Leonardo Brant: criadores, invistam na gestão profissional do seu negócio

O Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria será realizado no dia 18 de junho, em São Paulo, SP. O BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um dos palestrantes. Confira abaixo a entrevista com Leonardo Brant.

Leonardo Brant é médico veterinário, formado pela UFMG. É especialista em solos e meio ambiente pela UFLA, especialista em pastagens e adubação pela FAZU, com experiência de 17 anos conduzindo projetos pecuários nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. É consultor sócio da Exagro.

O tema de sua palestra será Estudo de caso de pecuária de cria – fazenda que utiliza Benchmarking Exagro.

BeefPoint: O que você considera mais importante em uma fazenda de pecuária de cria?

Leonardo Brant: Uma gestão de custos criteriosa e um planejamento de longo prazo com foco no resultado líquido da atividade/ha (R$/ha). Temos que ter consciência que para um sistema ser competitivo ele tem que gerar resultados compatíveis com outras atividades dentro da propriedade (melhor uso financeiro da terra).

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro na cria, no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Leonardo Brant: Nós da Exagro acreditamos que a pecuária de cria tem que ser repensada, e que muitos paradigmas tem que ser superados para que ela alcance resultados compatíveis com outras atividades, com aumento de produção e margem por hectare.

Trabalhamos com a cria de uma maneira bem diferente da tradicional, e por isso as fazendas que acreditamos estarem fazendo a pecuária de cria do futuro estão entre os nossos clientes. Infelizmente, não conheço resultados econômicos de outras fazendas de cria para poder citar como exemplos.

Vacas nelore

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de cria no Brasil hoje?

Leonardo Brant: Quando se fala em um sistema de produção estamos dizendo que por trás de tudo isso tem um gestor. Acredito que o maior desafio seja a profissionalização da gestão nas fazendas, com tomada de decisões baseadas em indicadores financeiros e produtivos palpáveis.

A paixão pela atividade é importante, mas nunca podemos esquecer que é um negócio e que como tal, tem que gerar lucro para se manter na atividade. As inovações tem que ter justificativas financeiras reais e de fácil compreensão e mensuração pelos gestores e colaboradores.

BeefPoint: Em relação a pecuária de cria, qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Leonardo Brant: A IATF trouxe a possibilidade de usufruirmos, em maior escala, dos benefícios da heterose dentro do sistema de cria. O resultado disso foi um maior número de animais ½ sangue sendo vendidos com menor período de permanência dentro das fazendas. Além disso, o incremento financeiro que temos ao desafiarmos as novilhas ½ sangue aos 14 meses em estação de monta, propicia-nos um aumento de 18% no resultado líquido das fazendas.

Com relação ao que estamos precisando de inovação, refere-se a ferramentas de mercado. Toda vez que estamos elaborando o orçamento de uma fazenda de cria temos uma incerteza dos valores que venderemos nosso bezerro. Então, acredito que mecanismos de comercialização baseados em “preço futuro do bezerro”, como acontece atualmente com boi gordo e soja, nos trará uma previsibilidade dos resultados mais apurada, diminuindo o risco da venda.

Vacas – primeira cria

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua pecuária de cria em 2012? O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Leonardo Brant: Na verdade nenhuma ação que é implementada em um ano chega a maturidade em curto espaço de tempo. Nesse ponto, ações implantadas entre 3 a 4 anos atrás foram concretizadas nesse ano de 2012, como redução da estação de monta e aumento do número de venda de vacas vazias gordas, aumento da taxa de lotação nas águas e desmama precoce dos bezerros visando abater o maior número possível de vacas vazias até o mês de julho. Todos essas operações tiveram alta correlação com quem obteve os melhores resultados financeiros no sistema de cria em 2012.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013, em pecuária de cria? E porquê?

Leonardo Brant: Não chamaria de diferente, mas implementar todas as ações que têm correlação direta no resultado financeiro nas fazendas que ainda não o fizeram, como: reduzir estrategicamente os índices de gestação para abater um número maior de vacas vazias gordas, implantar mecanismos simples de manejo como divisão de pastos e distribuição de água nos setores de engorda de vaca visando acelerar esse processo, aumentar o número de produtos ½ sangue e aprimorar o sistema de recria de fêmeas nas fazendas. E porquê? Porque são ações simples, de baixo custo e coloca a cria em patamares financeiros competitivos com outros sistemas de produção.

Vacas – primeira cria (Pantanal)

BeefPoint: Como tornar a comercialização do bezerro mais eficiente? O que falta no Brasil?

Leonardo Brant: Como foi comentado acima, a implantação de ferramentas de mercado que propicie uma “venda futura do bezerro”. Com isso toda a cadeia ganharia, o invernista ou confinador teria toda operação garantida e os produtores de bezerros teriam parte de sua venda previsível e com menor risco.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar a competitividade da pecuária de cria no Brasil?

Leonardo Brant: A resposta a essa pergunta tem correlação com a anterior, mas acrescentaria não só para a cria, mas para o setor pecuário como um todo, que a maior parte do tempo, o pecuarista passa resolvendo problemas burocráticos, jurídicos, ambientais e trabalhistas, ao invés de “gastar” esse tempo e energia para repensar seu negócio, visitar projetos de sucesso e participar de eventos como esse, promovido pelo BeefPoint.

O setor, através das associações, tem que criar mecanismos para reivindicar, junto ao poder público, maior simplicidade para o pecuarista operar seu negócio. Sei que parece utopia, mas é o que precisamos.

Novilhas – 14 meses

BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial criadores?

Leonardo Brant: Invistam na gestão profissional do seu negócio. Passem a conhecer os indicadores financeiros e produtivos que impactam sua atividade. Somente dessa forma poderemos ter um sistema de produção que gere lucro para seus sócios, qualidade de vida para seus colaboradores e garanta perpetuidade no processo sucessório da atividade. Além de tudo isso, só podemos manter nosso patrimônio em conformidade ambiental e jurídica se a atividade estiver estável financeiramente.

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