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Musculatura dupla: o outro lado da moeda

Fernando Sampaio

Existe uma dita “lei de harmonia” que diz que em uma dada espécie, a engorda e o desenvolvimento dos músculos dianteiros e traseiros são comparáveis.

O gene da musculatura dupla, ou gene “culard” como é conhecido na Europa, constitui-se em uma exceção a lei de harmonia, provocando a hipertrofia dos músculos da pá e da coxa. Este gene está presente em diversas raças européias como Piemonte, Limousin, Blonde d´Aquitaine e Blanc-Bleu Belge. Sua expressão pode variar segundo a seleção feita, as diferentes raças podem ter animais não-culard até raças com animais chamados culard-verdadeiro.

A tendência dos animais selecionados pelo gene da musculatura dupla é de apresentarem, além da hipertrofia muscular, uma bacia óssea mais inclinada, ossos finos, massa abdominal reduzida, pele fina, depósitos de gordura subcutâneos (percebe-se ao puxar o couro do animal, a pele não cola aos músculos), teor em colágeno dos músculos <30%, um ganho de 3 a 4 pontos percentuais no rendimento de carcaça e maior rendimento em carne e menor em miúdos. Antes que o entusiasmo nos anime demais, é preciso verificar o outro lado da moeda: O peso no nascimento de animais culard é superior ao de não-culards, o índice de partos difíceis é consideravelmente alto, e no caso específico do Blanc-Bleu Belge, todos os partos, sem exceção, são feitos por cesarianas, e o custo de produção de bezerros é alto.

Apesar do alto rendimento de carcaça, a performance de crescimento pode ser inferior, o apetite é mais fraco (conseqüência da redução da cavidade abdominal) e a conversão alimentar pior.

Os ossos podem se deformar por serem fracos demais para o peso da carcaça, sendo necessário fornecer cálcio e vitaminas A e D3. O ritmo respiratório e a freqüência cardíaca são mais elevadas. A maturidade sexual é retardada e o apetite sexual mais discreto. As vacas dão menos leite e suas qualidades maternais são menos evidentes.

Finalmente, o gene da musculatura dupla pode não ser tão genial assim. Foi a seleção artificial sobre esse gene que permitiu aos belgas “inventarem” o Bleu-Blanc Belge, ao conseguir a máxima expressão dos genes da musculatura dupla. O sistema EUROPA de classificação européia de carcaças foi modificado para SEUROP, a pedido dos belgas que criaram o critério S, de superior. O Blanc-Bleu Belge é o exemplo de todos os problemas e qualidades que a musculatura dupla pode apresentar.

Acredito que a seleção genética deve se adaptar à realidade brasileira, o cruzamento industrial é uma alternativa muito interessante, mas não acredito que selecionar raças pela musculatura dupla seja a solução. Afinal, aqui na Bélgica cada criador de Blanc Bleu Belge tem seu veterinário de plantão 24hs por dia, e a grande maioria não tem nem 100 vacas.

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Fernando Sampaio é Engenheiro agrônomo e especialista em produção animal e mercado de carne e leite pela Ecole Supérieure D´Angers – França.

2 Comments

  1. Joel Monteiro Daroz disse:

    Na Autralia tem BBB sem problemas de parto.Lá, devido a baixa densidade populacional, não existe disponibilidade de veterinários para fazer partos e eles selecionaram um BBB que não necessita de cesárias… Ele é mais preto que o que esta disponivel no Brasil e tem o porte de um charolês.

  2. Jose Afonso Baltazar da Silveira disse:

    tenho animais femeas 1/2 sangue Blanc Bleu Belge com nelore que vou cruzar com nelore no sudoeste da Bahia, região de clima quente onde esses animais se adaptaram muito bem.

    Recentemente adquiri um touro 3/4 blanc bleu belge com nelore e vou jogar nas vacas nelore e vacas comuns.

    Ja existe experiencia desse tipo aqui na Bahia com resultados poistivos ja comprovados inclusive sem problemas de parto.

    J Afonso

    email:  jsilveira7@hotmail.com

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