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Nascendo errado: JBS cria diretoria para perseguir seus fornecedores

Os produtores rurais estão reféns do gigantismo e dos erros de estratégia da JBS. Até quando? Nossos representantes vão ficar calados diante dessa decisão do JBS? Acho que os produtores deveriam se juntar e enquadrar o JBS. Por Ciro Siqueira, engenheiro agrônomo, pós graduado em Economia Ambiental, Geoprocessamento e Georreferenciamento.

Por Ciro Siqueira*

Depois de apanhar do Greenpeace, a JBS resolveu baixar as calças de um vez por todas. A empresa criou uma diretoria para cuidar exclusivamente da sua imagem junto às ONGs. O novo diretor é o economista Marcio Nappo, que desde 2009 comandava o departamento de Responsabilidade Socioambiental da trading Archer Daniels Midland (ADM) e teve passagens União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Segundo o jornal Valor Econômico, Nappo assume a área com um mandato claro: blindar a cadeia de fornecedores da JBS contra produtores que tenham cometido crimes ambientais e trabalhistas. Se a empresa criou a diretoria pra isso, ela já nasceu errada. O JBS precisa entender que para o Greenpeace e assemelhados não interessa um monitoramento sério. No dia em que a ONG precisar de um bode expiatório para suas patacoadas, tanto fará se a Diretoria do Sr. Nappo estiver funcionando bem ou não.

Uma diretoria séria, voltada para a sustentabilidade da cadeia de pecuária, deveria pautar sua atuação na parceria com o setor e na indução de comportamentos adequados através de incentivos econômicos. Mas como isso custa caro, é mais fácil para a empresa fazer o papel de polícia, comprar pelo preço de mercado dos produtores melhores e largar os demais em acesso ao mercado.

Nappo diz que a JBS já possui um sistema efetivo para monitorar a situação das 22 mil fazendas cadastradas em seu banco de fornecedores. Contudo o sistema ainda é falho e não há garantias de que os animais adquiridos junto a essas propriedades não tenham passado antes por fazendas em condição irregular. O JBS agora quer monitorar toda a cadeia de produção de carne antes do abate. O avanço, afirma ele, depende do mapeamento georreferenciado das propriedades rurais.

Hoje, parte significativa dos pecuaristas não possui esse mapa. Nesses casos, o monitoramento é feito por aproximação: a JBS delimita um raio de 10 quilômetros em torno do curral de cada fazenda e sobrepõe as imagens de satélite aos mapas de desmatamento, áreas indígenas e de conservação em busca de infrações.

A JBS agora quer formar uma rede de empresas capazes arrancar mais dinheiro do produtor rural em troca da prestação desse serviço de mapeamento. O passo seguinte é tornar o georreferenciamento uma obrigação para todo pecuarista que quiser vender para a JBS.

Nappo reclama que ainda há “barreiras sistêmicas” envolvendo o mapeamento das propriedades. Segundo ele, faltam mapas com limites precisos e na escala adequada das reservas indígenas e das unidades de conservação ou mesmo uma linha clara que delimite o bioma amazônico.

Por essa razão, o novo diretor da JBS quer liderar um processo de coordenação das políticas de sustentabilidade dos grandes frigoríficos. Para o executivo, os grandes frigoríficos podem compartilhar bancos de dados e mapas e desenvolver programas, em parcerias com outros elos da cadeia, para aumentar a produtividade pecuária, sobretudo nas áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental.

Nappo afirma ainda que o setor precisa retomar o diálogo “em bases construtivas” com as ONGs, em particular com o Greenpeace, cuja relação com a JBS azedou após a divulgação de um relatório no qual a organização acusou o frigorífico de comprar gado de fazendas embargadas.

Segundo ele, o setor ainda é vítima de um “desalinhamento de expectativas”. “As ONGs são imediatistas, e esse é o seu papel, mas o setor ainda está no estágio de compreender os problemas e as barreiras operacionais. Quanto maior for a transparência e o diálogo, mais conseguiremos alinhar essas expectativas”, garantiu.

O Sr. Nappo está completamente equivocado. O Greenpeace não quer acordo com o setor rural porque vive do conflito. Cedo ou tarde eles vão arranjar uma desculpa qualquer para desconstruir o trabalho de sustentabilidade do JBS e restabelecer o conflito. O Greenpeace depende dessa guerra para continuar merecendo os recursos que recebe.

Os produtores rurais estão reféns do gigantismo e dos erros de estratégia da JBS. Até quando? Nossos representantes vão ficar calados diante dessa decisão do JBS? Acho que os produtores deveriam se juntar e enquadrar o JBS.

A foto é de Valter Campanato, da Agência Brasil.

Ciro Siqueira é autor no blog Novo Código Florestal Brasileiro, engenheiro agrônomo, amazônida, pós graduado em Economia Ambiental, Geoprocessamento e Georreferenciamento.

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4 Comments

  1. Ricardo Faria disse:

    Simples, não vendam mais para JBS.

  2. Silvio Moura disse:

    E vender pra quem Ricardo? compraram tudo. As vezes ce acha que tá vendendo pro Manoel mas é pro jbs. Nós, pecuaristas, temos é que fazer barulho, muito barulho. Esse artigo não pode ficar somente no ambito do beefpoint.

  3. Isen Golob disse:

    Excelente coluna. Análise fria e técnica dos papéis dos grandes frigoríficos e dos ecochatos.

  4. NEILTON FERNANDES DE DEUS disse:

    Partindo do princípio que seja verdadeira a criação desta diretoria do JBS, é a maior prova da falta de preparo e sensatez dos diretores do JBS, grupo greenpeace e política governamental para pecuária brasileira. Vamos analisar… a maioria dos produtores rurais, estão impedidos de acesso a financiamentos, pois grande parte dos bancos exigem o certificado de georreferenciamento e este são de competência do Incra e recentemente o governo Dilma, transferiu parte desta responsabilidade para o Exército Brasileiro mais um erro gravíssimo, pois INCRA e Ministério do exército não possui estrutura de apoio e pessoal técnico suficiente para atender a demanda dos produtores e enquadra-los, dentro do prazo já estabelecido. Conforme estudos realizados por algumas instituições de ensino, até o final de 2011 se todos os processos já protocolados no INCRA se não houver desmembramento ou remembramento de propriedades acima de 1000 ha o governo vai precisar de 453 anos para emitir os certificados de georreferenciamento, exemplo no estado de Goiás foram certifigados menos de 150 imóveis e estão no sistema mais de 4000 processos….. o estado do tocantis os números são semelhantes… somente 3 técnicos analisam tais processos e desde o início em ambos estados a médica não chega de um processo por dia.
    Governo e JBS menospreza e inteligência e capacidade do setor agrícola brasileiro.

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