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Minerva quer voltar a pagar dividendos

Na Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, o tempo dos dividendos está mais próximo. Após uma década de crescimento sustentado por dívidas – remunerando os credores, sobretudo internacionais -, a empresa fará uma oferta de ações de R$ 1,4 bilhão. A ideia é que, com os recursos da emissão, o grupo reduza a dívida, o que poderá viabilizar a distribuição de dividendos já em 2020, apurou o Valor. Procurada, a empresa não quis comentar.

Com o patrimônio líquido negativo em R$ 767 milhões – as obrigações superam o valor dos ativos -, a Minerva distribuiu dividendos pela última vez em abril de 2017. Foram R$ 60,1 milhões, referentes ao resultado do ano anterior. De lá para cá, a empresa só teve prejuízos, relacionados ao maior endividamento para adquirir frigoríficos na América do Sul e também pelo impacto da apreciação do dólar sobre o valor em reais da dívida em moeda estrangeira. Entre janeiro e setembro de 2019, a Minerva acumulou prejuízo de R$ 227 milhões.

A expectativa, porém, é que esse cenário se altere com a captação. Do total de R$ 1,4 bilhão da oferta de ações, R$ 1,1 bilhão reforçará o caixa da companhia. O restante ficará com os Vilela de Queiroz, que venderão 15 milhões de ações. A oferta total é de 95 milhões de ações (80 milhões de novos papéis serão emitidos). A previsão é que a operação seja concluída até o começo de fevereiro.

A oferta de ações, comunicada no fim da noite de quarta-feira, enterra de vez o projeto de abrir o capital da subsidiária Athena Foods, que reúne os negócios da Minerva fora do Brasil, na bolsa de Santiago, no Chile. Essa operação, que injetaria mais de R$ 1 bilhão no caixa da empresa, já estava na berlinda.

Em maio do ano passado, o IPO da Athena foi adiado em razão das condições adversas do mercado e, no fim do ano, a crise política no Chile e a eleição de Alberto Fernandez à presidência da Argentina azedaram o humor dos investidores. O país do Mercosul responde por um terço das vendas da Athena. Como um todo, a Minerva fatura R$ 18 bilhões ao ano – desse total, a subsidiária responde por cerca de 40%.

Ao emitir novas ações no Brasil, a Minerva contorna a inviabilidade do IPO no Chile e, de quebra, ampliará a liquidez dos papéis na B3, tendo em vista que a família Vilela de Queiroz, que controla a companhia, venderá parte de suas ações na oferta (ver mais em Ajustes na hoding dos Vilela de Queiroz ). Como o interesse dos investidores na Minerva já vinha aumentando – na esteira das mudanças provocadas pela peste suína africana na China -, fontes próximas à empresa creem que o grupo poderá ingressar no Ibovespa em maio, quando a composição do índice será atualizada.

Entre os investidores, a oferta de ações da Minerva foi bem recebida, a despeito da diluição que a operação pode provocar. Na B3, as ações da empresa subiram 4,1% ontem, a R$ 14,99. Nos últimos doze meses, o papel subiu 176%. Nesse período, o volume de negócios com as ações também aumentou, passando de uma média diária de R$ 11 milhões para R$ 29 milhões. Ontem, o volume ficou acima da média, perto de R$ 124 milhões.

Se tudo correr como o planejado, a Minerva reduzirá o índice de endividamento rapidamente. Em setembro, a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) estava em 3,8 vezes. Somado à geração de caixa, o montante que será levantado com a oferta de ações (R$ 1,1 bilhão) permitirá reduzir o índice a menos de 3 vezes.

Além disso, a companhia tem um aumento de capital da ordem de R$ 800 milhões já contratado, o que levaria o índice de alavancagem para um patamar confortável, perto de 2 vezes, estimou uma fonte. Esse montante adicional, que entrará no caixa da Minerva até 2021, é reflexo do bônus de subscrição dado aos acionistas que participaram da capitalização feita no fim de 2018, quando o endividamento havia disparado e o grupo teve de recorrer ao sócios – notadamente a gestora saudita Salic e os Vilela de Queiroz – para arrumar as contas.

Desde então, a situação operacional melhorou na maior parte dos países onde a Minerva produz carne bovina – o Uruguai é a exceção, devido aos preços elevados do gado. Com o ritmo acelerado das exportações de carne do Brasil e também da Argentina, a Minerva vem gerando caixa, mas o peso das dívidas ainda a impedia de remunerar o acionista, um incômodo prestes a terminar.

Fonte: Valor Econômico.

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