SIC: avança campanha “Carne, Você Gosta, Você Pode, Você Precisa”
6 de dezembro de 2006
Mercado da vaca gorda – 07/12/06
8 de dezembro de 2006

Não tenham medo da produtividade

Diante de todas as discussões sobre a baixa valorização da @ vinculadas no meio pecuário ultimamente, uma das argumentações sempre me intriga, a do aumento de produtividade. Sinceramente esta palavra já estava soando negativamente aos meus ouvidos, e da mesma forma causando desconforto, por ser profissional ligado ao setor.

Diante de todas as discussões sobre a baixa valorização da @ vinculadas no meio pecuário ultimamente, uma das argumentações sempre me intriga, a do aumento de produtividade. Sinceramente esta palavra já estava soando negativamente aos meus ouvidos, e da mesma forma causando desconforto, por ser profissional ligado ao setor.

Será que a pecuária é o único segmento da economia que o aumento da produtividade não gera sucessos? Será que a otimização de recursos, a economia em escala, a diluição do custo fixo, o aumento no giro de capital não possuem a mesmo significado na pecuária?

Analisando as outras culturas, coincidentemente as mesmas que estão ocupando nossas terras, não há nenhuma que em seu sistema de cultivo não busque a produtividade. Interessante é ressaltar que estas mesmas culturas sofrem em determinados períodos com sua comercialização, e que diante disto possuem mecanismos mais elaborados para isto, como cooperativas e armazenagem de produto. E todos sabem o quanto é mais arriscado o sucesso de suas tecnologias, e conseqüentemente a ocorrência da produtividade.

Entretanto, volto a salientar, focam a produtividade porteira adentro.

A pecuária muitas vezes se faz, e oferece uma vasta opção para sistema de produção conforme convier. É como algo divino, mas infelizmente é encarada como opção de investimento a ser vencida na opção de troca por outras culturas, devido principalmente a não equiparidade em produtividade nas comparações. É o ponto de partida para a produtividade, infelizmente a produtividade de outras culturas.

Gostaria que houvesse nessas comparações a existência de um ajuste para risco, risco das demais ordens, para assim podermos analisar corretamente a pecuária.

Não quero desprezar a aumento da produtividade já conseguido, como também parabenizar pecuaristas, órgãos e instituições de pesquisa e profissionais do setor. Mas acredito que utilizar esta palavra nessa discussão é delicado, uma vez que a pecuária, em sua grande maioria, é caracterizada pelo baixo investimento em produtividade, o que em muitas vezes é preterido ao aumento de área, a maioria inevitavelmente próximas do órgão vital do regime de chuvas de nosso país, a Amazônia.

E graças à divindade da pecuária, ainda temos muito que conquistar em produtividade, sem dúvida aliada à lucratividade, mesmo com o cenário ruim que se faz ultimamente.

Acredito também que a produtividade possa ter obtido este significado por alguns insucessos em sua aplicação, o que não é foco da discussão no momento. A produtividade é algo para ser planejado. Em muitas das vezes a maior produtividade não significa o maior faturamento, o que acredito que todos já tenham presenciado.

Para discutir sobre produtividade devemos inicialmente saber mensurá-la e criteriosamente diagnosticá-la. Talvez aí se encontre o maior entrave do aumento de produtividade. Quantos sabem sua produtividade? E após isso, como diagnosticar devidamente? Adianto dizendo que devemos obter nossa produtividade atrelada a nossa área, ou seja, kg de PV/ha, ou @/ha, da mesma forma que os agricultores e usineiros respondem prontamente quando solicitados, para assim compararmos prontamente também em volumes financeiros. Então para aqueles que não conhecem sua produtividade, a mensuração da mesma é produtividade.

Para planejar a produtividade, tomar as rédeas do negócio, basta buscar entender e aplicar corretamente tecnologias, o que inevitavelmente não dispensa a presença de um bom profissional ao lado. Digo que em muitas vezes o bom profissional é apenas um filtro, diante do volume de informações e palpites que chegam ao produtor de forma variada.

Por favor, não culpemos a produtividade.

0 Comments

  1. José Roberto Pires Weber disse:

    Caro Josmar Almeida Junior:

    Não tenho nenhuma vontade de polemizar, mas tuas afirmações jogadas a esmo não permitem que eu deixe de fazer algumas considerações. Fui um dos que falei que aumentar produtividade quando os custos de produção do kg do boi vivo é mais alto do que o preço de venda, não é política adequada.

    Aliás, tem muito técnico por aí, que receita aumentar a produtividade sem se preocupar com a relação custo/benefício. Se o preço do meu produto for inferior ao seu custo de produção, quanto mais eu produzir maior prejuízo eu terei. Isto é dado aritmético, financeiro e econômico! E me desculpe, mas não podes subestimar aos outros, achando que ninguém sabe o que é produtividade! Tenha paciência, meu amigo.

    Por outro lado, quando a gente expõe idéias para um público enorme e desconhecido, há que se ter muito cuidado. Não culpo a produtividade por nada, pois ela não tem culpa nenhuma! O que não dá para “vender” é a idéia de que aumentar a produtividade é a saída para os problemas da agropecuária brasileira, até porquê, muitos estão fora da porteira!

    José Roberto Pires Weber

    Resposta do autor:

    Prezado José Roberto Pires Weber.
    Primeiramente, obrigado pelo retorno a meu artigo, acredito que debatendo idéias e conceitos caminhamos à frente. Aliás, as minhas palavras permitem sim, que você, como qualquer outro, façam considerações.
    Quando o escreve que:
    “Aliás, tem muito técnico por aí, que receita aumentar a produtividade sem precupar-se com a relação custo/benefício. Se o preço do meu produto for inferior ao seu custo de produção, quanto mais eu produzir maior prejuízo eu terei. Isto é dado aritmético, financeiro e econômico!”

    Eu já havia tido que:
    “A produtividade é algo para ser planejado. Em muitas das vezes a maior produtividade não significa o maior faturamento, o que acredito que todos já tenham presenciado.”

    Quando escreve que:
    “E me desculpe, mas não podes subestimar aos outros, achando que ninguém sabe o que é produtividade!”

    Eu já havia tido que:
    “Não quero desprezar a aumento da produtividade já conseguido, como também parabenizar pecuaristas, órgãos e instituições de pesquisa e profissionais do setor.”

    Neste item, gostaria que comparasse a produtividade média nacional, com que estes órgãos e instituições já publicaram. Tenho certeza que vontade dos mesmos é muito maior ao que nos deparamos. Desculpe se fiz entender que ninguém saiba o que é produtividade, mas os meus conceitos são os mesmos destes órgãos.

    Quando escreve que:
    “Por outro lado, quando a gente expõe idéias para um público enorme e desconhecido, há que se ter muito cuidado.”

    Peço que releia o nome da seção do site em que meu artigo foi publicado, e volto novamente a agradecer pela resposta. Com certeza não me fiz entender devidamente a sua pessoa.

    Concordamos mais uma vez em não culparmos a produtividade, mas em nenhum momento coloquei que o aumento da mesma seja a solução da pecuária brasileira. A produtividade, aliada a melhor relação benefício x custo, é a salvação da pecuária porteira adentro. Os problemas da pecuária brasileira são mais abrangentes e para saná-los não vejo alternativa que nos organizar, como por exemplo, a ASSOCON, que já congrega 260 mil cabeças, de 31 pecuaristas. Olha aí mais uma vez a produtividade, auxiliando a melhor relação benefício x custo em um sistema de produção com receita líquida apertada. Não tenho dúvidas do sucesso desta empreitada. Eles com certeza também sabem o que é produtividade.

    Como profissional das ciências agrárias tenho que me preocupar com aquilo que está ao meu alcance, e como disse no início do artigo, a justificativa de maior produtividade já estava soando negativo aos meus ouvidos. Gostaria talvez de que esta frase seja trocada por:

    – Maior oferta de carne no mercado, e esta oriunda de fêmeas, por exemplo, como já demonstrado no site.

    Obrigado pelas suas considerações, e desculpe por não me fazer compreender devidamente. Espero que deste fato eu consiga mais um companheiro, pois é desta forma que sem dúvida resolveremos os muitos problemas fora da porteira.

    Abraço.

    Josmar Almeida Junior

  2. José Luiz Nelson Costaguta disse:

    Prezado Prof. Josmar Almeida Junior.

    Tema muito importante. Sua importância é capital e já se discute isto há muitíssimos anos. É um emaranhado de confusões.

    a) Tem produtores que desconhecem as práticas de aumento de produtividade em seus rebanhos;

    b) Existem produtores que conhecem as técnicas e não tem recursos para aplica-las;

    c) Hoje em dia tem muitíssimos produtores (mesmo), que conhecem as técnicas, sabem aplica-las, e não podem;

    Isto porque, nossas políticas, planos governamentais, condições estruturais e conjunturais, fazem com que produtividade seja inverso de rentabilidade. Obrigado.

  3. Juliano Dalcanale disse:

    Acho que o foco da gestão da propriedade rural deve estar na rentabilidade do capital e não na produtividade. Alta produtividade nem sempre é sinônimo de alto lucro.

    A rentabilidade pode ser calculada como o produto da margem X o giro do capital.

    O aumento da produtividade gera um aumento no giro do capital mas em muitos casos leva a uma redução da margem pelo aumento nos custos variáveis.

    Portanto qualquer técnica que leve ao aumento da produtividade deve ser antes de implantada submetida a uma análise econômica que identifique que benefício trará à rentabilidade. Que é o que realmente importa para o produtor.

    Juliano Dalcanale

  4. Luiz Ribeiro Villela disse:

    À Tecnopasto

    Dr Josmar

    É indiscutível que estamos há anos com superprodução de carne bovina. Temos hoje confinamentos, semi-confinamentos e produção na Amazônia, que não tínhamos.

    A capacidade de absorção pelo mercado interno, principal consumidor, pouco aumentou e pouco aumentará em curto prazo.

    A exportação tem aumentado, mas não o suficiente para dar conta desse aumento de produção e é impossível que aumente enormemente em pouco tempo. Afinal existem concorrentes e nenhum pais abrirá totalmente suas portas, abandonando seus produtores locais.

    Os frigoríficos nunca estiveram em tão poucas mãos.

    Sejamos realistas. Pensar em aumento de produtividade, aumento de produção e esquecer a realidade do mercado, lamento, mas é insensatez ou loucura.

  5. Helio Cabral Junior disse:

    Revisão nos índices de produtividade: uma necessidade agro-econômica ou uma medida para legalizar a usurpação de terras produtivas pelo Estado em favor do MST e afins?

    Infelizmente, todos os indícios apontam para o segundo caso!

    Senão, vejamos: às vésperas do censo agropecuário, que se dará em 2007, por que não espera-lo, já que o mesmo mostrará uma fotografia fiel da produção agropecuária brasileira, e de posse destes dados, aí sim tomar uma decisão técnica e responsável sobre a revisão dos índices de produtividade?

    Se o projeto que descansa na gaveta do excelentíssimo presidente da república aguardando apenas sua assinatura para sanção oficial é tecnicamente correto, por que o mesmo não foi divulgado maciçamente nos meios de comunicação? Por que os novos índices nem ao menos constam dos “sites” oficiais do Mapa ou do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) ou do INCRA? Por que esconde-los?

    Por que é discricionário ao visar apenas as propriedades com mais de 15 módulos fiscais?

    Para ferir os empresários que alavancam o agronegócio brasileiro e dão sustentáculo social, econômico e estratégico ao país? Ou para salvaguardar os assentamentos rurais, verdadeiras favelas rurais, cujos índices de produtividade em sua maioria são ridículos? Ou ambos?

    O Brasil é um país onde os produtores rurais não contam com subsídios governamentais nem a cobertura de um seguro agrícola oficial do Estado, e mesmo assim muitos dos seus índices de produtividade são superiores a de países que subsidiam pesadamente este setor; por que então querer obrigar o nosso empresário rural a ser ainda mais produtivo por sua conta e risco?

    E finalmente, tenhamos em conta que as propriedades rurais são empresas privadas, e como tal deveriam ter liberdade nas suas decisões produtivas e econômicas… por que o mesmo não é exigido do setor industrial, comercial, da construção civil, etc, etc, etc? Afinal estes setores também não têm responsabilidades sociais?

    Cordialmente,

    Helio Cabral Jr

  6. Alcy Bernardes Junior disse:

    Prof. Josmar Almeida Jr

    Este assunto abordou justamente a minha dúvida, tenho pecuária de corte (engorda) extensiva, algum tempo penso em aumentar a produção, introduzindo pastagens e confinamento, é claro, sendo supervisionado por técnicos dos quais já fiz alguns contatos (Embrapa). Gostaria de saber na sua opinião esta atividade sendo bem planejada e bem controlado preços produção etc. é considerado uma atividade de risco?

    Abraço!

    Resposta do autor:

    Caro Alcy Bernardes Junior

    Primeiramente obrigado pelo retorno ao meu artigo.

    Caro Alcy, a pecuária, como qualquer outra atividade, apresenta riscos. Entretanto dentre as atividades no setor agrícola certamente é a de menor risco. Sem dúvida a forma que relatou em conduzir o aumento de produção é a mais correta, ou seja, bem planejada e controlada. É como evitarmos derramar o leite. Em seu planejamento construa cenários dos mais pessimistas aos otimistas. Não inicie nada sem planejar. Não colha os frutos sem plantá-los. Construa horizontes e metas. Até mesmo saber em que produtividade se encontra é importante, como relatei em meu artigo.

    Muitas vezes os insucessos em aumento de produtividade ocorrem pela introdução equivocada de tecnologias. Por exemplo, adquirir um maquinário de última geração, mal dimensionada a propriedade, sem sequer capacitar a mão de obra que irá operacioná-la. Desta forma o treinamento de mão de obra também é produtividade. O treinamento gera motivação, compromisso.

    Particularmente, indicaria inicialmente aumentar a produtividade de suas pastagens, pois dentre as tecnologias em pecuária, é a que apresenta o menor risco, sendo fundamental para o sucesso de outras, como suplementação à pasto. É o feijão com arroz do boi. Com certeza com planejamento o sucesso ocorrerá, e talvez neste mesmo planejamento possa verificar que é mais interessante arrendar suas terras, ou parte da mesma, por determinado período a agricultores, caso não tenha recursos para o investimento. É a divindade da pecuária mais uma vez, se utilizando de residuais de fertilidade de outras culturas, transformando-o em produtividade. Em relação à pastagem você encontra-se bem servido de tecnologia e profissionais em seu estado, e caso necessite posso indicá-los.

    Abraço, e sucesso na empreitada.

  7. Antonio Pereira Lima disse:

    Ao Sr. Josmar Almeida Junior

    Parabéns pelo artigo,que mostra o sonho e o objetivo de todo produtor brasileiro, que é aumentar a produtividade. Ninguém tem medo de produtividade, muito pelo contrário, temos medo das conseqüências. Oferta maior que a demanda, e ainda por cima, de um produto perecível no caso da carne. Estocar boi no pasto,é tão caro quanto estocar carne. E quando eu falo em demanda, não estou falando do consumidor, quem compra nosso produto é o frigorífico, consumidor compra do açougue e do supermercado. Prova disto,foi a queda no preço da arroba do boi de quase 20%, e na tabela do açougue não se mexeu.

    Para ganhar mais o produtor precisa baixar os custos sem aumentar a produção, precisa se unir na hora de comprar, e não na hora de vender, igual fazem os frigoríficos, e mais, precisam perder o medo de deixar de ganhar, e começar a ter medo de perder, só assim começarão a se proteger no mercado futuro.

    Um abraço a todos

  8. Janete Zerwes disse:

    Caro Josmar,

    Gostaria de parabenizá-lo, por ter a coragem de levantar esse tema.

    Pelas reações já dá para perceber o equívoco que se estabeleceu junto ao setor produtivo da carne com relação ao conceito de produtividade.

    O conceito de produtividade gera polêmica, por que é imediatamente relacionado ao aumento de oferta de carne no mercado.

    As conseqüências provocadas pelos desequilíbrios entre oferta, demanda e estoques, e as dificuldades registradas pelo setor no quesito industrialização/comercialização, são bem conhecidas de todos pecuaristas.

    Acho muito interessante focar o conceito de produtividade na relação de produção de carne cabeça/ano.

    Esse foco facilita o entendimento daquilo que se propõe expor como conceito de aumento de produtividade, e dos resultados esperados desse aumento, tanto na redução de custos de produção, quanto na velocidade de giro de estoque, fatores determinantes de renda.

    Se pensarmos em produtividades médias @/ano/ha, e do valor dos investimentos para pecuária, ficaremos convictos que precisamos fechar as porteiras e deixar de produzir gado e carne; da mesma forma se pensarmos em produção de carne/cabeça/ano, mais certeza teremos que precisamos mudar de sistema de produção e gerenciamento.

    Com uma produção média de 2,4 @/ano/ha, e 45 Kg/cabeça/ano, no Brasil, podemos tomar consciência da baixa produtividade.

    Concordo com o autor da matéria, precisamos aumentar a produtividade, mas acredito que o referencial de base pode ser outro. Quiçá, vamos chegar a conclusão que precisamos montar estratégias conjuntas para o setor, nacionalmente falando, produzindo carne em função de mercados, reduzindo de forma escalonada o rebanho brasileiro, garantindo assim oferta adequada, ajuste de estoques e maior renda para o pecuarista.

    Acho interessante levantar o assunto, porque pode abrir um leque amplo de discussões, trocas de idéias, e experiências que só beneficiam a nós pecuaristas.

    Atreladado ao conceito de produtividade na pecuária, com certeza virá o esgotamento da produtividade do capim; as alternativas de confinamento; as novas legislações sociais e ambientais; e, o ônus decorrente de todos esses fatores, que afetam diretamente a viabilidade da pecuária.

    Abraço,

    Janete Zerwes
    Comissão de Produtoras Rurais – FAMATO – MT
    Coordenação em Tecnologias e Pecuária

plugins premium WordPress