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Nova métrica de emissões favorece pecuária

Grande emissora de metano, a pecuária pode virar o jogo e reduzir seu impacto no ambiente, e conta com diversas alternativas para isso. Como se sabe, a mitigação pode vir com boas práticas de manejo de dejetos, adoção de biodisgestores e melhora da dieta dos animais, entre outras ações. Mas a adoção de novos parâmetros para os cálculos de emissões também pode resultar em um cenário mais favorável para o segmento.

É o que aponta o estudo “Panorama das Emissões de Metano e Implicações do Uso de Diferentes Métricas”, concluído recentemente pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O trabalho realça como o uso da nova métrica GWP* (Potencial de Aquecimento Global “Star”) de conversão de um gás de efeito estufa em dióxido de carbono equivalente (CO2eq) pode alterar o potencial de contribuição do metano da pecuária para o aquecimento global.

Métrica alternativa, a GWP* foi sugerida em relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2021 e trabalha com valores diferentes relacionados ao metano fóssil e biogênico, que deverão ser oficializados no segundo semestre. Considera o ciclo de vida do metano na atmosfera (cerca de 12 anos) descontando, portanto, o potencial de aquecimento do gás emitido 20 anos antes. Assim, em trajetórias estáveis de emissões de metano (ou de redução das emissões), a nova métrica define um potencial menor para o aquecimento global quando comparado com as métricas oficialmente aceitas, como o GWP100 (Potencial de Aquecimento Global para 100 anos) – o IPCC divulgou a métrica GWP em 1990.

“Considerando um cenário estável do crescimento do rebanho [+ 0,33 ao ano], as emissões de metano sob a nova métrica GWP* retornariam aos níveis de 1980 – cerca de 220 milhões de toneladas de CO2eq por ano – já em 2030. As emissões permaneceriam nesse patamar até 2050, ano final da simulação. Já na métrica oficial GWP100 as emissões seriam de 405 milhões de toneladas de CO2eq em 2050, ou seja, um potencial de aquecimento 1,95 vezes superior”, observam os autores do estudo (Talita Priscila Pinto, Cicero Zanetti de Lima, Camila Genaro Estevam, Eduardo de Morais Pavão e Eduardo Delgado Assad).

O trabalho lembra que o metano é o segundo gás de efeito estufa mais abundante na atmosfera. É responsável por 17,6% das emissões globais, depois do dióxido de carbono (CO2), que responde por uma fatia de 74,4%. No Brasil, o metano responde por 26,3% das emissões – ou 20,2 milhões de toneladas ao ano (566,7 milhões de toneladas de CO2eq), e a fermentação entérica dos ruminantes é principal origem.

O estudo também analisa um cenário de aumento da produtividade da pecuária com redução do tamanho do rebanho (- 0,35% ao ano), a partir de ganhos de peso que permitam o incremento do volume de produção de carne por animal – e, portanto, com a redução das emissões de metano do rebanho. “As tecnologias de baixo carbono da pecuária, como recuperação de pastagens degradadas, manejo adequado do rebanho, suplementação da dieta animal e terminação em confinamento, possibilitam esse resultado”, afirmam os pesquisadores.

“Nesse cenário de redução do rebanho, e considerando a nova métrica GWP*, a pecuária brasileira não teria implicações sobre a temperatura do planeta já em 2040 – ou seja, a pecuária atingiria a neutralidade climática. A neutralidade do metano é alcançada quando a atividade não adiciona mais emissões de carbono às emissões totais. Assim, a pecuária contribuiria para o aquecimento global até meados do século, mas ao atingir a neutralidade, e mantendo as emissões nesse nível, deixaria de contribuir para o aquecimento global. A fermentação entérica reduziria sua participação para apenas 2% do total das emissões do metano no Brasil”, calculam.

O estudo também defende que a pecuária seja incluída no Programa Nacional de Redução de Emissões de Metano – Metano Zero, para que sejam estimuladas metodologias setoriais que promovam avanços na regulamentação e acelerem a redução das emissões no país.

Fonte: Valor Econômico.

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