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15 de dezembro de 2013
A cada dia, entende-se mais que quem determina o que e como produzir é o consumidor – Lucas Ferriani (Profissional MS)
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Nossa pecuária é rentável, precisamos aprender a fazer ela dar mais dinheiro! – Welton Cabral (Profissional MT)

O Prêmio AgroTalento 2013 é uma iniciativa ousada do BeefPoint, que visa identificar e reconhecer os talentos da pecuária brasileira com idade de 25 a 45 anos. São essas pessoas que estão construindo hoje a pecuária do futuro, são elas que fazem a diferença no nosso setor.

O prêmio foi dividido em três etapas. Na primeira, o leitor BeefPoint preencheu um formulário onde tinha que indicar um nome para cada categoria e justificando sua escolha. Após disso, foi feita uma curadoria pelo BeefPoint, selecionando os finalistas. A terceira etapa foi uma votação aberta ao público, que se encerrou no dia 2 de dezembro. A cerimônia de entrega dos prêmios e a divulgação dos ganhadores foi na véspera do BeefSummit Brasil, no dia 9 de dezembro, no restaurante Ranch Steak, no Shopping Iguatemi, em Ribeirão Preto – SP.

Saiba mais como vai funcionar e o que é o Movimento AgroTalento:

– Prêmio para celebrar os jovens talentos da pecuária brasileira (dezembro 2013)
– Portal com muitos conteúdos focados em desenvolvimento pessoal (durante todo ano de 2014)
– Plataforma de educação online com diversos cursos e treinamentos sobre desenvolvimento pessoal, gestão, liderança e auto-conhecimento (durante todo 2014)
– Curso intensivo estilo bootcamp de 5 dias fechado para convidados agrotalentos (primeiro semestre de 2014)

Para conhecer melhor os finalistas de cada categoria, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um deles.

Confira abaixo a entrevista com Welton Batista Cabral, um dos finalistas do Prêmio AgroTalento 2013, na categoria Profissional – Mato Grosso.

Welton Batista Cabral é zootecnista e possui doutorado pela UFMT. Nascido e criado no Mato Grosso, tem 30 anos de idade e diz ser apaixonado por essa terra e pela pecuária brasileira.

Desde 2007 vem trabalhando em projetos de pecuária intensiva no estado. Já esteve em boa parte dos projetos de confinamento e semiconfinamento do estado, buscando aprender e ensinar simultaneamente, através do departamento técnico da empresa Novanis.

Trabalhou sempre com a capacitação das equipes e o aprimoramento desses projetos, onde conheceu pessoas simples, humildes, que conhecem como ninguém onde estão as dificuldades do campo. Welton diz estar agradecido a essas pessoas, pelos ensinamentos e experiência. Ele diz que são essas pessoas que quando capacitadas e estimuladas dão resultados, e todos ganham com isso.

Atualmente, é professor da UFMT e UNIC, e ainda contribui com o departamento técnico da Novanis, a campo. Optou por ter um pé na fazenda e outra na universidade, pois acredita que pode contribuir e aprender nos dois meios, que são totalmente distintos, e que possuem uma lacuna muitas vezes gigante.

Dessa forma, aprende as escritas dos livros e as dificuldades do trabalho a campo, isso o ajuda a ter um senso mais próximo da realidade e das necessidades do meio rural. Welton acredita que é preciso ajudar a construir essa ponte.

Welton

Welton, à direita.

BeefPoint: Qual atividade na pecuária mais te inspira?

Welton Cabral: Sempre gostei muito de projetos intensivos de produção de carne bovina, como por exemplo, o confinamento, semiconfinamento, integração lavoura-pecuária e sistema de pastejo intensivo com rotacionado.

A gestão de números e a gestão de pessoas nesses projetos me inspiram. Acredito que a intensificação sensata seja a saída para pecuária brasileira.

BeefPoint: Você poderia nos contar sobre os acertos? O que fez e deu certo em sua carreira? Qual a sua maior realização?

Welton Cabral: É difícil fazer uma análise precisa, mas creio que um dos maiores acertos que tenho conseguido nesses anos foi apostar na capacidade das pessoas, acreditar que vale a pena dispor tempo e atenção para ensinar os “porquês”, capacitar esse pessoal que realmente faz as coisas acontecerem.

Muitos dos prejuízos da pecuária não foram criados por falta de dinheiro, mas por falhas na estratégia, que uma orientação correta evitaria o caos que algumas fazendas estão vivendo hoje.

Recupere uma fazenda degradada em todos os seus sentidos hoje e coloque as mesmas pessoas para administra-la dentro de poucos anos. Ela voltará ao seu estado inicial, e pior, com dinheiro desperdiçado.

As boas práticas da pecuária, conhecimento e informação, muitas vezes estão com pessoas, inacessíveis ao campo. Consultores e técnicos que mal cumprimentam peões, professores que quase nunca pisam num curral, pesquisadores que estão apenas preocupados em publicar o maior número de artigos, e por aí vai.

Esse conhecimento acumulado não atinge os mais necessitados e produz pouco resultado. Temos gerentes, capatazes, e peões que nunca foram à cidade participar de um encontro do setor.

Reclamamos com a degradação das pastagens, fazemos congressos e seminários acalorados de discussões e pontos de vista, e nos esquecemos que quem maneja pasto nesse Brasil, é o peão do boi, que quase sempre nunca recebeu um treinamento.

É preciso entender que conversa de escritório e auditório, não muda realidade de fazenda. Se os agentes principais pela mudança não estão inseridos no conhecimento, pouca coisa acontece, pois a fazenda é feita de pessoas.

Mas a pecuária está melhorando, temos muitas pessoas boas e competentes mudando essa realidade, e logo serão maioria, porém isso leva tempo.

BeefPoint: Em relação ao seu histórico profissional, porque você acha que foi indicado para o Prêmio AgroTalento? Das suas realizações profissionais, o que você tem mais orgulho até agora?

Welton Cabral: Creio que seja pela presença nas fazendas e também nas universidades.

Tenho tentado levar o campo para dentro das salas de aula e nas palestras, e do mesmo modo, ajudando o produtor rural a entender melhor aquilo que ele conhece como ninguém, o boi e a fazenda.

Mas o principal de tudo, acredito que a simplicidade, acessibilidade e a parceria com as pessoas fizeram a diferença nessa indicação. Fiquei surpreso, pois fiz tão pouco até agora pela pecuária, ganhei muito mais até o momento, devo muito ao setor.

Tenho muito orgulho de ser professor na universidade, ajudar a construir o futuro através da formação de bons profissionais. Junto com outros professores competentes, estamos preparando e construindo o futuro da pecuária brasileira.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Welton Cabral: São tantos erros, que é difícil até descrevê-los. Mas acredito que o principal erro foi confiar demais nas pessoas erradas, princípio básico.

Na pecuária temos muitos pessoas honestas e batalhadoras, mas também existe as de má índole, tentando passar a perna nos demais. É preciso saber com quem está se negociando, e que uma conversa bem amarrada, não deixa rabo para trás para ninguém pisar.

Nesse meio, quem não têm alianças com pessoas sérias acaba sentindo o peso da inexperiência e isso dói no bolso.

A negociação é uma das grandes bases da gerência pecuária. Se não estivermos preparados nesse quesito, sempre haverá quem tire um pouco do lucro da fazenda.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Welton Cabral: Em 2013, fizemos no MT alguns dias de campo, treinamento nas fazendas, capacitação intensa junto ao trabalho operacional, demonstrando os detalhes que fazem a diferença no lucro, e principalmente implantamos controles dentro das propriedades, algo básico, mas que ainda falta em muitas delas.

Realizamos também o “UNIPEC 2013 – Pecuária do Futuro” no mês passado em Rondonópolis, mais de 300 pessoas discutindo os pontos positivos, ouvindo coisas boas a respeito da pecuária. Às 23hs da noite a plateia ainda estava em peso atenta ao debate.

O pecuarista já está cansado de eventos para falar mal da pecuária. É a carcaça do boi que não é boa, é o pasto que nem calango existe mais lá… O pecuarista está cansado de piadinha de palestrante que não vive a realidade do produtor e julga sem conhecer as circunstâncias.

Precisamos fazer eventos para discutir coisas boas, soluções, falar de números. A linguagem que norteia os negócios são os números, sem eles é difícil saber qual caminho estamos tomando. É impossível chegar ao máximo lucro sem uma boa gestão dos dados e dos detalhes técnicos e operacionais. Precisamos acompanhar a execução, dar suporte aos que estão na linha de frente do trabalho.

Tenho percebido que quanto mais treinamos a equipe, menos precisamos estar em cima para evitar falhas, as estratégias e metas começam a acontecer naturalmente, sem desgaste e perda de tempo. Cada dia mais acredito que a frase “O olho do dono que engorda o boi” está ficando defasada. O produtor precisa entender que os olhos dele precisam estar na direção dos negócios, tecnologias, e devem capacitar outros olhos para fazer o básico, isso lhe dará tempo pra traçar planos.

O produtor que precisar estar em cima da turma para que o serviço aconteça perderá o caminho da nova empresa pecuária que vem surgindo por aí.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Welton Cabral: Pretendemos aproximar mais os acadêmicos junto ao campo, colocar alguns alunos para estarem dando apoio à algumas propriedades, participar da vida do produtor, fazermos algumas pesquisas que possam ajudar a resolver alguns problemas da recria e engorda. Convidá-los a por a mão na massa, aprender com os produtores e a equipe da fazenda, e ensinar na medida do possível.

Estamos entrando num círculo vicioso perigoso. Uma parte da universidade está muito distante dos problemas do campo e os alunos já não conseguem enxergar claramente as necessidades do mercado de trabalho. Quando se formam, ficam receosos de encarar um mercado altamente exigente e que anda a 200 km/hora. E nisso, alguns estão optando por seguir a carreira acadêmica e de pesquisa, sem ter perfil, porém é algo mais próximo do que fizeram na graduação, e acabam sem saber o que é sentir a pressão de produzir com tantas adversidades. Assim, muitos após um período de pós-graduação vão para sala de aula, ensinar o que não vivenciaram, apenas o que os livros dizem.

Temos grandes professores nas universidades brasileiras, poderia citar centenas deles, os quais me inspiram até hoje. Mas é necessário que esse tipo de profissional seja maioria, senão o comodismo do setor público acaba se sobressaindo.

Alunos gostam de ver histórias reais, que são superadas com as ferramentas da teoria científica. Fazer esse link da prática com a teoria deixa os alunos fascinados. Me lembro das escolas agrícolas. A maioria dos grandes profissionais hoje no nosso meio passaram por essas escolas, em que o professor se sujava de terra e fezes da vaca junto ao giz e caneta, e os alunos observavam ao vivo o quanto é duro e prazeroso ver a terra produzindo.

Esses alunos estão aí até hoje, fazendo a pecuária acontecer. Só a educação pode salvar esse país e a pecuária.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Welton Cabral: A juventude hoje está sendo bombardeada de tanta opções para estilos de vida alternativos, estão perdendo a identidade, perspectiva de futuro.

Descobriram que já estamos na era do conhecimento, que sem ele não se chega a lugar nenhum, por isso cada dia mais surgem tantas instituições de ensino para atender essa demanda. Porém, quando esses jovens chegam no banco da escola, descobrem que é necessário estudar, e estudar muito para crescer na vida. Aí começa a frustração, pois esta geração está acostumada com as coisas acontecerem de modo rápido, prazeroso e descartável, sem sacrifícios. É preciso remodelar esses conceitos, a vida não é como no “American Pie”.

Precisamos garimpar os jovens compromissados e investir nessa juventude. Sempre haverá os cabeceiras, identificá-los para motivá-los e capacitá-los se torna fundamental. Eventos e estratégias montadas para esse público farão a diferença.

Porém, vejo que os jovens estudantes muitas vezes não são bem vistos participando de eventos da pecuária, são até barrados às vezes por empresas que organizam encontros, pois o foco são os produtores. É uma atitude descabida, pois estamos deixando de investir em pessoas que logo estarão no comando da pecuária brasileira.

Nos próximos 20 anos teremos toda uma geração passando o bastão, sabe lá para quem, provavelmente investidores estrangeiros.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuarista do futuro no Brasil hoje? Quem você mais admira?

Welton Cabral: Conheço pouco a pecuária brasileira, um pouco mais a pecuária do Mato Grosso, mas pra mim, o trabalho que o Rodrigo Gimenez (Vila Bela – MT) faz é espetacular, assim como vários outros.

Nossa pecuária evoluiu muito nesses últimos anos, muita gente competente está trabalhando com dedicação e colhendo os frutos. A iniciativa privada tem realizado um belo trabalho de extensionismo.

Já estamos passando da fase de vender o pior sal, pelo maior preço e deixar os prejuízos com o produtor. As empresas estão comprometidas.

E os órgãos de pesquisas têm nos dado base para trabalhar e aplicar esse conhecimento gerado. Nossa pecuária é rentável, precisamos aprender a fazer ela dar mais dinheiro.

BeefPoint: Qual tema você acredita que será um marco na pecuária do futuro?

Welton Cabral: Os sistemas integrados. Não tem mais volta. É o futuro dos grãos e da carne bovina. Sem intensificação, a pecuária ficará inviável, é preciso investir em tecnologia e desmistificar que tecnologia é sinônimo de gasto de dinheiro.

Tecnologia é investimento, e muitas vezes não custa nada. E a gestão profissional e eficiente de todo o sistema determinará a permanência dos mais adaptados às mudanças.

BeefPoint: Em sua opinião, qual fazenda se destaca na pecuária hoje?

Welton Cabral: São tantas fazendas fazendo um trabalho bacana, que é complicado até relaciona-las resumidamente. Mas tenho alguns nomes que têm se destacado no MT:

  • Fazenda Luciana – Primavera do Leste
  • Fazenda Porto Seguro – Itiquira
  • Fazenda Haras Itapajé – Rondonópolis
  • Fazenda Vila Rica – Rondonópolis
  • Fazenda São Marcelo – Tangará da Serra
  • Fazenda Santa Amália – Tangará da Serra
  • Fazenda Marcon – Primavera do Leste
  • Fazenda Marabá – Campo Verde
  • Fazenda Fartura – Campo Verde
  • Fazenda Bonanza – Poxoréu

E por aí vai…

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?

Welton Cabral: Deixo a seguinte mensagem aos pecuaristas: vocês tem a minha admiração e consideração. São vitoriosos, lutaram numa época que tinham pouco apoio e muitos desafios, guerrearam quando tudo parecia que não iria dar em nada e agora a pecuária está entrando em evidência.

Acompanhem as mudanças e invistam na equipe da fazenda, não permitam que outros venham colher os frutos que vocês plantaram. Os filhos vão começar a colocar nomes em inglês, não permitam. A pecuária continuará se chamando João Maria de Almeida, João Trojan, Paulo Cárdia, Dalmar Rolim, Chico da Paulicéia, Roberto Aguiar, Célio Aguiar, Alexandre Ferreira Matos, José Renato Meireles, Nei Neves, Otávio Zucato, e uma nação de Silvas, Vilelas, Ferreiras e tantos mais. Se preparem para a pecuária do futuro.

3 Comments

  1. Marina Coutinho disse:

    Parabéns Welton! Pela excelência, dedicação e paixão pelo que faz!

  2. MARCIO CAIXETA disse:

    Gostaria de parabenizar o Welton Cabral pela reportagem, e pela visão de futuro sobre a pecuária no brasil, realmente nós pecuaristas precisamos quebrar paradigmas e nos abrir as novas tecnologias voltadas tanto na produção quanto na comercialização da pecuária. Trazendo a tecnologia para a gestão e produção, conseguiremos atrair mais jovens para a pecuária do futuro, visto que os jovens de hoje, são movidos por tecnologia.

  3. Nelcino Francisco de Paula disse:

    Parabéns Welton Cabral pela excelente entrevista, pela simplicidade e dedicação… Grande abraço

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