Leilão vende 44 lotes de animais em MT
15 de maio de 2002
Ministro preside seminário sobre abate de animais sem inspeção sanitária no RJ
17 de maio de 2002

Levantamento de índices técnicos associados à produção de silagens de gramíneas tropicais nas regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil

Maity Zopollatto e Luiz Gustavo Nussio1

Igarassi (2002) realizou visitas técnicas em 14 propriedades localizadas no Sudeste e Centro-oeste brasileiro para tomada de informações sobre o sistema de produção de silagem de capim, com ênfase em capins dos gêneros Panicum e Brachiaria, o que permitiu a realização da descrição do perfil da produção de silagens de gramíneas tropicais no país.

Os índices analisados foram: densidade da silagem, tamanho das partículas, pH (potenciômetro digital), teor de matéria seca (secagem em estufa com ar forçado a 55oC) e condutividade elétrica (CE), calculada através de condutivímetro. A densidade foi medida através da retirada de um cubo de 50 cm de aresta do painel do silo e posterior pesagem e amostragem. O tamanho de partículas foi avaliado através de um conjunto de peneiras (Penn State Particle Size Separator) definindo a porcentagem de material de diâmetro superior a 1,905 cm, intermediário de 1,905 a 0,787 cm, e inferior a 0,787 cm, metodologia esta proposta por Lammers (1996).

As propriedades visitadas apresentaram diferentes sistemas de produção, com rebanhos variando de 30 a 40000 animais, sendo alimentados com silagem de capim, e com produção de matéria seca por hectare por corte (t de MS.há-1.corte-1) variando entre 2,7 e 8,1 (Tabela 1). Constata-se a grande amplitude de variação quanto a produção da planta, destacando as alternativas na utilização de silagens de gramíneas na alimentação de ruminantes.Os dados indicaram a adoção de alternativas como o uso de inoculante bacteriano e de polpa cítrica (PCP) pelos produtores e técnicos, sendo que das 14 propriedades, 3 utilizaram PCP (6 a 8%), e 6 propriedades fizeram uso da inoculação bacteriana.

Na Tabela 2 observa-se que a produtividade média de 17 t de MS.há-1. Ano-1 é significativamente inferior ao potencial da cultura (25 -35 t MS/ha ano-1), e que algumas propriedades apresentaram produtividade semelhante àquelas que utilizam-se de culturas anuais, gerando o questionamento sobre a justificativa em explorar capins tropicais perenes para silagens, sob tais condições. Em geral, as dificuldades encontradas no manejo da ensilagem durante o período de incidência de chuvas no verão, respondem parcialmente pela perda de produtividade.

A Tabela 2 apresenta valores de teor de matéria seca, pH, distribuição do tamanho de partícula, condutividade elétrica e densidade da silagem, bem como a identificação da colhedora utilizada. Também verifica-se a grande amplitude desses parâmetros nas diferentes propriedades, revelando a variação de eficiência no processo de ensilagem. Obteve-se valor médio de pH de 4,92, considerado elevado quando comparado à gramíneas convencionais (milho e sorgo) segundo McDonald et al. (1991) e Vilela (1998), evidenciando a relativa dificuldade dos produtores em alcançar valores de pH nos limites recomendados (3,8 a 4,2). A Figura 1 ilustra a porcentagem de silagem contendo pH acima do recomendável, verificando que apenas 14% das propriedades visitadas apresentam silagens com pH abaixo de 4,2.

Figura 1 – Distribuição das propriedades visitadas em relação ao valor de pH das silagens de capim.
Fonte: Igarasi (2002)

Com relação aos parâmetros físicos, verificou-se na Figura 2 a menor eficiência na compactação da silagem, tendo apenas 7% das propriedades atingido valores de densidade dentro da amplitude recomendada por Holmes & Muck (1999), que mencionam o valor de limite mínimo de 225 kg.MS.m-3.

Figura 2 – Distribuição das propriedades visitadas em relação ao valor da densidade (tMS.m-3) das silagens de capim.
Fonte: Igarasi (2002)

Na Figura 3 observa-se a representação gráfica da distribuição entre tamanho de partícula e a condutividade elétrica, onde a redução no tamanho de partículas tendeu a promover maiores valores de CE, conforme verificado por Shinners et al. (2000), com silagem de alfafa. Vale ressaltar, que a amostragem foi realizada em diferentes propriedades, implicando em diferentes condições de solo, de adubação e estágio fisiológico de colheita da planta, o que ocasionou grande amplitude no teor de minerais nas amostras, não sendo possível o estabelecimento de relação funcional.

Ausência de relação entre tamanho de partícula e CE também poderia ser atribuída à participação de colhedoras oriundas de concepção de tecnologia muito diversa. Ao observar os valores da Tabela 2 e a Figura 3, verifica-se que a amplitude de variação no tamanho de partícula não foi acompanhada pela condutividade elétrica, sugerindo que o corte realizado por colhedoras de precisão possa conciliar redução no tamanho de partícula e pouca elevação no extravasamento de conteúdo celular, conforme fora observado por Aguiar et al. (2001).

Figura 3 – Representação gráfica da distribuição da condutividade elétrica (µS.cm-1), em função do tamanho de partícula (% retida na peneira de 1,905 cm), das silagens de gramíneas coletadas nas propriedades.
Fonte: Igarasi (2002)

A análise dos dados sugere que os equipamentos de corte e colheita utilizados nas propriedades, determinaram um tamanho de partícula acima da expectativa, e quando comparados com a colhedora Case 7400, apresentaram significativo diferencial de porcentagem de partículas retidas na peneira de 1,905 cm. A colhedora Case 7400 proporcionou retenção de 12% na peneira de 1,905 cm, enquanto que as demais colhedoras jamais apresentaram valores inferiores a 69,5%. Esse diferencial determinou alteração nas densidades das silagens, que com a exceção daquela originada da operação da colhedora Case 7400, todas as demais caracterizaram valores de densidade inferiores aos recomendados por Holmes & Muck (1999), que citam o valor de limite mínimo de 225 kg MS.m-3, para que a densidade de compactação não seja restritiva na obtenção de uma silagem de qualidade satisfatória. Assim, na Figura 4, verificou-se a tendência de se obter valores superiores de densidade à medida que a tamanho de partícula é reduzido, representado pela percentagem de partículas retidas na peneira de 1,905 cm.

Figura 4 – Relação entre e a densidade da silagem (kgMS.m-3), o tamanho de partícula (% MS retida na peneira de 1,905 cm) das silagens de gramíneas coletadas nas visitas técnicas.
Fonte: Igarasi (2002)

A metodologia de caracterização do tamanho de partículas proposto por Lammers et al. (1996), através da estratificação das partículas contra 3 peneiras com orifícios de diâmetros diferentes, mostrou-se não suficiente para estratificar a forragem picada de forma a evidenciar diferenças entre as colhedoras analisadas, uma vez que em média 79,9% da amostra foram retidos acima da peneira de maior diâmetro (1,905 cm). Uma quarta peneira com orifício maior está sendo avaliada visando a adequação para amostras obtidas de silagens de capins.

Sob o ponto de vista de eficiência do processo de ensilagem, a redução do tamanho de partículas tem sido questionada, quando obtida por equipamentos que conferem maior precisão de corte às custas de maior extravasamento e cisalhamento da célula vegetal. Com isso o possível benefício de maior densidade na massa é compensado negativamente pela maior produção de efluentes. Os efeitos sobre o consumo voluntário por animais e o respectivo desempenho estão sendo avaliados para possibilitar análise mais conclusiva sobre o tamanho de partículas em silagens de capins tropicais.

Tabela 1. Caracterização das propriedades, do rebanho e das silagens, observadas durante o levantamento de índices técnicos.

Tabela 2. Características físico-químicas das silagens observadas nas propriedades visitadas durante o levantamento de índices técnicos.

Referências bibliográficas

IGARASI, M.S. Controle de perdas na ensilagem de capim Tanzânia (Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia) sob os efeitos do teor de matéria seca, do tamanho de partícula, da estação do ano e da presença do inoculante bacteriano. Tese Mestrado, ESALQ/USP, 2002, 152p.

HOLMES, B. J.; MUCK, R. E. Factors affecting bunker silo densities. Madison: University of Wisconsin, 1999, 7p.

LAMMERS, B.P., BUCKMASTER, D.R.; HEINRICHS, E. J. A simple method for the analysis of particle sizes of forage and total mixed rations. Journal of Dairy Science, v.79, n.5, p.922-928, 1996.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. In: The biochemistry of silage 2. Ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 226 p.

SHINNERS, K. J.;JIROVEC, A.G.;SHAVER, R.D. et al. Processing wilted alfafa with crop processing rolls on a pull-type forage harvester. Applied Engineering in Agriculture, v.4, p.333-340.

VILELA, D. Aditivos para silagem. In: Aditivos para silagem de plantas de clima tropical. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., Botucatu, 1998. Anais. Botucatu: SBZ, 1998. p.73-108.
_______________________________________
1Departamento de Produção Animal- USP/ESALQ

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress