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Infecções por herpesvírus bovino tipo 1

A rinotraqueíte infecciosa bovina, também conhecida como IBR (sigla em inglês para infectious bovine rhinotracheitis), é uma enfermidade de ampla distribuição mundial causada pelo herpesvírus bovino tipo 1. Os sintomas respiratórios da doença são mais conhecidos, porém o agente ainda causa a vulvovaginite pustular infecciosa, balanopostite pustular infecciosa, conjuntivite, abortos e infertilidade (Franco et al., 2002).

Introdução

A rinotraqueíte infecciosa bovina, também conhecida como IBR (sigla em inglês para infectious bovine rhinotracheitis), é uma enfermidade de ampla distribuição mundial causada pelo herpesvírus bovino tipo 1. Os sintomas respiratórios da doença são mais conhecidos, porém o agente ainda causa a vulvovaginite pustular infecciosa, balanopostite pustular infecciosa, conjuntivite, abortos e infertilidade (Franco et al., 2002).

Os primeiros relatos datam do século XIX, quando a infecção era associada mais freqüentemente a sintomas genitais. A forma respiratória passou a ser relatada na segunda metade do século XX (Rocha et al., 1999).

A infecção pelo herpevírus bovino tipo 1 consta na lista de enfermidades de notificação obrigatória da Organização Mundial de Saúde Animal, tendo métodos de diagnóstico definidos pelo Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals.

Etiologia

O herpesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1) pertence à família dos herpesvírus, sub-família Alphaherpesvirinae. É classificado em três subtipos: BoHV-1.1, BoHV-1.2a e BoHV-1.2b. A maioria das infecções do trato respiratório são causadas pelo BoHV-1.1, enquanto as lesões de órgãos genitais são comumente causadas pelo BoHV-1.2, entretanto há não uma diferença distinta do DNA dos sub-tipos e os sintomas clínicos não são exclusivos (Muylkens et al., 2007).Os sub-tipos 1.1 e 1.2a estão associados com doenças severas como infecção do feto e aborto, enquanto o sub-tipo 1.2b não é associado a abortos (Miller et al., 1991; Whetstone et al., 1989).

O microrganismo sobrevive em aerossóis quando há alta umidade relativa do ar (90%) e, associado a matéria orgânica como secreções, sobrevive por cerca de 30 dias. É bastante sensível a solventes orgânicos, entre eles a formalina e o fenol.

Patogenia

A muscosa genital ou do sistema respiratório é a porta de entrada natural para o BoHV-1, nas quais se produz uma quantidade maciça de vírus que será eliminada pelo muco nasal em altos títulos. Essa alta produção de antígenos é responsável pela rápida disseminação da infecção no rebanho. Posteriormente, o vírus se difunde no organismo por infecção célula-célula ou pelo meio celular. O aumento da viremia permite acesso a outros tecidos e órgãos, caracterizando outras manifestações clínicas como o aborto e até uma infecção sistêmica fatal em animais muito jovens soronegativos (Muylkens et al., 2007).

Após a replicação primária do vírus nas mucosas, o BoHV-1 infecta os neurônios adjacentes e ascende ao sistema nervoso, afetando principalmente os neurônios de primeira ordem, onde estabelece infecção latente (Roels et al., 2000). A infecção normalmente leva a uma resposta humoral e celular do sistema imune entre sete e dez dias e presume-se que persista por toda a vida (OIE, 2004).

Todo bovino infectado pelo BoHV-1 continuará permanentemente infectado pelo restante da vida. O vírus passa a um estado de latência após a infecção, podendo ser reativado em situações de estresse ou baixa imunológica. A reativação pode causar um novo surto, provocando mais uma vez a disseminação do patógeno no rebanho (Muylkens et al., 2007).

Sinais Clínicos

A forma respiratória da infecção por BoHV-1 tem um curso de 4 a 7 dias. Em casos mais severos, o índice de mortalidade alcança 10%. Pode haver infecções com sinais clínicos inaparentes, mas os seguintes são freqüentemente encontrados: sialorréia, anorexia, febre alta, corrimento nasal seroso (possibilidade de evolução para pustulento), tosse, inflamação das narinas, ulcerações na mucosa oral e queda na produção de leite.

Figura 1. Bovino apresentando corrimento nasal decorrente de infecção pelo vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina


A forma genital no macho, denominada balanopostite pustular infecciosa, tem como sintomas característicos: inflamação da mucosa peniana, aderência peniana, micção freqüente, incapacidade para monta, pústulas no pênis e no prepúcio e contaminação do sêmen.

A forma genital na fêmea, denominada vulvovaginite pustular infecciosa, tem como sintomas característicos: inflamação e nódulos avermelhados na mucosa vulvar (podendo evoluir para úlceras, erosões e vesículas), micção freqüente, cauda elevada, prolapso uterino, relutância no coito e até infertilidade temporária nos casos de infecção uterina direta.

Figura 2. Bovino infectado pelo BoHV-1 apresentando vulvovaginite pustular infecciosa


Qualquer forma da infecção pode levar a aborto podendo ocasionar o retorno ao cio ou falha na concepção. O aborto ocorre em cerca de 25% das fêmeas em até cem dias após a infecção e em qualquer estágio da gestação, ocorrendo a retenção da placenta.

Outras formas a serem citadas são a doença ocular (caracterizado por lacrimejamento, ceratite e hiperplasiada conjuntiva palpebral), doença sitêmica em neonatos (caracterizada por lesões no sistema respiratório e gastrointestinal e, possivelmente, diarréia), além da forma neurológica (caracterizada por meningoencefalite não-supurativa).

Figura 3. Bovino infectado pelo BoHV-1 apresentando ceratoconjuntivite infecciosa bovina


Epidemiologia

A disseminação viral se dá principalmente por contato direto no muco nasal de animais infectados, no caso de sintomas respiratórios, e durante o coito com animais com órgãos genitais infectados. Transmissão aérea por distâncias curtas já foi demonstrada (Mars et al., 2000). A infecção dos órgãos genitais também se dá pelo sêmen contaminado (Rocha et al., 1999).

O primeiro isolamento no Brasil se deu em 1978 na Bahia (Alice, 1978). A partir de então, sucessivos diagnósticos demonstraram a difusão do BoHV-1 pelo país. Fatores citados como importantes na disseminação do vírus em um rebanho são: maior trânsito de animais, menor uso de tecnologias como inseminação artificial e transferência de embriões, criação de bezerras separadas do rebanho adulto e utilização de ordenha manual com bezerro ao pé (Melo et al., 2002).

A prevalência do BoHV-1 é alta nos rebanhos brasileiros, variando entre 18,8 e 85,7% (Wizigman et al.,1972; Mueller et al.,1981; Galvão,1984; Castro,1988; Anunciação et al.,1989; Ravazzolo et al.,1989; Lovato et al.,1995b; Rocha et al.,1995a; Fava et al., 1997; Filho et al.,1997). Os levantamentos sorológicos possuem metodologias variadas, mas concordam quanto à ampla distribuição do patógeno. A Organização Mundial de Saúde relata 303 surtos da enfermidade entre 2000 e 2003.

Diagnóstico

A OIE recomenda ELISA, soroneutralização e isolamento viral. O ELISA pode ser utilizado a partir do soro dos animais ou do leite, apesar de ter menor sensibilidade no segundo. Swabs nasais e de genitais (no caso de vulvovaginite e balanopostite) podem ser utilizados para isolamento viral. Durante a necropsia, membranas mucosas do sistema respiratório, porções das amídalas, pulmões e linfonodos dos brônquios podem ser coletados.

Controle

O controle da infecção por BoHV-1 é realizado principalmente por meio de medidas preventivas como permitir apenas a entrada de animais soronegativos no rebanho, quarentena, utilização de sêmen livre e testes sorológicos para identificação dos animais positivos. O agrupamento de animais em lotes pode facilitar o manejo e isolamentos dos infectados.

A vacinação é recomendada, apesar de não impedir a infecção. A vacina se encontra nas formas viva e inativada, sendo apenas a última encontrada no Brasil. A forma viva apresenta o vírus ativo, porém na forma atenuada, incapaz de causar os sintomas clínicos. A forma inativada é constituída pelo vírus morto. Sua principal função é diminuir a disseminação viral e os sintomas clínicos. Uma sorologia para se verificar a prevalência, é indicada para se avaliar a necessidade da vacinação.

Nesse caso, é realizada em duas etapas (com um intervalo de 21 a 30 dias) nas fêmeas de seis a oito meses de idade. A repetição é feita anualmente ou aos dezoitos meses de idade. É particularmente aconselhável antes da cobertura em animais destinados à reprodução (inclusive touros) e em animais destinados ao abate antes que sejam confinados.

As vacinas disponíveis atualmente no Brasil não permitem diferenciar os animais vacinados dos não vacinados. Recentemente, Franco e colaboradores (2002) desenvolveram um vírus atenuado com potencial para ser utilizado como vacina e que permite a diferenciação de infectados e vacinados. Esse fator foi essencial para a diminuição da prevalência da doença em outros países.

A erradicação da enfermidade só é viável em rebanhos de prevalência baixa, sendo os animais positivos abatidos, evitando assim que se tornem reservatórios do vírus e o transmitam para os animais sadios. O monitoramento sorológico é importante para a verificação contínua do processo de erradicação.

Referências bibliográficas:

ALICE, F.J. Isolamento do vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) no Brasil. Revista Brasileira de Biologia, v. 38, n. 4, p. 919-920, 1978.

ANUNCIAÇÃO, A.V.M., MOREIRA, E.C., LEITE, R.C., et al. Presença de anticorpos para o herpesvírus bovino 1 (HVB-1) em bovinos nos estados de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, através da prova de hemoaglutinação passiva. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 41, n. 5, p. 433-441, 1989.

CASTRO, R. S. Desempenho reprodutivo até 60 dias de gestação em doadoras de embriões bovinos, frente à infecção por diarréia bovina a vírus, herpesvírus bovino tipo 1, leucose bovina e língua azul, em Minas Gerais. Belo Horizonte, MG. 93p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia) – Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia, Universidade Federal de Minas Gerais,1988.

FAVA, C., PITUCO, E.M., STEFANO, E., et al. Monitoramento sorológico do HVB-1 em rebanho bovino leiteiro. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 25. Gramado, Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul, 20 a 24 out. 1997. Anais… Gramado, Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul, 1997, p. 289.

FILHO, I.R.B., KRÜGER, E.R., SOUZA, J.F., et al. Incidência de bovinos soropositivos para o vírus da rinotraqueíte bovina no município de Palotina-PR. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 25. Gramado, Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul, 20 a 24 out. 1997. Anais… Gramado, Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul, 1997, p. 171.

FRANCO, A. C., RIJSEWIJK F. A. M., FLORES, E. F.; WEIBLEN, R.; ROEHE, P. M.. A Brazilian glycoprotein E-negative bovine herpesvirus type 1.2a (BHV-1.2a) mutant is attenuated for cattle and induces protection against wild-type virus challenge. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, 2002.

GALVÃO, C.L. Diagnóstico da infecção genital do herpesvírus bovino 1 (HVB-1) pelos métodos de isolamento e imunofluorescência direta. Belo Horizonte, MG. 93 p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia) – Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia, Universidade Federal de Minas Gerais, 1984.

LOVATO, L.T., WEIBLEN, R., MORAES, M.P., et al. Herpesvírus bovino tipo1 (HVB-1): inquérito soroepidemiológico no rebanho leiteiro do Estado do Rio Grande do sul. Ciência Rural, v. 25, n. 3, p. 425-430, 1995

Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals, OIE World Organisation for Animal Health. Aujeszky’s Disease. Updated 2004/07/23. Acessível em: http://www.oie.int/eng/normes/mmanual/A_00041.htm

MELO, C.B. et al. Distribution of antibodies to bovine herpesvirus 1 in cattle herds. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 54, n. 6, 2002.

MUELLER, S.B.K., IKUNO, A.A., MACHADO, J.S. et al. Prevalência de anticorpos contra o vírus da rinotraqueíte infecciosa dos bovinos/vulvovaginite pustular infecciosa (IBR/IPV) em bovinos do estado de São Paulo. Biológico, v. 47, n. 2, p. 55-59, 1981.

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WIZIGMANN, G., VIDOR, T., RICCI, Z. M.F. Investigação sorológica sobre a incidência e ocorrência dos vírus PI-3, IBR e da diarréia a vírus/enfermidade das mucosas dos bovinos no estado do Rio Grande do Sul. Boletim do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, v. 1, p. 52-58, 1972.

1 Comment

  1. Fabricio Xavier Baier disse:

    A IBR é uma patologia causadora de grandes prejuízos, ainda mais que pode levar a repetição de cio e até aborto. Isso causa um impacto econômico muito grande. A vigilância contra esta patologia tem que ser constante, pois se transmite muito fácil. A melhor e mais barata solução é a prevenção.

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