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José Fernando Piva Lobato: podemos dizer ao mundo que nossa carne é saudável

No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com José Fernando Piva Lobato, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul na categoria Professor / Pesquisador.

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José Fernando Piva Lobato mora em Porto Alegre – RS. É pecuarista, professor associado da UFRGS, no Departamento de Zootecnia. É Ph.D. em Produção Animal pela Universidade de Melbourne, na Austrália.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

José Fernando Piva Lobato: O maior desafio dos pecuaristas gaúchos é melhorar a relação vaca/terneiro, ainda na péssima média 100 vacas/56 terneiros. Se assim é a média, é lógico termos produtores com índices superiores a 80%, e outros com índices ainda piores, inferiores a 30-40%.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

José Fernando Piva Lobato: Exemplos a serem citados sempre ocorrem os nomes de Valter José Pötter e Gedeão Pereira. Além de altos índices reprodutivos, uma terminação rápida, a pasto, especialmente, produzindo novilhos precoces há muitos anos. Com atualíssimos programas de seleção. Mas, injustiça é citar somente estes dois.

Inúmeros outros têm sistemas exemplares, de alta administração e qualidade. Cito Adroaldo Pötter, Angelo Tellechea, Carlos Eichenberg, Germano Schroeder, Marcelo Xavier, ou os irmãos Cantão, em Aceguá, o João Honório e o Zelio Dias em Bagé/Aceguá, Joaquim Mello, e muitos outros, que injustamente estou deixando de mencioná-los. Peço perdão aos não mencionados.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

José Fernando Piva Lobato: A carne gaúcha deve ser diferenciada por ser produzida a pasto. Estamos no subtrópico brasileiro, com alguns dias de inverno bastante frios, com cerca de 30-40 geadas por ano. Nada de mais, se pasto à vontade (bom manejo e atitudes para ter) existir. Mais preocupante é a umidade associada ao frio, que queima as forrageiras de crescimento estival, apodrecendo estas espécies naturais e, assim, diminuindo a digestibilidade. Para os déficits forrageiros de inverno, as conhecidas espécies de ciclo hibernal nos permitem o abate de novilhos precoces e a redução da idade de primeiro serviço das novilhas. Já no verão, a ocorrência de secas prolongadas, ou déficits hídricos, quando as precipitações são inferiores, a evapotranspiração. Este é o Bioma Pampa, com seu clima, mas 1200-1400 mm anuais, muitas vezes mal distribuídos. Antes disto, a diversidade de solos. Creio ser um ambiente, se generalizar, o que é um risco, para animais 5/8 taurus e 3/8 indicus, ou cruzas ao redor deste grau de sangue. Em produção comercial, o “mundo” pecuário desfruta dos cruzamentos visando as benesses da combinação de características de duas ou mais raças. Olhemos para a Austrália, para os conhecimentos que os cientistas do Clay Center difundem. Ou mesmo para a Europa, com muito cruzamento. Mas, o Bioma Pampa deveria ser mais desfrutado, no sentido de possibilitar a criação e o engorde de animais totalmente a pasto, de melhor constituição lipídica para o organismo humano.

Recente trabalho nosso com inúmeros colaboradores mostrou que a carne de novilhos terminados a pasto ou em confinamento tem teores de colesterol de 47- 48 mg de colesterol por 100 g de carne. Uma carne é considerada magra nos EUA quando tem 96 mg de colesterol/100 g de carne. Este confinamento, de curto período de tempo (69 dias), de Valter José Pötter, teve uma dieta com 38% de silagem de sorgo de planta inteira. A dieta e os dias de confinamento foram o suficiente para por 3-4 mm de gordura externa em carcaças de 220-240 kg de novilhos Braford. Dieta e tempo de confinamento completamente distintos dos confinamentos americanos e europeus. A grande diferença nos dois tratamentos, diferença significativa, foi a maior percentagem de ômega 3 na carne de novilhos sempre criados e terminados a pasto, em pastagens de azevém/trevo branco/cornichão.

Quer ômega 3, ingira carne de animais a pasto! Os cloroplastos do fitoplancton do fundo dos mares também estão aqui na superfície, nas forrageiras!

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

José Fernando Piva Lobato: Seria de dizer que se todos usassem os conhecimentos existentes, ou pudessem usar, os existentes seriam suficientes para trazer todos os pecuaristas para uma “pecuária dois anos” (primeiro serviço e abate aos dois anos). Mas, a inovação, a busca de mais conhecimento deve ser feita com trabalhos que busquem maior consistência de qualidade no produto “carne”. E, para isto, ênfase em pesquisa genômica nos atributos de qualidade de carne.

Um grande avanço nos indicadores seria a habilitação de maior número de produtores que conciliem os conhecimentos existentes e a administração do negócio/empreendimento pecuário. Mais conhecimento em genética e fazer isto chegar aos produtores, mesmo aos que não leem esta matéria, os quais são a maioria.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

José Fernando Piva Lobato: Competir e alcançar mercados passa pela consistência de qualidade, especialmente maciez e suculência, pois o sabor da carne é de aceitação quase universal. E livre de resíduos. A criação a pasto e a seleção para animais mais adaptados, com o mínimo de tratamentos, conduzirão a isto. Parabéns ao Delta G e a Embrapa que pesquisam e selecionam animais com menores infestações de carrapatos. Estão avançando firme neste conhecimento.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

José Fernando Piva Lobato: Em 2012, além das atividades na Universidade/Departamento de Zootecnia, aulas na graduação e orientação de pós-graduandos, levei aos pecuaristas em diferentes atividades os conhecimentos gerados para um aumento de seus indicadores de produção. E a valorização de nossa carne, pela sua constituição saudável.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

José Fernando Piva Lobato: O que mais teve relevância em 2012 foi a oferta da carne mencionada acima a consumidores voluntários do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Um trabalho de cooperação nossa e com Dr. Iran Castro, cardiologista, do mesmo Instituto e a sua equipe.

Os resultados de análises clínicas dos consumidores da carne de confinamento ou de pastagens não mostraram alterações nos indicadores de colesterol e triglicerídeos. Nos períodos em que consumiram as duas carnes, períodos distintos, houve redução de sódio e de pressão arterial!

Podemos dizer ao mundo que nossa carne, 120g de carne magra cinco vezes por semana, sem gordura externa, é saudável, é magra, e não altera os indicadores clínicos dos consumidores. Creio ser isto extremamente relevante.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?

José Fernando Piva Lobato: Em 2013 mais ênfase aos trabalhos de intensificação de nossa pecuária, para melhores indicadores, e qualidade do produto.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

José Fernando Piva Lobato: É temerário uma mensagem aos pecuaristas deste imenso Brasil, tão distinto e distintos. Mas, para todos, uma mensagem para que acreditem na produção a pasto. Esta possibilidade é nossa e da América Latina. Na Europa dão ênfase, salientam a qualidade nutricional das carnes do sistema “extensive grazing”. Ou seja, pastejo. Mas, eles ficam na vontade devido aos 5-7 meses de inverno cruel. Devemos vender esta oportunidade e a constituição de nossa carne.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a industria frigorífica e varejo?

José Fernando Piva Lobato: Mensagem ao varejo, será que ouvirão? Todos procuram suas margens de lucro e colocam o preço que chega ao pecuarista. Este não coloca preço. Como disse Miguel Goulart, gaúcho de Bagé, hoje no Minerva, há a necessidade de uma relação de confiança entre varejo, frigoríficos e produtores. Confiança, sem ela, as relações terminam, nada se constrói. Uma convivência para que todos prossigam, e o consumidor possa ingerir a nossa saudável carne.

1 Comment

  1. José Fernando Piva Lobato disse:

    Miguel e companhia,
    Obrigado pela oportunidade.
    Lobato

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