O Ministério da Agricultura pediu uma revisão “urgente” no Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, no governo de Dilma Rousseff. Embora já tenha seis anos, o Guia voltou à pauta em reuniões recentes da Pasta comandada por Tereza Cristina, por potenciais prejuízos que pode provocar em algumas cadeias produtivas.
Em nota técnica encaminhada ao ministro Eduardo Pazuello nesta semana, a Agricultura critica as orientações da publicação para que as pessoas diminuam o consumo de produtos de origem animal e evitem alimentos ultra-processados. O documento aponta afirmações incoerentes e até “cômicas”, e sustenta que a classificação foi feita de forma equivocada, a partir de dados “pseudocientíficos”.
Recentemente, em reunião com representantes das Câmaras Setoriais de seu ministério, Tereza Cristina teceu duras críticas ao Guia — que pode afetar, por exemplo, a cadeia leiteira, formada por pequenos produtores.
O Guia traz a classificação “NOVA” para dividir os produtos de acordo com o nível de processamento, e uma “regra de ouro” para que a população “prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultra-processados”.
A nota da equipe de Tereza Cristina questiona severamente esse item e diz que a classificação é “confusa, incoerente e prejudica a implementação de diretrizes adequadas para promover a alimentação saudável para a população brasileira”.
O Ministério da Agricultura também afirma que a distinção é arbitrária e confunde nível de processamento com a quantidade de ingredientes usados na industrialização de alimentos — o que chamou de “algo cômico”. A Pasta pede uma revisão com a participação de engenheiros de alimentos.
“A recomendação mais forte nesse momento é a imediata retirada das menções à classificação ‘NOVA’ no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal”, diz outro trecho da nota.
O Guia diz que “a diminuição da demanda por alimentos de origem animal reduz notavelmente as emissões de gases de efeito estufa (responsáveis pelo aquecimento do planeta), o desmatamento decorrente da criação de novas áreas de pastagens e o uso intenso de água”. O Ministério da Agricultura refuta esses argumentos e defende as políticas de produção com baixa emissão de carbono incentivadas pela Pasta.
“A ‘regra de ouro’ talvez devesse ser: harmonize uma combinação diversificada de porções moderadas de cada alimento escolhido para atender as necessidades nutricionais, manter o peso corporal recomendado e os indicadores de saúde adequados”, sugere a nota técnica assinada pelo diretor do Departamento de Análises Econômicas e Políticas Públicas do Ministério da Agricultura e ex-secretário de Defesa Agropecuária, Luis Eduardo Rangel, enviada ao Ministério da Saúde.
Fonte: Valor Econômico.