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Mosca-dos-chifres: últimas novidades sobre seus danos, controle e como lidar com a resistência por inseticidas

Por Luciana Gatto Brito; Fábio da Silva Barbieri e Márcia Cristina de Sena Oliveira*

A mosca-dos-chifres é uma praga mundial e foi reconhecida como um importante problema para a bovinocultura inicialmente na França em 1830. A introdução desta mosca no Brasil é recente e sua presença foi detectada inicialmente em Roraima entre 1976 e 1977. Na atualidade a mosca-dos-chifres encontra-se dispersa por todo território nacional e acarreta prejuízos econômicos consideráveis à pecuária nacional.

O ciclo biológico da mosca-dos-chifres é semelhante ao de outras moscas, sendo muito rápido em condições favoráveis de temperatura e umidade. A partir do início do período chuvoso aumentam os problemas com infestação dos bovinos por mosca do chifre, porém durante todo o ano pode-se observar a presença da infestação sobre os animais, sendo menos intensa durante o período da seca.

A atividade hematófaga da mosca-dos-chifres não é seu aspecto mais nocivo. As picadas dolorosas e incessantes durante todo o dia sobre os bovinos parasitados, explica o epíteto específico da mosca em latim, “irritans”, uma vez que seu efeito principal é a irritação causada ao animal infestado, deixando-o extremamente agitado, e conduzindo o animal ao estado crítico de estresse.

Em caso de infestações severas em épocas favoráveis e ausência de controle, pode-se encontrar de cinco a dez mil moscas por bovino e infestações desta magnitude acarretam prejuízos consideráveis sobre o desempenho produtivo e reprodutivo, principalmente no caso dos touros.

Os maiores prejuízos de um rebanho infestado pela mosca-dos-chifres (Figura 1), como perda de peso e/ou ganho de peso zero e queda na produção de leite, são consequências, principalmente, do estresse provocado pela ação irritante das moscas e não, apenas determinados pela ação hematófaga. Outro prejuízo importante causado pela mosca do chifre se relaciona à qualidade do couro dos animais infestados, uma vez que o grande número de picadas no animal acarreta uma reação local no couro podendo torná-lo grosso e inflexível e, portanto de menor qualidade. Calcula-se que as perdas econômicas determinadas pela presença da mosca-dos-chifres nos rebanhos bovinos brasileiros são superiores a R$ 1,6 bilhões/ano.

Figura 1 – Presença da mosca-dos-chifres parasitando bovinos (Foto: Fábio da S. Barbieri/Embrapa Rondônia)

A irritação provocada pelas picadas da mosca-dos-chifres faz com que os animais percam o interesse pela comida e não descansem, podendo determinar perda no ganho de peso de até 225 gramas por dia, e redução de cerca de 20% na produção leiteira. Estudos realizados no Brasil, a fim de caracterizar a perda de peso vivo decorrente da ação da mosca-dos-chifres, permitiu concluir que um animal, com uma população média de 500 moscas, sofreria perda anual de peso vivo de aproximadamente 40 quilos. Extrapolando-se esta situação para o Brasil Central, a perda total de carne foi estimada em 1,4 milhões de toneladas/ano, caso todos os animais estivessem com esta intensidade de infestação pela mosca.

O controle da mosca-dos-chifres deve considerar as épocas de maior vulnerabilidade do parasita em relação aos seus aspectos bioecológicos e para tal é imprescindível o conhecimento da influência dos fatores climáticos na dinâmica das populações. De maneira geral, a dinâmica populacional da mosca-dos-chifres, no Brasil, é influenciada por fatores climáticos, como indicados no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Influência dos fatores climáticos na infestação pela mosca-dos-chifres sobre os bovinos no município de Presidente Médici, RO. (Fonte:Elaborado pelos autores)

A infestação pela mosca-dos-chifres é um importante fator limitante para a rentabilidade da bovinocultura no Brasil. Tal fato tem relação com as condições climáticas predominantes na maior parte do país, que contribuem para aumentar a intensidade e o período de parasitismo da mosca. Ao longo do século passado, a indústria farmacêutica desenvolveu novos medicamentos parasiticidas mais eficazes e, como resultado, foram reduzidas as perdas associadas às infestações parasitárias.

Controle

O fácil acesso a produtos parasiticidas e a praticidade com que eles podem ser aplicados, combinado ao progresso no conhecimento da epidemiologia de parasitas de ruminantes, levou a um período de relativo sucesso no controle da mosca-dos-chifres, particularmente em sistemas de produção mais intensivos. No entanto, a falsa suposição de que o controle parasitário pode ser facilmente realizado apenas com o uso de produtos químicos levou ao desenvolvimento de populações resistentes aos princípios ativos mais utilizados como anti-parasitários, além de ter aumentado a presença de resíduos nos produtos de origem animal e, promover também a perda de confiabilidade dos produtores na eficiência dos programas de controle parasitários.

No Brasil, o controle das populações de moscas-dos-chifres, que infestam os rebanhos bovinos, dá-se pela utilização de uma ampla gama de pesticidas, porém, devido ao baixo custo relativo, inseticidas piretróides, e organofosforados são os de uso mais comum.

A resistência aos pesticidas é considerada como um fenômeno de origem genética, onde uma ou mais mutações conferem à mosca a capacidade de sobreviver à exposição aos inseticidas. Na prática, a seleção causada pelos tratamentos químicos leva ao aumento da frequência de indivíduos resistentes na população, com consequente redução da eficácia dos produtos inseticidas. Problemas no controle destes parasitas, decorrentes da resistência a pesticidas, têm sido cada vez mais frequentes nas principais regiões produtoras de bovinos do país.

Apesar das desvantagens do uso de pesticidas na bovinocultura, como a poluição ambiental, produção de resíduos químicos na carne e no leite e a toxicidade das bases para as pessoas que aplicam as formulações parasiticidas, estes fármacos são ainda essenciais para o controle das populações de ectoparasitas. No entanto o uso exaustivo de formulações pesticidas é responsável pela perda de eficácia das bases e determina o surgimento e a fixação de populações resistentes tanto da mosca-dos-chifres quanto do carrapato bovino, uma vez que a maioria destes fármacos também são indicados para o controle do carrapato dos bovinos. Assim, o tratamento químico dirigido a uma espécie parasitária impõe uma pressão de seleção indesejável à outra, já que a mosca-dos-chifres e o carrapato dos bovinos encontram-se sobre o mesmo hospedeiro.

O diagnóstico precoce da resistência pode viabilizar o uso mais adequado das bases pesticidas disponíveis para o controle das infestações da mosca-dos-chifres, já que novos compostos não estão sendo disponibilizados com a mesma velocidade com que a resistência se estabelece nas populações de parasitas. Novas opções de controle e o manejo do uso de pesticidas são ações prioritárias para se reduzir a dependência química do controle e o desenvolvimento da resistência, possibilitando também a diminuição dos custos de produção e dos riscos ambientais e à saúde daqueles que trabalham e/ou consomem alimentos de origem animal.

Atualmente, testes diagnósticos direcionados à identificar a presença de resistência a pesticidas estão disponíveis e podem ser utilizados com eficiência, em estudos epidemiológicos, para caracterizar a susceptibilidade das populações da mosca-dos-chifres aos inseticidas.

O teste do papel filtro impregnado com inseticidas realizado a campo (Figura 2) tem se mostrado como uma importante ferramenta para monitorar a presença da resistência a pesticidas nas populações da mosca e deve ser aplicado quando suspeita- se da ineficiência de uma base inseticida na população-alvo.

Figura 2 – Teste do papel filtro impregnado com inseticida realizado a campo para identificação da resistência a inseticidas em populações da mosca-dos-chifre (Foto: Fábio da S. Barbieri/Embrapa Rondônia).

Testes diagnósticos laboratoriais para caracterização da resistência a pesticidas (Figura 3) fundamentados em análises biomoleculares, representam um significativo avanço para o controle eficiente da mosca-dos-chifres, porém devido à complexidade das análises laboratoriais e ao custos ainda alto, tais análises ainda estão restritas ao campo da pesquisa.

Figura 3 – Teste biomolecular para caracterização da resistência a pesticidas piretróides em populações da mosca-dos-chifres (Foto: Elisana S. Riibeiro/Embrapa Rondônia).

O uso do conhecimento referente às épocas de maior ocorrência da mosca-dos-chifres, associado ao diagnóstico da resistência aos inseticidas e práticas de controle adequadas, são caminhos para retardar a ocorrência de resistência às bases pesticidas nas populações das moscas que infestam os rebanhos bovinos.

A Embrapa Rondônia e a Embrapa Pecuária Sudeste, juntamente com instituições parceiras estão desenvolvendo estudos relacionados a caracterização da dinâmica populacional e da situação da resistência a inseticidas piretróides e organofosforados em diferentes populações da mosca-dos-chifres nos estados de Rondônia e São Paulo. Espera-se que os resultados obtidos nestes estudos contribuam para a recomendação de ações direcionadas ao melhor uso das bases pesticidas utilizadas no controle da mosca-dos-chifres, evitando o estabelecimento e a fixação da resistência aos inseticidas nas populações deste parasita.

*Luciana Gatto Brito: Médica Veterinária, D.Sc. em Ciências Veterinárias, pesquisadora da Embrapa Rondônia, Porto Velho, RO.;

Fábio da Silva Barbieri: Médico Veterinári, D.Sc. em Ciências Veterinárias, pesquisadora da Embrapa Rondônia, Porto Velho, RO;

Márcia Cristina de Sena Oliveira: Médica Veterinária, D.Sc. em Medicina Veterinária, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP.

 

Referências Bibliográficas Consultadas

BIANCHIN, I.; ALVES, R.G.O. Mosca-dos-chifres: comportamento e danos em bovinos Nelore. Campo Grande: Embrapa- CNPGC, 1997. 8p. (Embrapa-CNPGC. Comunicado Técnico, 55).

Brito, L.G; Silva Netto, F.G.; Rocha, R.B., 2007. Influência dos fatores climáticos na flutuação sazonal da mosca-dos-chifres no município de Presidente Médici, Rondônia. Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2007, 15 p. (CPAFRO-Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 50).

MACEDO, D.M.; BRITO, L.G.; MOYA-BORJA, G.E. Emergência de Haematobia irritans em fezes bovinas no município de Seropédica, Rio de Janeiro. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 21, n. 2, p. 77-80, 2003.

 

7 Comments

  1. Mário Pinto Furtado disse:

    Achei interessante o artigo, sabendo que a resistência aos pesticidas é considerada um fenônemo de origem genética, ocorrendo mutações da mosca-dos-chifres acredito que também pode acontecer com o carrapato. Baseado neste princípio o controle da mosca-dos-chifres e do carrapato deveria primeiro fazer um estudos epidemiológicos em cada região do país para saber qual o produto que o pecuarista deveria utilizar na sua propriedade. Obrigado

  2. José Azhaury Macedo Linhares disse:

    Sou pecuarista no RGS, criador de raça europeia. Tenho notado que alguns animais tem muito menor incidência de mosca do chifre, alguns praticamente zero. E estes convivem com outros com muita mosca. Por que? Não haverá uma causa orgânica que possa ser desenvolvida para o seu combate? Não seria o caso dos pesquisadores estudarem se tem algum fundo genético que produza algo no sangue que impedem maior infestação ?

  3. Isac Tavares de Barros disse:

    Muito boa a matéria, parabéns pela linguagem clara e objetiva.
    Isac Tavares – Vete Line

  4. Júlio Azambuja disse:

    Luciana, Fábio e Márcia: o que se sabe sobre a função ecológica da Mosca do chifre e onde ela estaria inserida em uma cadeia alimentar? Se pensa em controle biológico? Obrigado!

  5. Marco Machado disse:

    Dificilmente os pesquisadores “pesquisarão” os caminhos sabiamemte e oportunamente comentados, pois pesquisa no Brasil é financiado por laboratórios, por consequência, tem um produto comercial a ser promocionado pela conclusão da pesquisa. Assim como em ovinos já estão selecionando animais por resistencia a verminose, deverá ser avaliado esta caracteristica nos bovinos.

  6. Luiz Galante disse:

    Gostaria de saber se há algum fundamento sobre a baixa incidência da mosca do chifre em pastagens infestadas por Angiquinho (Calliandra parviflora Benth), praga típica da região de Bonito/Porto Murtinho (MS).
    Alguns dizem que é simplesmente pelo efeito mecânico do arbusto no lombo dos animais, que impedem que as moscas fiquem pousadas, mas acho isso bem simplista.

  7. LIANE ROCHA CHAVES NICOLAU disse:

    olá sou dai de Rondônia e fiquei muito feliz em saber q dois veterinários de Porto velho desenvolveu essa pesquisa.Sou acadêmica do curso de medicina veterinária e zootecnia da Universidade Amazônica de Pando (UAP) e dia 22 de abril vamos apresentar uma palestra sobre controle biologico da mosca do chifre,dando enfase ao besouro rola bosta e sua importancia para a natureza…pois aqui c comemora o dia terra.Por favor c vcs tiverem videos sobre esse predador natural besouro me envie.
    Parabens Drs. LUCIANA,FABIO E MARCIA.

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