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Irã é alento em ano de queda dos embarques totais de milho

Enquanto as exportações brasileiras de soja aumentam, em larga medida graças às disputas comerciais entre Estados Unidos e China, os embarques de milho do país diminuem em meio à retração da oferta doméstica e ao crescimento dos embarques americanos. E a tendência poderá se aprofundar nas próximas semanas.

Segundo dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os contratos fechados pelos exportadores do país já somaram, até 15 de novembro, 24,3 milhões de toneladas para entrega ao longo desta safra 2018/19, que está em fase de colheita no Hemisfério Norte. O volume é 16% superior ao do mesmo período de 2017.

Já os embarques brasileiros de milho seguem lentas. De janeiro a outubro, foram 16,5 milhões de toneladas, quase 30% menos que nos primeiros dez meses do ano passado. É fato que o excedente exportável do país caiu por causa da quebra da safra – a colheira recuou mais de 17% no ciclo 2017/18, para 80,8 milhões de toneladas no total, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) -, mas a logística também não colaborou.

Isso porque a nova tabela de fretes mínimos rodoviários elevou custos de transporte e ceifou a competitividade dos embarques em momentos de demanda domésticas aquecida por causa da oferta interna mais curta.

“O frete impactou os preços de milho do Centro-Oeste consideravelmente”, disse Victor Ikeda, analista do Rabobank. Estudo do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log/USP) mostrou que o custo total para o transporte de milho pode crescer até R$ 7,3 bilhões no Brasil em 2018.

Nesse cenário, o alento dos exportadores brasileiros de milho são países com os quais o presidente do EUA, Donald Trump, está em conflito. A China, infelizmente para o Brasil, não é uma grande importadora do cereal como é de soja. Mas o Irã é, tanto que se firmou como o principal importador de milho brasileiro.

De janeiro a outubro, as exportações de milho brasileiro para o Irã cresceram 40% e representaram 32,7% do total. Em igual intervalo de 2017, a participação foi de 17%.

Mas esse movimento pode ter fôlego curto. Em entrevista ao jornal “Financial Times”, Mani Jamshidi, especialista na indústria de alimentos baseado em Teerã, afirmou que o Irã estava estocando grãos como soja e milho para a produção de alimentos básicos com o objetivo de “evitar a  falta de produtos estratégicos” em decorrência das barreiras erguidas pelos EUA – no começo de novembro, entraram em vigor novas sanções de Washington contra o país.

“Quando a questão é guerra comercial, o problema é sempre o cenário de incertezas que se cria”, ressaltou André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult em evento realizado semana passada em São Paulo.

Mas, apesar da forte demanda do Irã, as exportações brasileiras de milho deverão totalizar entre 18 milhões e 19 milhões de toneladas neste ano, bem abaixo das 32 milhões estimadas pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) no início deste ano.

Analistas realçam, ainda, que além da oferta exportável menor, a extensão da janela de exportação de soja, provocada pelas disputas entre Washington e Pequim, também atrapalhou os embarques de milho, já que ampliou a “concorrência” nos portos do país.

Para 2019, as perspectivas para o mercado de milho no Brasil são problemáticas, sobretudo porque a oferta do cereal deverá ser ampla. Se a demanda internacional pelo cereal do país se enfraquecer graças ao avanço americano, ao Brasil restará apostar na demanda interna, ainda abalada pela crise das indústrias de carne de frango.

Depois da Operação Trapaça, em março, a União Europeia vetou a entrada em seu mercado de produtos de 20 frigoríficos brasileiros. A medida provocou uma redução da produção de aves, o que prejudica a demanda por ração animal.

“O plantio acelerado de soja neste ano vai propiciar que praticamente 100% da área de safrinha de milho seja semeada dentro do período ideal. O produtor vai plantar milho”, afirmou Ikeda, analista do Rabobank.

“Quase toda a área destinada ao milho safrinha de fato será plantada na janela ideal. Isso vai levar os produtores a plantar mais com a expectativa de que a produtividade resolva o problema de custos maiores”, disse Pessôa, da Agroconsult.

Como a produção total de milho no Brasil poderá superar 100 milhões de toneladas em 2018/19, Pessôa acredita que as exportações precisam chegar a 35 milhões de toneladas para que haja “equilíbrio de mercado e rentabilidade” na safra 2018/19. A Conab estima que as exportações totalizarão 31 milhões de toneladas.

Fonte: Valor Econômico.

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