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Marfrig pós-Keystone mira hambúrguer

Após anos lutando contra o endividamento excessivo, a brasileira Marfrig Global Foods, segunda maior produtora de carne bovina do mundo, sacramentou na última sexta-feira passada aquele que pode ser o passaporte para uma “nova era”. Ao concluir a venda da subsidiária Keystone à Tyson Foods, por US$ 2,2 bilhões, a Marfrig reduziu sua dívida líquida de US$ 4,2 bilhões praticamente pela metade.

A situação de caixa confortável e o baixo endividamento também abriram oportunidades. O Valor apurou que a Marfrig fez recentemente uma oferta pelos ativos de bovinos da BRF na Argentina e também propôs assumir a produção de hambúrguer da BRF no Brasil, que hoje é feita em Várzea Grande (MT) e passaria a ser terceirizada. Na prática, a Marfrig compraria os equipamentos da unidade. Procurada, a BRF não comentou. A Marfrig, por sua vez, diz que não comenta rumores de mercado.

A proposta foi bem recebida na BRF, mas ainda não está fechada disseram duas fontes.. Pelos termos da oferta, a Marfrig forneceria hambúrguer para a BRF, que é líder desse mercado no Brasil com as marcas Sadia e Perdigão. Inicialmente, a BRF não pretendia se desfazer de ativos no Brasil.

Para reduzir as dívidas, a companhia comandada por Pedro Parente colocou à venda as operações na Argentina, na Tailândia e na Europa. A intenção da BRF é angariar R$ 3 bilhões com a venda dos negócios. Os bancos Bradesco BBI e Itaú BBA assessoram a BRF na operação.

Para a Marfrig, crescer em hambúrguer se tornou essencial, por ser mais rentável que a produção de carne bovina. Além da oferta pelos ativos da BRF, a Marfrig está investindo R$ 90 milhões na construção de uma fábrica de hambúrguer Bataguassu, no Estado de Mato Grosso do Sul.

Nos EUA, onde controla a National Beef – o quarto maior frigorífico do país -, a Marfrig quer ampliar a produção de hambúrguer da megafábrica de Ohio, que deixará de ter o McDonald’s como cliente exclusivo. Essa unidade tem capacidade para produzir cerca 90 mil toneladas ao ano, mas só ocupa 75% do total.

Em entrevista concedida ao Valor na sexta-feira para comentar a conclusão da venda da Keystone, o CEO da Marfrig, Eduardo Miron, não descartou a possibilidade de fazer pequenas aquisições. Na ocasião, a oferta pelos ativos da BRF no Brasil não foi tratada.

Questionado pelo Valor sobre o interesse da Marfrig no ativos da BRF na Argentina, o CEO da companhia evitou comentar transações específicas, mas não negou a possibilidade. O foco de eventuais aquisições da Marfrig, disse, são operações de industrializados à base de carne bovina. “[O ativo] pode estar na Argentina, no Uruguai. Onde nós acharmos ter retorno adequado, baseado naquele pilar de solidez financeira. Não descartamos”, argumentou Miron.

No caso da Argentina, o interesse da Marfrig mostra uma mudança de status. Em abril de 2016, a empresa vendeu ao fundo chinês Foresun três frigoríficos, ficando com apenas uma unidade no país sul-americano. À época, os frigoríficos amargavam perdas derivadas da taxação às exportações, medida adotada na gestão Cristina Kirchner que reduziu severamente o rebanho do país.

No entanto, o cenário agora é outro. Sob o governo do presidente argentino Mauricio Macri, as exportações foram estimuladas. “Com o câmbio [atual], a Argentina é uma operação rentável”, sustentou o CEO da Marfrig.

Parte dos ativos que a BRF tem na Argentina fazem muito sentido para a nova estratégia de crescimento da Marfrig. No país sul-americano, a BRF controla a Quickfood, uma companhia listada na bolsa de Buenos Aires. Dona da Paty, a marca líder em hambúrguer no Argentina, e de um abatedouro de bovinos, a Quickfood já pertenceu à Marfrig.

No fim de 2011, no entanto, a BRF vendeu parte das operações no Brasil à Marfrig e, em troca, ficou com a Quickfood. Entre janeiro e setembro deste ano, o faturamento da Quickfood totalizou 5,6 bilhões de pesos (o equivalente a US$ 150 milhões).

Em relatório divulgado em julho, o Bradesco BBI estimou que a BRF gastou US$ 112 milhões em 2011 para assumir a Quickfood. Na Marfrig, dinheiro não parece ser problema. Com a venda da Keystone, US$ 1,4 bilhão entraram no caixa na última sexta-feira. Desse total, já usou US$ 1 bilhão para quitar o empréstimo-ponte feito com Rabobank e Bradesco. Sobram, US$ 400 milhões.

Fonte: Valor Econômico.

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