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José Roberto Mendonça de Barros: cenário é desafiador, mas Agronegócio passa por uma fase excepcional

No final de maio, o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, apresentou a palestra "Cenários da macroeconomia e o agronegócio", no Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2011 e 2012, organizado pela BM&FBovespa. Ele acredita que o crescimento mundial deverá ser da ordem de 4,0% ao ano e para o Brasil a hipótese mais provável é um crescimento por volta de 4,5% a.a. "Nesse cenário o setor produtor de commodities está se saindo bem, pois os preços internacionais estão em alta".

No final de maio, o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados – que foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995 a 1998) e Secretário Executivo da Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República (1998) – apresentou a palestra “Cenários da macroeconomia e o agronegócio”, no Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2011 e 2012, organizado pela BM&FBovespa.

O palestrante iniciou sua apresentação com a seguinte pergunta: O crescimento mundial está mais moderado?

Segundo Mendonça de Barros, estamos passando por um momento onde temos uma consolidação da recuperação da economia norte-americana. Na Europa a situação segue complicada, para ele “esse ainda é o maior risco para o cenário de recuperação gradual da economia mundial”. Enquanto na China o crescimento continua bastante acelerado, com mudanças importantes em andamento no mercado de trabalho chinês.

“Entretanto, este cenário ficou mais complicado e incerto desde os eventos no Oriente Médio e com a divulgação de indicadores de atividade mais moderados nos EUA, sugerindo um crescimento mais lento do que o imaginado para 2011”.

José Roberto Mendonça de Barros ainda pontuou que nos países emergentes existe uma piora em relação à inflação, pois estamos observando que existe um choque de oferta num momento em que a demanda segue aquecida e na opinião dele este desequilíbrio deve continuar.

Apresentando uma série de dados da economia norte-americana, ele mostrou que mesmo tendo uma lenta recuperação, a situação dos EUA está melhorando. Existe melhora na renda da população, aumento da renda agrícola e recuperação no valor das ações das empresas norte-americanas.

Mendonça de Barros avaliou que o PIB dos Estados Unidos já apresenta um crescimento, apesar deste ser menor do que o esperado. “Isso posterga a alta dos juros e qualquer mudança na política financeira só deverá ocorrer em 2012 ou 2013, devendo manter a cotação do Dólar reduzida”. Dessa forma a expectativa é que os produtos norte-americanos sigam ganhando competitividade.

Apesar da situação ainda complicada, “na Europa já existe crescimento após a crise de 2008” e no gráfico abaixo é possível ver indicadores econômicos que mostram crescimento nos países do norte europeu.

Porém, o palestrante avalia que em países como a Grécia a situação ainda é difícil e provavelmente será preciso realizar uma reestruturação da dívida, “numa situação parecida com o que aconteceu na América Latina nos anos 80”. “Em Bruxelas se fala em uma recuperação “soft”, realizando apenas o adiamento das dívidas. Ação que acho que não será suficiente para resolver o problema”, completou.

Na Ásia o crescimento deve continuar bastante acelerado. Mendonça de Barros avalia que na China não deve ocorrer desaceleração do crescimento, já que o Banco Central do país é controlado pelo Governo e este tem pavor de manifestações populares como as que ocorreram no Oriente Médio. “Assim, eles devem combater o desemprego e a economia vai crescer 7,5% como é esperado”.

Segundo levantamento do banco central chinês, o salário médio real na China subiu 9% em 2010 em relação ao ano anterior. Isso pode ser prejudicial para a inflação, mas vai a favor de maior participação do consumo no país.

Assim Mendonça de Barros concluiu que no cenário internacional, mesmo com EUA crescendo menos que o esperado, dificuldades na Europa, a economia mundial deve crescer em ritmo lento e na sua opinião o cenário é otimista.

Ele acredita que o crescimento mundial deverá ser da ordem de 4,0% ao ano, os países do G7 devem crescer por volta de 2% ao ano e a China em torno de 8,0%. Para o Brasil a hipótese mais provável é um crescimento por volta de 4,5% a.a.

Como alavancas do crescimento da economia brasileira o palestrante elencou 3 pontos:

1- continuidade do aumento do consumo da classes C;

2- crescimento das exportações das cadeias de commodities agrícolas, mineração e produtos naturais;

3- crescimento dos investimentos privados (Petrobras, Copa do Mundo e Olimpíadas).

Como fatores que podem limitar este crescimento estão os desequilíbrios macroeconômicos crescentes, causados pelo aumento do consumo; e a perda da competitividade, causada pelo aumento do chamado custo Brasil, forte valorização do Real, baixa eficiência do setor público, alta tributação, péssima infraestrutura, falta de mão de obra qualificada e ausência de reformas e avanços institucionais.

Mendonça de Barros dividiu o setor produtivo brasileiro em 3 Classes:

1- Produtores de commodities; que estão se saindo bem, pois os preços internacionais estão em alta;

2- Serviços; que tem apresentado elevação dos custos;

3- Industriais; que tem que enfrentar indústrias mais competitivas em outros países e estão trabalhando com margens reduzidas.

“Em 2010 foi fácil vender, mas difícil entregar”, comentou o palestrante. Segundo ele faltou mão de obra, os custos foram elevados e as margens recuaram. Assim foi preciso repassar esse aumento de custos para o consumidor. “Isso gera problemas para a economia e o Governo tardou a perceber esses problemas”.

“De qualquer forma, este é um cenário doméstico bom, mas é um cenário desafiante”, comentou.

Impactos sobre o Agronegócio

Na avaliação de José Roberto Mendonça de Barros neste cenário os preços internacionais devem continuar elevados, a demanda seguirá crescendo pela elevação da população e pelo crescimento da renda das famílias levando a entrada de novos consumidores no mercado.

A volatilidade também deve continuar elevada, com os problemas climáticos se tornando mais recorrentes e o fundos financeiros assumindo papel cada vez mais importante. Segundo o palestrante, “esses fundos respeitam os fundamentos dos mercados, mas se movimentam muito rapidamente, entrando e saindo com agilidade de determinados mercados” e isso acaba influenciando o movimento dos preços.

O preço do petróleo também seguirá alto. “Projetamos um preço médio entre 100 e 110 dólares por barril. Com isto a pressão nos preços de fertilizantes e nos custos de transportes será importante, bem como continuará a haver suporte para o etanol”.

“Em algum momento de 2012/13 o juro americano vai subir e o Real brasileiro irá ser desvalorizado”, trazendo melhoras na competitividade das empresas brasileiras.

Pensando no mercado doméstico, Mendonça de Barros acredita que a demanda interna também seguirá crescendo e a procura por produtos de maior qualidade e diferenciação será cada vez mais marcante.

Por outro lado ele frisou que a infraestrutura continuará afetando a oferta regional de alimentos e produtos do Agronegócio. “Nesse ponto saem ganhando a região do Mapito e do oeste da Bahia; as regiões tradicionais do sudeste continuarão com vantagens pela proximidade dos portos e das grandes cidades; já o Mato Grosso e outras regiões distantes continuarão negativamente afetadas pelos custos de transporte”.

De qualquer forma ele avalia que o Agronegócio, de maneira geral, passa por uma fase excepcional.

Cenário Alternativo

Apesar do cenário mais provável ser bastante otimistas, o palestrante propôs uma situação alternativa onde o crescimento da China desacelera. “A questão mais substantiva entretanto, se coloca com a seguinte questão: irá a China ultrapassar os Estados Unidos ou seguirá a trajetória do Japão?”, questionou Mendonça de Barros. A economia americana segue derrapando, agora pelo peso do excesso de endividamento e do ajuste fiscal e a zona do Euro enfrenta maiores problemas.

“Neste cenário o ciclo de alta das commodities se reverte. Entretanto, existirá uma certa compensação pela subsequente desvalorização do Real”, ou seja, o Real mais fraco poderia compensar uma retração nos preços internacionais.

0 Comments

  1. Jogi Humberto Oshiai disse:

    Excelente Andre !
    Fica sempre a duvida nas hipoteses por nao ter nem mesmo o ex-Secretario a bola de cristal que todos nos desejamos.
    Lamento a falta de acentos em funçao do computador que estou utilizando aqui na Comissao Europeia que nao dispoe dos acentos necessarios para digitar no idioma de Camoes, Pessoa ou de Drummond de Andrade.
    Um abraço,

    Jogi Humberto Oshiai

  2. Antonio Eduardo Leão Lanna disse:

    Quem sou eu para fazer reparos às prospecções do Dr. Mendonça de Barros. Mas sua visão não estaria demasiadamente voltada ao comportamento do ambiente externo? E o ambiente interno? Por exemplo, a ascensão da classe C não seria um “fato portador de futuro” que permitiria o Brasil, e sua agropecuária, em uma situação de crise mundial, se valer do mercado interno para reduzir os impactos negativos? Talvez nosso país seja um dos poucos países em desenvolvimento que se pode valer dos mercados internos e externos (ou de ambos) para promoção de seu desenvolvimento. Quanto à bola de cristal, parafraseando Michel Godet: todos que prevêem o futuro são charlatães, pois o futuro não é para ser previsto, ele está por ser construído. Com nosso esforço e visões estratégicas.

  3. Márcio V. de Moraes disse:

    Bom dia a todos,

    desculpem a franquesa e a inexperiência,

    o Brasil é muito grande, nosso consumo tem aumentado dia após dia, porém, a dívida da população também, e isso no médio prazo vai diminuir o poder de compra.

    imaginando um cenário de continuo crescimento da produção agrícola, nós não podemos “contar” muito com o mercado interno para manter a margem do agronegócio.

    Abraço a todos.

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