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Mortalidade embrionária em bovinos – parte 2

Continuando sobre os efeitos de causas ambientais sobre a mortalidade embrionária em bovinos passamos agora ao aspecto nutricional.

A nutrição inadequada pode afetar e gestação de duas formas: pode causar morte fetal ou reduzir o desenvolvimento do concepto. Embora esta última característica não seja considerada perda reprodutiva, implica numa menor probabilidade de sobrevivência do recém-nascido.

A principal fase na qual a nutrição pode afetar o desenvolvimento do concepto é no inicio da gestação. Este efeito é particularmente delicado até o reconhecimento materno da gestação, que no bovino ocorre entre 17 e 25 dias após a concepção. Após esta fase ocorre na fêmea gestante, alteração na partição dos nutrientes, com maior prioridade para a gestação, desta forma variações nutricionais refletem menos no desenvolvimento do embrião. A troca de informações entre células trofoblásticas e epiteliais do endométrio são o aspecto crítico para a manutenção do corpo lúteo. Metabólitos circulantes no sangue materno, como alguns ácido graxos poliinsaturados, podem alterar, juntamente com as substâncias produzidas pelo embrião, a secreção de PGF2a pelo endométrio.

Figura 1: Animais bem nutridos, principalmente nas fases iniciais da gestação estão menos sujeitos a perdas embrionárias.


Alguns componentes da dieta também podem provocar perdas embrionárias quando em excesso. Num experimento com novilhas, utilizando dieta com excesso de proteína (tabela 1) é demonstrado efeito deletério deste componente nutricional sobre a reprodução. Para conseguir este efeito, aumentaram a proteína da dieta total de 15,5 para 21,8%. As dietas utilizadas apresentavam também redução energética, cerca de 70% do recomendado pelo NRC.

Os efeitos deletérios da proteína dietética ocorrem principalmente quando existe na dieta excesso de proteína degradável no rúmen, pois esta é rapidamente convertida a amônia, absorvida e reconvertida em uréia pelo fígado. O aumento da uréia circulante poderia alterar o ambiente uterino e prejudicar o desenvolvimento do embrião. Neste experimento a taxa de gestação do grupo que recebeu a dieta com o nível normal de proteína foi melhor (tabela 1).

Tabela 1: Variáveis reprodutivas em novilhas recebendo dietas isocalóricas com 2 níveis de proteína degradável no rúmen


A análise da duração do ciclo estral após a inseminação mostrou que os animais não gestantes retornaram ao estro mais tarde, principalmente no grupo com excesso de proteína na dieta. Nesse grupo, 43,7% das novilhas retornaram ao estro num período entre 26 e 36 dias. Fato que não ocorreu no grupo com níveis normais de proteína na dieta. Estes resultados demonstram que os efeitos deletérios sobre o embrião ocorrem após 16 a 18 dias pós-inseminação. Neste caso já teria ocorrido o reconhecimento materno da gestação, e quando o embrião morre após esta fase, ocorre retardo na luteólise e retorno ao estro num período além do normal.

Figura 2: A morte fetal, após 45-50 dias é menos provável em bovinos. A maioria das perdas ocorre em estágios iniciais (feto de 72 dias).


Causas de morte embrionária relacionadas a fatores genéticos ou endocrinológicos

As causas de morte embrionária em bovinos também podem estar relacionadas a problemas genéticos. Existem algumas situações definidas nesta espécie como a Translocação cromossômica 1-29, que pode levar a alteração de fertilidade e perda do embrião durante o desenvolvimento uterino.

Independente de causas específicas, como a citada acima, a morte de qualquer embrião por alterações genéticas pode e deve ser encarada como uma forma de eliminação de um genótipo indesejável a um baixo custo biológico. Ou seja, quando se forma um novo indivíduo e este possui alguma alteração genética que possa condicionar algum tipo de deformidade fisiológica ou morfológica posterior, não é interessante o desenvolvimento deste. Assim, quanto mais cedo esta alteração for eliminada, menores os danos e custos para a espécie. A forma de menor custo de eliminação de genótipos indesejáveis seria logo após sua formação, ou seja, na fase embrionária.

Estas alterações podem ocorrer em produtos de animais aparentemente normais. O percentual de perdas devido a esta variável não é fácil de ser calculado, mas estimado como baixo. Este percentual pode se elevar quando se utiliza na reprodução animais sabidamente com alguma alteração genética ou quanto se cruza indivíduos de uma mesma família (parentes próximos), favorecendo a consangüinidade.

O principal problema da consangüinidade é que quando se cruza animais de uma mesma família, existe maior probabilidade de alguns genes recessivos indesejáveis que existem em todas elas, se combinarem no produto em homozigose, condicionando a expressão dos mesmos. Situação é muito menos provável no cruzamento entre indivíduos não parentes, ou de famílias diferentes.

O estabelecimento e manutenção da gestação dependem da produção e manutenção das concentrações circulantes dos hormônios destro de parâmetros bem definidos. Muito tem sido pesquisado sobre o perfil hormonal e sua correlação com a sobrevivência embrionária. Neste campo, a progesterona é um dos hormônios mais estudados, mas a relação entre o nível plasmático deste esteróide nas diversas fases do ciclo estral, e a taxa de concepção ainda não são claros. A literatura é contraditória e inconsistente ao tentar correlacionar tais parâmetros. Com os dados existentes até o momento, não é possível definir um nível de progesterona circulante, em um determinado dia, que seja essencial para a manutenção da gestação. Como ocorrem flutuações diárias, a mensuração dos níveis sanguíneos deste hormônio em um determinado dia tem valor questionável. Dos fatores endócrinos, a taxa de progesterona durante o início da gestação, é a causa freqüentemente citada pelos pesquisadores como decisiva na manutenção da mesma. A atividade funcional do corpo lúteo é essencial para instalação e manutenção da gestação. Esta manutenção da gestação depende, dentre outros fatores do bloqueio da secreção de prostaglandina F2a (PGF2a) que é sintetizada pelas células epiteliais do endométrio. Esta substância vai provocar a regressão do corpo lúteo e queda na síntese de progesterona pelo mesmo.

Figura 3: Corpo Lúteo – fonte de progesterona no início da gestação em bovinos.


Para que a PGF2a não seja secretada deve haver um sinal químico emitido no período certo pelo embrião, que bloqueie a síntese e/ou liberação do fator luteolítico. Os sinais químicos emitidos têm natureza estrutural diversa, incluindo esteróides, prostaglandinas e proteínas. Estes têm a capacidade de alterar a fisiologia de certos tecidos maternos. De nada adiantaria um perfil de progesterona ideal se o desenvolvimento do embrião estivesse alterado por algum outro fator.

O embrião deve estar em um ambiente uterino adequado, que lhe forneça condições ideais para se desenvolver e conseqüentemente produzir e secretar as substâncias que promoverão o perfil hormonal responsável pela manutenção da gestação.

Como a implantação em bovinos somente começa a ocorrer a partir da terceira semana de gestação, até este período, o embrião se nutre das secreções endometriais. Os níveis de progesterona plasmáticos são entre outros fatores, muito importantes para criação e manutenção de um ambiente uterino favorável ao embrião e um dos determinantes da sobrevivência embrionária.

A taxa de progesterona circulante é dependente de diferentes variáveis. Dentre estas se pode citar o aporte nutricional da fêmea no início da gestação como de grande influência. Também não é fácil definir qual seria o mínimo de progesterona circulante necessário para adequada manutenção da gestação.

A suplementação deste hormônio, independente da forma, quer estimulando sua maior produção ou mesmo por aplicação exógena deve ser indicada somente se houver diagnóstico preciso que os animais suplementados exibem concentrações inferiores àquelas mínimas para manutenção da gestação. Caso contrário pode-se pecar pelo excesso, ou seja, pela indução de concentrações exageradas deste esteróide. Num trabalho de mensuração dos níveis séricos de progesterona e taxa de gestação, em animais suplementados com este hormônio, observou-se que aqueles que exibiram níveis muito elevados tiveram redução na taxa de gestação (Figura 4).

Figura 4: Concentrações plasmáticas de progesterona 7 dias após o cio e taxa de gestação em novilhas


O tratamento aleatório de fêmeas visando aumentar os níveis de progesterona podem levar animais com níveis normais deste hormônio a apresentarem um excesso do mesmo o que não e desejável, pois ao invés de auxiliar, pode prejudicar o desenvolvimento e provocar morte embrionária. A manutenção de um ambiente uterino adequado depende de quantidades normais de progesterona. Assim como a deficiência, o excesso também é deletério.

1 Comment

  1. Jeová Ferreira da Silva disse:

    A habilidade do profissional durante a manipulação do útero no diagnostico precoce da gestação aos 28 a 30 dias é para mim fator extrinseco importante, em alguns casos contribui muito para a mortalidade embrionária tardia.

    Gostaria de ouvir ou ler mais informações sobre esse fator, pois, é uma realidade centenas de profissionais que não dão conta de dar um diagnostico por palpação retal ou avaliar um ovária, fazem diagnóstico precoce de gestação.

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