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Muito além de Copenhague

Não há dúvidas de que a reunião de Copenhague será um importante ponto de partida. As amarras políticas que precisam envolver os Estados Unidos, China, Índia, Brasil, União Européia, dentre outros players centrais nessa negociação, começarão a desenhar uma nova ordem mundial que passa, obrigatoriamente, pela regulamentação do clima.

A reunião da Convenção do Clima da ONU em Copenhague (COP15), que começou na segunda-feira, dia 7 de dezembro, representa um momento muito particular na história do planeta, pois apesar da pequena ambição em termos de metas de redução de emissões sobre a mesa, há uma convergência ao menos política no sentido da necessidade de criar uma nova ordem mundial na qual a economia de baixo carbono seja uma realidade efetiva e não somente retórica. Nessa linha, o grande desafio da COP 15 será alcançar um equilíbrio entre o ambicioso mandato de Bali, que tem como pilar central o comprometimento dos países desenvolvidos com novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs) para a segunda fase do Protocolo de Quioto, com vista a limitar o aumento da temperatura global em 2°C.

O anúncio de metas pelo Brasil, China e Índia deu fôlego para a negociação, pois agradou aos países desenvolvidos, que cobravam esse comprometimento de emergentes. Mas, nas discussões noite adentro em Copenhague, os países desenvolvidos se darão por satisfeitos com os compromissos apresentados, a ponto de assumirem metas ambiciosas de redução, entre 25% e 40% até 2020, como recomendado pelos cientistas?

É muito provável que a reunião alcance somente um resultado preliminar, e que novos encontros sejam marcados para o primeiro semestre de 2010, a fim de que seja possível se debruçar sobre os detalhes técnicos e científicos que estão em aberto. O ponto que gostaríamos de salientar é que paralelamente à regulamentação internacional do clima, países, estados e cidades começam a adotar metas de redução de emissões e passam a cobrar práticas menos emissoras, impondo obrigações aos diferentes setores da economia.

Além disso, os consumidores e as ONGs cobram produtos com menor intensidade de carbono, fomentando a adoção de novas práticas e métodos de produção, o que pode ser positivo para o clima, mas em alguns casos pode significar perda de competitividade e barreiras ao comércio. Reduzir emissões de GEEs pode acarretar aumentos de custos e isso incomoda qualquer setor, mas o ponto é pensar para frente e enxergar um mundo de oportunidades que esse universo de baixo carbono pode gerar.

Neste contexto, é necessário fomentar um debate interno profundo sobre como o Brasil deve se posicionar, o que deve obrigatoriamente envolver o governo, o setor agrícola e industrial, as ONGs e a sociedade como um todo. Pensar a Política Brasileira sobre mudanças climáticas não pode ser um processo meramente político, feito às pressas na Câmara e no Senado. É por definição um processo estratégico que requer muito planejamento, transparência e pró-atividade do setor privado.

A meta brasileira de reduzir até 38,9% das emissões até 2020, baseada num cenário de crescimento da economia, aponta para a redução do desmatamento, para a agricultura e pecuária, para as energias renováveis e para o carvão vegetal renovável como os setores que ajudarão a cumprir as reduções nacionais. Está mais do que claro o papel da redução de desmatamento nessa conta, o que exige ações efetivas do governo, de grandes e pequenos agricultores, de assentados, de ONGs e da sociedade como um todo, pois, como previsto na Constituição, essa responsabilidade é de todos os brasileiros.

No entanto, o importante papel da agricultura como fonte mitigadora das mudanças climáticas ainda não está devidamente claro para a sociedade brasileira. Permanece a visão da agropecuária como ameaça ao clima, ou então como o setor que sofrerá com os efeitos negativos do aumento de temperatura. É preciso reconhecer os benefícios climáticos do plantio direto, da recuperação de áreas degradadas, da intensificação da pecuária, da integração lavoura-pecuária-florestas, da adoção da biotecnologia como propulsora do aumento de produtividade, dentre inúmeras outras práticas.

Isso implica em recompensar o setor via mercados de carbono – principalmente se os EUA aprovarem sua lei e aceitarem créditos agrícolas e florestais – mas também em incentivar os setores a adotarem práticas menos emissoras. Tais incentivos podem ser feitos via taxas de financiamento mais baixas, acesso e fomento a novas tecnologias, definições claras sobre o Código Florestal, dentre outras medidas.

As práticas agrícolas, o incremento do uso de biocombustíveis e o uso de carvão vegetal renovável representam mais de 22% do compromisso de redução de GEE assumido pelo Brasil. Esta significativa participação representa o reconhecimento do governo brasileiro quanto à importância dessas atividades no combate as mudanças climáticas, assim como já sinaliza a proposta de lei americana. Assim, é essencial que as negociações internacionais do clima sigam essa linha e acolham o manejo sustentável do solo como prática que pode gerar créditos de carbono em projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Esse reconhecimento internacional é importante especialmente para países em desenvolvimento, que têm parcelas significativas de suas economias baseadas na agricultura.

Não há dúvidas de que a reunião de Copenhague será um importante ponto de partida. As amarras políticas que precisam envolver os Estados Unidos, China, Índia, Brasil, União Européia, dentre outros players centrais nessa negociação, começarão a desenhar uma nova ordem mundial que passa, obrigatoriamente, pela regulamentação do clima. E, nesse cenário, o Brasil tem a chance de se posicionar como um país único, com os setores agrícolas e industriais mais limpos do mundo. O grande desafio é fazer isso de forma inteligente, gerando incentivos, e não penalidades, pois somente assim será factível pensar em um futuro de baixo carbono.

0 Comments

  1. Roberto Ribeiro Carvalho Pini disse:

    Copenhague foi um fracasso, por que não há seriedade de propósitos , nem aquecimento nenhum e ninguem quiz comprometer desenvolvimento por uma fraude.
    Não há dúvida que :
    “É preciso reconhecer os benefícios climáticos do plantio direto, da recuperação de áreas degradadas, da intensificação da pecuária, da integração lavoura-pecuária-florestas, da adoção da biotecnologia …”.
    Também somos a favor de um zoneamento ecológico-social sério para planejarmos cientificamente o desenvolvimento do Brasil e, depois disto, o desmatamento ilegal zero. Lógico , por que é BOM , não pelo aquecimento !
    O aquecimento global, pela emissão dos GEEs é uma fraude total que carece de fundamentos científicos : a Terra já está entrando em um periodo de resfriamento e os GEEs não têm possibilidade de aquecer nada. Há milhares ( repito milhares) de cientistas contrariados por esta jogada das grandes potencias que nada mais é que um viés lógico, um sofisma ( raciocinam certo com premissas falsas). Para que? Para deter o controle mental : criaram o paradigma para, em seguida, ditarem as regras , as normas e os contrôles sôbre o desenvolvimento. Vejam as ONGs estorvando até o combate à pobreza.Não viram a iniciativa do Greespeace (uma das piores)fazendo uma tramoia com os Frigoríficos para restringir a pecuária na Amazonia?!
    Há que ler, estudar.Para começar leiam “A Fraude do Aquecimento Global”-Geraldo Luis Lino e os trabalhos do Fisico brasileiro Prof.Carlos Baldiciero Molion, doutor em Meteorologia e Hidrologia de Florestas e pesquisador senior do INPE . Se alguem se interessar me avise: indico uma dezena de livros e relatorios científicos do mundo inteiro. Vamos melhorar a consciencia dos pecuaristas, para que tenhamos mais união de classe. Por que temos que continuar colônia,vítimas, sem luz própria, nem para questionar, nos foros internacionais, estratégias de uma luta comercial global contra nossas exportações? Acorda Brasil ! Nós podemos ter mais personalidade . A Dilma, nisto está certa, indo chefiar a delegação para evitar exageros maiores de Minc e companhia.

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