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Jorge Sallaberry Nunes: o pecuarista deve procurar assessoria com veterinários, agrônomos e zootecnistas

No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Jorge Sallaberry Nunes, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul na categoria Profissional – Indústria de insumos e revenda agropecuária.

Jorge Sallaberry Nunes

Jorge Sallaberry Nunes mora em Pelotas – RS. É formado em medicina veterinária pela Universidade Federal de Pelotas.

Sempre gostou de trabalhar com produção bovina, mas também gosta da área comercial. Em 1994, logo depois da graduação, abriu a loja Agropecuária Sallaberry, conciliando a parte técnica e a área comercial, prestando serviços de atendimento a pequenos e médios produtores.

Ao longo do tempo, os negócios começaram a crescer e em 2000 Jorge abriu a primeira filial de sua loja, visando atender grandes produtores.

Em seguida, começou a investir também em pecuária, com campos arrendados. Hoje, trabalha com uma grande área, com gado de cria e invernada de bovinos de corte.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

Jorge Sallaberry Nunes: Nosso maior desafio é ter um produto que atenda o mercado. O produtor sabe produzir, sabe trabalhar, mas precisamos de um mercado que absorva essa produção e que remunere o produtor pela qualidade.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Jorge Sallaberry Nunes: Eu admiro o produtor Stefano Marini. Ele é um produtor jovem aqui da região, que tem muita vontade de absorver tecnologia e coloca-la em prática.

Além de produzir uma pecuária intensiva, ele trabalha com gado de cria e gado de terminação. Ele faz silagem, feno, uma agricultura que ajuda muito na pecuária.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Jorge Sallaberry Nunes: Isso é complicado, pois a cadeia tem alguns elos que não estão encaixados perfeitamente, na minha opinião.

Por exemplo, se tivéssemos uma estabilidade de mercado, se soubéssemos que o nosso produto valeria o suficiente para nos remunerar em determinada época, nós produziríamos a melhor carne, da melhor raça, para essa época. Produziríamos o que o mercado quisesse.

Se soubéssemos que em determinada época, existiria um mercado que remuneraria o suficiente para novilhos jovens, por exemplo, ninguém exportaria gado em pé.

Com certeza, teríamos matéria prima para atender a demanda do mercado. O mercado consumidor existe, mas ao mesmo tempo não consegue comprar e não remunera o produto.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Jorge Sallaberry Nunes: O que eu mais gostei nos últimos foi a questão da IATF (inseminação a tempo fixo). Foi uma tecnologia que intensificou muito a produção e facilitou o manejo da vaca de cria. Conseguimos fazer uma seleção do rebanho, melhorando esse rebanho de forma mais rápida.

Em relação a inovação, acho que precisamos de quimioterápicos novos, não temos nada de novo em relação a anti-parasitários.

Temos um problema sério da resistência dos parasitas, principalmente os carrapatos. Não temos aqui no Sul ferramentas para controlar efetivamente o carrapato e consequentemente as doenças transmitidas através dele.

Basicamente, precisamos de duas coisas: um carrapaticida 100% eficaz e uma vacina que ajudasse na profilaxia. A profilaxia é uma doença que existe na propriedade que tem tecnologia, em propriedades que tem pastagem replantada, uma pastagem que produz bastante carne.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Jorge Sallaberry Nunes: Poderíamos uniformizar mais os nossos rebanhos, diminuir o cruzamento, essa mescla de raças que temos no estado. Essas raças são boas, mas não é isso que o mercado quer.

O mercado quer uma padronização, ele quer abater animais uniformes, pois esse animal precisa ter padrão, tamanho da carcaça, tamanho de corte.

A mistura de gado zebu com europeu, muitas vezes não dá essa uniformidade.

Eu acho que uma das coisas que melhoraria muito seria definir um novo padrão de raças no estado, como Hereford e Angus, ou no máximo um cruzamento entre eles.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Jorge Sallaberry Nunes: Dentro da pecuária, implementamos o sistema IATF e também começamos a terceirizar a soja na propriedade. Com isso, aumentamos as áreas de pastagem, de azevém e de aveia.

Na parte comercial, temos participado mais de eventos junto com o produtor, em exposições, por exemplo. Durante o ano, participamos de aproximadamente 10 eventos, como leilões e feiras de gado.

Estamos muito atuantes na parte de nutrição e temos nos diferenciado por isso.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que mais trouxe resultados?

Jorge Sallaberry Nunes: Acho que isso é uma somatória de vários fatores, não posso dizer apenas uma coisa específica. Eu acredito que a participação junto ao produtor foi o que mais trouxe resultados, oferecendo tecnologia e assistência técnica, assim como a participação em eventos.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013?

Jorge Sallaberry Nunes: Temos feito muita coisa em relação à capacitação da mão de obra rural. Tenho uma empresa que oferece isso, a Agrofaz Qualificação Rural. A Agrofaz atende o peão, que trabalha diretamente na propriedade e também oferece cursos de gestão e treinamento para administradores e até proprietários da fazenda.

Temos cursos de inseminação e cursos de manejo de pastagem e eu pretendo intensificar mais essa área. Pretendo aumentar o numero de cursos, para evitar que o produtor passe por certas experiências.

A tecnologia está muito disponível hoje e as empresas estão em cima do produtor, eu acho importante que os funcionários de uma propriedade tenham conhecimento e cuidado com o manejo do gado e o bem estar animal.

Eu tenho intensificado bastante nosso trabalho na Agrofaz, com o intuito de qualificar a mão de obra e a visão do produtor em relação a gestão da propriedade, para ele saber onde quer chegar, pois há muitos produtores que ainda trabalham sem planejamento.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Jorge Sallaberry Nunes: Eu deixo uma mensagem de otimismo. Nesses 20 anos que eu trabalho no mercado, nunca vi tantas oportunidades para produzir e remunerar essa produção.

Acho que o produtor tem que levantar a cabeça e procurar se assessorar com veterinários, agrônomos e zootecnistas. Ele deve procurar olhar para outros produtores, que já estão num nível mais avançado, que estão fazendo ou utilizando tecnologias mais avançadas.

O produtor não precisa testar tecnologias, há quem faça isso por ele. Temos órgãos como a Embrapa, órgãos de pesquisa, a Universidade Federal de Pelotas aqui na região, com laboratórios.

Eles devem fazer a pesquisa e o produtor deve procurar o técnico para imprimir melhor a tecnologia e ter resultado, ter lucro na propriedade.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?

Jorge Sallaberry Nunes: A indústria tem que procurar uma aproximação com o produtor. Acho que por conta dos últimos anos, o produtor se sente lesado pela indústria, ele tem medo da indústria.

Eu acho que o frigorífico tem que se responsabilizar e mostrar para o produtor porque o rendimento dele não é bom, o que ele está fazendo de errado.

O frigorífico tem que criar maneiras de se aproximar do produtor, criar uma parceria justa, fazendo reuniões, dizendo para o produtor o que a indústria precisa.

No varejo de carnes, consequentemente, se houver essa melhora no produto, o varejo também vai melhorar.

Talvez o varejo tenha que intensificar o marketing em relação ao consumo da carne vermelha. Não podemos aceitar que digam que a carne vermelha causa doenças e não fazer nada em relação a isso, pois a carne vermelha é uma grande fonte de proteína.

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