Com o terreno cada vez mais pavimentado para fazer a listagem de ações nos Estados Unidos, a JBS reportou nesta quarta-feira o maior faturamento trimestral da história, com lucro acima da expectativa do mercado.
No terceiro trimestre, a gigante das carnes lucrou R$ 3,1 bilhões, o que significa quase nove vezes o desempenho do mesmo intervalo do ano passado, quando a companhia registrou lucro de R$ 356 milhões.
Ao Valor, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, enfatizou os esforços que o grupo vem fazendo nos últimos anos para reduzir as despesas com juros, o que se traduz em maior geração de caixa para os acionistas.
Em um ano, a dívida líquida da empresa diminuiu US$ 1,7 bilhão, chegando a US$ 9,1 bilhões em 30 de setembro. As despesas financeiras recuaram US$ 13,1 milhões ante o terceiro trimestre de 2019. Fortalecida pela forte geração de caixa, a companhia trouxe o índice de alavancagem para o menor nível histórico, saindo de 2,1 vezes em junho para 1,83 vez. O indicador em dólar, principal moeda da JBS, diminuiu de 1,75 vez para 1,6 vez.
A saúde financeira coloca a companhia dos irmãos Batista numa situação “privilegiada”, afirmou Guilherme Cavalcanti. A JBS pode, ao mesmo tempo, remunerar os acionistas, fazer investimentos orgânicos e prospectar aquisições. O caixa recheado e o baixo endividamento abrem um espaço bilionário para o investimento. Segundo Cavalcanti, a JBS precisaria investir US$ 1,6 bilhão para que o índice de alavancagem em dólares atingisse 2 vezes. Para chegar a 2,5 vezes, uma relação confortável, o nível de investimentos teria de chegar a US$ 5 bilhões. “É até difícil alavancar”.
Nesse cenário, a JBS mantém a todo vapor o pacote de R$ 8 bilhões em investimento no Brasil até 2024. Os aportes, anunciados no ano passado, estão concentrados na Seara, negócio de alimentos processados e grande aposta da empresa no Brasil. De acordo com Tomazoni, a intenção é dobrar a subsidiária de tamanho, ampliando a produção de alimentos processados de maior valor agregado.
Diante do momento favorável, o executivo reiterou o objetivo da JBS de fazer a listagem de ações nos EUA. Ainda não há uma data definitiva para a operação, mas Tomazoni acredita que ela deverá ocorrer em 2021. De acordo com ele, a empresa ainda avalia os desdobramentos da segunda onda de covid-19 e, a depender do nível de atenção que o tema exija, a listagem pode aguardar um pouco mais. “Tão logo tenha maior clareza do que vai acontecer com a pandemia, vamos definir a data. Precisamos estar focados e ter dedicação para fazer. [Mas] acho que vai ser no ano que vem”, disse.
No front operacional, Tomazoni está satisfeito com o desempenho. No terceiro trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla inglês) ajustado da JBS chegou a R$ 7,9 bilhões, incremento de 35% na comparação anual. A margem Ebitda ajustada teve um ligeiro aumento de 0,1 ponto, atingindo 11,4% no período.
O câmbio favorável, o forte ritmo de exportações de carne bovina e a rentabilidade acima da média histórica na indústria frigorífica americana levaram a Marfrig Global Foods a um dos melhores resultados de sua história no terceiro trimestre.
A empresa controlada por Marcos Molina reportou nesta quarta-feira que seu lucro líquido cresceu mais de seis vezes no trimestre, para R$ 673,6 milhões. Entre julho e setembro do ano passado, a companhia brasileira havia lucrado cerca de R$ 100 milhões.
Favorecida pelo dólar valorizado, a receita líquida da Marfrig atingiu R$ 16,8 bilhões no terceiro trimestre, crescimento de 32% na comparação anual. Do total de vendas, 72% foi gerado pela National Beef, a operação americana do grupo. Como também é grande exportadora na América do Sul, a receita em dólar representa 89% do faturamento total da companhia.
Nesse cenário, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Marfrig aumentou 47%, totalizando R$ 2,2 bilhões no terceiro trimestre. A margem Ebitda ajustada subiu 1,2 ponto — de 11,8% para 13%.
Em entrevista ao Valor, o CEO da National Beef, Tim Klein, disse que as perspectivas para o negócio americano, grande responsável pela expressiva geração de caixa do grupo brasileiro, permanecem positivas. O ciclo da pecuária nos EUA continuará favorável, com oferta confortável de gado, pelo menos até 2021.
De acordo com Klein, a margem de lucro do negócio deve permanecer em níveis acima da média histórica para a indústria americana — no passado recente, um dígito “alto” era uma margem Ebitda positiva.
No terceiro trimestre, a margem Ebitda ajustada do National Beef foi de 14,4%, estável na comparação anual. Em relação ao segundo trimestre, porém, houve uma queda de 8,5 pontos. Trata-se, na verdade, de uma normalização após o cenário atípico gerado pela covid-19, que levou ao fechamento temporário de vários frigoríficos nos EUA e fez o preço da carne disparar ao mesmo tempo em que derrubou as cotações do gado abatido.
Na América do Sul, o desempenho operacional da Marfrig melhorou, puxado pelo ritmo aquecido das exportações e pelas vendas de hambúrguer. De julho a setembro, a receita líquida do negócio sul-americano cresceu 26%, para R$ 4,8 bilhões. O Ebitda ajustado mais que dobrou, de R$ 224 milhões para R$ 505 milhões. Com isso, a margem Ebitda ajustada subiu 4,6 pontos, a 10,5%.
De acordo com Miguel Gularte, CEO da Marfrig, o desempenho reflete os ganhos de produtividade industrial, com maior rendimento de carne bovina por carcaça. Além disso, a demanda chinesa permanece aquecida com as compras para abastecer o consumo do Ano Novo Lunar, que ocorre em fevereiro.
Na área de hambúrguer, menina dos olhos de Marcos Molina, a Marfrig vai pisar no acelerador. Ao Valor, Gularte afirmou que o conselho de administração da companhia aprovou o investimento na construção de uma nova fábrica de hambúrguer em Bataguassu (MS). A unidade deverá entrar em operação no segundo semestre do próximo ano.
O investimento, de valor não revelado, mostra o quão aquecido está o mercado — recentemente, a Marfrig aumentou a capacidade de produção da fábrica de hambúrguer de Várzea Grande (MT), mas as três linhas adicionais deverão atingir a plena capacidade no começo de 2021, de acordo com Gularte.
Na gestão financeira, a Marfrig mantém o foco na redução das despesas com juros. No terceiro trimestre, a companhia as reduziu em R$ 76 milhões na comparação com mesmo período do ano passado, afirmou o vice-presidente de finanças e de relações com investidores do empresa, Tang David. O custo médio da dívida também caiu, de 6,74% ao ano para 5,89% na mesma comparação.
O executivo também ressaltou a redução do índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), que saiu de 2,07 vezes, em julho, para 1,88 vez no fim de setembro. De acordo com ele, a Marfrig vem trabalhando para voltar a pagar dividendos em 2022 — com os resultados positivos do ano, a companhia vai compensar prejuízos acumulados, explicou David.
Questionado sobre a intenção da Marfrig de abrir o capital do negócio americano nos Estados Unidos, o vice-presidente de finanças reafirmou que “não há nada na mesa”, ainda que a empresa trabalhe para estar pronta para tal quando o conselho de administração decidir.
Fonte: Valor Econômico.