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Joesley Batista diz que não teme delações premiadas nem fará uma

Um dos donos da JBS, o empresário Joesley Batista diz que notícias sobre sua eventual delação premiada são “maldosas”.

Alvo da Operação Greenfield, que investiga prejuízos em fundos de pensão estatais, ele diz que não cometeu irregularidades.

Nesse trecho da entrevista concedida à Folha, o empresário fala de sua relação com o ex-ministro Geddel Vieira Lima e com Lúcio Funaro, apontado pela Lava Jato como operador de Eduardo Cunha num esquema de pagamento de propina e preso desde o ano passado.

Segundo Joesley, ele nunca tratou com Geddel e Funaro sobre pagamentos para facilitar empréstimos na Caixa Econômica Federal.

Ele afirma que sua relação com Geddel é antiga, pois o ex-ministro “mata boi” num frigorífico do grupo na Bahia.

Folha – Não preocupa o senhor o fato da J&F ter aparecido em mensagens de Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha, dando a entender que estavam facilitando os empréstimos para a empresa?

Joesley Batista – Me preocupa. Tanto que soltamos a nota, que isso nos causa muita estranheza. Qual o interesse de Geddel ficar vazando informação? É sigilo bancário, pô. Ficar vazando informação minha para um deputado?

Numa das mensagens do celular de Eduardo Cunha analisadas pela operação “Cui Bono?”, ele e Geddel debatem sobre um empréstimo em andamento na Caixa para a empresa. Por que Eduardo Cunha estava intercedendo a favor da J&F?

Mais ou menos a mesma pergunta sobre o Max [que fez a denúncia ao Ministério Público de que Joesley estava interferindo no trabalho da auditoria contratada na Eldorado]. Eu tenho muita curiosidade de saber o que motivava essas pessoas a seguir nossa vida ou o Max a denunciar.

Vocês já pensaram na hipótese de que algum executivo de vocês tenha feito esse pedido ou negociado com Eduardo Cunha ou com Geddel?

Olha, eu não acredito.

Fizeram investigação interna?

Fizemos agora com a Ernst & Young e Verano. Olha, eles vasculharam os computadores, e-mails. Eles fizeram contabilidade. Não acharam nada. E, olha, em que pese o Max ter feito essa denúncia estapafúrdia, a Ernst & Young tem que respeitar. O Verano, também. Eu não conhecia, mas depois fui atrás é um escritório importante.

Mas o fato de serem empresas que vivem de reputação não impede que também se envolvam em casos de corrupção.

Evidente. Mas também, por outro lado, a gente tem que acreditar em alguma coisa, não é? Se não pudermos acreditar Tem uma governança, um acordo de acionistas, um conselho. O Max conseguiu desmoralizar de uma vez só sete conselheiros, inclusive o da Petros também.

Só que é o seguinte: o Max mentiu. Aquilo é uma mentira.

Ele mentiu que foi ele quem pediu a auditoria. Ele mentiu que nós não mostramos. Estão lá os papéis no Verano. Ele nunca foi lá. Teve conselheiro independente que foi e fez o que deveria ter feito. Ir lá fazer a reunião calmamente.

Por que o Max nunca foi lá? Se ele estava tão preocupado e tão interessado no bem da companhia? Ele deveria ter ido, não é? Ele não pareceu lá não. É difícil entender o que esse sujeito está querendo.

Qual a natureza da relação do senhor com Eduardo Cunha?

Eduardo Cunha: deputado, presidente da Câmara. Tive relações institucionais. Nunca me relacionei com o Eduardo Cunha. Me relacionei com o deputado, com o presidente da Câmara.

Em algum momento Eduardo Cunha pediu dinheiro para o senhor para facilitar alguma coisa?

Nunca. Jamais.

Para não atrapalhar?

Nunca. Jamais. Ouço várias coisas do Eduardo, mas não posso falar nada sobre ele.

Bem, algum interesse ele tinha nos negócios do senhor para despachar com Geddel sobre o assunto.

É. Tem, óbvio. Agora, saber dos negócios de uma grande empresa por si só já é bom, já mostra influência.

Só de saber o que está acontecendo. Somos a maior empresa brasileira privada hoje. Só de saber já é um ativo. Ele mostra intimidade, ou tenta mostrar talvez. Não estou dizendo que ele fez isso.

Com o Lúcio Funaro então o senhor tinha uma relação mais próxima?

Com ele sim. Ele prestou trabalho aqui para nós uns três anos.

Ele foi quem resolveu o nosso problema com o Bertin [frigorífico adquirido pela JBS]. Ele foi que fez o negócio com o Big Frango [outra empresa adquirida]. Ele vendeu boi para nós aqui, que eu nem sabia, depois que eu fui olhar.

Como começou sua relação com Funaro?

Foi através do negócio com o Bertin. Foram dois negócios. Nós fizemos fusão, onde ficamos sócios. Isso foi em 2009.

Aí depois, começaram as negociações de solução da sociedade, em que acabamos comprando a parte deles. Deu até isso na mídia. Normal, um negócio grande a sociedade, né? Teve, na disputa, momentos de um clima mais tenso e tal, mas no final resolveu.

O senhor em nenhum momento se preocupou em fazer negócios e ter uma relação mais próxima com Funaro? Funaro, no mensalão, já havia reconhecido em delação o envolvimento em crimes.

Curiosamente os dois negócios principais que fizemos com ele vieram do Bertin e do Big Frango.

Não fomos nós que contratamos ele na Big Frango. Quando compramos a empresa, o antigo dono já tinha contratado ele. Isso foi resolvido na Justiça inclusive. Porque não sabíamos disso, ele veio nos cobrar.

Dissemos não, nós não devemos isso. Deve, porque você comprou a empresa e a empresa me deve. Aí, ele entrou na Justiça, brigou. E acertamos.

O negócio do Bertin foi mais ou menos igual. Ele se meteu primeiro para ajudar os Bertin. E aí ele tava no meio daquela confusão e a forma de solução… Como se diz: deixa a Justiça julgá-lo, se ele é criminoso ou não, se é mau caráter ou não. No que diz respeito a mim, ele resolveu meu problema com a Bertin e nós compramos a parte da Bertin. Foi uma coisa que, enfim, foi combinado, foi feito e resolvido.

Então o senhor não se preocupou por ele ser investigado

Na época, ele não era investigado.

Ele já tinha feito acordo de delação com as autoridades para não ser preso.

Ele foi delator. Não cabe a mim julgar um delator. Nem conhecia ele na época.

Quanto no total a J&F pagou ao Funaro? Ao menos R$ 12 milhões foram pagos à Viscaya, empresa de Funaro, mas houve outros pagamentos.

É mais do que isso. Foram uns R$ 30 milhões. Não sei exatamente. [A empresa informou que foram R$ 37,4 milhões pagos a empresas de Funaro pela Eldorado Brasil por conta e ordem da J&F].

Todos relacionados a Bertin e Big Frango?

Teve gado que ele forneceu. Os principais são esses. Teve mais uma ou outra coisinha.

Alguém já se aproximou do senhor para sugerir que a J&F faça delação?

Não. Volta e meia eu olho essas notinhas maldosas.

Alguém da força-tarefa da Lava Jato se aproximou?

Não. O primeiro contato foi com a procuradoria de Brasília. Nosso contato é lá, que é o procurador que diz que nós quebramos o princípio de boa fé do acordo. O acordo nosso tem lá todas as cláusulas. Nós cumprimos tudo.

Nós já fomos seis vezes lá nesse período prestar esclarecimentos. Eu pessoalmente já fui três vezes. Estou 100% à disposição, sempre estive.

O senhor teme a delação de Lúcio Funaro?

Eu quero que ele conte tudo que ele sabe sobre o relacionamento, o mais claro possível. Ele já delatou uma, duas vezes. Pra mim, se ele tiver alguma coisa para falar, tem que falar. Outro dia saiu uma notinha maldosa, de alguém que quer me prejudicar, falando que ele não vai me delatar.

Como não vai me delatar? Quando alguém planta uma nota dizendo Lúcio Funaro vai delatar menos o Joesley… Ué, quem plantou essa nota sabe que o que está fazendo. Quem tem interesse nisso?

Quem?

Não sei.

No caso do Funaro, o senhor tinha uma relação com ele.

Eu tenho medo zero disso.

Lúcio Funaro nunca pediu ao senhor ou o senhor tratou com ele de pagamentos para que Eduardo Cunha fizesse algo

Eu nunca pedi nada ao Lúcio.

E com Geddel? Tratou alguma vez sobre empréstimos diretamente?

Nunca. E outra coisa, conheço o Geddel antes. Por que eu precisaria de Eduardo Cunha para falar com Geddel? Ele é da Bahia, é uma pessoa pública há muitos anos.

O senhor conhece ele há muito tempo por quê?

Porque ele tem gado. Ele mata boi conosco lá, no frigorífico da Bahia. Enfim.. Ele é um homem público há muitos anos.

O MPF também fala sobre isso. Sobre uma doação ao PTB da Bahia, para aliados de Geddel, que seria doação com dinheiro público dos fundos.

Isso é outra coisa que não existe. O PTB até soltou uma nota, que não existe isso.

Fonte: Folha de São Paulo.

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