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Novos hábitos da pandemia oscilam

Uma pesquisa feita pela Horus Inteligência de Mercado mostra que, após um pico de demanda no início da pandemia, o consumo de alimentos, bebidas e produtos de higiene agora crescem em ritmo menos intenso. Mudanças no comportamento dos consumidores e a inflação mais alta são citadas como motivos para a desaceleração nas compras.

A consultoria coletou cerca de 10 milhões de notas fiscais de compras feitas em supermercados, hipermercados e atacarejos por 300 mil consumidores no país. A Horus dividiu os dados em bimestres, sendo janeiro e fevereiro o período pré-pandemia, março e abril, o começo dos casos; maio e junho a fase mais aguda da doença; julho e agosto a fase de redução do isolamento social.

Houve, por exemplo, um arrefecimento na demanda por alguns alimentos usados para cozinhar em casa. O leite condensado, que estava presente em 42,58% das cestas de compras em maio e junho, reduziu sua presença para 33,60% em julho e agosto. Óleo teve redução de 57,66% para 49,90%. Também houve redução da incidência de massas (de 60,77%, para 53,68%), leite em pó (de 37,72% para 30,72%), margarina (de 45,23% para 39,19%), achocolatados (de 27,97% para 22,45%), biscoitos (de 68,6% para 63,28%) e farinha de trigo (de 29,09% para 24,21%).

“Houve um aumento do consumo de ingredientes para fazer bolos e pães em casa com a pandemia. Isso está desacelerando, tendendo a voltar para os níveis de antes”, disse Luiza Zacharias, diretora de novos negócios da Horus Inteligência de Mercado.

Para a analista, isso ocorre porque as pessoas estão ficando menos em casa com a redução do isolamento social. Para fabricantes, é prematuro classificar como inversão de tendência o crescimento menor nas vendas de alguns produtos.

Rômulo Dantas, diretor comercial da M. Dias Branco, fabricante de massas e biscoitos, disse que a desaceleração no ritmo de crescimento está mais relacionada ao reajuste de preços. “Essas variações têm menos a ver com mudanças no consumo e mais a ver com a dinâmica de preços e estoques no varejo e na indústria”, disse Dantas.

Citando dados da Kantar Worldpanel, o diretor disse que, no acumulado do ano até agosto, as vendas de biscoitos crescem de 3% a 4% e as vendas de massas, de 11% a 15%, em comparação com o mesmo período de 2019. A M. Dias Branco informou que fez reajustes nos preços entre um dígito e dois dígitos baixos neste trimestre e, ainda assim, as vendas crescem.

Procurada, a Nestlé informou que a demanda por achocolatados, leite, leite condensado, biscoitos e outros produtos culinários das suas marcas segue aquecida. A multinacional disse que segue investindo nessas categorias. A Nestlé citou dados do CLab, laboratório interno de pesquisas da múlti, indicando que mais da metade das pessoas que passaram a cozinhar em casa na fase de isolamento pretendem manter esse hábito.

Na Kraft Heinz, o ritmo de vendas tem se mantido similar aos níveis de junho e julho, disse Fernando Rosa, vice-presidente comercial da fabricante. “Vimos um movimento diferente de vendas nas categorias que tiveram alta de preço recente e que compõem a cesta básica”, observou Rosa. No caso de molhos, vegetais e condimentos, a demanda cresce com a reabertura de bares e restaurantes.

De acordo com a pesquisa da Horus, na categoria de arroz, por exemplo, houve queda de 9,4% no número de unidades compradas por cesta e de 2,6% no valor gasto por compra no quarto bimestre em relação ao terceiro. No mesmo intervalo, a cesta total de compras sofreu redução de 13,6% em volume e de 8,5% no gasto médio por compra. “Não houve substituição do arroz por outros produtos. Pelo contrário, houve redução de outros itens na cesta para o consumidor manter o arroz”, disse Luiza.

“Há uma desaceleração nas vendas de produtos para cozinhar em casa, mas em relação a 2019, elas ainda crescem”, disse Leticia Guilhermino, gerente de marketing do Enxuto Supermecados, rede que opera 12 lojas na região de Campinas (SP). Ela citou o caso do fermento em pó, que crescia 108% no começo da pandemia, comparado ao mesmo mês de 2019, e em agosto cresceu 75% na rede. Na média, as vendas da rede mantêm crescimento de 10% ao longo do ano, em comparação com 2019.

O Carrefour informou que, no começo da pandemia, houve maior procura por itens de primeira necessidade para abastecer a despensa. Atualmente, os itens de necessidade básica ainda crescem, mas há também forte procura por produtos saudáveis e orgânicos. Essa categoria representou 13,6% das vendas líquidas do grupo no segundo trimestre do ano.

Nas categorias de higiene e limpeza, alguns itens também tiveram desaceleração no quarto bimestre em relação ao terceiro. Foi o caso de sabão para roupa, que caiu de 52,75% para 45,29% em participação na cesta de compras. A incidência de sabonete na cesta baixou de 47,28% para 40,77%; água sanitária passou de 42,51% para 36,61%; sabão em barra baixou de 21,84% para 16,16%.

Luiza observou que o consumo desses produtos ainda cresce em relação ao período pré-pandemia, indicando que os brasileiros manterão os cuidados mais intensos de higiene e limpeza.

“Percebemos que houve uma mudança de hábitos e que eles continuam. Acreditamos que, enquanto as pessoas não se sentirem protegidas, esses hábitos vão continuar”, disse Heloisa Glad, vice-presidente de vendas da Reckitt-Benckiser. A executiva disse que as vendas de desinfetantes, como Lysol, tiveram crescimento muito intenso no início da pandemia e agora esse ritmo desacelera.

Fonte: Valor Econômico.

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