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‘Inflação da proteína’ deve perder força

A forte alta das carnes deixou a inflação de dezembro e do ano passado mais salgada, mas não contaminou o cenário para os preços em 2020. Economistas ouvidos pelo Valor seguem esperando aumento de cerca de 3,5% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, mesmo após o desvio em relação a suas estimativas para o último trimestre de 2019.

A avaliação é que boa parte do choque de proteínas, como consequência da peste suína e redução do rebanho na China, ficou concentrada no ano anterior, o que deixa um quadro mais tranquilo para o ano corrente – ainda que a escalada dos preços não seja totalmente devolvida. Os núcleos de inflação ainda comportados seriam outro indício de que a pressão das carnes sobre o IPCA é temporária, enquanto a elevada ociosidade na economia ajuda a conter reajustes.

No Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de dezembro, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), os bovinos aumentaram 7,85%, mas as coletas apontam queda de 6% para janeiro, taxa que deve aparecer na primeira prévia do IGP-M do mês, diz Flávio Serrano, economista-chefe do banco Haitong. “Já há um retorno dos preços no atacado e isso com certeza terá efeito sobre o varejo, ainda que nem tudo o que subiu seja devolvido”, disse Serrano, que prevê alta de 3,7% para o IPCA neste ano. “Estamos distantes de uma dinâmica de pressão sobre a inflação. Esse aumento é pontual.”

O problema nessa cadeia de produtos pode ter certa persistência, aponta Serrano, mas a expectativa é que a alta perca fôlego nas próximas leituras do IPCA, após o pico previsto para dezembro (ver Analistas projetam 1% para IPCA de dezembro). O economista também descarta que a inflação mais elevada do que o previsto em 2019 – que deve ficar praticamente na meta, de 4,25% – gere inércia maior para o ano seguinte. Isso porque os preços administrados por contrato, que são os mais indexados aos índices de inflação passados, estão bastante comportados.

Com a capacidade ociosa ainda elevada na economia, que inibe reajustes de preços, e a taxa de desemprego igualmente alta, a possibilidade de que o choque de carnes se propague para outros itens, gerando efeitos de segunda ordem sobre a inflação, também está descartada. “Não vemos contaminação sobre os demais preços do IPCA”, comentou Leonardo França Costa, economista da Rosenberg Associados.

França Costa observa, ainda, que o choque de proteínas já era previsto pelo mercado, mas teve impacto mais expressivo e mais cedo do que o esperado. Se, por um lado, a surpresa negativa elevou os índices nos dois últimos meses de 2019, a concentração da alta no período dá alívio para o cenário inflacionário em 2020. “Já vimos arrefecimento dos preços das carnes no atacado”, apontou o economista da Rosenberg. A consultoria projeta que o IPCA vai subir 3,5% no ano.

“O pior já passou”, concorda Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, para quem o mês de janeiro já deve mostrar taxas mais “normais” do indicador oficial de inflação, entre 0,40% e 0,50%, considerando que não haja aumento adicional da gasolina. Os preços de carnes devem ter pequena queda nos primeiros meses do ano, diz Leal, embora a deflação não chegue a devolver toda a alta registrada no fim do ano passado. Mesmo assim, o ABC continua trabalhando com aumento de 3,7% para o IPCA em 2020.

“Houve uma mudança estrutural no mercado de carnes por causa do problema na China, mas os preços vão parar de subir”, o que já tem impacto de baixa sobre o IPCA, diz Leal. Como o choque não é permanente, não deve haver repasses para outros preços, afirma ele.

A conjuntura econômica também inibe o componente inercial, acrescenta. “Quando a economia está aquecida, é mais fácil repassar aumentos replicando a inflação passada, mas a ociosidade não deixa espaço para fazer recomposição de margem.”

Serrano, do Haitong, destaca, por fim, que os núcleos – medidas que excluem ou reduzem o impacto de itens voláteis sobre o IPCA – continuam evoluindo tranquilamente.

Em novembro, a média dos sete núcleos divulgados pelo Banco Central ficou em 0,25%, abaixo do “IPCA cheio”, de 0,51%. Dezembro deve repetir essa dinâmica, diz o economista, com alta de 1,09% do IPCA e de 0,42% da média dos núcleos.

“Os componentes da inflação que respondem ao ciclo econômico estão comportados”, disse Serrano, destacando também os serviços, que aumentaram 3,4% nos 12 meses até novembro.

Fonte: Valor Econômico.

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