A mortalidade embrionária em bovinos é um problema de grande importância para em todos os sistemas de criação. Mesmo onde não ocorre em grandes proporções, é uma condição que carece de monitoramento constante, tal a possibilidade de perdas decorrentes de elevação na sua ocorrência.
A morte embrionária é geralmente referida como morte ou perda do produto da concepção, principalmente nas fases iniciais do seu desenvolvimento. Nas fases mais avançadas é dita aborto. A terminologia “morte embrionária” embora extensamente utilizada, talvez não seja a mais adequada para as perdas em todos os estágios da gestação, visto que o concepto não é denominado embrião em todos estes períodos. Para facilitar, e não incluir mais termos técnicos, aqui abordaremos as perdas iniciais do produto da concepção em bovinos, como morte embrionária, pelo vasto emprego desta terminologia.
Para que ocorra morte embrionária é necessário obviamente que aconteça a fecundação e formação do zigoto, dito aqui embrião. Nos casos de monta natural ou inseminação artificial, quando a perda embrionária ocorre antes de 17 – 18 dias após a cobertura ou monta, não é possível diferenciar entre uma falha de concepção e morte embrionária. Pois em ambos os casos a fêmea retorna ao estro de 18 a 23 dias após o anterior. A não ser pela pesquisa de substâncias específicas produzidas pelo zigoto nas fases iniciais do seu desenvolvimento (EPF – early pregnancy factors), ainda não disponíveis comercialmente, não é possível indicar se houve ou não a concepção. Quando uma fêmea retorna ao estro após cobertura ou inseminação artificial, sempre restará a dúvida: houve ou não a fecundação? Pesquisas demonstram que na maioria dos casos a fecundação ocorre (70% ou mais), porém o desenvolvimento a termo do concepto não alcança tais valores.
Quando o zigoto é formado e permanece viável e com desenvolvimento compatível por um período que vai além dos 20 dias, geralmente a sintomatologia de perda embrionária é diferente de uma falha na concepção. Quando o zigoto permanece viável por mais de 20 dias após sua formação ele produz substâncias que impedem a luteólise e o retorno da fêmea ao estro, que no caso de falha de concepção ocorreria entre 18 e 23 dias após a cobertura ou inseminação. Fêmeas que retornam ao estro em período não regulares, além de 23 dias após a última cobertura ou inseminação ou após 15 dias da última transferência de embrião podem ter apresentado casos de morte embrionária num período acima de 20 dias. Cuidado deve-se ter ao interpretar os casos de animais que retornam ao estro num número de dias múltiplos de 18 a 22. Neste caso pode nem ter havido concepção, ou houve morte precoce (antes de 18 dias), a fêmeas manifestou estro anteriormente que não foi observado, ou seja, o cio que está sendo detectado pode não ter sido o primeiro.
Quando ocorre morte embrionária nas fases iniciais da gestação costuma-se referir ao processo que se segue como “reabsorção embrionária”. Este termo é sempre utilizado quando a fêmea retorna ao estro e não se detectou qualquer sinal de perda, como corrimentos irregulares ou se localizou a presença do concepto expelido. Este termo não é correto quando a perda ocorre após 40 dias de gestação. O útero não tem condições de absorver todos os tecidos fetais após esta fase, isto pode ocorrer em fases mais precoces. Geralmente o conteúdo (concepto mais anexos) expelido é tão pequeno que passa desapercebido.
O monitoramento das perdas embrionárias pode ser realizado quando se executa o diagnóstico precoce da gestação (25-35 dias). Este procedimento pode ser realizado facilmente com o auxílio de um equipamento de ultra-sonografia (figura 1). Além de se determinar precocemente quais as fêmeas não estão gestantes, e se preconizar o tratamento adequado para as mesmas possam rapidamente conceber, a diferença entre o diagnóstico nesta fase e outro definitivo a partir de 55 – 60 dias, vai indicar a magnitude das perdas embrionárias neste período.
As causas das perdas embrionárias nos bovinos são variadas. Embora quando ocorram, geralmente se suspeite de algum agente infeccioso, as causas deste tipo correspondem a cerca de 25 30% do total de mortes embrionárias. Pode-se dividir as causas de mortes embrionárias em 3 grandes grupos: as causas ambientais, as infecciosas e as relacionadas a fatores endocrinológicos ou genéticos.
Morte embrionária devido a causas ambientais
De uma forma generalizada esta é a principal causa de perda embrionária em bovinos. Alterações como as referentes ao clima e também nutricionais são os principais exemplos de etiologias ambientais de perda embrionária.
A temperatura ambiente pode prejudicar a fertilidade dos bovinos de diferentes formas. Efeito nos gametas, no desenvolvimento embrionário e no ambiente uterino. Tem sido relatado que a principal ação deste fator ambiental sobre a fertilidade dos animais se dá sobre a viabilidade dos gametas e desenvolvimento embrionário. Temperaturas ambientais excessivas podem afetar diretamente o desenvolvimento e a viabilidade embrionária, e ainda atuar de forma indireta, modificando o microambiente uterino, necessário à manutenção da gestação.
O efeito direto do estresse térmico sobre o embrião não está bem definido, ou seja, não se sabe ao certo o mecanismo desta ação. O período no qual o embrião é mais susceptível a altas temperaturas é durante os estágios iniciais de segmentação, ou seja, na primeira semana do seu desenvolvimento. A hipertermia materna, causada por uma elevação da temperatura ambiente, retarda o desenvolvimento e aumenta a incidência de mortalidade embrionária precoce. Nestes casos a fêmea retornará ao estro num período regular. Outra ocorrência que confirma esta situação é o aumento de embriões de qualidade ruim obtido de doadoras de embriões em condições de estresse térmico.
Associado a temperatura ambiental, outra característica climática de extrema importância é a umidade relativa (UR). Uma elevada umidade relativa dificulta e dissipação de calor pelo animal, visto que os principais processos de perda de calor ocorrem através de evaporação de água, que ficam prejudicados quando a atmosfera já se encontra muito saturada. Assim o efeito de uma temperatura elevada é ainda mais deletério quando associado existe alta umidade relativa.