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Louis Pascal de Geer fala sobre o crescimento e a concentração da indústria frigorífica

BeefPoint: O que você acha das últimas aquisições, fusões e arrendamentos de grandes frigoríficos brasileiros?

Louis Pascal de Geer: Num lado é realmente fantástico como os grandes grupos brasileiros estão se diversificando e se transformando em produtores de proteínas animais e em indústrias mundiais de alimentos.

Cada aumento de escala e de produtos requer mais conhecimentos e principalmente investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento como também uma administração extremamente ágil e competente, este vai ser um enorme desafio para quem acabou de fazer a parte mais fácil desta empreitada.

O grande perigo é a tentação de se fazer uma centralização excessiva de poder de decisão, tanto na administração como também nas pesquisas, ocorrendo uma perda de contato direto com a realidade dos fornecedores e processadores das matérias primas.

BeefPoint: Você acredita que o processo de consolidação da indústria frigorífica e a formação de grandes empresas multinacionais trarão mais vantagens ou desvantagens para a pecuária brasileira? Como o produtor deve agir nesse momento?

Louis Pascal de Geer: Obviamente vai se aumentar muito o conhecimento em produção de alimentos no Brasil principalmente se instituições de pesquisa e ensino participarem ativamente na criação e utilização desses conhecimentos, porém se estes ficarem presos numa caixa preta dentro das empresas, não farão jus aos investimentos com dinheiro público do BNDES e aí não estaremos aproveitando o ganha-ganha que é possível para a sociedade brasileira e para cada um dos elos da cadeia de proteínas animais.

Tem que se criar e utilizar verdadeiros centros de excelência em tecnologia de alimentos. Para mim ainda temos muito a fazer, como por exemplo, em Barretos que temos uma tradição centenária em processamento de carnes, mas ainda não tem um centro de referência e excelência de produção de alimentos.

É natural que haja apreensão e até certo medo nos produtores e a única resposta, no meu ver, é de formar alianças e cooperativas ou se qualificar como o fornecedor preferido dos grandes frigoríficos, cumprindo todas as exigências de certificação de processos e qualidade exigidos pelos consumidores dos mercados mais exigentes e lucrativos, e assim produzir bem o que as indústrias e consumidores finais querem e podem renumeram melhor. Vamos ter cada vez menos espaço para os amadores e especuladores na cadeia de carne, qualquer que seja a origem ou atividade.

BeefPoint: Em relação ás negociações dos últimos dias (JBS+Bertin e Marfrig+ Margen e MERCOSUL), como o Governo deve atuar para garantir que as mesmas não causam impactos negativos para o setor?

Louis Pascal de Geer: A formação de cartel é um perigo óbvio e real que pode ser combatida com uma fiscalização de fato e direto nas indústrias de alimentos apoiado em uma legislação e normatização clara, transparente e justa que proteja os elos da cadeia e os consumidores finais.

Para melhorar a situação para os produtores, a classificação de carcaças pode ser um primeiro passo, principalmente, quando vem acoplada ao o chamado safety net de garantias mínimas de rastreabilidade que também já pode avançar em todo território nacional.

BeefPoint: Essas empresas tem recebido grande aporte de capital do BNDES, que inclusive vem incentivando fusões e aquisições. Para você, essa posição assumida pelo banco é correta e saudável para o desenvolvimento do setor, ou deveria ser estudada com mais cautela?

Louis Pascal de Geer: Infelizmente tenho a impressão que o BNDES não tem conhecimentos suficientes para ser um grande acionista nos grupos que estão se formando, aliás, a absoluta falta de um comportamento gerencial adequado e a falta de cobrança dos resultados visíveis por parte do banco pode comprometer os resultados para um desenvolvimento econômico social, que é a principal razão e missão do BNDES e do dinheiro público nele investido.

O BNDES é o grande instrumento da sociedade brasileira para fomentar o desenvolvimento social e devia se concentrar no melhoramento da infra-estrutura, educação, saúde e se dirigir em primeiro lugar para as empresas que atuam nestes setores como também ajudar empresas estimulando a criação de empregos e capacitação dos empregadores e colaboradores.

A entrada violenta do banco no setor de alimentos devia ter sido feita com muito mais cautela e principalmente com muito mais exigências para as indústrias que se beneficiam dos empréstimos que recebem e receberam.

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