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Ministério cria o ‘Núcleo China’

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, buscou na iniciativa privada a comandante da nova unidade especial que cuidará das relações com a China, principal destino das exportações brasileiras do agronegócio. Ex-diretora da consultoria de investimentos Vallya e com mestrado em Estudos Contemporâneos da China pela Universidade de Renmin, Larissa Wachholz morou em Pequim por cinco anos e fala mandarim. Em dezembro, ela aceitou o convite de Tereza Cristina para assumir o “Núcleo China”, ligado diretamente a seu gabinete.

A criação da unidade estratégica foi uma surpresa até para quem trabalha na área internacional do ministério. A ideia partiu da ministra, que não contou a novidade para ninguém antes de anunciá-la em encontro com ministros chineses em outubro de 2019, durante visita ao país.

Para o longo prazo, Larissa Wachholz estabeleceu quatro áreas prioritárias de atuação: abertura comercial, atração de investimentos, central de informações e ações de inovação e sustentabilidade. Mas a agenda emergencial não escapa do radar. Um dos desafios imediatos tem sido monitorar os efeitos do coronavírus e da trégua comercial Estados Unidos-China sobre as exportações agrícolas brasileiras. No caso do cessar-fogo entre Washington e Pequim, ela conta ter recebido uma mensagem tranquilizadora das autoridades chinesas. “Elas têm nos dito que vão operar de acordo com regras de mercado.”

Em bom português: mesmo diante dos compromissos assumidos de aumentar as compras de produtos agrícolas americanos, a China prometeu ao Brasil manter suas escolhas de fornecedores com base em preço, não em questões políticas. “Mas temos avaliado o assunto com lupa”, diz Larissa. Apesar disso, ela constata que haverá redução nos embarques brasileiros de soja à China, que terão de ser redirecionados a outros mercados.

Destino de mais de um terço das exportações agrícolas brasileiras – US$ 31 bilhões em compras em 2019 -, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, mas a pauta setorial de exportações é baseada em soja e carnes. Uma das metas do novo núcleo é promover a diversificação do comércio com a abertura para novos produtos, como frutas. O movimento pode estabilizar os fluxos comerciais e diminuir “solavancos” do mercado mundial.

O desafio também é entender melhor as complexidades do maior comprador dos produtos agrícolas nacionais e identificar oportunidades. Larissa avalia, por exemplo, que os chineses confiam na qualidade do alimento brasileiro, mas estão cada vez mais atentos aos debates sobre sustentabilidade. “É uma preocupação que tende a crescer e a gente quer mostrar a sustentabilidade do agro brasileiro e dar ao consumidor chinês esse conforto”.

O núcleo também quer atrair investimentos de empresas chinesas para o Brasil, tanto na área de logística como na de construção de ferrovias e rodovias para ajudar no escoamento das exportações. Atrair aportes em indústrias de processamento de alimentos também está nos planos. Seria uma forma de elevar o valor agregado das exportações – vender farelo em vez de soja em grão, café torrado e moído no lugar de café verde, cortes de carne no lugar do produto in natura.

O setor produtivo fez o caminho inverso para se aproximar mais da China. Em janeiro, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) abriu um escritório de negócios em Xangai. A entidade contratou uma consultora chinesa, fluente em português e que já morou no Brasil, para representar os produtores brasileiros, mapear oportunidades comerciais e prospectar mais abertura de mercados.

“Comércio é olho no olho, precisa ter confiança”, diz Lígia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da CNA. A entidade quer impulsionar cinco segmentos: lácteos, mel, fresh (hortaliças, frutas e flores), cafés especiais e aquicultura. Outra unidade deve ser aberta na Ásia, em um país a definir, em 2021. “Precisamos da China para fazer negócio hoje”, disse.

Fonte: Valor Econômico.

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