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Mortalidade embrionária em bovinos – parte 3

Continuando sobre os efeitos de causas de mortalidade embrionária em bovinos passamos agora aquelas de fundo infeccioso. Estas causas, segundo vários estudos geralmente representam menos de 30% dos casos de perdas de gestação em bovinos, nas diferentes fases.

As doenças que causam morte embrionária ou fetal em bovinos podem ser divididas em problemas clínicos e doenças infecto-contagiosas. Entre os problemas clínicos, qualquer doença sistêmica pode potencialmente provocar perda da gestação. Isto pode ocorrer por ação direta do agente no útero ou indiretamente, pela hipertermia materna ou pela produção de toxinas que possam atingir o embrião ou feto. Outra forma de efeito indireto das infecções na manutenção da gestação ocorre quanto há produção de grande quantidade de prostaglandinas. Estas substâncias, principalmente a PGF2a, que é um mediador químico de qualquer processo inflamatório pode, em determinadas situações, provocar regressão do corpo lúteo e queda na concentração circulante de progesterona, hormônio que mantêm a gestação.

As infecções uterinas também são causas de morte embrionária, neste caso geralmente no início do desenvolvimento do embrião, quando este chega ao útero. Em bovinos o produto da concepção já está no útero 4 a 6 dias após a fecundação. Caso a infecção uterina não tenha impedido o transporte e capacitação espermática e com isto a fecundação, ela pode interferir na sobrevivência uterina do embrião. Isto pode ocorrer pela ação direta das bactérias no embrião ou pela alteração do ambiente uterino adequado ao desenvolvimento do mesmo.

Figura 1: As infecções uterinas podem causar morte embrionária principalmente no início do desenvolvimento do embrião.


As infecções uterinas crônicas podem provocar perdas embrionárias por provocarem alterações no endométrio, que é a mucosa de revestimento interno do útero, responsável pela secreção de substâncias utilizadas pelo embrião nos estágios iniciais de seu desenvolvimento.

As principais causas de perda embrionária em bovinos de origem infecciosa estão relacionadas a doenças infecto-contagiosas específicas. Os agentes infecciosos causadores destas doenças têm certa predisposição para os órgãos genitais, principalmente útero. As principais causas infecciosas específicas de morte embrionária precoce em bovinos são a Rinotraquíte infecciosa bovina (IBR), a Diarréia viral bovina (BVD), a Tricomoníase e a Campilobacteriose. As outras infecções como Leptospiroses, Brucelose, Neosporoses e infecções fúngicas estão relacionadas a perdas em estágios mais tardios da gestação ou mesmo abortos.

Brucelose

É uma doença que apresenta prevalência muito superior à diagnosticada. Acredita-se que nem 20% das vacas e touros do rebanho nacional de corte sejam examinadas com a técnica adequada e com a rotina indicada. A principal forma de controle é a vacinação, que ocorre com aplicação única em fêmeas de 3 a 8 meses. Associada à eliminação dos adultos soropositivos. A utilização da vacina em animais mais velhos pode levar a uma maior persistência do título de anticorpos e fornecer resultados falso-positivos nos testes sorológicos.

Aplicação da vacina deverá ser indicada e realizada pelo Médico Veterinários ou técnicos credenciados, como já é exigência de alguns estados (Minas Gerais, por exemplo), pois a vacina (B19) pode contaminar humanos e causar a doença.

A principal forma de transmissão é a oral, pela ingestão das bactérias. As fontes de contaminação são líquidos de origem uterina e restos placentários de fêmeas contaminadas, expelidos após o parto ou aborto. A transmissão via cópula não corresponde a 8% dos casos de transmissão da doença.

Causa aborto em fêmeas e semino-vesiculite e/ou orquite em machos. A sorologia de fêmeas e machos em idade reprodutiva é a principal forma de diagnóstico.
Figura 2. Após a morte, independente do motivo, o feto pode ser expelido ou sofrer um processo de autólise dentro do útero chamado de maceração fetal.


Leptospirose

Embora seja uma bactéria que exista em todo o território nacional, a indicação da vacinação deve seguir à pesquisa sorológica e/ou identificação do agente. Quando se opta pela vacinação, todos os animais a partir de 4 meses devem ser imunizados. O rato pode ter papel epidemiológico importante somente para trazer a doença para o plantel. A partir daí os bovinos infectados são os disseminadores.

Deve-se verificar qual tipo de sorotipo ou sorogrupo de leptospira está causando o problema e proceder à vacinação dirigida para estes sorotipos. O intervalo entre as vacinações também não deve padronizado. Em casos de maior pressão de infecção, vacinar em intervalos menores.

A transmissão ocorre por via oral ou penetração da leptospira pela pele. Causa redução de fertilidade, morte embrionária e abortos.

Figura 3: Os abortos ou natimortos são causa de grandes prejuízos dependendo da ocorrência


IBR (Rinotraquíte infecciosa bovina) e BVD (Diarréia bovina a vírus)

São dois vírus que além de problemas reprodutivos podem provocar lesões em outros locais do organismo, principalmente em animais jovens. A contaminação pode ser via cópula, via nasal ou oral. Além de repetição de cio podem provocar morte embrionária e aborto em diferentes fases da gestação.

Por influência de outros países que não possuem brucelose e onde as leptospiroses são controladas, estes dois vírus se transformaram em “vedetes” também no Brasil. Embora a prevalência já seja considerável, a indicação da vacinação deve seguir à pesquisa sorológica e/ou isolamento dos vírus. Deve-se analisar a relação custo-benefício da vacinação, considerando a extensão do problema, os danos causados e custos da vacina. Vacinam-se animais a partir de 4 meses. Os primovacinados devem receber reforço 4 a 5 semanas após vacinação inicial. Caso não exista problema em animais jovens, pode-se optar por vacinar apenas antes da idade reprodutiva.

Campilobacteriose e Tricomoniase

Tratam-se de uma bactéria e um protozoário que causam problemas tanto am machos como em fêmeas. Mais importante em rebanhos que utilizam monta natural. Os agentes já foram isolados viáveis em sêmen congelado de bovinos. Em machos, os problemas são menores, se limitando geralmente á infecções nos órgãos copulatórios. O touro é o principal reservatório e transmissor das doenças no rebanho. Transmissão pela cópula. Nas fêmeas pode provocar aborto e redução temporária de fertilidade (repetição de cios). O diagnóstico é feito com a coleta de material nas vacas e principalmente nos touros. O tratamento ou prevenção deve seguir ao isolamento dos agentes. No caso de isolamento do agente, atenção especial deve ser dada aos reprodutores (touros).

Neosporose

È causada por um protozoário, cujo hospedeiro definitivo é o cão. Este animal funciona como principal transmissor da doença aos bovinos. Em algumas regiões do mundo onde a brucelose e outras doenças estão controladas, é atualmente a principal causa de aborto, principalmente em vacas leiteiras. O aborto pode ocorrer em qualquer fase da gestação. Além disto são relatados casos de reabsorção, morte fetal com mumificação ou maceração e nascimento de bezerros normais, porém cronicamente infectados. No Brasil a incidência em bovinos de corte, principalmente em regimes extensivos, ainda não é precisa. A única forma indicada de controle e a redução do contato dos bovinos com os transmissores, no caso os cães. O que se fazer com os animais com sorologia positiva ainda não é consenso na literatura especializada.

Considerações finais

Como apresentado, as causas de morte embrionária em bovinos são variadas. Além disto podem ocorrer em períodos distintos da gestação. Devido a estas características a determinação exata do motivo de cada perda talvez não seja uma tarefa das mais fáceis. Vale lembrar que a maioria das perdas ocorre em fases iniciais da gestação e pode sequer ser detectada. Além disto, ao contrário do que se imagina, a maior parte das perdas não ocorre por causas infecciosas, específicas ou não. Independente da causa, sempre cabe o monitoramento destas perdas, para que se possa, quando este valor estiver acima do aceitável, proceder às devidas providências, tanto para identificação da causa, como para a implementação das medidas visando o controle.

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