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Maior produção de carne bovina e intensificação sustentável da produção podem reduzir emissões do Brasil

A maior produção de carne bovina no Brasil poderia, de fato, reduzir suas emissões nacionais, maximizando o carbono armazenado pelo pasto, de acordo com um novo estudo. Porém, os benefícios somente são obtidos se não forem desmatadas mais florestas para a criação de gado.

Essas descobertas contra-intuitivas diferem de estudos recentes que argumentaram que conter a crescente demanda por carnes e produtos lácteos é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

O que isso significa para dietas conscientes com relação à mudança climática? Deveríamos comer mais carne para limitar a mudança climática?

Desmatamento

A carne bovina é, de longe, a carne menos amigável ao clima. A produção de um quilo de carne bovina emite em média 290 quilos de CO2eq. As emissões de gases de efeito estufa vêm da conversão e fertilização da terra para pastagem, produção de grãos para ração, transporte de animais e de gases e esterco produzidos pelos animais.

O Brasil possui mais de 200 milhões de bovinos e é o segundo, depois apenas da Índia, em termos do quanto exporta de carne bovina por ano.

Historicamente, a indústria de carne bovina tem sido uma das principais direcionadoras por trás do desmatamento do Brasil. Desde os anos sessenta, aproximadamente 15% da floresta amazônica no Brasil já foi desmanada por causa da produção agropecuária e cerca de 80% dessa terra desmatada agora é usada como pasto para o gado.

Porém, há evidências de que a ligação entre desmatamento e produção de carne bovina foi quebrada, disseram os autores do novo estudo, publicado na Nature Climate Change. Rafael de Oliveira Silva, estudante de PhD da Universidade de Edinburgo e da Faculdade Rural da Escócia (SRUC) e professor Dominic Moran, economista da SRUC, disseram:

“Após alcançar o pico em 2005, as taxas de desmatamento mostraram uma tendência de baixa em todos os biomas brasileiros [habitats], enquanto a produção de carne bovina simultaneamente aumentou”.

“Se o desmatamento não é mais um problema, isso deixa mais espaço para a indústria de carne bovina reduzir as emissões”, disseram os pesquisadores, e essas reduções poderiam ser impulsionadas pelo aumento na demanda.

O estudo focou na região do Cerrado, onde cerca de um terço da carne bovina brasileira é produzida.

Aproximadamente 90% do gado de corte do Brasil é produzido a pasto. A maioria das pastagens é plantada com gramíneas tropicais do gênero Braquiaria, que são muito eficazes na absorção de CO2 da atmosfera e armazenamento do mesmo como carbono orgânico em suas raízes. Os estudos mostraram que, quando bem manejados, esses pastos podem ser usados para sequestrar carbono no solo.

A maior demanda por carne bovina pressiona os produtores a obter mais de seu pasto e aumenta o quanto de carbono eles armazenam, disse o trabalho, enquanto a demanda baixa tem efeito oposto. A menor demanda e os rebanhos menores requerem menos produção de pasto, reduzindo o incentivo para manter ou aumentar a produtividade; as pastagens então degradadas perdem matéria orgânica e os estoques de carbono do solo.

Os pesquisadores testaram esse efeito simulando o impacto nas emissões de carbono de um cenário “mantendo os negócios como sempre” de demanda por carne bovina em 2030 e seis cenários de maior (+10%, +20% e +30%) e menor (-10%, -10% e -30%) do que as demandas usuais, com os negócios como são, em 2030.

Pode-se ver os resultados no gráfico abaixo, que mostra a diferença nas emissões entre cada cenário e com relação ao cenário usual. Se as florestas são desmatadas para fornecer pasto (barras azul claro), então, as emissões pela maior demanda de carne bovina são muito maiores do que para os negócios usuais e para a menor demanda (gráfico esquerdo). Entretanto, sem desmatamento, as melhoras das pastagens (barras verdes) significariam que a maior demanda leva às menores emissões totais (gráfico da direita).

“Basicamente, se o desmatamento é mantido constante por uma política eficaz, então qualquer redução no consumo ou demanda provavelmente levará ao menor incentivo para manejo ou melhora nos pastos ricos em carbono. As emissões poderiam aumentar como resultado”.

Cerrado - Figura 0

Diferenças de porcentagens modeladas nas emissões acumuladas de carbono entre 2006 e 2030 em diferentes cenários de demandas por carne bovina, com desmatamento (gráfico da esquerda) e sem (gráfico da direita). DBAU significa business-as-usual (mantendo os negócios como sempre) da demanda por carne bovina em 2030, ou seja, sem alterações na demanda, enquanto DBAU-10% em diante significa cenários de menor demanda, e DBAU10% em diante significam maior demanda. As barras acima da linha de origem indicam aumentos nas emissões, enquanto as barras abaixo mostram reduções nas emissões. As linhas pretas finas mostram emissões totais para esse cenário. Fonte: de Oliveira Silva et al. (2016).

Avaliando em prazo mais longo, eventualmente haveria um limite para o quanto de carbono extra os pastos poderiam capturar e armazenar, disseram os pesquisadores, mas isso não seria alcançado por cerca de meio século.

Então, quanta diferença a maior demanda por carne bovina faria para as emissões totais do Brasil? Muita, disse Oliveira Silva e Moran. Essa é uma pergunta difícil, mas uma estimativa é de 10-20% das emissões anuais totais do Brasil. Como o Brasil é o décimo segundo maior emissões de CO2 do mundo, essa é uma parte considerável das emissões.

Os resultados do estudo já foram acrescentados na pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC), disseram os pesquisadores. As INDCs são promessas que os países enviam às Nações Unidas, determinando o quanto eles pretendem reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.

A INDC do Brasil diz que o país pretende recuperar 15 milhões de hectares adicionais de pastagens degradadas até 2020 e amentar em 5 milhões de hectares onde o uso da terra é rotacionado entre agricultura, pecuária e floresta – também até 2030.

É importante notar que as descobertas do novo estudo são baseadas em uma série de importantes suposições, disse Rob Bailey, diretor associado do Chatham House. Bailey não participou do estudo, mas foi co-autor de estudos recentes do Chatham House sobre demanda por carnes e produtos lácteos. A primeira suposição é de que os pecuaristas aumentarão a produtividade de suas pastagens quando não puderem expandir em florestas e a segunda é que um armazenamento adicional de carbono pelas pastagens serão tão significantes quanto esperado.

Tirando isso, o estudo mostra o quão importantes os métodos de produção de carne bovina são, disse Bailey. Ele disse que, não desmatando e recuperando as pastagens, pode-se ter mais carne bovina com menos emissões. No entanto, ele alerta que do ponto de vista da redução de emissões, a melhor coisa a se fazer é não derrubar árvores e recuperar pastagens degradadas, mas não ter vacas também.

Esse trabalho é de R. de Oliveira Silva, L. G. Barioni, J. A. J. Hall, M. Folegatti Matsuura, T. Zanett Albertini, F. A. Fernandes e D. Moran e foi publicado na NATURE CLIMATE CHANGE.

Mitigação dos gases de efeito estufa através da intensificação sustentável da produção pecuária no Cerrado brasileiro

 Outro artigo, publicado na EuroChoices, uma publicação científica da Agricultural Economics Society and European Association of Agricultural Economists (EAAE), da autoria de Rafael de Oliveira Silva, Luis Gustavo Barioni e Dominic Moran, discute a possibilidade de mitigação das emissões de gases de efeito estufa pela intensificação da pecuária no Cerrado.

 Resolver a questão das emissões da agricultura é central para o Plano Nacional sobre Mudança Climática do Brasil. Na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática em 2009 (UNFCCC COP 15), o Brasil propôs Ações Nacionalmente Apropriadas de Mitigação (NAMAs) como parte de seu compromisso (1). Para o período de 2010-20, as NAMAs estabelecem metas para a redução do desmatamento na Amazônia em 80% e em 40% no Cerrado.

O Cerrado (savana central brasileira) é uma importante área de produção pecuária e a adoção de recuperação de pastagens (recuperação de pastagens degradadas por tratamento químico e mecânico) e sistema integrados de lavoura-pecuária-floresta (agregação de diferentes sistemas de produção na mesma propriedade, como grãos, madeira, carne, leite e bioenergia) são também mirados visando reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Como essas medidas aumentam a produtividade (produção por hectare), evitam a necessidade de mais terras para aumentar a produção. Devido ao efeito de economia de terra dessas medidas relacionadas à pecuária, o Brasil espera reduzir as emissões líquidas em 101 a 126 milhões de toneladas (CO2 eq.) até 2020, comparado com projeções de base (isto é, considerando um negócio dentro de um cenário usual). Isso representaria 61% da redução total e 73% da contribuição agrícola.

A proposta NAMA é promulgada como parte do ambicioso programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que oferece empréstimos com juros baixos aos produtores rurais que adotarem medidas de mitigação. O ABC identificou mitigações específicas ou medidas de redução (Tabela 1). Até agora, não há análises para avaliar o custo-eficácia dessas medidas com relação a outras formas de reduzir as emissões.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina. Com uma produção de mais de 9 milhões de toneladas por ano, o país é responsável por aproximadamente 15% da produção global de 2012-13 (FAO, 2014). A produção brasileira é predominantemente à base de pasto em uma área de pastagem de aproximadamente 170 milhões de hectares (IBGE, 2014), principalmente com clima tropical único ou sub-úmido. Mas essa produção pode acarretar custos externos significativos, isto é, custos suportados pela sociedade em geral, como impactos ambientais. Para suprir a crescente demanda doméstica e de exportação, o governo reconhece a necessidade de impulsionar métodos para intensificação agrícola sustentável (SI). Isso implica aumentar a produtividade dos recursos, enquanto minimizam os impactos relacionados à conversão de habitats ricos em biodiversidade em pastagens e a geração de emissões de gases de efeito estufa.

Tabela 1: Plano ABC: política brasileira para desenvolver uma agricultura de baixo carbono

Captura de Tela 2016-06-01 às 17.08.02

Focando no Cerrado, os pesquisadores descreveram resultados de uma análise econômica da adoção de medidas focadas de redução de GEE para alcançar a redução de 40% nas emissões de GEE do Brasil até 2020 com relação às projeções de base. A análise levou em consideração custos privados e sociais e os benefícios (isto é, os benefícios de evitar o desmatamento). A análise é essencialmente um estudo SI baseado em modelo, demonstrando a extensão pela qual medidas específicas de eficiências de recursos na agricultura podem ajudar a equilibrar a produção e as emissões de GEE, enquanto acomodam o aumento da demanda dos consumidores por alimentos.

As pesquisas feitas até agora (Gouvello et al., 2011; Strassburg et al., 2014) sugerem que o aumento da produtividade pecuária por hectare – aumentando tanto a produtividade da forragem do pasto (PFP) como o desempenho animal – tem maior potencial para reduzir os impactos externos. Em particular, aumentar a PFP através de práticas de recuperação pode impulsionar o sequestro de carbono quando executadas em pastagens degradadas atualmente. Além disso, o aumento do desempenho animal através da suplementação alimentar pode reduzir significativamente as emissões diretas de metano.

O Cerrado

O Cerrado (Figura 1) é a segunda maior das seis zonas ecológicas brasileiras (biomas2). A região é responsável por quase 24% da área do país e é compartilhada entre 11 estados que têm a maior densidade de bovinos de corte. A região contém cerca de 35% do rebanho de bovinos de corte do Brasil (ANUALPEC, 2010). Com um clima tropical sub-úmido e estações úmidas e secas distintas, a área consiste de florestas tropicais, pastos e savana cujos solos ácidos são relativamente inférteis. A região é a segunda depois da Amazônia em sua contribuição para a mudança de uso da terra e emissões florestais no Brasil (Tabela 2).

O recente sucesso global da agricultura brasileira é frequentemente atribuído à expansão da produção no Cerrado (The Economist, 2010); às vezes, considerado a fronteira agrícola brasileira. A região também é vista como um modelo potencial para melhora na produtividade agrícola em outras savanas (por exemplo, africana).

Figura 1: Cerrado – savana central brasileira

Mapa cerrado

As pastagens plantadas no Cerrado, principalmente espécies de Brachiaria, cobrem aproximadamente 50 milhões de hectares (Sano et al., 2008), e ascendem a aproximadamente 34% da área total da pastagem no Brasil (IBGE, 2014). Aproximadamente 50% da pastagem do Cerrado é considerado como em algum estágio de degradação, isto é, a PFP é menor do que os níveis ótimos e é incapaz de se restaurar sozinha naturalmente. 

Tabela 2: Emissões líquidas da mudança de uso da terra e o setor florestal no Brasil em 2010

Captura de Tela 2016-06-01 às 17.09.39Nota: Emissões negativas são devido à remoção de CO2 pelas plantações florestais.

Fonte: Segunda Comunicação Nacional do Brasil à UNFCC (http://www.mct.gov.br/ index.php/content/view/326998/Full_Publication.html).

Na análise, foi usada a metodologia de curva de custos marginais de abatimento (MACC) para classificar o custo-eficácia de uma série de medidas de mitigação.

Captura de Tela 2016-06-01 às 17.10.30

As MACCs agrícolas são usadas para comparar os custos relativos à implementação dessas medidas e a quantidade de mitigação que oferecem sob condições médias de produção. As MACCs podem ser usadas para determinar o custo-eficácia relativa de cada medida em termos de custo por tonelada de CO2 mitigado. (Veja, por exemplo, Moran et al., 2010). Com essa informação, é possível definir as menores maneiras de custos para se alcançar uma dada meta de redução de GEE. Nesse caso, a MACC é derivada usando saídas de um modelo de programação linear multiperíodo. Foi representada a região do Cerrado como uma unidade única de produção (ou fazenda) e buscou-se maximizar o valor da produção sujeito a restrições econômicas e biofísicas (ver Box 1).

A seleção de medidas de mitigação de GEE foi baseada em revisão de literatura e na opinião de especialistas com relação à relevância e aplicabilidade de medidas específicas de mitigação nas condições do Cerrado. As medidas avaliadas são restauração de pastagem, terminação em confinamento, uso de concentrados e suplementos proteicos e inibidores de nitrificação (ver Tabela 3 para a descrição dessas medidas).

Tabela 3: Descrição das medidas de mitigação avaliadas

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A análise examina as emissões diretas das medidas aplicadas nas fazendas e não leva em consideração emissões que poderiam surgir como resultado das cadeias de fornecimento alteradas: os chamados impactos do ciclo de vida.

Valores de base e construção da MACC

Os cenários de mudança do uso da terra, incluindo medidas de mitigação, precisam ser avaliados com relação a valores plausíveis de base sem atividade de mitigação. Nosso cenário de base é baseado em previsões de demanda de carne bovina do Brasil – consistindo do consumo doméstico e das exportações – e mudanças projetadas na área de pastagens para o Brasil, de 2006 a 2030, derivadas de Gouvello et al. (2011).

No cenário de base, a produção de carne bovina do Cerrado representa em média aproximadamente 122 milhões de toneladas de CO2 eq. por ano de 2010 a 2030 (Figura 2). Esse dado inclui a fermentação entérica, os dejetos animais (emissões de excreta), emissões de fertilização do solo (através da nitrificação), pastagens degradadas (portanto, perda de estoques de carbono) e conversão do uso da terra direcionada pela produção de carne bovina. As emissões acumuladas de 2010 a 2020 são responsáveis por cerca de 1.250 milhões de toneladas (CO2 eq.) ou 2.550 milhões de toneladas de 2010 a 2030.

Cerrado - Figura 2

Em termos relativos, a fermentação entérica contribui principalmente: 66% das emissões totais da agricultura, seguida pela conversão do uso da terra, com 26%. Os resultados também mostram que a degradação das pastagens e os dejetos animais são fontes significativas de emissões, cada uma representando 4% das emissões agrícolas totais (Figura 3). As emissões associadas com o uso de fertilizantes de nitrogênio não são significantes, uma vez que apenas pequenas quantidades são usadas para fertilizar os solos de pastagens do Cerrado.

Cerrado - Figura 3

Gouvello et al. (2011) sugerem que as emissões totais de GEE do Brasil de energia, transporte, dejetos, desmatamento, pecuária e agricultura seriam de cerca de 1,7 bilhão de toneladas (CO2 eq.) em 2030. Os resultados apresentados aqui sugerem que a produção de carne bovina no Cerrado será responsável por cerca de 152 milhões de toneladas, correspondendo a 9% do total nacional.

A taxa de conversão média estimada de habitat nativo para o período de 2030 é de aproximadamente 246.000 hectares por ano. No cenário de base, considerou-se que a PFP permanece nos níveis de 2006, e que a taxa de conversão calculada pode ser interpretada como a área adicional requerida para a produção de carne bovina no Cerrado, para suprir a demanda projetada de carne bovina abaixo dos níveis PFP de 2006.

A Tabela 4 mostra o potencial de redução e a custo-eficácia das medidas de mitigação descritas na Tabela 3. A Figura 4 mostra o custo-eficácia marginal das medidas.

Tabela 4: Custo-eficácia (CE) e potencial de redução (AP) de medidas de mitigação

Captura de Tela 2016-06-01 às 17.13.17

Três das cinco medidas de mitigação analisadas – suplementação com concentrado, suplementação com proteína e restauração de pastagem – tiveram custo-eficácia negativa. Isso significa que a adoção dessas medidas gera economias de custo na produção de carne bovina, enquanto também reduz as emissões.

Cerrado - Figura 4

As medidas de suplementação aumentam os lucros reduzindo o ciclo de vida dos novilhos. Ao produzir fonte extra de alimento durante o inverno, quando a produtividade as forragens está em níveis baixos (devido às baixas chuvas), essas medidas permitem que o sistema mantenha taxas ideais de lotação independentemente das variações de produtividade sazonais. Isso contribui para maiores lucros.

A restauração de pastagens fornece a maior oportunidade para reduzir as emissões na região do Cerrado. Isso devido à combinação de uma grande área aplicável (aproximadamente 60 milhões de hectares) que é baseada em gramíneas profundamente enraizadas (principalmente variedades de braquiária) capazes de sequestrar quantidades significantes e carbono no solo e devido ao fato de a maior produtividade na produção de alimentos reduzir a necessidade de claras áreas adicionais para pastagem.

O potencial de redução (AP) para restauração de pastagem é de aproximadamente 27 milhões de toneladas de CO2 eq. por ano, constituído por dois componentes: sequestro de carbono e o fato de evitar a conversão do uso da terra. Essa última direcionada pela necessidade de limpar terra para pastagem, representando 96% desse potencial.

A restauração de pastagens melhoraria a produtividade média das forragens no Cerrado entre 10 e 11 toneladas de matéria-seca por hectare por ano, um aumento de 12% com relação aos dados de base. Esse aumento levaria à taxa média de sequestro de 0,32 toneladas de CO2 eq. por hectare por ano.

O AP de terminação em confinamento é de 470.000 toneladas de CO2 eq. por ano, mas o custo da medida, de cerca de R$ 61 por tonelada de CO2, é alto com relação à suplementação. Isso é devido aos grandes custos de investimentos para instalações de confinamento e os custos de mão de obra especializada.

Os inibidores de nitrificação são as medidas menos custo-eficazes consideradas. Porém, nossa análise somente considerou a aplicação de nitrogênio inorgânico para pastagens e fertilização de lavouras e excluiu a aplicação de dejetos animais. Apesar de o uso de inibidores não ser viável para animais a pasto, pode ser aplicado ao esterco de animais confinados.

Em conclusão, os resultados indicam que a recuperação de terras degradadas oferece a maior oportunidade para reduzir as emissões no Cerrado considerando a demanda futura projetada por carne bovina. O potencial de redução dessa medida é cerca de 20 vezes maior do que todas as outras medidas combinadas.

Medidas específicas

Os resultados sugerem que uma contribuição significativa ao objetivo de intensificação sustentável do Brasil pode ser feita através de medidas específicas para melhorar a produtividade do sistema em termos de produção por hectare. Especificamente, a restauração de pastagens, o uso de suplementos nutricionais e a terminação de animais em confinamento podem reduzir as emissões do setor em 24% até 2030 comparado com o cenário atual “de sempre”. Além disso, a adoção de medidas de economia de custos na produção oferece o potencial de obter virtualmente toda essa redução nas emissões. Atualmente, estima-se que somente 10% das pastagens brasileiras estão sendo manejadas usando práticas de restauração. Obter uma maior taxa de restauração pode provavelmente implicar em alguns custos iniciais de investimentos para promover melhores práticas de produção e essa é a proposta do programa ABC do governo.

O ABC é um plano ambicioso para estimular a adoção de medidas de mitigação pelos produtores e criadores visando cumprir as metas de redução de GEE apresentadas na COP 15. O ABC é atualmente a maior fonte de crédito subsidiado para o setor agrícola. O plano visa a restauração de 15 milhões de hectares de pastagens em 10 anos, o que levará à redução de até 104 milhões de toneladas de GEE (CO2 eq.), aproximadamente 64% do potencial total de mitigação do programa. O programa não inclui outras medidas relevantes, como suplementação alimentar, que normalmente seriam consideradas como particularmente rentáveis.

A análise discutida nesse artigo pode ser mais refinada pelo uso de uma representação mais detalhada da heterogeneidade biofísica do bioma Cerrado e um tratamento mais detalhado de como melhorar a produtividade da terra existente em agricultura poderia contribuir para a redução no desmatamento. Essas questões são dignas de pesquisas futuras. No entanto, destacando as opções de política custo-eficazes para mitigação de GEE, nossa análise contribui para entender os processos de intensificação sustentável que são relevantes para a produção pecuária brasileira.

Notas

1 NAMAs são essencialmente compromissos de mitigação voluntários de países em desenvolvimento que podem ser oferecidos pela validação à UNFCCC e potencialmente para compensação internacional (através de canais multilaterais ou bilaterais ou mercado) na pendencia de certificação de sua qualidade (isto é, permanência). Devido à sua complexidade biofísica, até agora, NAMAs agrícolas têm sido lentos em se desenvolver com relação aos de outros setores.

2 Os outros são Amazônia, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa (IBGE, 2014). Apesar de o desmatamento da Amazônia ter desacelerado de forma significativa desde 2005, a região ainda domina as emissões nacionais devido à mudança no uso da terra e floresta (Tabela 1).

Fontes: EuroChoices, Nature Climate Change e www.carbonbrief.org, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

1 Comment

  1. Anderson Polles disse:

    Parabéns Equipe Beef Pointe pelo resumo dos artigos.
    Gostaria de me aprofundar no assunto, poderiam fornecer a Bibliografia Citada.
    Att,

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