser lido pelos leitores do BeefPoint e realmente reflete a minha visão sobre o futuro que já está em andamento.

    Um abraço Louis.

  7. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Walterlan Rodrigues,

    Muito obrigado pela sua carta e manifestação de elogios para a Agropecuaria CFM e para a minha pessoa.

    Apesar de nunca ter sido consultor da CFM, mas sim ter atuado como membro do corpo executivo da empresa sempre atuei muito mais como mediador e consultor do que executivo, por entender que o melhoramento contínuo de processos está na raíz do sucesso da empresa. Tenho muito orgulho e gratidão de ter tido a oportunidade de fazer parte da CFM.

    Um abraço, Louis.

  8. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezada Melina,

    Obrigado pela a sua carta, quero parabenizar a Minerva Dawn Farms e seus fundadores pela visão e coragem de iniciar uma nova fase na história da indústria de carne na cidade de Barretos, que tem uma tradição tão rica e bonita como centro de boi e rodeio.

    Parabéns Dawn Farms e Parabéns Minerva.

    Um abraço, Louis

  9. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Evándro d. Sàmtos,

    Muito obrigado pela a sua carta e realmente chegou a hora de rever posições tanto na pecuária como na industria e corrigir os rumos quando necessário, você tem plena razão quando disse que o dona de casa tem que ser mais ouvida e valorizada e principalmente a sua vida facilitada com produtos de qualidade e de fácil manuseio.

    Um abraço, Louis.

  10. FRANCISCO FIGUEREDO disse:

    08/01/2009

    Boa tarde, Dr. Louis Pascal de Geer,

    Sua colocação do termo “industria de proteina” invés de desmontadores de carcaças , para as industrias frigorificas, tem pertinencia técnica.

    É preciso que o produtor, o frigorifico, a indústria de embutidos, ouça o que realmente quer a grande maioria da população, dos cidadãos, isto a nivel municipal, estadual, nacional e internacional. E, em cima de seus estudos, suas pesquisas, fazer a opção, pelo seu mercado. Escolher a linha de produtos que venha a lhe remunerar seu investimento.

    A literatura técnica e textos de pesquisas, financeiramente desinteressados, tem colocado, para nossa avaliação, o seguinte dilema: após anos de testes e pesquisas, em todos os continentes, descobriu-se/confirmou-se que “quanto mais elaborado, mais cozido, resfriado, congelado, descongelado, fervido, esterilizado, UHT, LHT, qualquer produto seja, em seu processo, antes de chegar a mesa do consumidor, em qualquer canto do mundo, menos restará de suas propriedades alimenticias originais”.

    E, isto, coloca nós técnicos, diante de um novo paradigma: do quanto devemos beneficiar, elaborar, tratar, uma materia prima alimenticia?

    Ao se avaliar o lançamento, ou relançamento de produtos, qualquer produto, cabe a nós técnicos, numa equipe multidisciplinar, contabilizar totalmente, os custos do tal processo – quanto ele consumirá, melhor se definirmos uma unidade de energia – caloria – cal – kcal, quantos kcal se consumiriam para processar tantas kcal de materia prima e em contrapartida, quantas kcal, disponibilizaremos com nosso novo produto colocado, então, no prato do consumidor, e não na gondola do supermercado.

    Há um exemplo objetivo desta base de pensamento – para se produzir um chip processador de computador, qual deve pesar uns 5 gramas, são necessários quase 5.0 kg de materia prima. Parece que este chip, precisa prestar muito mais serviços para a sociedade, para o consumidor, para justificar tamanho consumo de materia prima e energia em sua elaboração.

    Como se ve, a responsabilidade que cabe a nós, da area técnica, é enorme.

    Obrigado, pela atenção.

  11. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Francisco Figueredo,

    Obrigado pela a sua carta, é muito boa a sua colocação com respeito a dilema entre o grau de industrialização e as perdas de qualidade dos produtos. Mas isto não é só um problema, também pode ser uma oportunidade, porque podemos enriquecer os produtos industrializados de tal maneira a quase elimina as perdas de valor nutricional e o efeito total pode até suprender no sentido nutricional.

    Para mim, leigo que sou, a Nestlé é um exemplo com a sua linha de produtos lácteos e creio que os recursos humanos e financeiros que são e foram investidos pela Nestlé em pesquisas e desenvolvimento são muito maiores e melhores do que o melhor existente na indústria de carnes.

    Para poder fazer uma coisa similar, precisamos conhecer ao fundo os valores dos produtos in natura e desconfio que, apesar de anos de pesquisas e resultados publicados a qual você se referiu, este conhecimento ainda não consegui ser plenamente entendido e difundido e muito menos ainda, fazer parte do dia a dia dos frigorificos.

    Realmente a responsabilidade que pesa no ombros dos técnicos é grande e deveriam receber muito mais apoio, mas quem consegue quebrar o paradigma e colocar o sabor, o valor nutricional e a facilidade de manuseio para o consumidor final em primeiro lugar, terá uma oportunidade grande que certamente resultará em retornos muito bons.

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