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[Nota Técnica CNA] Reações adversas à vacina contra Febre Aftosa

Introdução

A febre aftosa é a doença animal com maior impacto econômico na atividade pecuária. Seus prejuízos se fazem por perdas em virtude dos sintomas clínicos e, principalmente, por perdas em decorrência da impossibilidade de atuar no mercado internacional por conta dos embargos de países importadores de carne.

O Brasil iniciou efetivamente o combate à febre aftosa na década de 1950, com a criação do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa – PANAFTOSA. Foi nesse momento que se iniciou a produção da vacina utilizando diluente aquoso.

A partir de 1960, o controle foi oficializado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Em 1980, a vacina passou a ter diluente oleoso, até que em 1992, iniciou-se o processo de erradicação da doença, com a criação do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa – PNEFA.

A vacinação contra febre aftosa constituiu- -se em estratégia fundamental para o PNEFA e para o Plano Hemisférico de Erradicação da doença – PHEFA. Por meio da vacinação, conseguiu-se erradicar a febre aftosa no país, o que fez com que o Brasil alcançasse protagonismo no acesso ao mercado internacional de carnes.

É inegável a evolução do Brasil na luta para erradicar a febre aftosa, um trabalho muito bem coordenado, que prosperou principalmente após o engajamento do setor privado.

Composição da Vacina

A vacina contém três antígenos purificados inativados e emulsificados, sendo eles: 01 Campos, A24 Cruzeiro e C3 Indaial. Além dos antígenos, possui também óleo mineral como veículo e uma substância denominada saponina. Essa substância atua como um adjuvante, ou seja, aumenta o período em que os antígenos estarão em contato com o sistema imune.

A saponina foi adicionada à vacina oleosa com o intuito de antecipar a data de avaliação da potência da vacina. Este teste deveria ser feito 56 dias depois da primo-vacinação, mas possivelmente por razões econômicas, a indústria desejou antecipar esta avaliação para 28 dias.

Práticas de vacinação

O produtor é o responsável pela vacinação obrigatória de bovinos e bubalinos. A vacina é adquirida e aplicada durante etapas de vacinação conforme calendário específico para cada estado. Cada etapa direciona a aplicação de acordo com a idade do animal.

O ato da vacinação compreende cuidados adotados para uma adequada imunização dos animais incluindo:

•Vacinar dentro do período estabelecido;
•Adquirir vacinas somente em revendas autorizadas;
•Conservar a vacina em temperatura corre- ta (de 2 a 8°C) até o momento da aplicação;
•Aplicar a dose atual, de 5 ml, no músculo ou embaixo da pele na região da tábua do pescoço;
•Utilizar agulhas e seringas em bom estado e limpas;
•Manejar animais com o mínimo de estresse nos horários mais frescos do dia.

A aplicação da vacina geralmente é realizada pelo proprietário dos animais ou até mesmo por seu colaborador. Na maioria dos casos, o aplicador recebeu treinamento no curso – Agente sanitário em saúde animal – ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR em todo país. Por fim, o produtor preenche a declaração de vacinação e a entrega no serviço veterinário oficial do seu estado junto com a nota fiscal de compra das vacinas.

Reações a Vacinas

Reações locais, alérgicas e de hipersensibilidade, podem ocorrer com qualquer produto injetável, principalmente vacinas, sejam eles aplicados em humanos ou animais. A intensidade varia de acordo com o tipo de produto, da quantidade e qualidade da dose administrada e do indivíduo. Portanto, reação local à vacina contra febre aftosa é esperada, mesmo que todas as recomendações quanto a correta aplicação, sejam adotadas.

No abate, toda e qualquer reação à vacina, quando identificada, é removida, preservando a inocuidade dos produtos cárneos destinados para o consumo.

Ocorrência de Abscessos

Abcesso é um acúmulo de pus ou material inflamatório que se forma no interior dos tecidos do corpo. A formação de abscessos, hematomas ou reação granulomatosa em bovinos após uso da vacina oleosa contra febre aftosa deve ser evitada, pois implica em lesões inflamatórias de variadas formas, pesos e tamanhos.

Segundo trabalho científico, de autoria de Darcie, Gilfredo; et al. sob o título “Vacuna Antiaftosa: Elementos para evaluar el processo de produción” apresentado no VII Seminário Internacional de Control de Vacuna Antiaftosa – PANAFTOSA – Rio de Janeiro – Setembro/2001, a administração da vacina contendo saponina por via intramuscular pode levar a formação de abscessos, inclusive assépticos, isto é, sem agentes contaminantes externos como bactérias, mas causados pela capacidade da saponina de provocar reações pós vacinais nos tecidos periféricos.

As lesões localizam-se geralmente nas regiões do acém, pescoço e paleta. Tais lesões devem ser retiradas após o abate do animal e não impedem o consumo do restante da carne. Porém, isso causa grandes prejuízos tanto aos criadores quanto aos frigoríficos, pois com o descarte desta parte da carne, o criador não recebe e o frigorífico não poderá comercializá-la.

Estimativas indicam que o produtor perde, em média, 2kg de carne nas carcaças dos animais abatidos devido às lesões pela vacinação. Isto nos permite calcular que em alguns milhões de animais poderemos ter perdas totais de milhares de toneladas de carne. Considerando que em 2016 o abate nacional foi de aproximadamente 30 milhões de cabeças, somente ano passado, cerca de 70 mil toneladas de carne foram descartadas.

Desta maneira, o produtor que já tem o custo com a compra da vacina também é prejudicado por não receber pela carne desprezada. Pode-se considerar R$ 600 milhões gastos por ano na aquisição da vacina para um rebanho bovino de 215 milhões de cabeças.

Conclusão

A conclusão do setor privado, representado aqui pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – ABIEC, Associação Brasileira dos Frigoríficos – ABRAFRIGO, Associação dos Criadores de Mato Grosso – ACRIMAT, Conselho Nacional da Pecuária de Corte – CNPC, Sociedade Rural Brasileira – SRB e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, é de que a saponina, que não está prevista na formulação original da vacina desenvolvida pelo PANAFTOSA, está relacionada à exacerbada irritação no local da aplicação, que se agrava até casos de edema e severa reação inflamatória, com consequente ocorrência de abscessos.

Nesse sentido, considerando os prejuízos desde o descarte de carne (condenadas no abate) e na imagem junto aos consumidores nacionais, até embargos de importantes paí- ses importadores de produtos cárneos, solicitamos:

•Retirada imediata da saponina da atual composição da vacina contra febre aftosa;
•Redução do volume da dose de 5 para 2 ml o mais rápido possível;
•Recomendação de aplicação exclusiva- mente por via subcutânea.

Fonte CNA.

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