EUA: R&D Ranch estuda lançamento de novos produtos
8 de junho de 2004
Pecuaristas goianos já utilizam segunda balança
11 de junho de 2004

Instalações racionais

Ultimamente, conceitos mais racionais quanto ao planejamento de currais e com relação à lida com o gado têm recebido maior divulgação no meio pecuário. Alguns pecuaristas e técnicos – poucos ainda – já estão procurando seguir novas linhas de trabalho no manejo do gado. Porém, como toda novidade, é necessário estarmos atentos aos rumos que elas podem tomar, pois o assunto “manejo racional dos bovinos” é muito importante e devemos disseminar seus conceitos da maneira mais correta possível.

O manejo do gado na fazenda pode ser analisado sob dois pontos: as instalações e a lida com os animais. Neste artigo, apresentarei algumas tendências – sem entrar em detalhes técnicos – do planejamento de instalações de manejo racionais para bovinos de corte.

No planejamento de um curral racional, objetivamos a maior eficiência de trabalho possível, a minimização do estresse dos bovinos durante o manejo e a maior segurança das pessoas e animais. Alcançamos estes objetivos especialmente se pudermos tornar mais fácil o fluxo dos animais, com a utilização do mínimo necessário de mão-de-obra – dois funcionários, na maioria das vezes. Apenas no caso de trabalhos mais complexos poderia ser necessária a presença de mais um funcionário na área de trabalho.

Para planejar as instalações – montagem ou reforma -, devemos “pensar” e sentir como os bovinos. Um ponto importante em relação aos projetos tradicionais é o uso estratégico de lances de cercas fechadas, ou com maiores áreas de visão – como, por exemplo, utilizando tubos ou cordoalhas – em pontos determinados. Isto é feito para impedir que o animal se assuste com objetos estranhos e com a movimentação, ou para que seja atraído pela visão do pasto aberto ou de outros animais, por exemplo.

É muito interessante a utilização de corredores de circulação para facilitar o direcionamento das reses para a área de serviço. Recomenda-se a construção de seringas circulares com porteiras giratórias. Outros formatos de seringa, desde que observadas as dimensões corretas e um bom planejamento – localização das porteiras corrediças, lances fechados, passarela, modelo adequado do tronco coletivo posterior à seringa – podem ser utilizados, obtendo-se exatamente os mesmos resultados. Uma porteira giratória mal-utilizada só dificulta o manejo.

O tronco coletivo (brete, corredor) mais recomendado é em curva, para que o animal não enxergue o final, podendo ser em forma de semi-círculo ou de um quarto de círculo. Para o tronco de contenção individual (brete, para alguns), existem diversos modelos, com características bem diferentes. Independentemente do modelo, é recomendável que seja do tipo conjugado com balança – caso esta seja necessária -, o que agiliza muito o trabalho. O embarcador deve ser ao nível do solo, quando possível, ou com uma subida em rampa ou degraus, e uma plataforma ao nível do caminhão.


Na utilização de Inseminação Artificial, caso o número de animais seja grande, é aconselhável uma instalação específica para tal. A prática da IA no tronco de contenção estimula a memória associativa do animal, que associa o tronco a dor e situações estressantes. A instalação específica evita o estresse mais elevado no momento da IA e a queda nos índices de concepção.

A madeira continua sendo o material mais largamente utilizado – com o uso crescente de cordoalha de aço e eucalipto tratado em autoclave. As maiores desvantagens do uso destes materiais são os preços crescentes, a durabilidade e a dificuldade de se encontrar mão de obra qualificada. No caso do eucalipto, um problema extra é que deve-se evitar “trabalhar” este, para não haver perda do preservante químico, que localiza-se na superfície do material. Em alguns países de pecuária avançada, como EUA, Canadá e Austrália, as instalações metálicas – fixas ou móveis – predominam, em função de vantagens como uniformidade do produto, resistência, facilidade de montagem e desmontagem e alto valor de revenda. Contudo, é imprescindível que sejam estruturas muito bem planejadas quanto ao material e ao projeto, com especificações de espessura e bitola e com proteção contra corrosão determinadas tecnicamente, e não ao acaso.

As dimensões devem obedecer a medidas mínimas e máximas, apropriadas para os diferentes componentes de uma instalação. Entretanto, não existe uma “receita de bolo” para dimensões e modelos padrões. São diversos os fatores que devemos levar em consideração na busca do melhor projeto para a situação em particular: os bovinos (categorias, temperamento, porte), o sistema de manejo geral da fazenda, a chegada e saída do curral, o uso de remanga/curral de espera, custos da obra, a localização do sol (muito importante), a movimentação de caminhões de embarque, etc. Conhecendo-se estes fatores é possível desenvolver um projeto que apresente mais pontos positivos em face dos objetivos propostos.

Vale ressaltar que alguns desses “novos” princípios no planejamento do curral, como seringas e troncos coletivos em curva, já vêm sendo estudados e utilizados de forma independente desde os anos 60 do século XX, em países como Austrália, Inglaterra, Nova Zelândia e EUA, e não podem, de forma alguma, ser atribuídos a um trabalho de pesquisa em particular. Currais circulares já eram utilizados há milhares de anos no Oriente Médio. O importante é compreendermos os princípios que regem a adoção de currais de manejo racionais e aprendermos como utilizá-los nas inúmeras situações que encontramos em nossas fazendas.

Também é fundamental destacar que, caso a instalação atual não esteja dentro dos princípios preconizados, não precisamos obrigatoriamente construir uma nova. Com algumas modificações de baixo custo, mas bem planejadas, qualquer curral pode ser melhorado substancialmente.

O fator mais estressante em um curral é o homem, não a instalação. Antes de chegar na seringa (em curva, quadrada, triangular, qualquer que seja a sua forma), o bovino pode já estar estressado, machucado e tentando agredir os peões e os demais animais.

A forma como lidamos com nossos bovinos talvez seja o ABC de uma fazenda, mas, ao mesmo tempo, talvez seja esta a área onde é mais difícil promover mudanças, em função de vaidades e falta de autocrítica. O fundamental, neste caso, é a mudança de atitude: rever conceitos, acreditar nas mudanças e aceitá-las. Basta lembrar as diversas tecnologias hoje consideradas básicas, como, por exemplo, as pastagens formadas e a própria inseminação artificial. Muitas delas não eram acessíveis na época de nossos pais e avós, e outras tantas eles relutaram em aceitar. No entanto, não conseguimos imaginar a pecuária moderna sem elas.

0 Comments

  1. Roberto Barros disse:

    Caro Paulo

    Possuo em minha propriedade um curral feito de blocos de concreto e mangas de cordoalha , a planta e de autoria da Dra. Temple Grandin tem se mostrado muito bom com a lida do gado.

    Na primeira venda de gado feita neste curral tive um ganho de peso ou melhor deixei de perder 3.5% do peso vivo do animal.

    Gostei muito do seu artigo, acho que passamos por um momento em que devemos e podemos mostrar e vender a qualidade de nosso gado e nao so a quantidade.

    Equiparo este momento ao momento em que os produtores de cafe passaram, quando deixaram de produzir e vender por renda e tipo e passaram a vender o cafe pela bedida ,qualidade, e origem do cafe .

    Um abraço

  2. Edmundo Marcelo Cardoso disse:

    Tenho uma pequena propriedade, que adquiri a poucos dias, vou desenvolver a pecuária no local, com capacidade para 300 cabeças, estou buscando informações da melhor opção para o curral. Portanto, gostaria, se posível, receber sugestões e dicas a respeito.

    Aproveitando, pelo pouco conhecimento que adquiri até agora, esta modalidade de curral que foi apresentada é a que se tem notícia de ser a melhor.

    Grato e um abraço a todos…

plugins premium WordPress