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Nos EUA, JBS se volta para a carne do futuro

Da sala com janelas de vidro era possível observar os jovens chegando à Colorado State University (CSU), em Fort Collins, cercada pelas Montanhas Rochosas, no Estado americano do Colorado. A maioria pedalava com roupas leves e sandálias de couro, ainda que a temperatura estivesse na casa dos 15 graus.

A partir desta semana, muitos deixarão o clima descontraído dos corredores a céu aberto que ligam os prédios da universidade para se dedicar ao recém-inaugurado Centro Global de Inovação de Alimentos da JBS. Patrocinado pela companhia brasileira, o centro reúne especialistas que pesquisam o futuro da indústria de proteína animal.

Em parceria com a universidade do Colorado, Estado onde a JBS estabeleceu e sede de seus negócios nos EUA, a companhia investiu US$ 12,5 milhões no centro de inovação. O local, inaugurado na última terça-feira, reproduz em uma área de 3,5 mil metros quadrados como um frigorífico deve ser – desde a chegada dos animais para o abate até a preparação dos alimentos. Não por acaso, o espaço guarda semelhanças com a abatedouro da JBS, na vizinha em Greeley, distante apenas 50 quilômetros do campus da CSU.

O investimento faz sentido não apenas em um cenário em que as chamadas “proteínas alternativas” atraem o interesse – e o dinheiro – de grandes corporações, mas também diante da crescente atenção a questões sanitárias, um tema cada vez mais exigido pelo consumidor.

“Esta unidade representa o estado da arte em termos de indústria e, a partir dela, nossos estudantes poderão mudar a forma com que a proteína animal é processada no mundo”, afirmou o reitor da faculdade de ciências agrárias da CSU, Ajay Menon. São dois andares com laboratórios, cozinha, câmaras frias, área para abate e processamento, além de auditório, em que é possível exibir carcaças aos alunos.

Entre os pesquisadores que atuarão no centro está Temple Grandin, internacionalmente conhecida pela revolução que promoveu na área de bemestar animal. A contribuição de Temple ao centro de pesquisas está estampada nas paredes da sala destinada a pesquisadores convidados que a homenageia: as plantas dos currais desenhados por ela estão emolduradas, mostrando por que é a referência no assunto. No primeiro andar, há um curral que segue todas as normas estabelecidas por ela. “O manejo de gado melhorou muito desde os anos 1970, quando comecei, mas ainda há muito a aprimorar”, afirmou a pesquisadora.

No centro, Temple pretende conduzir pesquisas sobre como as luzes afetam o comportamento dos animais. Para ela, a unidade permitirá que os estudantes reconheçam que há múltiplas oportunidades para trabalhar na área de proteína animal. “75% dos meus alunos querem ser veterinários. Eles nem sabem que existem todas essas outras carreiras, como geneticista, nutricionista ou cientista de carnes”.

Na avaliação de Keith Belk, professor do departamento de zootecnia da CSU, essas carreiras serão importantes em um cenário de constante mudança na indústria de carnes. “Essa unidade foi desenvolvida com o foco em segurança de alimentos, algo que não era prioridade nas plantas em atividade hoje quando elas foram construídas”, salientou, ao longo do tour pelo centro. Deixando a modéstia de lado, o pesquisador diz que não há estrutura semelhante no mundo.

Para Belk, as pesquisas com proteínas alternativas e carnes de laboratório são o assunto mais quente do momento. “Acredito que será uma proteína adicional, e não um substituto. Há quem diga que as vendas de proteína animal podem até ganhar um incentivo, pois esses produtos atrairão consumidores que não a consomem regularmente”, afirma.

Segundo André Nogueira, presidente da JBS USA, a empresa está atenta a esse movimento. “Se isso for realmente crescendo e virar um mercado interessante, nós vamos participar dele”. Embora a JBS já conduza pesquisas na área, uma operação comercial com carne de laboratório está ainda longe de ocorrer.

Para o executivo, a prioridade da JBS em inovação é estar à frente em questões relacionadas à segurança dos alimentos. “Segurança dos alimentos é uma enorme preocupação”, afirmou, após a cerimônia de inauguração do centro de inovação.

Segundo ele, os governos têm maior capacidade de rastrear os produtos e, portanto, têm condições de dar um retorno melhor. “É ótimo que se tenha esse retorno, que pode até gerar recall, mas permite que se continue identificando a causa do problema e subindo a barra de qualidade”, disse. Neste ano, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) chamou atenção para o alto número de recalls na indústria frigorífica americana.

Fonte: Valor Econômico.

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