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Marfrig elimina cargo de CEO global e vislumbra IPO nos EUA

Em um movimento surpreendente, a Marfrig Global Foods decidiu simplificar a gestão, eliminando a posição de CEO global, que era ocupada por Eduardo Miron. Com a mudança, a companhia será liderada por dois executivos, que vão se reportar ao conselho de administração presidido pelo empresário Marcos Molina.

Na América do Sul, a empresa será comandado por Miguel Gularte, que assume como CEO da Marfrig. Na América do Norte, por Tim Klein. Ambos já lideravam as operações regionais, mas Gularte se reportava a Miron.

As mudanças não se restringem ao comando. O Valor apurou que também está em curso um processo de concentração das dívidas em dólar do grupo na National Beef, operação americana que representa em torno de 70% da receita da Marfrig.

Ao colocar a dívida em dólar sob a gestão da National Beef — mais de US$ 3 bilhões em bonds —, a empresa vê espaço para cortar as despesas com juros ao longo do tempo. A mudança também deve azeitar as relações da National, que é a quarta maior indústria de carne bovina dos EUA, com o mercado financeiro. Se bem sucedido, esse movimento pode pavimentar o caminho para a companhia listar ações no mercado americano.

“A abertura nos EUA será mais rápido do que se imagina”, disse uma fonte, ponderando que a recuperação dos mercados, que estão sob forte pressão devido à pandemia do coronavírus, é fundamental para a listagem de ações do National Beef nos Estados Unidos.

A Marfrig ganhou mais poder na National no fim do ano passado, ao comprar a participação de 30% que a firma de investimentos Jefferies tinha na empresa. Com essa aquisição, que custou US$ 860 milhões, a companhia brasileira aumentou sua fatia de 51% para 82% e, de quebra, ficou livre de um acordo de acionistas draconiano — os dividendos pagos aos minoritários da National drenavam a capacidade da companhia gerar caixa a seus acionistas no mercado brasileiro.

Do ponto de vista de gestão, a Marfrig vai oficializar o que já ocorria na prática: Gularte e Klein têm bastante autonomia e já gerenciavam o capital de giro, o coração financeiro de um frigorífico. Em um certo sentido, o papel de Miron havia se esvaziado com a melhora da situação financeira da companhia nos últimos anos.

De perfil financeiro, o executivo que agora deixa a Marfrig foi fundamental no processo de saneamento das dívidas da empresa brasileira. Na companhia, Miron liderou, como diretor de finanças e de relações com investidores, a venda da Keystone à americana Tyson Foods, por US$ 2,4 bilhões, em 2018. Mais recentemente, ele participou da oferta de ações que culminou na saída do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do capital da Marfrig.

Gularte, por outro lado, tem experiência operacional. Com passagens por Minerva e JBS, ele foi contratado pela Marfrig no segundo semestre de 2018 para reestruturar o negócio de carne bovina na América do Sul — sobretudo no Brasil, onde a companhia queimava caixa constantemente.

De lá para cá, reviu o parque fabril, investindo em abatedouros mais rentáveis — com habilitação para exportar a mercados cobiçados como a China — e fechando unidades pouco rentáveis, como os frigoríficos de Nova Xavantina (MT), Pirenópolis (GO), Paranaíba (MS) e, mais recentemente, Tucumã (PA).

Dança das cadeiras

Junto com Miron, também deixam a Marfrig Marco Spada, que exercia cargo de vicepresidente de finanças e de relações com investidores, e Fábio Vasconcelos, vicepresidente de planejamento.

Em comum, os três executivos têm passagem pela Cargill — eles foram integrados à Marfrig depois da compra da Seara, que pertencia ao grupo americano até 2009. Posteriormente, em 2012, a Seara foi vendida à JBS.

Com a saída de Spada, o executivo Tang David, que já trabalhava na área financeira da Marfrig, foi nomeado vice-presidente de finanças e de relações com investidores.

A estimativa é que as mudanças na cúpula — com a extinção de uma “holding gerencial” — permitam à Marfrig economizar cerca de R$ 60 milhões por ano.

Recompra de ações

No início desta terça-feira, a Marfrig informou que seu conselho de administração aprovou um programa de recompra de até 5,91 milhões de ações ordinárias (R$ 44,8 milhões) a serem pagas com reservas de capital e de lucro disponíveis.

Segundo fato relevante divulgado pela empresa, circulam no mercado 383,3 milhões de ações ordinárias da empresa, o que significa que o plano de recompra abrange 0,83% do total de ações de emissão da companhia e 1,54% das ações em circulação.

A operação de aquisição das ações será realizada a preço de mercado e intermediada pela corretora do CreditSuisse Brasil.

Fonte: Valor Econômico.

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