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Jean-Yves Carfantan comenta sustentabilidade, Sisbov e protecionismo

O mercado interno brasileiro está se diferenciando do resto dos grandes mercados consumidores ao não ter implementado um dispositivo que diz respeito ao consumo doméstico. Se o Sisbov é um dispositivo complicado, isso tem muito mais a ver com o funcionamento dos serviços públicos brasileiros e do que com uma vontade européia.

Jean-Yves Carfantan enviou um comentário ao artigo “A sustentabilidade da pecuária de corte brasileira: uma alavanca para reconquistar o mercado europeu (artigo)“, respondendo um dos comentários anteiores. Jean-Yves é o autor da palestra que originou esse artigo.

Leia abaixo os principais trechos da carta:

“Bom dia,

Agradeço a sua carta e os seus comentarios. O primeiro comentário que eu gostaria de fazer é que a maioria dos países que produzem carne bovina têm hoje um dispositivo de rastreabilidade para garantir a segurança dos seus próprios consumidores.

O mercado interno brasileiro está se diferenciando do resto dos grandes mercados consumidores ao não ter implementado um dispositivo que diz respeito ao consumo doméstico.

Se o Sisbov é um dispositivo complicado, isso tem muito mais a ver com o funcionamento dos serviços públicos brasileiros e do que com uma vontade européia.

Nos últimos trinta anos, o Brasil se tornou uma grande potência agricola e econômica. Acompanhei de perto essa grande virada. Não acredito naqueles discursos que consideram que haveria uma vontade colonizadora (uma “conspiração”) para impedir que o Brasil mude e se torne um centro econômico relevante. Acredito sim que a funçao principal desses discursos é de esconder as deficiências internas.

Quando o filho adolescente começa a crescer, ele tem essa tendência de culpar o pai por todos os problemas que ele mesmo tem que resolver. Chega um dia que ele percebe que o pai tem pouco a ver com isso.

Acho que o Brasil vai se tornar uma verdadeira potência global quando souber abandonar completamente essa visao do mundo um pouco adolescente.

Infelizmente, existe toda uma cultura de esquerda na América latina que prega a permanência na infância…

No agronegocio brasileiro, sempre se fala em protecionismo europeu. Isso, de fato, existe. Mais nunca se deveria esquecer que o mercado europeu é um dos mais abertos do mundo. Muito mais aberto do que o mercado brasileiro. Quem importa no Brasil produtos como queijos, chocolates, genética animal ou vinho (para nao citar o setor de produtos industriais) sabe disso.

Temos que parar com aquela história que os demais mercados sao fechados e que o mercado brasileiro seria uma área de livre-comércio…

O Brasil ainda é uma economia muito fechada comparando com as economias mais avançadas. Não vou abrir mais um debate mais isto é um ponto essencial que os profissionais do agronegocio devem levar em conta.

Os países estrangeiros dificultam o acesso ao mercado deles de alguns produtos do agronegocio e sempre utilizam como justificativo o protecionismo brasileiro na área de serviços, de bens industriais…

O debate deve continuar. Obrigado e obrigado ao BeefPoint por colocar a disposição essa ferramenta.

Abraço, JY Carfantan”

Clique aqui para ler mais opiniões sobre este assunto.

Jean-Yves Carfantan é Sócio-Diretor da AgroBrasConsult e economista, pós-graduado em comércio internacional de produtos agrícolas. Ao longo dos últimos 25 anos, ele desempenhou funções de professor e pesquisador da ESA (Escola Superior Agrícola), situada em Angers (França). Desde 1990 vem atuando no Brasil, como consultor independente e de 1995 até hoje tem sido convidado por várias entidades profissionais (Cooperativas dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás), instituições financeiras (Banco do Brasil) e empresas de agronegócios, para realizar estudos sobre mercados e cadeias produtivas e ministrar palestras e seminários sobre variados temas afins.

0 Comments

  1. eric marcel de vito disse:

    Com certeza por ser un compatriota do Sr Carfatan entendo bem o ponto de vista dele, de que o brasil apesar de ser un dos maiores produtores de carne do mundo ainda esta atras de paises pequenos como argentina e uruguai nas questões sanitarias e de rastreabilidade.
    E certo que como foi criado aqui , o sisbov tem muitas falhas mas com bastante empenho é possivel conseguir o controle do rebanho nas grandes fazendas deste pais. Eu mesmo ,produtor, fui auditado e advertido por apresentar varias não conformidades e nem por isso desisti; pelo contrario, estou corrigindo as falhas para tentar cumprir e não discutir as regras disso ou daquilo. Não podemos ser impacientes, porque os erros do passado mancharam a nossa imagen la fora e só o tempo e a seriedade do nosso trabalho poderão compensar essa teimosia de achar que o jeitinho brasileiro pode funcionar no primeiro mundo.

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