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Na iRancho, o blockchain de Thiago Parente para rastrear o gado na Amazônia

Quando comprou uma fazenda na goiana Inhumas, a três horas de Brasília, Thiago Parente ainda estava apegado à pecuária tradicional que conheceu na infância quando visitava a propriedade do tio e fazia as vezes de auxiliar de peão. Para alguém que fez carreira em tecnologia, em grupos como IBM e Oracle, seguir as práticas do passado não era uma boa escolha. “Tomei porrada”, conta. 

Enquanto digitava exaustivamente os dados do rebanho de 400 cabeças no Excel, Thiago logo entendeu que não podia operar uma fazenda do século XXI como se ainda estivesse em 1990. A ideia de um software de gestão de fazendas ainda não estava pronta quando ele decidiu entrar de vez no campo em 2014, levando mala e cuia para o Texas, onde fez mestrado em agronegócio e atuou como estagiário e analista na operação de carne bovina da JBS em Greeley (Colorado). 

“Fiquei 20 anos afastado da fazenda, mas sempre fui o agro da família”, brinca Thiago, filho do ex-ministro da Casa Civil e exCEO da Petrobras e BRF, Pedro Parente. De volta ao Brasil em 2016, fundou junto com o zootecnista Junior Cavalli a iRancho, uma startup que desenvolveu um software de gestão para pecuarista — no modelo de assinatura mensal, o produto custa a partir de R$ 187. 

Após levantar R$ 1,5 milhão com investidores no ano passado e dar tração ao software, que faz uma receita anualizada de R$ 3 milhões, a iRancho decidiu ampliar o escopo. A agtech vai lançar uma plataforma em blockchain com potencial para rastrear a origem do boi desde o nascimento, o principal gargalo dos frigoríficos para evitar a “lavagem de gado” na Amazônia — quando um bezerro nasce em área desmatada, mas termina o ciclo de engorda em área legal.

Batizado de Safe Beef, o sistema de rastreabilidade em blockchain desenvolvido pela iRancho — a JBS também criou uma tecnologia do gênero — foi criado originalmente com outros propósitos pela startup. A ideia era facilitar que um frigorífico de médio porte, que atue em nichos, pudesse ter segurança sobre todo o processo de produção, facilitando o pagamento do bônus que os pecuaristas recebem por animais de melhor qualidade. 

Para que as partes se conectem, basta que o produtor dê o aval. Do outro lado, o frigorífico fornece dados detalhados sobre o rendimento de carcaça. Pela plataforma, é possível rastrear toda a alimentação e medicamentos que o animal pode ter usado ao longo da criação, com um controle feito por um aplicativo desenhado para o peão que lida com o gado no curral e nos pastos. 

A proposta é cruzar as informações da jornada do gado (tecnologia que não existia) com os dados socioambientais e as coordenadas geográficas de outra startup, a Agrotools — o sistema da companhia já trabalha com uma miríade de base, incluindo dados do Ibama sobre desmatamento, áreas indígenas e a lista negra do trabalho escravo. “A ideia é integrar isso em uma plataforma ESG”, diz Parente. 

A plataforma em blockchain da iRancho também despertou a atenção de seguradoras e instituições financeiras. Ao conseguir rastrear o gado de uma forma inédita, a startup pode ajudar a acompanhar as garantias em operações de crédito e seguro — o boi anda e usá-lo como garantia para operações já foi um tabu. “Eu não tinha pensado nisso”, reconhece o fundador da iRancho. 

Para continuar o desenvolvimento da Safe Beef e dar escala ao negócio, a iRancho se prepara para uma nova rodada de investimentos no segundo semestre. O objetivo é levantar US$ 2 milhões. Na rodada do ano passado, a startup captou com BR Angels e Agroven. Os recursos também devem ser usados para internacionalizar o software de gestão de fazendas.

Fonte: Valor Econômico.

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