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Novidade no açougue: Carrefour mira pequenos produtores

Faz tempo que carne deixou de ser commodity para as grandes redes de supermercado. Uma mistura de preocupação com sustentabilidade e com a qualidade dos produtos levou as companhias a investir no desenvolvimento de cortes cada vez melhores – e mais caros.

Nesta terça-feira (10), o Grupo Carrefour Brasil e a Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) lançaram a parceria para produção sustentável de bezerros no Mato Grosso. Até 2020, serão investidos mais de 3 milhões de euros, cujo maior objetivo é fomentar a produção sustentável de bezerros em mais de 450 propriedades das regiões mato-grossenses do Vale do Juruena e do Vale do Araguaia.

A Fundação Carrefour, instituição internacional responsável pelo investimento social do Grupo Carrefour, vai aportar, junto aos parceiros Acrimat (Associação dos Criadores do Mato Grosso) e Fazenda São Marcelo, 1,9 milhão de euros até 2020, com o objetivo de apoiar pequenos agricultores em uma cadeia de produção mais forte e justa, construindo um modelo socioeconômico viável. Integra o programa, também a IDH, com um co-investimento de 1,6 milhão de euros.

O acordo com o governo mato-grossense foi fechado em reunião com Taques e com representantes da Associação dos Criadores de Mato Grosso. Em outra iniciativa no estado, em 2016, o Carrefour lançou uma plataforma de sustentabilidade em que o consumidor pode saber o local da produção da carne.

Situadas respectivamente no noroeste e leste do Estado, as regiões do Vale do Juruena e do Araguaia compreendem 11 municípios relevantes na produção de bezerros, que abastecem boa parte da cadeia produtiva da carne bovina no país – atualmente ambas as regiões respondem por mais de 40% da produção de bezerros do estado do Mato Grosso, a maior parte por pequenos produtores. Ao todo, as mais de 450 propriedades que devem se beneficiar do projeto socioambiental somam mais de 156 mil hectares.  Os Vales do Juruena e Araguaia, situados em dois dos mais importantes biomas brasileiros, Amazônia e Cerrado, respectivamente, possuem mais de 80% da vegetação nativa preservada. Nesse sentido, a iniciativa tem um papel relevante no aumento da produção ao mesmo tempo em que não só mantém os atuais níveis de conservação, mas busca melhorá-los com mecanismos de restauração e de compensação ambiental. Os parceiros de implementação do programa são a Acrimat, NatCap e Fazenda São Marcelo.

Dentre os mais de 450 produtores, a maioria é de pequenos criadores beneficiados por programas de assentamento dos Governos Federal e Estadual. Apesar de receberem um lote de terra, com de cerca de 400 hectares cada, esses pequenos produtores precisam de suporte na produção, como linhas de financiamento adequadas, assistência técnica para melhoramento genético e do pasto e apoio para legalização fundiária e ambiental. Especialmente, produtores situados no bioma Amazônico enfrentam sérias dificuldades para desenvolver uma produção sustentável sob os aspectos financeiro e socioambiental.

“Um dos principais benefícios da iniciativa ‘Produção Sustentável de Bezerros’ é intensificar a produção das fazendas ao mesmo tempo em que os recursos florestais são preservados, promovendo uma produção sustentável e economicamente viável”, explica Paulo Pianez, Diretor de Sustentabilidade do Grupo Carrefour.

O Walmart começou a vender em 2016 em lojas do Sudeste e Centro-Oeste a linha de carne sustentável Rebanho Xingu, produzida no interior do Pará em parceira com a ONG “The Nature Conservancy”. O plano da rede é expandir o monitoramento aos poucos para outras regiões. Segundo a varejista, desde 2015 todos os dados de fornecedores com frigoríficos na Amazônia estão incluídos numa base de dados que inclui 75.000 fazendas que fornecem para 30 plantas de empresas como JBS e Marfrig. O projeto usa satélites para monitorar a produção e evitar desmatamento ou uso de terras indígenas ou áreas de conservação.

O próprio Carrefour já havia anunciado, em 2016, um acordo com a ONG ambientalista Greenpeace para monitorar sua rede de fornecedores para bloquear a compra de fazendeiros instalados em áreas de desmatamento ilegal. O Grupo Pão de Açúcar também tem iniciativas de monitoramento da origem da carne e parcerias com produtores para melhorias na qualidade do produto.

Objetivos

O programa tem como objetivo a entrega de resultados à estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI), lançada pelo Estado de Mato Grosso na Convenção do Clima realizada em Paris, em dezembro de 2015. A iniciativa de longo prazo estabeleceu metas para 2030 e é voltada ao aumento da eficiência da produção agropecuária e florestal no Estado, além da conservação da vegetação nativa, recomposição dos passivos ambientais.

Além de auxiliar na inclusão socioeconômica da agricultura familiar e também contribuir para as metas brasileiras, declaradas pela ONU sob o Acordo de Paris, que enfatizam a restauração de pastos degradados, a redução do desmatamento e o incentivo à agricultura de baixo carbono.

A parceria Carrefour e IDH também tem como expectativa aumentar a renda dos agricultores por meio de assistência técnica e acesso ao crédito, e garantir a conformidade ambiental em uma abordagem gradual, apoiando o Código Florestal Brasileiro, o conjunto de requisitos legais para proprietários de terra na conservação florestal em suas propriedades privadas.

“Esta é uma abordagem inovadora para o desenvolvimento sustentável, uma vez que conecta os mercados nacional e internacional para a gestão das áreas de produção de forma sustentada. Trata-se de um novo mecanismo sustentável de mercado que contempla regiões que abordam a sustentabilidade ambiental, social e econômica de uma só vez”, diz Daniela Mariuzzo, Diretora Executiva da IDH no Brasil.

Impactos socioeconômicos

Na região dos Vales do Juruena e Araguaia, aproximadamente, 91% dos fornecedores podem ser considerados extremamente carentes de tecnologia, com baixos índices de evolução da produção e da rentabilidade. Fatores como baixa capacidade técnica para o manejo de rebanhos e pastagens, pouco acesso à genética de alta produtividade, falta de linhas de crédito compatíveis e falta de conhecimento administrativo podem levar os produtores a um ciclo de perdas, novos desmatamentos e até abandono da atividade.

A iniciativa ‘Produção Sustentável de Bezerros’ visa justamente apoiar esses criadores, mantendo os produtores no campo, como um participante apto para atuar na cadeia pecuária. “O projeto viabiliza a inclusão socioeconômica destes pequenos produtores, proporcionando estrutura completa para seu desenvolvimento sustentável, com conhecimento técnico, acesso a financiamento, remuneração justa e legalidade”, afirma explica Sophie Fourchy, diretora da Fundação Carrefour.

Carrefour 2022

A iniciativa ‘Produção Sustentável de Bezerros’ está alinhada ao plano de transformação global, o ‘Carrefour 2022’, anunciado em janeiro pelo Grupo Carrefour. Dentre os principais objetivos da nova estratégia está a liderança da chamada “transição alimentar”, isto é, permitir que seus clientes consumam melhor. “Esse projeto marca mais uma importante etapa do compromisso global do Grupo Carrefour para que suas cadeias de fornecimento sejam cada vez mais sustentáveis.

Aliado a esse propósito, os demais parceiros das iniciativas pública e privada e a Fundação Carrefour possibilitam investir na transformação socioeconômica desses pequenos criadores, que representam o futuro da cadeia produtiva e de abastecimento de carne bovina no país”, enfatiza Noël Prioux, CEO do Grupo Carrefour Brasil.

Plataforma de Pecuária Sustentável

Em 2016, o Grupo Carrefour lançou sua Plataforma de Pecuária Sustentável. A partir de uma política nacional específica para a compra de carne bovina in natura, a companhia adotou um sistema para monitorar os processos produtivos e práticas socioambientais de todos os seus fornecedores no país. A ferramenta está sendo implantada progressivamente em 100% dos parceiros, que devem atender rigorosamente aos critérios e boas práticas estabelecidos por esta política.

A iniciativa reforça o compromisso global do Grupo Carrefour pelo desmatamento zero e seu empenho em manter parcerias que fomentem práticas sustentáveis de produção. O sistema cruza os dados das plantas produtivas de cada fornecedor com critérios públicos para identificar possíveis inconformidades, coibindo que as fazendas produzam carne em áreas de desmatamento ou embargadas, unidades de conservação, terras indígenas ou mesmo com uso de trabalho escravo. Com a medida, milhares de fazendas que fornecem para os frigoríficos parceiros do Carrefour são rigorosamente acompanhadas.

Sustentabilidade da cadeia de fornecimento

Como parte de sua ambição em se tornar líder na transição alimentar, oferecendo aos seus consumidores uma alimentação segura, saudável e sustentável, o Grupo Carrefour se compromete também a trabalhar, conjuntamente aos atores envolvidos, na busca de soluções para combater o desmatamento. Dessa forma, o Grupo ambiciona oferecer produtos livres de desmatamento até 2020.

Desde então, uma política florestal foi desenvolvida pela companhia globalmente e cada país onde está presente tem a missão de cumprir este compromisso atuando de acordo com os desafios locais. No Brasil, o Carrefour apoia iniciativas setoriais, como o GTS – Grupo de trabalho da Soja, o GTC Grupo de Trabalho do Cerrado, o GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, dentre outras.

A empresa também é membro fundador do InPacto – Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Em 2013, foi pioneira no lançamento da carne bovina com certificação Rainforest Alliance. O selo atesta que a carne é proveniente de fazendas que seguem rigorosas normas internacionais de conservação ambiental.

Qualidade conta

A sustentabilidade ajuda a fisgar consumidores mais exigentes, claro, mas a qualidade da carne, no fim das contas, é o que conta. O crescente investimento das redes de supermercado é uma proteção em um mercado mais e mais segmentado. Brasil afora grandes e pequenos açougues focados em carnes premium passaram a tirar os clientes mais exigentes dos super e dos hipermercados. Com decoração descolada e cortes exclusivos, esses endereços cobram até 100 reais no quilo da picanha ou do bife ancho. Alguns, como os paulistanos Feed e Debetti, passaram até a vender pela internet.

“Durante muitos anos a gente foi induzido a achar que a carne vem do supermercado, mas a carne vem da fazenda. Agora os consumidores querem saber de onde vem, a origem da carne e a qualidade”, diz Rogério Betti, dono do açougue paulistano Debetti e um dos principais embaixadores da mudança do padrão de consumo da carne no Brasil.

“Ficamos muito tempo comendo carne de pouca qualidade porque os supermercados compravam toneladas a preços baixos, o que levava a margens apertadas e insatisfação para todos na cadeia”. Debetti começou em agosto do ano passado uma parceria para operar açougues em duas unidades do Carrefour, em São Paulo.

Para István Wessel, fundador do frigorífico Wessel, há 60 anos especializado em carnes nobres, a iniciativa do Carrefour e de outros varejistas visa a fazer também com que as redes sejam menos dependentes dos grandes frigoríficos, oferecendo cortes de produtos locais. “Esses novos consumidores querem saber tudo do boi”, diz.

O desafio, segundo ele, é convencer as pessoas a comprar também cortes menos nobres. Bois de grandes ou pequenos frigoríficos, de boa ou má qualidade, afinal de contas, têm apenas uma picanha. E a revolução no churrasco, para ser bem sucedida, deve chegar aos grandes varejistas, mas também a todos os tipos de carne.

Fonte: Carrefour e  Exame.

1 Comment

  1. leonardo disse:

    quando vai chegar aqui no goias .

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