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Marfrig deixa diversificação de lado e volta a focar carne bovina

Quase uma década depois de deflagrar uma agressiva estratégia de expansão e diversificação que envolveu a aquisição de mais de 40 empresas em diversos países, a Marfrig retornou às origens, mas com faturamento dez vezes maior (R$ 21 bilhões em 2014) e internacionalizada. Às voltas com um pesado endividamento, a companhia abandonou o projeto de se tornar um player global no mercado de aves e suínos e se desfez de algumas das maiores apostas que fez no passado recente.

Com os desinvestimentos, a empresa voltou a concentrar o foco na produção de carne bovina e a priorizar o atendimento a grandes redes de restaurantes – o chamado food service -, perfil muito semelhante ao tinha antes de abrir o capital, em 2007, e mesmo na época de sua fundação, em 1986.

Após lançar uma série de planos de desalavancagem e vender ativos cobiçados como a Seara, a Marfrig entrou em um “círculo virtuoso”, assegura seu vice-presidente de planejamento e relações com investidores, Marcelo Di Lorenzo. Anunciada no dia 21 de junho, a venda da subsidiária irlandesa Moy Park para a JBS, por US$ 1,5 bilhão, altera “estruturalmente” a capacidade de geração de caixa da empresa, segundo ele.

Di Lorenzo, que está há três meses na Marfrig, reconhece que a pretensão inicial de fazer o IPO da Moy Park na bolsa de Londres não seria suficiente para levar o nível de alavancagem da Marfrig a um patamar confortável, e a venda de uma fatia minoritária em outra divisão de negócio – Marfrig Beef ou Keystone – seria necessária. Com a venda da Moy Park, afirma, o endividamento está equacionado.

Segundo ele, a alienação da Moy Park permitirá simultaneamente a redução do índice do endividamento – de 6,6 vezes em março para algo entre 3,5 vezes e 3,7 vezes no fim do ano – e a aceleração de investimentos que vinham sendo postergados nos EUA e, sobretudo, na Ásia.

Segundo ele, a economia de juros que a Marfrig conseguirá com a venda da Moy Park, que deverá ser concluída até o fim do ano, vai além dos R$ 300 milhões anuais estimados inicialmente. De acordo com ele, esse montante reflete apenas a economia decorrente da redução da dívida, mas a empresa também deve conseguir reduzir o custo médio da dívida, quer era de 7,7% ao ano no fim do ano, em 150 pontos-base, estima.

É justamente com essa economia decorrente da redução dos custos da dívida que a Marfrig fará investimentos a partir de 2016. A empresa ainda está “refinando” o plano de aportes, mas Di Lorenzo ressalta o potencial de crescimento na Ásia a partir da Keystone, subsidiária especializada no atendimento a grandes redes de restaurantes que tem fábricas de alimentos processados à base de carnes nos EUA, China, Tailândia, Malásia, Austrália e Coreia do Sul.

Di Lorenzo ressalta que, mesmo diante das restrições financeiras, a Keystone já vinha crescendo 25% ao ano.

Entre os potenciais investimentos da Keystone está a planejada fábrica de processados na Indonésia. A empresa já tem um terreno e um sócio estratégico local, mas teve de postergar o aporte. Nos EUA, Di Lorenzo também enxerga oportunidades para angariar mais clientes.

Com a situação financeira mais confortável, a Marfrig poderá aproveitar as sinergias entre a Keystone e Marfrig Beef, que reúne os ativos de carne bovina no Mercosul – muitos dos quais adquiridos desde o ano de 2006. Nesse sentido, o grande salto deve se dar nas exportações para China e EUA a partir do Brasil, mercados recém-abertos. Di Lorenzo defende que, dentre os três principais frigoríficos brasileiros, a Marfrig é a maior beneficiada com a abertura desses mercados pela presença da Keystone, que tem 5 mil funcionários na Ásia e 7 mil nos EUA.

Com a desalavancagem e as perspectivas de retorno a uma trajetória mais sustentável de crescimento, as ações da empresa vêm reagindo. Desde o anúncio da venda da Moy Park, as ações da Marfrig subiram 13,25% na BM&FBovespa. Antes disso, porém, acumulavam baixa de 20,82% no ano.

Fonte: Valor Econômico, adaptada pela Equipe BeefPoint.

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