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Jeremiah O´Callaghan: crise não afetará o consumo

Durante o III Simpósio brasileiro da carne bovina, realizado na semana passada pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), o diretor de Relações com Investidores do JBS/Friboi, Jeremiah O´Callaghan apresentou a palestra "Exigências do mercado internacional para exportação". Em sua apresentação, O´Callaghan comentou que apesar das incertezas e dificuldades geradas pela crise financeira mundial, as expectativas são boas para o setor de carnes.

Durante o III Simpósio brasileiro da carne bovina, realizado na semana passada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), o diretor de Relações com Investidores do JBS/Friboi, Jeremiah O´Callaghan apresentou a palestra “Exigências do mercado internacional para exportação”.

Em sua apresentação, O´Callaghan comentou que apesar das incertezas e dificuldades geradas pela crise financeira mundial, as expectativas são boas para o setor de carnes. “O consumo de carnes não vai ser muito afetado por uma crise específica. O consumo de proteína é uma necessidade”.

Para traçar um cenário do setor, o diretor do JBS expôs alguns dados sobre o mercado internacional de carnes e características da produção e consumo brasileiro e dos nossos principais clientes e concorrentes.

A Rússia, principal comprador da carne brasileira no mercado internacional, foi responsável pela compra de 39,73% de toda carne bovina in natura vendida no exterior pelos frigoríficos brasileiros, nos 10 primeiros meses de 2008. Os russos importaram 359.398 toneladas de carne bovina in natura, que renderam US$ 1,359 bilhão.

Gráfico 1. Volume das exportações brasileiras de carne bovina in natura

Gráfico 2. Receita das exportações brasileiras de carne bovina in natura

Segundo ele, após o final do comunismo, a população russa continuou crescendo enquanto o rebanho bovino do país começou a declinar, deixando-o muito dependente da importação de carne e posteriormente se tornando um dos maiores compradores de carne do mundo.

O´Callaghan ressaltou que a União Européia (UE) é um mercado fundamental para os exportadores brasileiros e que de maneira geral a produção no bloco está diminuindo, forçando os distribuidores europeus a comprarem cada vez mais carne no mercado internacional.

Ações aplicadas pela UE, até alguns anos atrás, desregulavam o mercado internacional distorcendo os preços da carne. Após a redução nesse incentivos e subsídios, a produção começou a recuar, mas o consumo continuou a crescer.

“O desejo de consumo é um, mas a legislação é outra”, ressaltou o palestrante, e informou que no momento estamos num divisor de águas. “Hoje, os “ministros da Fazenda” da UE já pressionam Bruxelas para relaxar as exigências, na tentativa de reduzir o preço dos alimentos e evitar a inflação, ao contrário do desejo das associações de produtores e ministérios da Agricultura que querem preservar a produção”.

Quanto aos Estados Unidos (EUA), o diretor do JBS lembrou que é um país que consome muita carne de dianteiro, assim apesar de ser um grande produtor de bovinos, falta carne para a produção de hamburguer e sobram cortes nobres. Dessa maneira os americanos são grandes exportadores e importadores simultaneamente.

Já o Brasil, reúne condições excelentes para a produção pecuária com altíssima competitividade, através de sistemas à pasto que possibilitam produzir proteína animal de qualidade com baixo custo. “O Brasil tem um superávit enorme de carne bovina. Assim talvez seja o país mais importante no mercado internacional, e será o país que tem maiores condições e potencial para abastecer esse mercado crescente”, comentou Jeremiah. “Em 2007, um terço da carne vendida no mundo era brasileira”.

2008

Se referindo ao desempenho das exportações de carne bovina em 2008 ele comentou, “O Brasil exportou menos por falta de boi e por causa do Real valorizado. Isso influenciou a queda do volume exportado”. Apesar desse recuo a receita segue aumentando em razão da valorização da carne brasileira no mercado internacional. Segundo O´Callaghan, com a alta do dólar o boi brasileiro se torna muito mais competitivo e as vendas devem aumentar.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no acumulado dos 10 primeiros meses de 2008, os exportadores brasileiros embarcaram 904.662 toneladas, volume 18,55% inferior ao exportado no mesmo período do ano passado, porém receita atingiu o valor de US$ 3,565 bilhões, 21,77% superior ao realizado no mesmo período do ano passado e 2,30% acima da receita total durante o ano de 2007.

Gráfico 3. Acumulado das exportações brasileiras de carne bovina in natura

Esses dados confirmam que a carne bovina está sofrendo grande valorização no mercado internacional, principalmente a carne brasileira, que em outubro de 2007 era negociada a um preço médio de US$ 3.083/tonelada. No mês passado, o preço médio da carne bovina in natura exportada pelas empresas brasileiras foi de US$ 4.417/tonelada – o maior valor de todos os tempos -, valorização de 43,27% em um ano.

“Em janeiro tivemos um pico de preço causado pela formação de estoques na UE. Prevendo o embargo imposto pelos europeus, os frigoríficos venderam tudo que podiam. Depois o preço caiu um pouco, pois os mercados restantes pagavam menos, mas o cambio acabou fazendo o preço subir atingindo recordes de preço médio, que chegou próximo dos US$ 4.500/tonelada exportada”, lembrou.

Equilíbrio entre importação e exportação

Jeremiah acredita que é preciso buscar mercados maduros, como a UE, que compram carnes de primeira para manter o equilíbrio entre o mercado interno e externo. “Precisamos desses mercados para que não sobrem cortes nobres no mercado interno, forçando recuos nos preços”. “Ou seja, o frigorífico que vende bem filé melhora sua rentabilidade e consegue trabalhar melhor no mercado interno, possivelmente vendendo carne mais barata no Brasil” completa.

Para que isso aconteça é preciso derrubar as barreiras sanitárias e depois lutar contra as tarifárias. Para ele não existe motivo técnico que represente risco para a saúde dos consumidores e impeça a comercialização da carne brasileira. “Assim as barreiras atuais são sem dúvida econômicas, “barreiras falsas”, que alguns grupos usam para favorecer sua produção e dificultar a importação”.

“As tarifas já começaram diminuir e vão cair mais. Pela necessidade de importação e fornecimento de carne à população”.

Rastreabilidade

Sobre a rastreabilidade e as exigências de certificação da UE, o palestrante comentou que a lista de propriedades aptas a exportar deve crescer com mais agilidade, e espera que as exportações para o bloco voltem à normalidade em 2010.

A nova lista de fazendas habilitadas para exportação de carne bovina in natura para a UE, atualizada essa semana pela Comunidade Européia, traz o nome de 29 novas propriedades, o que eleva para 574 o número de fazendas cadastradas pelo bloco. No início do ano, após o embargo, eram pouco mais de 100 propriedades habilitadas.

Quanto ao diferencial pago pelos animais dessas fazendas, o diretor do JBS comentou que a demanda da UE enfraqueceu, por isso o diferencial diminuiu, mas ele acredita que logo o preço da arroba desses animais deve voltar a subir. “No inverno, o consumo recua na Europa, mas provavelmente no verão, a demanda deve crescer consideravelmente e os frigoríficos voltarão a pagar os prêmios para o boi da UE”.

Problemas de crédito

Jeremiah O´Callaghan explicou que por natureza o frigorífico é uma empresa que depende de crédito. “Ele compra um boi, desmonta e vende cada parte. Negociando com vários compradores, em vários destinos, que trabalham com prazos diferentes. Assim existe certa dificuldade para conseguir capital de giro”.

“A escassez de crédito atinge fortemente os frigoríficos. Assim quem não se programou e não reservou capital vai sofrer mais”. “Essa crise vai separar o joio do trigo e quem tiver boas estratégias e projetos sólidos vai prosperar” reforçou.

Falta de boi

“Todos foram pegos de surpresa com o tamanho da falta de boi gordo. Antecipamos muito o boi de pasto de dezembro, janeiro e fevereiro (confinamento), assim vai ser difícil comprar boi até lá. Depois o preço deve se acomodar, mas existem muitos fatores que influenciam o preço, como a demanda e as alterações do câmbio” analisou.

Depois de sentir na pele esses problemas, ele acredita, que a mentalidade do frigorífico começou a mudar. “Antes existia abundância de matéria-prima. De 12 meses para cá, a situação mudou e os frigoríficos precisam pensar em parcerias para incentivar a produção, com qualidade e constância. Esse clima de parceria vai fazer com que o produtor não abata suas matrizes e garanta os animais que serão abatidos em 2013”.

André Camargo, Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Denise Maria Nunes Martins disse:

    Temos que ser otimistas, além do mais sempre teremos demanda pelo produto, carne bovina.

  2. Jean-Yves Carfantan disse:

    Gostei muito do resumo da apresentaçao do Sr O´Callaghan. Tomara que ele tenha razão!

    Parabéns

  3. carlos massotti disse:

    Como sempre a visão do Jery sobre o mercado é bem completa e atual, se bem que me pareça um pouco otimista demais – o grande nó hoje é que os frigorificos cresceram e se agigantaram nos últimos 10/15 anos em função dos baixos preços dos animais – enquanto os pecuaristas “queimavam “os rebanhos em função da baixa ou nenhuma rentabilidade.

    Hoje temos uma industria frigorifica brasileira com uma capacidade instalada de abate estimada em 75 milhoes de cabecas/ano, contra uma oferta de animais de 45 milhões de cabecas ano, ou seja, o jogo se inverteu completamente a favor do pecuarista.

    Frigorificos hoje lutam para conseguir animais para abate, com uma terrivel capacidade ociosa onerando ainda mais os custos tornando quase impossivel alguma pequena rentabilidade, então este mercado teria que se ajustar ou por uma maior oferta de animais ou redução da capacidade instalada com o fechamento de muitas plantas frigorificas (o que tende inexoravelmente a acontecer). Com os mercados para exportação de carne em recessao economica forçando precos de todas as commodities para baixo, a vida dos frigorificos vai ficar ainda mais dificil nos proximos anos – preco do boi alto, precos de carne baixos -a nao ser que ocorra um milagre como uma reducao consideravel do preco do boi (teria que ser algo em torno de 20 a 30% pode ser?) ou um aumento grandioso de demanda, dificil hein?

  4. Claudio Alberto Zenha Carvalho disse:

    Essa “parceria” cantada pelo JBS é uma utopia, não existe e nunca existirá, devido ao simples fato de que a mentalidade predatória dos frigoríficos está entranhada e parece que deu certo, pois estão milionários, biliardários, e agora vem falar de parcerias. Isso é conversa para boi dormir.

  5. Juarez Mendes Ribeiro Jr. disse:

    Primeiro gostaria de deixar a minha admiração pela competência com que o Sr. Jeremiah O´Callaghan analisa o mercado de carne bovina no cenário internacional, e agradeço pelas inúmeras contribuições que faz ao mercado bovino mundial.

    Segundo a apresentação, O´Callaghan cita que o mercado internacional de carne bovina é crescente, e a produção pecuária do Brasil tem altíssima competitividade para abastecer esse mercado, também que, com a alta do dólar o boi brasileiro se torna muito mais competitivo e as vendas devem aumentar.

    Ressaltou nossos problemas de equilíbrio entre importação e exportação, rastreabilidade, falta de crédito dos frigoríficos e falta de boi.

    Todas considerações foram feitas de maneira clara e objetiva.

    Mas dentro da minha ignorância, acredito que esses problemas são causados pela inexistência de um programa político que venha gerir a cadeia produtiva brasileira de carne bovina de maneira eficaz, e que seja efetivo em todos os seus elos produtivos. Se eu estiver correto, o que pode ser feito para garantir essa competitividade em longo prazo?

  6. Jean-Yves Carfantan disse:

    Sinto muito dize,r mas tem um erro nesse artigo: a população russa tem um crescimento negativo desde o fim do comunismo. Em 1992, a Federaçao Russa contava com 148,4 milhões de habitantes. Hoje tem menos de 142 milhões. A previsão é que a população russa não ultrapassará a marca de 136 milhões de habitantes em 2015. Outrossim, vale a pena ressaltar que o consumo per capita de carne bovina na Russia gira em torno de 17 quilos per capita. Tudo indica que pelo menos em 2009 e 2010, com a forte crise que abala o pais, o consumo de carne suina deve prevalecer e que o consumo de carne bovina sofrerá uma queda.

    Quanto ao mercado da UE, vale a pena informar que todas as empresas varejistas de lá (consultadas em outubro) apostam na estagnação ou na diminuição do consumo per capita de carne bovina ligada à queda do poder aquisitivo de boa parte da classe média (ligada ao crescimento do desemprego).

    Jean-Yves Carfantan, consultor

  7. renato finazzi porto disse:

    Achei bastante interessante os pontos elencados nesse artigo, só espero que não tenhamos mais surpresas por vir, pois não dá mais para apostarmos na decepção.

  8. Helio Zancopé Filho disse:

    Papel aceita tudo ate o que é impossivel, não acredito nesse otimismo todo, acho que o Sr. Jeremiah esta “escondendo” algo muito mais preocupante que analisar os mercados como puro e simples consumidores dos cortes bovinos de um modo geral tão facil.

    Ou tentando esconder “talvez” a fragilidade do setor cuja rentabilidade, é uma das piores que o setor agropecuário tem no momento.

    Quero poder entender que o referido Sr, traga ao menos uma luz no fim do tunel para essa classe trabalhadora e lutadora que são os pecuaristas. Nesse momento de “tanta incerteza” não acredito que as margens de lucro que está sendo apregoadas à referida industria seja “verdade”. Espero que possa demostrar no preto no branco os seus custos que deve ser cavalar.

    Mesmo com essa alta do “dólar” acredito que vocês não conseguem superar seus custos de forma alguma. Caso eu esteja errado peço de antemao desculpas, mas depois que provarem para mim que estou enganado, porque de “boas intenções o inferno está cheio”. Fico no aguardo do pronunciamento por parte dos responsavél e desde já agradeço pela intenção.

  9. Mauricio Santos Junqueira disse:

    Análise boa, mas o mundo já esta outro completamente diferente com apenas quase um mes após esta bem detalhada apresentação.

    Agora tem-se que acrescentar um novo fato: a real queda na demanda externa e interna. A externa, fruto da recessão internacional. A interna, creio que se iniciou com o forte aumento dos preços e daqui para frente a possivel desaceleração da nossa economia e consequente desemprego.

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