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Morre Anthony Bourdain, o chef pop

Artigo de Paulo Machado

Na sexta-feira, 8, Anthony Bourdain, aos 61 anos, morreu em Estrasburgo, França. Difícil mensurar a importância desse chef, crítico e apresentador de programa de gastronomia para o universo da cozinha mundial, que ficou em choque com a notícia. Se você nunca ouviu falar dele, saiba que perdemos um “must know”, ou seja, aquela pessoa que você precisa conhecer, ler a obra, assistir os programas e não se arrependerá.

Esse foi o cara que realmente fez a diferença para a presente geração que trabalha com restauração. E por quê?!

Bourdain, depois de ter trabalhado em renomados restaurantes de Nova Iorque e ser chef de cozinha do seu próprio Les Halles (que possuía filiais em Nova York, Washington, Miami, Tóquio e foi fechado em 2017), ganhou fama, após escrever seu primeiro livro: “Kitchen Confidential” (Cozinha Confidencial), best seller que expõe em primeira pessoa as verdadeiras e muito eloquentes incursões do autor pelos interiores de uma cozinha. Os bastidores deste universo tão único e peculiar vieram a ser revelados, pela primeira vez ao público, tudo desnudo, cru ou pouco cozido.

O Chef não se negava a servir carne bem passada a seus comensais, mas deixava bem claro aquele que a pedisse: você não vai levar o melhor pedaço, cozinheiros curtem carne sangrando, por essas e outras dizia que vegetarianos o odiavam. Neste início de século (seu livro foi lançado em 2000) Bourdain trouxe revelações sórdidas sobre a realidade nada glamurosa da profissão cozinha. Horas de trabalho em pé, sob condições extremas de pressão, ríspidas ordens de chefs arrogantes. Revelou ainda casos sórdidos de dívidas e lavagem de dinheiro, restaurantes cobiçados em que os comensais nem podiam imaginar o uso de ingredientes com validade vencida, histórias de sexo e seu envolvimento perigoso com o mundo da cocaína e heroína.

Deixou amigos no Brasil e da nossa comida era fã inconteste. Afirmou que a feijoada e o caldinho de mocotó eram duas das suas “coisas preferidas no mundo”. Nas vezes que aqui esteve provou comidas em Belém, Salvador, Minas e São Paulo onde comeu e bebeu no Mercadão: pastel de bacalhau, sanduiche de mortadela e caipirinha na agradável companhia de Rosa Moraes, Gabriela Mascioli, a chef Marina Moraes e o Professor de gastronomia Ricardo Maranhão. Transitava por restaurantes de alta gastronomia, como o DOM do chef Alex Atala, e fazia incursões pelas comidas típicas e de rua.

Leo Paixão, Ivo Faria e Anthony Bourdain em BH

Esteve em restaurantes no bairro da Liberdade com Jun Sakamoto e delirou com caldinho de mocotó e fígado com jiló em Belo Horizonte em companhia dos chefs Leo Paixão e Ivo Faria, para citar algumas das odisseias gastronômicas do chef.

Em Hanoi, no Vietnã, provou sanduíche de carne de porco ao lado de Barack Obamba, em 2016

No mundo, ficou marcado para sempre na história o episódio de 2016 do seu programa “Parts Unknown” pela CNN, onde almoçava sanduiche de carne de porco (bun cha), macarrão de arroz, verduras e cerveja local por apenas 6 dólares em um simples restaurante de Hanói, Vietnã, com ninguém menos que o então presidente dos Estados Unidos da América: Barack Obama.

Irreverente, irônico, havia quem o achava uma pessoa “over”, usou drogas durante muito tempo e tirou a própria vida, supostamente por um quadro de depressão. De nada adianta fama, prêmios ou reconhecimento, quando a consciência não está alinhada com a sanidade da mente. O desfecho pode ser o pior destino, uma morte chocante. Senhor alto, (media quase dois metros de altura), deixa este mundo um cara ousado, bacana, popular, sem papas na língua e que revelou as entranhas de uma cozinha e de uma era para sempre, sem fazer reserva.

*Paulo Machado é chef de cozinha, mestre em Hospitalidade, fundador do Instituto de Pesquisas em Alimentação Paulo Machado em Campo Grande (MS) e criador e guia das viagens gastronômicas Food Safaris.

Fonte: Acritica.net.

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