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Internet banda larga ajuda a manter jovens em área rural

A chegada de internet banda larga à fazenda Santo Antônio do Desejado, localizada em Nova Ubiratã, município do interior de Mato Grosso onde vivem 11 mil pessoas, poupou o agricultor Cristian Dalben de um problema com mão de obra. “No começo, quando não existia internet, a gente não tinha tanta dificuldade para contratar pessoas. Hoje, tenho jovens de 26 anos trabalhando comigo, e essa geração mais nova não fica em uma fazenda sem conexão”, afirma.

A internet chegou à propriedade há aproximadamente dez anos, mas via rádio, com baixíssima velocidade e limitada à sede da fazenda. “Fazer vídeo? Sem chance. Foto também era difícil”, relembra o produtor rural. Dalben conseguiu levar conexão de fibra ótica a sua fazenda há três anos, o que, segundo ele, aumentou o nível de satisfação dos trabalhadores. “Nossos funcionários têm prazer em estar na fazenda porque podem ter seu momento de diversão nas horas de folga. Podem ver Netflix ou só navegar na internet”, diz.

O relato sobre os benefícios que a chegada da internet de qualidade ofereceu aos trabalhadores da fazenda Santo Antônio do Desejado mostra que a melhoria do acesso à rede representa mais do que apenas a possibilidade de uso de máquinas agrícolas conectadas ou de tecnologias da chamada internet das coisas (IoT, na sigla em inglês): muda-se, também, o cotidiano de todas as pessoas envolvidas com produção. E isso não é pouco.

Segundo levantamento recente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), 71% dos domicílios de áreas rurais tinham acesso à internet no ano passado no Brasil, um avanço de 20 pontos percentuais em relação a 2019. Desse total, 58% contavam com banda larga fixa.

Dalben entende bem a diferença que faz ter acesso à internet no campo, e não só para melhorar a produção. Há 13 anos, quando seu pai ficou doente e ele precisou deixar Curitiba, onde estudava engenharia mecânica, para assumir os negócios da família em Mato Grosso, o único meio de contato com o mundo além dos limites da propriedade era um telefone fixo. “Passei três anos isolado”, conta.

Hoje, a banda larga mantém a propriedade ligada ao mundo, o que deixa os trabalhadores mais satisfeitos e permite ao produtor extrair todo o potencial das tecnologias digitais contratadas. A fazenda está conectada à plataforma Climate FieldView, da Bayer, e ao Operation Center, da John Deere. Antes de o sinal alcançar toda a área da Santo Antônio do Desejado, o investimento era subaproveitado, já que o envio de dados para análise acontecia apenas quando as máquinas retornavam a um algum ponto mais perto da sede, onde havia conexão.

“Recentemente, eu estava nos Estados Unidos e o pessoal trabalhava na colheita do milho safrinha. Eu consegui observar toda a fazenda em tempo real”, conta o agricultor. “E dias atrás, uma máquina quebrou. Se isso tivesse acontecido no passado, [quando não havia internet], a gente teria que correr na cidade. Desta vez, a John Deere mandou uma atualização online que resolveu.”

A conectividade melhora os negócios para os usuários dos equipamentos e também para os fabricantes. “Antes, o técnico saía da cidade, ia até a fazenda, voltava, pegava a máquina e só então ia fazer o conserto”, conta Estela Dias, gerente de marketing tático para tecnologias de precisão da John Deere no país. “A gente aperfeiçoou esse serviço. Agora, podemos acessar o monitor do equipamento para entender o problema e ir direto com a solução”.

Desde 2020, uma parceria entre a fabricante americana de máquinas agrícolas e a operadora de telefonia Claro levou internet a uma área de 2 milhões de hectares. Com negociações em andamento, existe a expectativa de cobertura de outros 3,5 milhões de hectares. “Democratizar a conexão no campo significa, também, conectar as pessoas. Ela ajuda na retenção [de trabalhadores no campo], facilita a chegada de conteúdo a elas e permite avanços como a telemedicina”, diz Estela.

A Bayer, dona da plataforma Clima FieldView, tem trabalhado para ampliar o alcance da tecnologia 4G em áreas rurais por meio do ConectarAgro, associação que ajudou a fundar. “Aumentar a conectividade no campo representa uma oportunidade para que agricultores usufruam ainda mais de benefícios e ferramentas que os auxiliem a tomar decisões mais precisas nas lavouras”, afirma o diretor de marketing da plataforma para a América Latina, Thiago Bortoli.

Os resultados da fazenda em Nova Ubiratã são um exemplo dos impactos positivos da tecnologia de agricultura digital sobre a produtividade das culturas. Antes da chegada da internet rápida, Dalben produzia 62 sacas de soja e 100 sacas de milho por hectare; agora, o rendimento é de 75 sacas e 174 sacas por hectare, respectivamente, desempenho bem superior à média nacional.

Segundo o presidente executivo da Conexis, entidade que representa as operadoras de telecomunicações no Brasil, Marcos Ferrari, a expansão da internet no campo ganhou força a partir de 2017. “Esse movimento deve se acentuar ainda mais a partir o leilão da cobertura 5G, em que as empresas se comprometeram também a levar o sinal 4G a milhares de municípios”, frisa.

Fonte: Valor Econômico.

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