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Mercado americano, visão de um simples consumidor

Já faz algum tempo que o mundo sinaliza que as carnes estarão com preços em alta, devido a vários fatores de produção como o clima severo em alguns países, doenças do rebanho, baixa remuneração do pecuarista, uso do milho para produzir etanol (no lugar da ração), e também, pela alta demanda das economias emergentes pelo produtor.

Recentemente, no último relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as perspectivas para o mercado da carne de 2012 a 2021, e também, em um outro relatório sobre o tema, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), continuaram sinalizando a permanência desta tendência para um futuro ainda distante.

A severidade do clima tem afetado significativamente o resultado da produção em alguns países. Em um artigo no final de 2012 escrevi sobre os efeitos devastadores da seca nos EUA, uma das maiores nos últimos 50 anos e que comprometia lavoura e pecuária no país; na Austrália, desde 2010, as enchentes e ciclones na região nordeste, principalmente no estado de Queensland, vêm massacrando os moradores e a produção rural. Mais recentemente em Janeiro deste ano, o ciclone Oswald castigou o estado e deixou cidades quase submersas com a enchente que se seguiu ao ciclone. Queensland é um grande estado produtor agrícola e pecuário. Plantações ficaram perdidas, bem como maquinário e as casas dos produtores que ficaram debaixo d’água, portanto tudo foi perdido.

No Brasil, o bom resultado da safra também vai depender do clima. Pela primeira estimativa publicada agora em janeiro de 2013 pelo IBGE, nas safras de milho e soja deste ano, principais itens de custo na cadeia de produção da proteína animal, já se observa um aumento da área plantada para 2013, de 8,2% para o milho, e de 9,7% para a soja.

Estive morando nos EUA por um período, logo no início da crise em 2007, onde fui comandar uma das empresas do grupo JBS. Morar em outro país te leva a viver o dia a dia de uma forma diferente de um visitante e consequentemente, a visão do ambiente muda. Digo isto pois hoje muitos brasileiros visitam os Estados Unidos e este número tem crescido assustadoramente. A percepção para o turista é que tudo por lá é barato, percepção esta que não é equivocada quando comparada com os preços de produtos similares no Brasil, mas para os locais a realidade é diferente; e é com esta realidade que baseio este artigo, na percepção do cidadão inserido na sociedade ianque.

Neste período de vida logo me adaptei para viver como um local e assim, as compras de alimentos ou o almoço diário era medido, as pesquisas de preço, a qualidade da carne, das frutas e verduras, os itens da estação, tudo como qualquer um faz aqui no Brasil, evitando qualquer comparação de preços com o que fazia aqui.

Em alguns artigos passados citei, mais precisamente no final de 2011, quando de passagem novamente por terras estadunidenses, fiz minha habitual pesquisa de produtos e preços a qual tinha referência quando morava lá, para medir o que estava acontecendo no cotidiano daquela região. Notei que, no que diz respeito à carne, os preços já haviam subido bastante. Fruto do programa de produção de etanol usando milho, que cada ano consome um maior volume de grãos da produção americana para o biocombustível, os preços do milho subiram e afetaram o preço final da carne. Um exemplo, o corte bovino ribeye, qualidade prime para o USDA (Departamento de Agricultura), que comprava na loja X em 2008 e pagava USD 9,99 /lb, nesta viagem de 2011 visitando a mesma loja X, o mesmo item já custava USD 11,99/lb, um aumento de exatos 20%. Assim faço sempre que estou por lá, como agora no início de 2013. Desta vez comprei o mesmo  produto por USD 16,99/lb, um aumento de mais 41%. Não só a carne bovina teve aumento, desta vez também senti o impacto do aumento de custos no food service, em geral com refeições mais caras em aproximadamente 20%. Entrevistei vários locais, na costa oeste e na leste, e a opinião foi unânime, os alimentos estão muito mais caros mesmo. Não me apoio aqui em nenhuma pesquisa, mas na pura percepção e realidade daqueles que vivem o seu dia a dia por lá, observando desde um simples lanche no almoço, a um jantar sem sofisticação.

Apesar do PIB americano registrar um crescimento de 2,2% em 2012, muito maior que o nosso no mesmo período, que deve ficar por volta de 1%, o resultado do último trimestre nos EUA, ainda um número não oficializado para ambos, foi muito ruim registrando uma queda de 0,1%. É o primeiro resultado negativo desde 2009, influenciado, segundo os analistas, pelo atraso na aprovação do programa de impostos para 2013, o chamado abismo fiscal, que gerou muita incerteza para o contribuinte americano. Mas nem tudo é ruim neste número negativo do quarto trimestre. Neste período os consumidores americanos gastaram a um ritmo maior, passando de 1,6% no terceiro trimestre, para 2,2% neste último; isto é um bom indicador e mostra a vontade e confiança do consumidor em ir às compras; lembrando que nos EUA não há 13º salário no final de ano, mas muitos recebem um bônus anual e, junto com o período das festas de final de ano, estes ajudam a impulsionar os gastos.

A carne bovina, ou o setor de bovinos em geral, está passando tempos difíceis nos EUA, além dos preços altos que estão afugentando parte de seus consumidores. O rebanho tem diminuído gradativamente desde 2010. No inicio de 2013 o rebanho americano atingiu o menor nível desde 1952, totalizando 89,3 milhões de cabeças (incluindo bezerros); as vacas representaram 29,3 milhões de cabeças e também é o menor nível desde 1962. Esta baixa no rebanho é reflexo da seca que desde 2010 castiga de forma dura o meio oeste americano, celeiro do rebanho bovino americano, que teve em 2012 sua seca mais sevara até agora, gerando uma crise forte no setor pecuário. Muitos criadores foram forçados a mandar suas vacas para abate em 2012 e muitos animais foram mais cedo para o confinamento, para fugir da condição do clima, na tentativa de recuperar um pouco os prejuízos. Mesmo agora no início de 2013 a seca continua e a liquidação de vacas segue em alta. Todo este ciclo tem sido negativo na geração de aumento do rebanho americano. O ano promete ser muito desafiador, ou também, segundo o relatório do USDA, um “ano de solavancos na estrada do rebanho americano”.

Enquanto o rebanho bovino “emagrece”, as aves e suínos crescem em produção. Não são crescimentos expressivos, mas começam a preencher as lacunas deixadas pelos bovinos no mercado. Os preços mais firmes dos produtos de aves e a previsão de demanda alta encorajam o aumento da incubação, mesmo com a incerteza do preço da ração baseada no milho.

Portanto, continuar comendo carne nos EUA não vai ser tarefa fácil. Oportunidades para mais importação de produtos bovinos podem ser geradas ao longo de 2013 e quem sabe o Brasil pode ter uma chance, ainda este ano, de estar com seu produto in natura nos EUA.

Hudson Carvalho Silveira é formado em Engenharia Química Industrial com MBA em Administração pela Fundace-USP. Possui experiência de 16 anos no setor, em empresas como Wal-Mart Brasil, Bertin e JBS-Friboi. Hoje, atua como consultor internacional no segmento de alimentos

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