Fechamento 11:40 – 10/10/01
10 de outubro de 2001
Antecipada a vacinação contra febre aftosa na Ilha do Bananal
15 de outubro de 2001

Lotação das pastagens: alta, média ou baixa?

Marcio Sena Pinto 1 e Valério Carvalho2

Parte 1

Nos dias atuais, por diversos motivos, mormente sociais e econômicos, a atividade pecuária tem que buscar aumentos de rentabilidade, de forma sustentável e em harmonia com o meio ambiente, de modo a atrair e justificar investimentos, mantendo sua renda.

Sabe-se que essa atividade se desenvolve, principalmente, nos aproximadamente 200 milhões de hectares de Cerrado Brasileiro, onde 177 milhões são de pastagens, dos quais cerca de 45 milhões, de pastagens cultivadas. Além disso, cerca de 44% do contingente bovino nacional, ou seja, aproximadamente 66 milhões de cabeças se alimentam nessas áreas, perfazendo uma lotação média em torno de 0,4 cabeças/ha.

Na intenção de auxiliar os produtores envolvidos na produção de bovinos de corte a pasto, faremos alguns comentários enfocando técnicas e práticas aplicáveis no dia–a–dia da exploração pecuária, principalmente quando se pretende aumentar tal média.

Consideraremos a lotação das pastagens, como simples observação de campo, da seguinte forma:

a) Alta” lotação” ou alta pressão de pastejo: pastos baixos e com pouco volume, dentro das características de cada gramínea, com pouca disponibilidade de capim para os animais;

b) Baixa “lotação” ou baixa pressão de pastejo: pasto volumosos, dentro das características de cada gramínea, onde as mesmas estejam sendo manejadas adequadamente. É preciso não confundir com pastos com veda prolongada que se tornam fibrosos e pouco digestíveis.

O bovino em pastejo contínuo e “ baixa “ lotação” escolhe bem o seu cardápio e ingere as plantas mais novas, que são as mais palatáveis e nutritivas, proporcionando bom ganho de peso, não só pela qualidade, mas também pela quantidade ingerida. Numa lotação mais baixa, temos uma relativa “sobra” de forragem que retorna ao solo, alimentando-o e minimizando seu empobrecimento. Esta prática, com moderada pressão de pastejo, fornece as melhores condições para ganhos de peso individuais.

O pastejo rotacionado, por sua vez, é uma ótima forma de melhorar o aproveitamento da pastagem, já que concentra um maior número de animais em uma parcela, por um curto período de tempo, que normalmente varia entre um e seis dias. Esta prática diminui a seletividade e obriga os animais a competirem pelo alimento, diminuindo a ingestão voluntária de forragem, e, via de regra, o ganho de peso individual.

Pequenas diferenças na ingestão voluntária diária de forragem refletem, de forma ampla, no ganho de peso no período das águas, compreendido de novembro a abril.

Assim sendo, mesmo no pastejo rotacionado, com moderada pressão de pastejo, pode-se conseguir incrementos de 15 a 20% na lotação em relação ao pastejo contínuo, sem comprometer o ganho de peso, necessitando, conforme o caso, apenas de modestas correções / adubações de manutenção.

Caso o produtor queira ou necessite dobrar, triplicar ou quadruplicar a lotação usual, terá que aumentar a produção de forragem nas mesmas proporções, via adubação !

Porém, essa prática ainda é muito polêmica do ponto de vista econômico e exige o estreito acompanhamento de um profissional experiente e qualificado.

O pastejo alternado está entre as duas alternativas anteriores e, para cada lote de bovinos, dois a quatro pastos podem ser utilizados. Esta prática é bastante viável, principalmente quando se trata de propriedades maiores, levando, inclusive, a melhorias na qualidade da gramínea ingerida, via melhoria no controle do “corte e rebrote” .

Parte 2 – Ganho de peso e lotação

A nossa pecuária de corte se baseia e é competitiva quando explorada com ênfase na utilização de nossas pastagens tropicais, fonte principal e mais barata de nutrientes para o rebanho bovino nacional.

Desse modo, é de suma importância compreendermos melhor o papel do consumo de forragem por bovinos em pastejo. Imaginemos então :

“ o consumo de alface, tenra e saborosa, para quem aprecia, com poucos dias de brotação, sendo que, após alguns dias, próximo ou durante o pendoamento, esta planta torna-se fibrosa e amarga, sendo naturalmente rejeitada. Para uma pessoa que se nutre regularmente desta planta, mesmo se o valor nutritivo fosse o mesmo, a quantidade de nutrientes ingerida seria menor via consumo voluntário diminuído.”

Prosseguindo, adotaremos como exemplo novilhos com 350 kg de P.V. , alimentando-se exclusivamente de pasto mais suplemento mineral, no período verde, de novembro a abril, em três situações: baixa, média e alta pressão de pastejo com consumo de MS da forragem de 2,9%; 2,5% e 2,1% em relação ao peso vivo, respectivamente.

Além disso, assumiremos que a pastagem desses animais apresenta, em média, 50% de NDT e 9,3% de PB na matéria seca.

Tabela de exigência* de NDT e PB para novilhos azebuados com 350 kg para os diversos ganhos de peso diário:

Tabela

Fonte : adaptado do NRC – 1984 , base seca e considerando acréscimo de 10% na PB para animais inteiros.

Consumo diário e ganho de peso para o período verde – novembro a abril:


** – Matéria seca ; “ Lotação ” : entendida como pressão de pastejo ( Kg capim / Kg Peso Vivo )

Com os dados acima podemos montar o seguinte gráfico demonstrativo da relação entre consumo voluntário de forragem e ganho de peso, considerando o período das águas , de novembro a abril.

Gráfico demonstrativo da relação entre consumo voluntário de forragem e ganho de peso

Note que na 1ª situação com baixa pressão ou pastejo mais leve o bovino tem o máximo de ganho de peso, nutrindo-se do pasto mais misturas minerais. Com alta pressão de pastejo ou “alta lotação”, aspecto visualizado na 3ª situação, o bovino está ingerindo pouco mais que o necessário para sua manutenção.

Portanto, há de se ter cuidado ao se procurar aumentar a produtividade através da adoção de lotações mais altas, sem que se tenha suporte ou adote práticas agronômicas que levem a um aumento da quantidade e na qualidade da pastagem.

Nesse ponto cabe-nos perguntar: qual o reflexo no faturamento final da fazenda levando em conta os aspectos levantados ?

Exemplificaremos da seguinte forma :

1 – assumiremos que uma propriedade esteja com baixa lotação (que é variável de uma propriedade para outra em função da quantidade de capim disponível/produzida), alojando 1000 garrotes com média de 350 kg, em novembro, e ganhando 144 kg PV até abril. Teremos um ganho de peso vivo no período de novembro a abril de 144.000 kg, 4.800 @ ou 4,8 @/animal/período.

2 – caso a mesma propriedade adote uma lotação alta, passando a abrigar 2.000 garrotes , com média de 350 kg em novembro e ganhando 36 kg até abril, teremos um ganho de peso vivo no período de apenas 72.000 kg, 2.400 @ ou 1,2 @/animal/período .

O ganho de peso, ou seja, o faturamento bruto será de :

1ª situação : 144.000 kg = 4.800 @ X R$ 40/@ = R$ 192.000.
2ª situação : 72.000 kg = 2.400 @ X R$ 40/@ = R$ 96.000.

Seria desnecessário comentar os gastos entre as duas propriedades com suplementação, limpeza de pastos, mão de obra e produtos veterinários dentre outros e, conseqüentemente, a condição das duas propriedades após algum tempo.

Na nossa opinião, o exemplo acima ilustra bem que há uma inversão de prioridades quando, freqüente e insistentemente, se discute qual a melhor suplementação mineral e/ou protéico/energética, além de qual a melhor raça ou cruzamento a ser usado, sem antes compreender, valorizar e executar um manejo adequado dos pastos. Isso, sem contar os prejuízos do mau manejo das pastagens ao meio ambiente, principalmente no médio/longo prazos, aspecto de reconhecida importância hoje em dia!

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1 – Engº Agrônomo pela ESALQ / USP – 1984
E-mail: marciosena@terra.com.br

2 Produtor rural
E-mail: valério@cultura.com.br

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