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“Instalações são apenas construções, inanimadas. O que faz que elas sirvam para o aumento do BEA é a gestão diária dos vaqueiros” – Hugo Porto [Prêmio BeefPoint Bem-estar Animal]

BeefPoint realizou um grande evento – BeefSummit Bem-estar Animal – no dia 8 de maio de 2014, no Centro de Convenções do Ribeirão Shopping, na cidade de Ribeirão Preto/SP.

O evento teve a participação especial de Temple Grandin – pesquisadora que é referência mundial em bem-estar animal, também teve palestras inovadoras, com o Prof. Mateus Paranhos da Costa e pecuaristas que são referência nas práticas de bem-estar animal no Brasil.

Estes profissionais compartilharam casos de sucesso e aprendizados nesta área que cresce, a cada dia, dentro da cadeia produtiva da carne. E para fechar o dia com chave de ouro realizamos a entrega do Prêmio BeefPoint 2014 – Edição Bem-estar Animal, que homenageou pecuaristas, profissionais, vaqueiros e pesquisadores que são referência em BEA no Brasil.

O público escolheu por meio de votação online, o vencedor de cada categoria. Assim, para você – leitor BeefPoint – conhecer melhor os finalistas desse prêmio, nós preparamos uma entrevista com cada um deles!

Conheça Hugo da Costa Porto, finalista na categoria Produtor Referência em Bem-estar Animal.

a-esquerda-o-proprietario-Hugo-Costa-Porto-ao-centro-o-consultor-Andre-Sorio-a-direita-o-gerente-Carlos-CastroA esquerda temos o proprietário Hugo da Costa Porto, ao centro o consultor André Sorio e a direita o gerente Carlos Castro.

Hugo da Costa Porto é natural do Rio de Janeiro, onde reside. Preside há 30 anos uma empresa especializada em logística internacional e há 26 anos, aconselhado por seu irmão, Pedro Porto, adquiriu sua primeira propriedade no estado do Tocantins.

Apesar de ter a propriedade há mais de 25 anos, foi só em 2009 que resolveu transformar a fazenda em uma empresa rural moderna e competitiva. Assim, o trabalho de melhoria de pastos, com divisões, recuperações e limpezas, se somou à preocupação em atender à legislação ambiental, com proteção de APPs e da reserva legal. Este caminho levou à necessidade de instalação de um sistema de abastecimento de água, para que os animais não tivessem mais que beber água nas nascentes e nos cursos d´água e para que a fazenda não sofresse com a falta de água que era tradicional dos meses de agosto a novembro.

Com a água implantada foi feito simultaneamente, o início do processo de divisão e subdivisão dos pastos, que deve levou em alguns anos ao sistema de manejo Voisin, conforme o plano de investimentos de longo prazo. A fazenda tem áreas de lazer em cada setor, com água limpa e cochos de sal sempre abastecidos levando conforto aos animais. A mesma área de lazer provoca um comportamento importante nos animais, que sempre que veem o vaqueiro se deslocam para lá, e isso torna o trabalho de revisão diária bem mais rápido e menos estressante para os animais.

Também foi feita a construção de um curral antiestresse, que servirá de modelo para os outros currais que serão construídos na propriedade ao longo dos próximos anos.

BeefPoint: Quais técnicas/práticas você desempenha em sua sua fazenda que resultou em bons resultados, quando o tema é bem-estar animal?

Hugo da Costa Porto: São diversos pontos que podem ser abordados quando se fala em bem-estar animal, além dos óbvios, como o fato de a fazenda ter um curral antiestresse e ter incorporado elementos antiestresse nos demais currais, como o fechamento do brete.

Entre os elementos que adotamos, que influem no bem-estar animal e que são pouco lembrados podemos citar, por exemplo: a fazenda é toda interligada por corredores, o que facilita a movimentação do gado e sem dúvida diminui o estresse dos animais. O fato de contar com água encanada em todos os pastos faz com que os animais precisem andar menos para saciar a sede. A rotação de pastagens também é um fator de conforto para os animais, pois em vez de o animal ficar indefinidamente em um pasto que vai se tornando sujo de fezes e com menos disponibilidade de alimento, o gado ganha piquetes novos regularmente, com pasto fresco e que induz a um consumo voluntário maior. Quando se troca o lote de piquetes, fica evidente a alegria com que os animais ingressam no pasto novo, descansado e limpo – todos andam rápido, com o rabo levantado e dando pulos de satisfação.

Não podemos deixar de citar um prática adotada desde 2013 e que foi fruto do sistema de gestão adotada, que traz uma maior participação da mão-de-obra na sugestão de melhorias: uma espécie de casinha, que fica na maternidade, onde o vaqueiro consegue fazer todas as práticas de manejo pós-nascimento, e que não são poucas aqui na fazenda: cura de umbigo, vermífugo, tatuagem do número da mãe e furação da orelha para receber o brinco quando o animal for desmamado. A adoção da chamada casinha permitiu que o trabalho de atendimento neonatal aos bezerros fosse feito com maior tranquilidade e segurança pelos vaqueiros, menor estresse da vaca e maior eficiência que se traduz em diminuição da mortalidade de bezerros e da geração de guachos.

BeefPoint: Conte pra nós qual a aceitabilidade de sua equipe quanto às técnicas de bem-estar animal? Como é feito o treinamento de seus funcionários?

Hugo da Costa Porto: Eu, como proprietário e principal gestor, sempre me preocupei em manter um canal de diálogo com os vaqueiros e demais funcionários. Isso sem abdicar de minha liderança quando o tema é introdução de inovações no sistema produtivo. Quero dizer, todos participam dando sugestões para a melhoria operacional de tudo que é feito na propriedade. Mas quando a decisão de introdução de uma melhoria é tomada, ela será implementada e cobro com veemência para que isto ocorra e para que tenhamos êxito.

Não foi diferente com as técnicas de bem-estar animal. Nosso gerente, Carlos, sempre foi um homem cuidadoso e exigente no trato com os animais durante a lida de curral. Inclusive foi iniciativa dele de introduzir elementos antiestresse nos currais convencionais da fazenda, após verificar e experimentar a facilidade de trabalho em nosso novo curral antiestresse.

Nossos vaqueiros são sempre bem orientados e aceitam bem as mudanças, naturalmente com a necessidade de cobranças e orientações periódicas. Ao final, as técnicas de bem-estar animal também favorecem o trabalho dos vaqueiros, pois os animais ficam mais calmos e fáceis de lidar, aumentando a segurança do trabalho.

BeefPoint: Quais instalações de sua propriedade são adequadas para as técnicas de bem-estar?

Hugo da Costa Porto: Como já falei, temos curral antiestresse e currais antigos adaptados com elementos antiestresse. Em nosso plano de investimentos está a troca destes currais antigos por currais novos e modernos.

Além disso, temos água encanada e limpa para todos os animais, que levou à possibilidade de praticarmos a rotação de pastagens com eficiência. Os corredores que interligam os setores e os currais não podem ser esquecidos, pois a tranquilidade com que se pode movimentar os lotes, se traduz em animais mais dóceis e em eficiência do uso da mão-de-obra.

Como fazemos estação de monta, também podemos prever a época em que os bezerros nascerão. Adotamos há anos a designação de diversos setores contíguos à sede para receber os lotes às vésperas da parição, a chamada maternidade. Com isso, há muito tempo damos atendimento adequado às vacas antes e após a parição. A partir de 2013, designamos um setor específico dentro da maternidade para receber as vacas imediatamente antes da parição e foi neste setor que foi construída a casinha, que já descrevi anteriormente. A casinha é uma instalação simples, pequena, mas que trouxe importantes reflexos na melhoria do atendimento aos bezerros recém-nascidos.

Mas não posso deixar de registrar aqui que as instalações são apenas construções, inanimadas. O que faz que elas sirvam para o aumento do bem-estar animal é a gestão diária da rotina do trabalho dos vaqueiros, para que o investimento em estrutura se traduza em benefícios ao resultado da fazenda.

BeefPoint: Por que decidiu adotar medidas de bem-estar animal em sua propriedade? Teve o apoio de alguma empresa e/ou profissional da área?

Hugo da Costa Porto: Sempre vi o bem-estar animal como ligado diretamente à melhoria de resultados econômicos de meu empreendimento. Ao mesmo tempo, me agrada ver os animais felizes e saudáveis e isso é um resultado intangível de minhas decisões de investimento.

Desde 2010, conto com o apoio da Sorio Assessoria, de Brasília, na pessoa do engenheiro-agrônomo André Sorio, que sempre que venho à propriedade me acompanha e auxilia no processo de tomada de decisão, dando o suporte técnico para as atividades de investimento e gestão.

BeefPoint: O que a sua propriedade difere das demais? As que utilizam boas práticas de manejo e as que não utilizam?

Hugo da Costa Porto: Acredito que a infraestrutura que estamos montando é um fator que diferencia nossa fazenda da maioria. Ela nos permite atender, simultaneamente, às necessidades de bem estar pelos animais e à necessidade de modernização econômica da propriedade.

Mas o principal fator que nos torna diferente das demais propriedades é nosso sistema de gestão. Minha presença na propriedade é constante, tenho 2 gerentes, um que trata da questão operacional e outro que se dedica às questões administrativas e de geração de dados (TI). Além disso, conto com uma consultoria atuante, que nos dá suporte para seguir em frente. Naturalmente, a equipe de vaqueiros e outras pessoas que trabalham no campo são importantes para o resultado e costumamos ouvir às sugestões de cada um dentro de seu âmbito de atuação. Quero dizer, apesar de termos um sistema computacional que nos dá suporte no processamento da quantidade de dados gerados, é a participação constante das pessoas nos processos de operação e melhoria que nos permite ser diferentes das demais propriedades.

Tudo isso contribui para os resultados alcançados, que são melhores ano a ano.

BeefPoint: Em relação ao manejo de bovinos, quais os erros mais comuns cometidos em sua propriedade?

Hugo da Costa Porto: Sinceramente, dentro da lógica da gestão já explicada, procuramos não cometer nenhum erro.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas que pretendem praticar técnicas relacionadas ao bem-estar animal?

Hugo da Costa Porto: Felicitações a quem estiver pensando no assunto, pois entendo que este é o único caminho que consigo enxergar para quem quer se perpetuar na produção de bovinos.

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